Eduardo Bolsonaro: ação revolucionária ou devaneio político

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é uma figura política controversa. Filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, desde algum tempo assume um perfil distinto dos seus irmãos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), cujas características de ação e fala lhe permitem transitar e dialogar nos bastidores com atores de diversas correntes ideológicas; e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), artífice das estratégias digitais do pai.
A direita na defensiva: uma nova era

Nos dois últimos meses, a política brasileira passou por uma reconfiguração que parecia impensável há pouco tempo. Pela primeira vez em uma década, a correlação de forças entre esquerda e direita, democracia e autoritarismo, alterou-se de modo visível. Desde 2015, a direita vinha dando as cartas sozinha: empunhava a bandeira anticorrupção, dominava o Congresso, ocupava as ruas e ditava o tom do debate político. A esquerda parecia reduzida a um papel defensivo. Agora, porém, a cena se inverteu. A direita encontra-se na defensiva, dividida e desmoralizada, enquanto a esquerda recupera bandeiras históricas que haviam escapado de suas mãos há muito tempo.
Notas sobre a história de um dia histórico

Em Feitiço do Tempo (Harold Ramis, 1993), um meteorologista da TV resolve cobrir a principal festa de uma cidade do interior da Pensilvânia. Todo dia 2 de fevereiro seus habitantes comemoram o Dia da Marmota, quando esse simpático roedor teria uma suposta capacidade de prever o fim do inverno. Chegando lá, porém, o protagonista se vê condenado a viver, todos os dias, as mesmas 24 horas — excepcionais para os demais, mas tediosamente iguais para ele. O paradoxo é que, como ele é o único que tem consciência da repetição, pode fazer coisas diferentes para alterar o curso de uma história previsível.
Do ‘socorro, Forças Armadas’ ao ‘América, salve o Brasil’

Entre os muitos modos pelos quais o autoritarismo se manifesta, há um que permanece insuficientemente nomeado e que tem reaparecido de forma insistente na política brasileira contemporânea.
Dinheiro e democracia

A democracia tem um custo financeiro pago direta ou indiretamente pela sociedade. Mas a democracia também possui um conjunto de valores e ideais. Essas duas dimensões se misturam quando falamos da relação entre dinheiro e política. Essa mistura nem sempre se dá de forma clara, muitas vezes a relação entre os recursos envolvidos e o exercício da representação política ocorre de forma sórdida ou dúbia. Financiar a política é, simultaneamente, uma prática necessária e um problema a ser enfrentado.
Patriotismo reacionário não é nacionalismo

Na longa duração, nota-se uma tendência irreversível à integração pela mundialização e à democratização das relações entre países e no interior de cada um — formas políticas cada vez mais livres e igualitárias. À ordem de impérios e colônias sucederam os Estados-nação; às autocracias, as democracias liberais. O processo, porém, não é linear. Alterna fases de expansão — globalização, animada por ideologias cosmopolitas e idealistas — e de retração — desglobalização, guiada por ideologias particularistas e “realistas”. Renascimento, Iluminismo, Belle Époque e pós-Guerra Fria foram fases de expansão; Contrarreforma, Restauração e o “curto século 20” (1914-1989), de retração.
O autoritarismo que vive na democracia

Há 75 anos, em 1950, saía a público um livro de fôlego incomum, resultado de mais de uma década de pesquisa coletiva em psicologia social, sociologia e teoria crítica: The Authoritarian Personality, de Theodor W. Adorno, Else Frenkel-Brunswik, Daniel J. Levinson e Nevitt Sanford. O projeto nasceu sob o patrocínio do famoso Instituto de Pesquisa Social — “transplantado” de Frankfurt para os Estados Unidos — dirigido por Max Horkheimer, em colaboração com a Universidade da Califórnia em Berkeley.
A ascensão do autoritarismo legislativo

O século 21 trouxe uma nova ameaça à democracia na América Latina. Esse perigo não vem de golpes militares ou de presidentes que usurpam seu poder, mas de um lado mais surpreendente: de legislaturas eleitas pelo povo. Os estudos sobre o retrocesso democrático enfatizam os perigos do “engrandecimento do Executivo”, com o Poder Legislativo sendo visto como uma das ferramentas que o Executivo usa ao tentar concentrar o poder. Esse relato, entretanto, não pode explicar casos contemporâneos, como os da Guatemala e do Peru, onde fortes tendências autoritárias se manifestaram no próprio Poder Legislativo.
Trump e o Brasil: Bolsonaro, negócios e hegemonia

Donald Trump tem um olhar personalista e transacional sobre a realidade. Um olhar diretamente vinculado ao fato de que o atual presidente dos Estados Unidos é produto político de um processo de sublevação sociocultural. Isto quer dizer que, ao mesmo tempo em que o cidadão médio da América viu o poder de compra diminuir e suas oportunidades de ganhar a vida serem impactadas por forças “estranhas” — a imigração e a concorrência dos chineses —, esse mesmo cidadão também foi se fechando em um caixa de ressonância em busca de soluções para as incertezas que se colocavam em seu presente e os impactos delas em seu futuro.
Desafios do campo evangélico para o novo presidente do PT

O Partido dos Trabalhadores (PT) terá novo comando nos próximos dias, com o ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva assumindo a presidência com o desafio nada pequeno de preparar a legenda para a eleição de 2026 e a transição, nos próximos quatro anos, rumo a um Brasil, um PT e uma esquerda sem Luiz Inácio Lula da Silva disputando o voto do eleitorado brasileiro.