O imperialismo trumpista e a reconfiguração da política brasileira

O mundo vive um novo ciclo histórico de retração da globalização, e com ele ressurgem formas de dominação que pareciam superadas. O trumpismo, mais do que um fenômeno político interno dos Estados Unidos, emerge como um projeto imperialista de reordenação do sistema internacional, retomando, sob novas roupagens, o velho princípio da Doutrina Monroe e do Destino Manifesto. Ele se articula em torno de três frentes principais: a econômica, que emprega tarifas punitivas para fechar seu mercado e ao mesmo tempo obrigar os países mais fracos a abrir os deles; a ideológica, pela captura das redes sociais como instrumentos de propaganda da extrema direita, seja fascista, reacionária ou libertariana; e a política, pelo cerco a instituições e lideranças que resistam à nova ordem imposta dentro e fora dos EUA.
A era de contrarreforma da China

Setenta e cinco anos atrás, em 1º de outubro de 1949, o presidente do Partido Comunista Chinês (PCC), Mao Zedong, ficou diante de um conjunto de microfones na varanda da Porta da Paz Celestial, com vista para a Praça da Paz Celestial em Pequim, e proclamou o nascimento da República Popular da China (RPC).
O apelo do vitalismo afirmativo

Em seu discurso de posse, em 20 de janeiro de 2025, o presidente Donald Trump delineou uma agenda prioritária para seu segundo mandato, destacando objetivos como restaurar a soberania e a segurança nacional, priorizar os interesses americanos, a prosperidade e a liberdade, reformar o sistema educacional, combater a inflação e a dependência energética, além de promover a unidade e o orgulho nacional. Nada mais distante do discurso de posse de Joe Biden, quatro anos antes, que falava em reconciliação nacional e na reinserção dos Estados Unidos como líder global em pautas como meio ambiente, paz, democracia e cooperação.
A popularidade de Lula, a mensagem e o mensageiro

O mês de janeiro foi quente para a esquerda tradicional brasileira, para o PT e para o governo, estremecidos com a divulgação de uma pesquisa Quaest/Genial que mostrou um tombo significativo da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na comparação com o mês anterior, foram cinco pontos de queda na aprovação do trabalho do presidente e, pela primeira vez, o número de pessoas que desaprovam o governo (49%) foi maior que as que aprovam (47%). Desde então, muita gente tratou dessa deterioração que, de certo modo, desestabilizou o humor do governo e do presidente, mas quero trazer aqui outros elementos.
Trump, Lula e os riscos de uma crise bilateral

Quase uma semana após a posse de Donald Trump, as peças do novo governo em Washington terminam de se encaixar. Vista do Brasil, a imagem que se forma é inquietante. Estamos longe de ser uma prioridade aos novos donos do poder nos EUA, mas, seja nas esferas política, comercial ou do meio ambiente, os objetivos no horizonte do governo Trump 2 se chocam diretamente com interesses estratégicos brasileiros e, mais ainda, com a atual política externa Lula. Ao mesmo tempo, dinâmicas no nível doméstico podem incentivar figuras, em Washington e Brasília, a ver no antagonismo uma forma de obter dividendos políticos com setores de sua própria base. O espaço para o pragmatismo, com foco nos interesses em comum, parece reduzido.
Um balanço preliminar do conflito Israel-Hamas

Balanços sobre processos históricos são sempre temporários. Mais ainda em relação a uma situação fluida, como o atual acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas. Dentro destes limites, finalizada uma fase do conflito iniciado no dia 7 de outubro de 2023, podemos fazer uma avaliação de suas consequências até o momento.
Por que o México não está à beira do abismo?

Em 2 de junho de 2024, os eleitores mexicanos fizeram história ao eleger Claudia Sheinbaum como a primeira mulher a ocupar a presidência do país. Representando uma coalizão de esquerda composta pelo Movimento de Regeneração Nacional (Morena), o Partido dos Trabalhadores e o Partido Verde, Sheinbaum assegurou uma vitória esmagadora com 59% dos votos, superando a coalizão de centro-direita liderada por Xóchitl Gálvez por 32 pontos percentuais. Este resultado não apenas trouxe Sheinbaum ao poder, mas também estabeleceu novos recordes em termos de votos para um candidato presidencial no México.
Crítica cultural ou vigilância moral?

Críticas identitárias ao filme Ainda Estou Aqui não apenas revelam a dificuldade de reconhecer o valor intrínseco de uma obra, mas também exemplificam o estágio avançado de um consenso ideológico progressista que tem transformado a crítica cultural em um exercício de vigilância moral com claras motivações políticas. Esse consenso frequentemente banaliza sofrimentos reais, impõe demandas de representatividade inalcançáveis e sufoca as singularidades artísticas e pessoais.
Jovens lideranças evangélicas

Quando falamos sobre a interface da religião e política, especialmente sobre evangélicos, é importante dar rosto a esses atores e atrizes. Temos destacado que mulheres são a maioria entre o segmento evangélico e que esse e outros fatores como renda, território e raça dizem muito sobre suas realidades, demandas, valores, preocupações e críticas sobre o atual cenário político. Ao fazer esse recorte de gênero, pode-se questionar: quem são as mulheres evangélicas atuantes na política? Como elas enxergam a ligação entre a fé e a vida pública? O que elas destacam como principais desafios para as eleições de 2026?
O papel central da comunicação no golpe

A comunicação não foi um elemento coadjuvante, mas a cola que uniu as diferentes operações golpistas, a arma para moldar a percepção pública e a ferramenta para pressionar as instituições. Essa é a principal conclusão do relatório de quase 900 páginas produzido pelo departamento de inteligência da Polícia Federal sobre o planejamento do golpe de Estado bolsonarista de 2022, parcialmente executado.