A pergunta que não quer calar: como você está?

A pergunta que não quer calar: como você está? De cada 10 brasileiros, pelo menos quatro relataram problemas psicológicos como ansiedade ou depressão desde o início da pandemia, indica pesquisa realizada pelo Datafolha. Aqueles que tiveram o diagnóstico confirmado representam 28%. Outros 46% relataram que um parente ou amigo apresentou algum sintoma no período. E quase metade dos brasileiros ativos no mercado de trabalho hoje sofre de algum nível de depressão, sendo que em 14% desses casos a doença é crônica. São dados da International Stress Management Association (ISMA).

“Como você está?”, perguntei a mim mesma esses dias. Estar bem ou não hoje em dia é algo como: estou vivo, estou bem. Não estou de luto, o exame deu negativo, tudo ótimo. Não importa se você já não dorme direito há tempos, sente uma fadiga crônica, arroubos de ansiedade logo de manhã e taquicardia à noite. Não importa se o estado agudo de angústia deu lugar a uma condição de abatimento crônico na pandemia. Um embotamento generalizado. Você está abatido, mas segue funcional. Peraí, importa sim. Meu estado mental importa. E não pode ser negligenciado.

Não dá nem para ter uma crise alérgica em paz. Será que é Covid? Imagens de covas coletivas vêm à mente. Até se sentir profundamente triste sem um brutal autojulgamento também está difícil. E alegre então? Vem a voz: alegre durante a maior crise sanitária e hospitalar do país? Vou me alienar: culpa. Como achar o limite entre a alienação e doses controladas da realidade distópica?

Mas a pergunta que não quer calar é: como você está? Eu me dou conta de que não consigo responder de forma sincera. Nem para mim mesma, nem para os outros. Medo da vulnerabilidade emocional? Respostas vagas, rasas e impessoais. Você está profundamente exausto de tudo, mas já nem altera seu tom de voz. Disfarçar por escrito (ou virtualmente) é mais fácil, não é mesmo? A superficialidade e o pseudo senso de normalidade são insustentáveis, além de cafonas. A tendência primavera-verão de 2022 é a sinceridade sem filtros.

Além do aumento vertiginoso de doenças mentais, tem o cansaço. E o tema está nas telas e nas páginas de livros. Nesta quinta, estreou no GNT Sociedade do cansaço, série documental baseada no livro homônimo do sul coreano Byung-Chul Han. Para aprofundar a reflexão acerca desse tema, cada episódio gira em torno de assuntos atuais como trabalho, internet, lazer, padrão estético, remédio, sono, relacionamento, consumo, positividade tóxica e segurança. A série conta com entrevistas com especialistas como Gilles Lipovetsky, filósofo francês e teórico da Hipermodernidade; Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro; e Maria Homem, psicanalista, professora e pesquisadora.

Já o lançamento literário Não aguento mais não aguentar mais: Como os millennials se tornaram a geração do burnout (Anne Helen Petersen) reflete sobre uma geração à beira do esgotamento. A série Diário de um confinado (Globoplay), de Bruno Mazzeo e Joana Jabace, que acaba de ser indicado ao Emmy Internacional,  revela as angústias da flexibilização da quarentena.

“Não era esgotamento — nós ainda tínhamos energia. Não era depressão — não nos sentíamos impotentes. Apenas nos sentíamos um pouco sem alegria e sem objetivo”, esclarece Adam Grant em artigo para o New York Times: “Há um nome para o seu mal-estar na pandemia: chama-se definhamento. Um estado mental às vezes negligenciado pode embotar sua motivação e seu foco; e pode ser a emoção predominante em 2021″. O especialista defende que precisamos de um nome para o estado de estagnação e desânimo que não chega a ser depressão. Para ele, a palavra é ‘definhar’. É sobre isso.

Se você se identificou com o relato, procure ajuda e conte com essa Biblioterapia:

Talvez você deva conversar com alguém: Uma terapeuta, o terapeuta dela e a vida de todos nós (Lori Gottlieb)

A morte é um dia que vale a pena viver – E um excelente motivo para se buscar um novo olhar para a vida (Ana Cláudia Quintana Arantes)

Mulheres não são chatas, estão exaustas (Ruth Manus)

Os lugares que nos assustam: Um guia para despertar nossa coragem em tempos difíceis (Pema Chodron)

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.

Se você já é assinante faça o login aqui.

Fake news são um problema

O Meio é a solução.

R$15

Mensal

R$150

Anual(economize dois meses)

Mas espere, tem mais!

Edições exclusivas para assinantes

Todo sábado você recebe uma newsletter com artigos apurados cuidadosamente durante a semana. Política, tecnologia, cultura, comportamento, entre outros temas importantes do momento.


R$15

Mensal

R$150

Anual
(economize 2 meses)
Edição de Sábado: O jogo duplo de Pacheco
Edição de Sábado: A política da vingança
Edição de Sábado: A ideologia de Elon Musk
Edição de Sábado: Eu, tu, eles
Edição de Sábado: Condenados a repetir

Sala secreta do #MesaDoMeio

Participe via chat dos nossos debates ao vivo.


R$15

Mensal

R$150

Anual
(economize 2 meses)

Outras vantagens!

  • Entrega prioritária – sua newsletter chega nos primeiros minutos da manhã.
  • Descontos nos cursos e na Loja do Meio

R$15

Mensal

R$150

Anual
(economize 2 meses)