A desmistificação dos extremos
Sábado passado, o auditório do Consulado Britânico em São Paulo estava com pouco mais da metade de sua capacidade ocupada quando Mathieu Lefevre apareceu no telão, transmitindo da sala de sua casa em Paris. Era o começo da terceira edição do Festival Confluentes, organizado pela plataforma que busca estimular a filantropia individual no Brasil, fazendo um casamento entre quem tem o desejo de contribuir com organizações que trabalhem para diminuir a desigualdade.
O modelo Bukele vai se espalhar?
Em 26 de março de 2022, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, declarou guerra ao crime, decretou estado de emergência, suspendendo uma série de direitos constitucionais, e ordenou que o exército saísse às ruas. Nas duas semanas seguintes, as autoridades realizaram mais de 8.500 prisões, um número que aumentaria para quase oitenta mil — mais de 1% da população — até 2024.
O fim da ilusão
Vasculho intrigado a bibliografia sobre a ascensão da extrema direita, converso com pessoas, leio artigos e colunas de jornais, esforço-me para prestar atenção no debate público, mas continuo entre a angústia e a perplexidade. Fala-se muito sobre o avanço eleitoral e político do radicalismo de direita, do populismo autoritário e dos extremismos intolerantes que ameaçam direitos humanos, minorias e valores fundamentais da democracia, com diagnósticos geralmente corretos sobre o fenômeno atual mais preocupante nas democracias das Américas e da Europa.
Recapitulando
O primeiro turno das eleições municipais está ali na esquina do próximo domingo. Seus resultados interessam na medida em que sirvam para medir o estado das forças políticas do país e, a partir daí, indagar para onde caminha a democracia brasileira. As eleições de 2024 assinalam tanto os dois anos de fim do governo Bolsonaro quanto os dois anos do terceiro mandato de Lula. Por aqui que a análise deve começar.
O que muda na mobilização do religioso
Impossível enfrentarmos qualquer processo eleitoral sem analisar como símbolos, valores, gramáticas e linguagens do “religioso” estão presentes em campanhas eleitorais e potencialmente influenciam os eleitores. Essa constatação é fruto de uma inegável tendência histórica, política e social recente: candidaturas com identidade, gramática e linguagem religiosa conectadas ao segmento cristão vêm crescendo como fenômeno político nas eleições desde 2016 e mostram êxito nas urnas.
Por que as autocracias temem os direitos LGBTQ+?
Nos últimos anos, questões de orientação sexual e identidade de gênero têm provocado debates acalorados e exposto divisões profundamente enraizadas em todo o mundo. As últimas duas décadas viram os direitos das minorias sexuais se expandirem, mas também enfrentarem novas restrições. Desde 2000, foram adotadas mais de duzentas novas políticas nacionais que aumentam as proteções e criminalizam a discriminação contra pessoas LGBTQ+. No entanto, durante esse mesmo período, foram mais de cem as novas políticas limitando ou discriminando abertamente o mesmo grupo. No plano internacional, um campo formado por países e ativistas favoráveis à expansão dos direitos das minorias sexuais enfrenta um campo contrário a eles.
A apologia de Silvio Almeida
Apesar de recente, já se escreveu bastante sobre o julgamento público de Silvio Almeida e o escândalo político que culminou em sua demissão. Um escândalo, aliás, particularmente interessante por algumas razões peculiares.
Uma rapsódia em quatro atos
Muita coisa aconteceu de um mês para cá – tanta, que o leitor e o próprio colunista, desnorteados, correm de um lado para o outro para entendê-las: reformulação das regras do orçamento secreto, o fenômeno Pablo Marçal, o STF transformado em câmara de mediação, a decisão de Moraes de suspender o X. Aflito, o colunista tentará reduzir a própria ansiedade – e, por tabela, a do leitor – examinando o quadro como um todo e cada elemento separadamente: governo, oposição, Supremo Tribunal, suspensão do “X”. A análise pode destoar do senso comum e pode, claro, estar errada. Mas, se ela servir para reduzir a ansiedade do colunista, este se dará por satisfeito.
A ‘Teologia Coach’ pede voto
Qualquer que seja o resultado do processo eleitoral na cidade de São Paulo, temos uma certeza antiga e outra bem recente: é a eleição mais nacional das mais de cinco mil cidades que irão às urnas este ano, e já é uma eleição sobre o novato político Pablo Marçal e suas estratégias, mesmo que ele nem chegue no segundo turno.
Quem decide o que é democrático?
O que estamos defendendo quando defendemos a “democracia”? O que organiza a resposta a essa pergunta é a distinção entre a democracia como um método para processar quaisquer conflitos que possam surgir em uma determinada sociedade e a democracia como uma personificação de valores, ideais ou interesses que diferentes grupos de pessoas querem que a democracia realize. Essa é uma distinção entre concepções minimalistas e maximalistas de democracia e, por “concepção”, refiro-me a uma definição que tem conotações normativas, como todas as definições de democracia.