Prezadas leitoras, caros leitores —

Na manhã de 21 de abril, em 1792, Joaquim José da Silva Xavier deixou o calabouço que ficava onde hoje é o prédio da Assembleia Legislativa, no Rio, atravessou metade do centro caminhando sob escolta por quase duas horas e subiu o patíbulo para ser enforcado. Estava, o que é mais provável, barbeado e com o cabelo curto, na forma como ocorriam essas execuções.

Aquele 21 de abril não foi um dia típico — execuções de Estado por crime de lesa-majestade eram muito raras. Os sinos das igrejas dobraram, a capital da colônia parou. Mas, nas décadas seguintes, a morte do Tiradentes se tornou apenas a lembrança de um dia esquisito para quem a assistiu. Foi o achado por sorte dos autos do processo mais ou menos na época em que surgia no Brasil um movimento republicano que trouxe à tona quele pedaço da história.

A Inconfidência Mineira.

Tiradentes foi, por escolha própria, o único réu confesso. Por isso, o único condenado à morte. Mas não foi o único inconfidente morto. Claudio Manuel da Costa amanheceu enforcado na cadeia um dia após o depoimento que envolvia gente poderosa. Dois morreram de doença nas celas úmidas e fétidas antes do julgamento. E outros nos trabalhos forçados dum exílio desumano. Contamos mal a história da Inconfidência, um movimento que se inspirou nas ideias dos mesmos filósofos por trás das revoluções de Estados Unidos e França. Não foi o único movimento assim, nem tinham todos aqueles homens as melhores das intenções. As histórias humanas nunca são perfeitas e os heróis, de perto, têm bem mais problemas do que parece nos discursos políticos.

Mas amanhã é dia de Tiradentes, um dia que a República criou e que, para bem ou para mal, lembra que teve gente que brigou sério para dar ao Brasil mais liberdade do que havia antes. Por ter brigado foi torturada e executada. Não foram os últimos a fazê-lo na história brasileira.

Cá este Meio, como é praxe nos feriados nacionais, vai folgar. Voltamos na quinta-feira.

A pandemia ainda está entre nós. Descansem no feriado e cuidem-se.

— Os editores.

Bolsonaro vai à Cúpula do Clima com desmatamento recorde

Já se esperava que o Brasil não chegaria em sua melhor forma à Cúpula do Clima, convocada de forma virtual por Joe Biden para os dias 22 e 23. Mas os números do desmatamento na Amazônia divulgados nesta segunda-feira pioraram muito o cenário. Segundo levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), foram derrubados 810 km² de árvores na Amazônia Legal em março. O equivalente à cidade de Goiânia. É mais que o dobro que o mesmo mês do ano passado e o pior resultado para março em dez anos. Os números contradizem as promessas da carta que Jair Bolsonaro enviou a Biden na semana passada. Nela, o brasileiro defendeu sua criticada política ambiental, prometeu acabar com o desmatamento ilegal até 2030, mas pediu dinheiro adiantado para cumprir essa meta. (Globo)

Entre os muitos críticos da carta está o vice-presidente Hamilton Mourão. Segundo ele, o Brasil “não tem que ser mendigo” na busca por recursos para combater o desmatamento ilegal. Mourão reconheceu que a tendência é de os outros países repassarem dinheiro se o Brasil apresentar bons resultados na área. (G1)

Políticos, artistas e representantes da sociedade civil brasileira pediram aos EUA e aos países europeus que joguem duro com Bolsonaro na negociação sobre o clima, conta Guilherme Amado. Em conversa com diplomatas, o grupo insistiu que pagamento adiantado não pode ser condição para execução de políticas ambientais. Não é a primeira vez que personalidades pedem firmeza de Biden com o presidente brasileiro. (Época)

Fontes diplomáticas dizem que a tendência é essa. Os EUA querem prazos realistas e um compromisso político claro e pragmático do Brasil para conter o desmatamento e reduzir as emissões de carbono. (Estadão)

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Com a primeira sessão prevista para o dia 27, a CPI da Covid terá entre seus focos as demissões dos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Os parlamentares acreditam que, por esse caminho, poderão identificar pressões de Jair Bolsonaro pela prescrição de tratamentos ineficazes. (Folha)

Por outro lado, perdeu força a ideia de convocar o ministro da Economia, Paulo Guedes, a depor. Provável presidente da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM) disse que vai tirar seu nome da lista inicial. (Poder360)

E como a campanha via Twitter não deu resultado no mundo real, a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) entrou na Justiça Federal com uma ação para impedir que Renan Calheiros (MDB-AL) seja nomeado relator da CPI. Ela alega que o fato de Renan responder a inquéritos e processos no STF ser relator da CPI “fere o princípio da moralidade administrativa”. (Estadão)

Enquanto a CPI não começa, o governo já trabalha para se blindar, apontando mau uso de verbas federais por governadores e prefeitos. Segundo fontes, um grupo de servidores tem se dedicado exclusivamente a rastrear esse dinheiro e municiar os senadores governistas. (UOL)

Em sua tradicional conversa com apoiadores, Jair Bolsonaro comentou uma eventual candidatura de Lula, após a anulação dos processos contra Lula na Lava-Jato de Curitiba. “Um povo que porventura vote num cara desses é povo que merece sofrer”, disse. Sem falar abertamente em reeleição, o presidente lembrou a importância do pleito de 2022. No ano seguinte serão abertas duas vagas no STF, com as aposentadorias de Ricardo Lewadowski e Rosa Weber. (UOL)

Na véspera de deixar o Comando do Exército, o general Edson Leal Pujol destacou ontem, em cerimônia com a presença de Jair Bolsonaro, o papel das Forças Armadas como “instituição de Estado” com “lealdade ao Brasil e à Constituição”. (Globo)

Meio em vídeo. Os candidatos que não são nem Lula, nem Bolsonaro, vão lançar uma carta nova com os pontos em que concordam. Alguns deles, junto com Haddad, falaram juntos com muita cordialidade, num painel em Harvard. Mas o que deveria ser essa pauta básica para o Brasil a partir de 2022? Só vencer Bolsonaro é pouco. Confira o Ponto de Partida no YouTube.

E... Logo mais, às 18h15, vai ao ar o Conversas com o Meio desta semana. A entrevistada é a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP), que conta sobre e avalia a origem dos violentos ataques que recebe de seu próprio campo político pelas redes sociais. Em alguns casos, ameaças. Formada em ciências políticas e astrofísica pela Universidade de Harvard, nos EUA, ela foi a sexta deputada federal mais votada em São Paulo nas eleições de 2018. Tabata explica como pensa direita e esquerda e como compreende seu papel parlamentar. No YouTube.

Miguel Díaz-Canel se tornou ontem primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba, após a renúncia na sexta-feira de Raúl Castro. Díaz-Canel já exerce a presidência do país desde 2018, também após o irmão de Fidel ter renunciado ao cargo. (Poder360)

TRANSFORMANDO NEGÓCIOS

Transformando Negócios

Com muitas empresas avançando suas iniciativas de transformação digital, um importante fator desse processo não pode ser deixado de lado: a sustentabilidade. Inteligência artificial (IA), big data, são algumas das tecnologias que possibilitam conectar o crescente interesse do consumidor com produtos sustentáveis, ao mesmo tempo tornar os negócios mais resilientes. Essa solução porém ainda não é clara. Uma nova pesquisa global descobriu que 55% de todos os entrevistados supervalorizaram a maturidade de seu programa de inteligência artificial responsável (RAI), deixando de lado, por exemplo, aspectos como justiça e equidade e mitigação de impacto social e ambiental. Para uma transformação digital de impacto, é necessário que as estratégias e prioridades de sustentabilidade sejam integradas em várias dimensões do negócio. Entenda.

Então… Com a pandemia, os brasileiros esperam mais comprometimento das marcas. Segundo a edição brasileira do ranking The Most Influential Brands da Ipsos, o Brasil foi um dos mais impactados pela Covid-19, na comparação com os outros 13 países pesquisados. 77% dos entrevistados esperam que as empresas contribuam para a sociedade. Ao mesmo tempo, metade se diz cansada de marcas que oferecem solidariedade, mas não agem. Nos anos anteriores, valores como inovação e confiança despontavam entre as marcas líderes, agora, elas dividem espaço de maneira mais igual com responsabilidade social e engajamento (interação digital). O ranking deste ano das mais influentes entre os brasileiros continua sendo liderado por Google, seguido de YouTube, Samsung, Microsoft e Facebook.

O mercado de martechs no Brasil está prestes a chegar ao patamar de US$ 1 bilhão em investimentos. Segundo a consultoria Distrito, já são 668 de startups no país que unem tecnologia a estratégias de marketing e os investimentos totais já atingiram 95% do valor registrado em todo o ano passado, de R$ 202 milhões. A categoria mais popular é relacionamentos com o cliente.

Viver

Embora os EUA ainda tenham o maior número absoluto de mortes por Covid, o Basil passou à frente do total de óbitos por cem mil habitantes. De acordo com os dados mais recentes, enquanto os Estados Unidos registram 171,4 mortos por cem mil pessoas, o número no Brasil chega a 175,6. A situação já havia acontecido no ano passado. A vacinação em massa – mais de 50% da população adulta já tomou ao menos uma dose – e medidas mais rígidas de contenção estão reduzindo o ritmo de mortes nos EUA, enquanto a média brasileira se estabilizou num patamar elevado. (Folha)

E nesta segunda-feira foram registradas 1.607 mortes por Covid no Brasil, elevando o total a 375.049 óbitos, com média móvel diária de 2.860 em uma semana. Também foram notificados 35.885 novos casos, com 13.977.713 acumulados desde o início da pandemia. (UOL)

O primeiro milhão de doses da vacina da Pfizer, previsto para chegar na próxima semana, deve ir para capitais e cidades de grande porte, segundo ideia discutida no Ministério da Saúde. A avaliação dos técnicos é de que as exigências de logística do imunizante, como armazenamento a -60ºC, são mais complicadas em cidades menores. Enquanto isso, o Instituto Butantan prevê acelerar em maio a produção da CoronaVac com a chegada de novos insumos da China. (Globo)

Então... A Anvisa autorizou os testes no Brasil com mais uma vacina chinesa, desenvolvida pelo laboratório Sichuan Clover Biopharmaceuticals. Serão 12 mil voluntários nos três Rios: Grande Sul, Grande do Norte e de Janeiro. (Poder360)

E na contramão do Conselho Federal de Medicina (CFM), os conselhos regionais já abriram 43 sindicâncias contra médicos por prescreverem tratamentos sem comprovação ou comprovadamente ineficazes contra a Covid-19. (Estadão)

As variantes do Sars-Cov-2 estão levando pacientes jovens a serem intubados menos de 24 horas depois de darem entrada nos hospitais, segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. Para reduzir o problema, as autoridades recomendam que as pessoas busquem serviços médicos logo aos primeiros sintomas. (G1)

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O drone Ingenuity, que acompanha o robô Perseverance, fez o primeiro voo de uma aeronave terráquea em Marte. Confira as imagens. (NASA)

Panelinha no Meio. Na sua casa costuma sobrar comida? Bem, sobra de um dia, banquete do outro. E esse ditado ganha ainda mais refinamento quando se transforma um espaguete à cabonara, com ovos, bacon e parmesão, numa deliciosa fritata – que é a mesma coisa que fritada, só que mais elegante.

Cultura

Lulu Santos, Roberto Frejat, Jorge Vercillo e Danilo Caymmi estão estre os artistas que participam da segunda campanha da Abramus em apoio a profissionais da música que estão em dificuldades devido à pandemia de Covid-19. Parte dos direitos autorais por determinadas canções desses músicos ajuda a comprar alimentos e outros produtos para técnicos de som, iluminadores e músicos que ficaram sem trabalho devido à suspensão dos shows ao vivo. Na primeira campanha, feita no ano passado, a Abramus, uma das maiores associações de direitos autorais do país, distribuiu 32 toneladas de alimentos. (Estadão)

Os russos estão furiosos. E não é com as sanções impostas por Joe Biden. O motivo da ira é o vídeo game Militsioner (Miliciano, ou, mais precisamente, Policial), do estúdio russo Tallboys. No jogo (trailer no Youtube), o protagonista tenta fugir de uma cidadezinha, mas é impedido e perseguido por um policial gigantesco e etéreo – uma metáfora nada sutil para a opressão do Estado. O problema é que dito policial reproduz a figura do “Tio Styopa”, um personagem infantil que simbolizou, no período da União Soviética, as “virtudes da milícia estatal”. A TV russa estrilou, acusando os produtores de “russofóbicos”. Como, segundo pesquisa de 2020, 75% dos russos acham que a ditadura soviética foi o melhor período do país, mexer com certos símbolos é encrenca na certa. (Folha)

Cotidiano Digital

Novidades do Facebook. Após rumores, a big tech confirmou que lançará um rival do Clubhouse. O Live Audio Rooms permitirá gravar conversas e distribuí-las e, eventualmente, será possível cobrar pelo acesso a essas salas por meio de uma assinatura ou taxa. A ideia é lançar para alguns usuários nos próximos meses e depois integrar a ferramenta no Messenger. Outros lançamentos anunciados incluem o Soundbites, uma espécie de TikTok de áudio, e a inclusão de podcasts no Facebook.

O Parler voltou para a App Store. Após quatro meses, a Apple liberou o app que é uma espécie de Twitter da extrema-direita e que foi banido por ajudar na propagação de discurso de ódio no dia da invasão de apoiadores de Donald Trump ao Capitólio. O app, no entanto, ainda está fora da loja virtual do Google e do sistema de hospedagem da Amazon. Mas, a liberação, segundo a Apple, é porque o Parler melhorou, durante esse período, sua política de moderação e deteção de conteúdo extremista. O anúncio da big tech foi feito ontem antes de sua participação numa audiência antitruste no Congresso, que deve acontecer na quinta (22), sobre competição nas lojas virtuais.

Por falar na Apple… Hoje tem evento da big tech. Devem ser apresentados uma série de novidades em produtos, como a nova linha de iPads, AirPods e lançamento dos AirTags, pequenos dispositivos que podem ajudar a encontrar os eletrônicos. O evento começa às 14h, horário de Brasília, e pode ser assistido por aqui.

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