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Você conhece as bolhas brasileiras?

A edição deste Sábado do Meio, aquela que os assinantes premium recebem por email no fim de semana, é uma entrevista que fiz com o Felipe Nunes, da Quaest Pesquisas, na semana passada. Os assinantes podem assistir a entrevista inteira, também, no nosso streaming. Mas eu queria trazer um pouco da conversa para cá. Para a nossa conversa cotidiana. Pelo seguinte: essa é a maior pesquisa de valores jamais feita no Brasil. Dez mil entrevistas, mais de uma hora e meia de questionário. Essa pesquisa gigantesca, o Brasil no Espelho, é tema do livro que o Felipe acaba de lançar. E muitas das perguntas que nos fazemos cotidianamente estão respondidas lá. Por exemplo: bolhas existem. E vamos dar a real aqui. São nove bolhas no Brasil. São grupos fechados, que compartilham de valores bastante específicos, e têm resistência a falar com quem é muito diferente. Estas nove bolhas se dividem da seguinte forma: três estão fechadas com Lula. No total, representam 41% do eleitorado. Quatro estão fechadas com a direita. Representam 49% do eleitorado. E tem duas que podem ir para um lado ou para o outro, 10%. Mas calma. Isso quer dizer que a direita tem uma vantagem? Claro que sim. Mas, primeiro, o brasileiro não é tão coerente assim. Então há traições, gente numa bolha que, apesar de comungar de valores, vota no outro lado. E tem gente que não vota. Então a vantagem da direita existe, mas ela não define a eleição. A eleição do ano que vem deve ser apertada. Mas antes de entrarmos no detalhe sobre o que é cada bolha, vamos falar de ser brasileiro. Porque há alguns traços que todos nós compartilhamos. O primeiro é bem triste. Somos uma das sociedades com menor índice de confiança interpessoal do mundo. A gente simplesmente não confia um no outro. Sabe, democracias liberais dependem de dois elementos. Um é a capacidade de autonomia individual. As pessoas poderem fazer suas escolhas para sua vida. Governo não dá pitaco, família não dá pitaco, cada adulto faz suas escolhas e se responsabiliza por elas. Mas, simultaneamente, um senso forte de comunidade. A ideia de que estamos juntos nesse barco, precisamos nos respeitar uns aos outros e entrar em acordos para colaborarmos. É assim que negócios nascem e a economia cresce, é assim que construímos um lugar bacana no qual moramos os vizinhos. É um sentir: hashtag tamo junto. Não tem isso no Brasil. A gente não confia no outro. Isso tem consequências institucionais. Não importa se você é de direita ou de esquerda, o brasileiro quer um Estado forte e quer muita regra. Muita proibição. É um Estado forte para controlar que o outro não esteja quebrando as muitas regras. O tipo de governo que temos, o tipo de lei que fazemos, está diretamente ligado ao fato de que a gente não confia. Aí tem outro elemento interessante. O brasileiro entende muito pouco de Brasil, entende muito pouco de economia, mas não percebe isso. Ele acha que entende muito. A turma da Quaest perguntou sobre PIB, sobre segurança, sobre inflação, quem respondeu errou quase tudo. Mas errou tendo a certeza de que estava certo. O que isso quer dizer? Que põe dois sujeitos num debate, um de um lado, o outro do outro, ninguém vai ceder, os dois vão ter certeza de que estão certos, e ambos têm muito pouca informação real. O Felipe chama isso de a “ilusão do conhecimento”. Agora, sabe o que é interessante? Mulheres e homens são bem diferentes. Não é que as mulheres tenham mais informação. Não têm. Mas elas reconhecem quando não sabem. Nós homens? Nenhuma surpresa, né? Mulheres são, também, a força que empurra por transformações na sociedade. Se há mudanças, no Brasil, é por causa delas. A maioria dos homens são conservadores. E, sim, isso vale para a esquerda, também. A direita brasileira é bem homogênea. 70% dela é conservadora. Mas a esquerda, bem, metade da esquerda é conservadora a respeito de gênero, põe a família como núcleo moral, defende autoridade do pai, tem uma visão de mundo em que a providência de Deus tem um papel imenso. São pessoas que votam em Lula sem piscar mas não compram discurso de diversidade. Progressistas, a turma identitária, eles são 11% dos brasileiros. É uma super-minoria. Talvez muitos de vocês já saibam disso, mas vamos dar a real para quem não sabe. O Lulismo é conservador nos costumes. Vamos falar das bolhas brasileiras? Vem comigo. Vamos da esquerda para a direita. Os três conjuntos de brasileiros que votam em Lula majoritariamente são, primeiro, os militantes de esquerda. Representam 7% do eleitorado. Imagina um sindicalista, uma pessoa de muitos dos movimentos sociais como MST. Pessoas de partido, fundamentalmente. Aí tem a classe dos dependentes do Estado. São 23% de nós. É gente para quem programas sociais são fundamentais. Os brasileiros mais pobres. Os serviços públicos, para eles, o Bolsa Família, um Jovem Aprendiz, tudo faz diferença gigante no mês. Cada dia é uma batalha, é sair de casa e matar um leão para trazer comida. Eleitores fidelíssimos de Lula. E, sim, conservadores. Como muitos dos militantes. Aí os progressistas. 11%. Já falamos deles. Alto nível educacional, em geral renda mais alta, muitos fazem parte da elite econômica embora tenham profunda dificuldade de reconhecê-lo. Esses não têm nada de conservadores. No total, 41% do eleitorado brasileiro e vão de Lula. Agora, à direita. Conservadores cristãos. 27% do eleitorado. Não são todos evangélicos, há católicos no grupo, mas é uma gente conservadora que se aproxima muito de considerar que as leis da nação deveriam se aproximar de valores religiosos. O Agro. 13%. Não são só os grandes fazendeiros, mas é este mundo no interior de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, do Centro Oeste, que orbita o agronegócio, a cultura do sertanejo. Empresários, 6%. O nome explica. Não entram na conta só os grandes, não, mas também médios e pequenos. É gente que emprega, que gera PIB, que produz, e que acha que o Estado atrapalha mais do que ajuda na economia. E, por fim, extrema direita. 3%. É a menor de todas as bolhas. Esse é o pessoal que realmente preferia um regime autoritário. Não é muita gente, é a menor das bolhas, mas não custa lembrar. São seis milhões de pessoas. Total, 49% do eleitorado. E os outros dez? As duas bolhas que estão em disputa são muito diferentes com exceção do tamanho. Cada uma representa 5% do eleitorado. Um grupo é o dos empreendedores individuais. São homens, são jovens, tiveram uma educação melhor. Seus pais eram pobres. Muitos tiveram educação superior. E são frustradíssimos. Porque estudaram em faculdades públicas novas ou nas muitas particulares onde tiveram uma educação muito ruim. Fizeram faculdade, saíram com um canudo, mas não são uma mão de obra realmente qualificada. Então dirigem Uber. Isso dá uma frustração, a crença de que educação faz você crescer foi rompida. É como se o país não permitisse que eles cresçam. E essa turma tem uma gana de crescer. Olha que complicado, esse grupo. Votaram em Lula, em 2022. Os de São Paulo votaram em Pablo Marçal, em 2024. Por que votaram em Lula? Porque não tiveram qualquer ganho no governo Bolsonaro. É um público que não está nem aí para se o candidato é de direita ou de esquerda. Vota pensando na economia, pode votar em qualquer um, e só pensa em crescer na vida. Agora, vem cá, não confia no Estado, tá? Acha que o Estado atrapalha. Lula se deu muito mal com esse público quando tentou regular quem trabalha por aplicativo. Não querem que se metam na vida deles. A popularidade de Lula não passa de 50% principalmente por causa desses caras e, sim, são principalmente homens. Mas dá para reconquistá-los. Tem de ver se o PT vai ser capaz de criar um discurso para eles. Se criar, eles vão prestar atenção. E aí, por fim, os liberais sociais. Classe média tradicional, ávidos leitores, liberais na economia, progressistas nos costumes e defensores de um Estado de bem-estar social. Acham o PT, Lula e a esquerda em geral um desastre na economia. Tomaram horror da política externa deste governo Lula. Querem votar na direita. Querem não precisar votar na esquerda. Mas esse grupo tem um detalhes. De todas as nove bolhas, é a única que põe a democracia como o valor máximo. Se a direita vier com alguém com muita cara de bolsonarista, não leva o voto desse pessoal. Os dois, empreendedores individuais e liberais sociais, votaram em Lula em 2022. Preferiam não, mas votaram, por razões distintas. Um pela economia, o outro pela democracia. São, na leitura de Felipe Nunes, os dois grupos que definirão o próximo presidente da República. Quando Tarcísio fala que o Brasil precisa trocar o CEO, os empreendedores gostam. Quando Tarcísio defende a anistia, os liberais sociais tomam asco. Quando Lula trata Putin de um jeito e Netanyahu do outro, os liberais sociais não gostam. Mas pé de meia pega bem. A eleição já começou, pessoal.
Bolsonarismo fraco, democracia forte

No Ponto de Partida React desta sexta-feira (28), Yasmim Restum e Pedro Doria falam sobre um momento decisivo e sem precedentes na política brasileira, marcado não apenas pela prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro e de altos oficiais condenados pela trama golpista, mas também pelo esvaziamento do bolsonarismo. Estamos falando da encruzilhada histórica enfrentada pelo Superior Tribunal Militar (STM), que vai julgar a perda de posto e patente desses militares. As Forças Armadas vão decidir se tentar derrubar a República é algo "normal" ou a "desonra máxima" para quem veste o uniforme — um processo que pode revelar o amadurecimento da nossa democracia. Yasmim Restum e Pedro Doria te guiam nessa jornada com uma seleção dos comentários que vocês enviam nas redes sociais e canais do Meio. Para participar, comente nos vídeos do Ponto de Partida de segunda ou quarta. Assista em vídeo no Youtube, e acompanhe em áudio no seu tocador de podcasts preferido.
O que os militares acham do golpe?

O julgamento dos golpistas não acabou. Eu sei, eu sei. Todo mundo está mexido com a declaração, pelo governador paulista Tarcísio de Freitas, de que vai conceder a graça presidencial a Bolsonaro, caso seja eleito. Gente, essa aí está muito longe. Até finais de março do ano que vem, ou seja, ainda antes de sabermos se Tarcísio vai ser candidato a presidente ou não, uma decisão muito mais importante será tomada. É o futuro dos generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, além do almirante Almir Garnier dos Santos. Quem vai tomar a decisão? O Superior Tribunal Militar.
Acabou, Bolsonaro

Aconteceram muitas coisas interessantes nesse fim de semana, não é? E vocês bem imaginam que não estou falando só da prisão de Jair Bolsonaro, né? Porque é mais do que isso. As coisas que aconteceram nos últimos três dias abrem uma janela imensa para compreendermos o fenômeno do bolsonarismo. E, dessa compreensão, põe no centro do palco a pergunta mais importante que temos para fazer. Tudo leva a crer que esta prisão preventiva se tornará permanente ainda esta semana. O bolsonarismo está acabando de vez? A pergunta importa, tá? Ela é mais premente do que nunca. Pelo seguinte: na quinta-feira, o senador Flávio Bolsonaro foi para as redes e convocou uma vigília quase na porta da casa do pai. Uma grande oração coletiva, uma grande muvuca, para aguardar a prisão que todos sabem estava por vir. Só que aí o ex-presidente tomou a decisão de meter um ferro de solda na tornozeleira eletrônica, que é a condição fundamental para a prisão ser domiciliar. Gente, do ponto de vista jurídico não faz diferença se ele surtou ou se fez consciente. No momento em que ele se mostra inconfiável para usar uma tornozeleira, não pode ficar em casa. Porque ele é um homem em risco de fuga. E esse é um dos assuntos nos quais a gente vai entrar hoje. O fato é que antecipou-se a prisão. Convocou-se a vigília, o presidente foi preso e aí foram meia dúzia de gatos pingados. Não tem multidões acampadas, não tem multidão na paulista. Não tem milhares. Está entre as dezenas e centenas. A prisão não está mobilizando os bolsonaristas. Por quê? O que isso quer dizer? E tem dois pontos aos quais quero me ater aqui, pra gente fazer o mergulho que precisamos fazer. O bolsonarismo tem duas características. Uma é que ele é paranoide. Ele se sustenta por paranoia. Por um pensamento conspiratória. Quando os advogados dizem que o ex-presidente entrou num surto achando que a tornozeleira estava gravando, olha, ele é um paranoico sim. Se houve surto, é médico que pode afirmar. Mas ele tem uma mentalidade paranoide, sempre teve. Tudo tem uma grande teoria para explicar qualquer coisa. Desde o tempo em que ele queria espalhar umas bombas, lá atrás, ainda capitão do Exército, paranoia já era um traço importante dele. E isso ajuda a compreender o bolsonarismo demais. O segundo traço, a segunda característica, é a covardia. Vamos lá. Do Mensalão para cá, a gente prendeu um monte de políticos. José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, o próprio Lula. Todos se entregaram à polícia. Tem mais. Se entregaram perante as câmeras e erguendo a mão direita fechada. Estavam na luta, mobilizando a militância. Mas não ficou nisso, né? Foram presos também Michel Temer, Moreira Franco, Eduardo Cunha, Rodrigo Rocha Loures. Caramba, acho que quase todo governador do Rio dos últimos 25 anos. Sobra quem? A Benedita? Sergio Cabral Filho ficou seis anos na cadeia. E em penitenciária, tá? Eles não ergueram braço, não fizeram campanha, mas quando a polícia bateu à porta, foram. Ora, são políticos, são ex-parlamentares, trabalham dentro de uma máquina que é um Estado de leis e quando o Estado decide pelo cerceamento de liberdade, você joga dentro. E no bolsonarismo? Allan dos Santos, Zé Trovão, Carla Zambelli, Alexandre Ramagem. A lista é longa, viu? Bolsonarista rejeita a Justiça brasileira. Acha que não se aplica a ele. Bolsonarista acha que as regras valem pros outros mas não para eles próprios. Pra não falar do Jair, né? Carta pros argentinos pedindo asilo, noite dormida na embaixada húngara. É tal coisa, né? Sobe o carro de som e fala que nem macho. Ou me reelejo, ou me prendem, ou vão me ver morto. E prisão não é alternativa. Pura bravata, não acredita em nada disso. Como essas duas peças se encaixam? A paranoia e o achar que as regras são para os outros, não para si? E o que entender essa chave do bolsonarismo ajuda a desvendar se o bicho está vivo ou moribundo? Vem comigo, vamos contar. Vou lançar mão de dois cientistas políticos aqui, tá? O primeiro é o birtânico Michael Freeden. Ele é, possivelmente, a maior autoridade viva no estudo de ideologias políticas. E, mais do que explicar o que diz cada uma, ele tenta compreender a visão de mundo que as pessoas que abraçam cada ideologia emanam. E a mete conservadora, ela é bem diferente da mente socialista e da liberal. É que o conservador parte de uma maneira bem particular de compreender o jeito que a sociedade se organiza. Para ele, a organização social, as hierarquias, o chefe e o funcionário, o marido, a mulher, os filhos, a escola, o quartel, a firma, tudo está organizado de um jeito que veio de muito tempo atrás, foi construído muito lentamente, e que isso promove um equilíbrio sólido mas delicado. Se mexe demais, gera desordem, gera caos, gera uma ameaça a todos. O incômodo do conservador com liberais e socialistas vem principalmente disso. Os dois querem mexer com políticas públicas. De jeitos diferentes, claro, mas querem mexer. O conservador acha isso um risco tremendo. Agora olha pros últimos 35 anos. De 1990 para cá. Fim da União Soviética, globalização, abertura das nações ao comércio de todos com todos, formação da União Europeia, Internet, comunicação rápida de todos com todos, consolidação de direitos LGBTQIA+, de direitos femininos, ampliação da classe média, urbanização rápida, mudança radical do perfil religioso brasileiro com ampliação dos evangélicos por um lado e dos ateus, principalmente entre os mais educados. Líderes políticos perdem poder para plataformas digitais globais. O perfil do trabalho operário muda para trabalho mediado por plataformas. O desenho da família tradicional entra em colapso, os casais param de ter filhos. E IA já entrando. Olha, se você parte de um olhar que qualquer coisa distinta do que sempre foi é desordem, se conta com lentos movimentos, estamos no caos. Estamos no surto. O mundo colapsou. Agora pensa o seguinte. Se você acha que a organização da sociedade é um processo de muito séculos, muito lento, isso quer dizer também que, quando as mudanças são rápidas, na sua cabeça, isso não pode ser natural. Não é porque houve uma transformação de base tecnológica que levou a contatos que antes não haviam e isso altera economia e comportamento e valores. Não é porque multidões mudaram de tal forma seu jeito de ser que, coletivamente, isso levou a um rearranjo ainda em curso. Não pode. O conservador, no ambiente que ele entende como a mais pura desordem, acha que tem de ter um culpado. Aí entra outro cientista político, o americano Richard Hofstadter. Ele propõe a ideia de um “estilo paranoico de fazer política”. Puro Bolsonaro. Bolsonaro sempre foi um camarada conspirador. Por que ele não tinha público grande em 1990? Por que não tinha em 2010? Por que começou a crescer em 2016 e explodiu em 18? Porque os conservadores não estavam assustados antes. Mas conforme compreenderam que o mundo estava acelerando sua transformação, panicaram. E, ao entrar em pânico, foram buscar um culpado. Alguém que explicasse quem, ou que pequeno grupo de pessoas, havia tomado a decisão de mudar tudo secretamente. O Foro de São Paulo, o Marxismo Cultural, as ONGs a serviço de estrangeiros. Jair Bolsonaro soa cada vez menos atraente para este público. O conservador, gente, gosta de ordem. Não gosta de caos. E talvez, fora do núcleo principal bolsonarista, aqueles 12 a 13%, muitos estejam começando a ver Bolsonaro ele próprio como um agente do caos e da desordem. Será? É uma tese na mesa. Mas isto não quer dizer que outro que apresente outra teoria conspiratória não ganhe espaço. Ou pode querer dizer que exista sede por uma direita que traga tranquilidade, paz, que prometa um governo chato. Sabe chato? Presidente que chega no Palácio to dia 9 horas, saia à 5, faça suas viagenzinhas, cumprimente outros presidentes e não grite, e não faça marola com pouco. O estilo paranoide de política sempre tem ali seus 10% da sociedade, na direita, que vive mergulhado nele. Ele se amplia por um tempo, em momentos como o atual. De muita transformação. A ironia é que ele não evita a transformação, ela vai continuar acontecendo. Ele só aumenta a dor, o esforço coletivo para lidar com as mudanças, ele só cria mais atrito, faz com que o custo de se adaptar à nova realidade fique maior. Tem uma hora que as pessoas percebem isso. Sabe o que os cientistas políticos não sabem dizer? Quanto tempo demora pra ficha cair? Oito anos, dez? Vinte? Será que, no Brasil, já caiu? Eu acho que temos indícios de que sim. Depende de alguém na direita comprar a ideia da tranquilidade como plataforma. Depende de alguém, na direita, vestir a camisa do conservador de verdade e rejeitar o tumulto reacionário.
Lei Antifacção e a liberdade de sonhar

A Câmara dos Deputados aprovou recentemente Lei Antifacção, em um texto que gerou críticas do governo federal - que viu sobreposição de legislações e alteração no destino de verbas da Polícia Federal. Entre outros pontos, a lei cria novos tipos penais e amplia o poder da justiça para bloquear e confiscar bens de origem ilícita já na fase de inquérito. No Ponto de Partida React, desta sexta-feira (21), Yasmim Restum e Pedro Doria falam sobre a lei não resolver o problema da criminalidade urbana, e levantam falhas sistêmicas em áreas como educação, saúde e outros serviços públicos. A conversa passa também pelo poder das máfias como fator limitante ao direito de "sonhar" durante a infância em territórios dominados. Yasmim Restum e Pedro Doria te guiam nessa jornada com uma seleção dos comentários que vocês enviam nas redes sociais e canais do Meio. Para participar, comente nos vídeos do Ponto de Partida de segunda ou quarta. Assista em vídeo no Youtube, e acompanhe em áudio no seu tocador de podcasts preferido.
A Lei Antifacção é boa

A Lei Antifacção, que a Câmara dos Deputados aprovou ontem e o Senado vai encarar, não é ruim. Ela também não vai resolver o problema da criminalidade urbana, tá? Mas, olha, a que o Planalto mandou também não iria. Só que o ponto é o seguinte: a lei é melhor do que o que tínhamos antes. E, pra entender bem essa lei, para entender seus efeitos, a gente tem uma felicidade. Saiu também essa semana a pesquisa do DataFavela, organizada pelo Preto Zezé, que apresenta um panorama dos brasileiros que vivem do crime nas comunidades do país como jamais tivemos. Tem um monte de lição ali se quisermos ouvi-las. Vamos começar pelo básico. O que a lei diz. Ela começa criando um tipo penal novo, o “domínio social estruturado”. Ou seja, ele acontece quando três ou mais pessoas, ligadas a uma organização criminosa ou a uma milícia, usam de violência para controlar um território. Ou para impor controle sobre determinadas atividades econômicas. Vocês entendem: Gatonet, luz, distribuição de gás, vans. Ou então usam violência para atacar alguma infraestrutura essencial. Ônibus, metrô, energia, mesmo prisões. Em essência, a lei reconhece que formar uma máfia, como as da Itália ou dos Estados Unidos, como acontece hoje no Brasil com Comando Vermelho, com PCC ou as milícias, é um crime próprio. Ter este reconhecimento, por si, já é um grande ganho. Aí a lei cria outro tipo penal. O do favorecimento do domínio social. Quer dizer, quem ajuda. Presta serviços, dá abrigo, fornece informação, guarda armas ou explosivos. Não tem esse nome, mas é o crime de associação mafiosa, que todos os países que venceram máfias tiveram de formalizar em seus códigos. Vai além nos agravantes. Se você exerce comando nesta associação, aumenta a pena. Se é sua função obter recursos para a associação, aumenta a pena. Se você é um funcionário público, um PM, um bombeiro, e participa, sua pena é maior. Se constrói ligações com outras organizações criminosas, no Brasil ou no exterior, também aumenta a pena. E, olha só, também aumenta a pena se você buscar vantagem econômica com garimpo ilegal ou exploração ilegal de florestas. Nada disso, a penetração na estrutura do Estado, o intercâmbio com o ataque à Amazônia, nada disso estava claramente numa lei. Agora, está. E é bom que esteja. Mas vamos seguir. Um juiz passa a poder bloquear, já no inquérito, ou seja, antes de uma condenação, antes mesmo de começar o julgamento, qualquer bem ligado aos crimes que estão sendo investigados. Imóveis, veículos, contas em banco, criptomoedas, participação em empresas. Até empresas inteiras. Então se um fundo na Faria Lima estiver limpando dinheiro, o juiz pode simplesmente bloqueá-lo. Pode bloquear acesso a crédito e a pagamentos, a quaisquer plataformas digitais. O confisco é antecipado. É um bocado de poder na mão da Justiça. E, olha só, mesmo que não aconteça uma condenação da pessoa, o juiz pode apreender quaisquer bens se for comprovada a origem ilícita. O confisco pode ser feito de quaisquer bens incompatíveis com a renda declarada do condenado nos cinco anos anteriores ao crime. Inclusive se estiver em nome de terceiros. E inclui na conta responsabilidade solidária de sócios e herdeiros. Não é uma lei ruim. É bom que a gente a tenha. Mas, então, por que não resolve o problema? Olha, o mundo é mais complicado do que isso, então vamos lá. Vem comigo. O problema da lei é que ela parte do seguinte princípio: se a pena for dura o suficiente, as pessoas não vão cometer o crime. Basta ter medo de ficar tempo demais na cadeia, de ferrar com a vida de filhos e netos. Só que não é assim que funciona na vida real. A pesquisa do Datafavela conversou com quase quatro mil pessoas que trabalham no crime em favelas de 23 estados do país. Gente do PCC, do Comando Vermelho, dos grupos menores. Por que as pessoas entram no crime? Para fazer dinheiro. A maioria é soldado, é olheiro, avião. São jovens, estão armados e bem mais que a metade ganha até três mil e quinhentos por mês. Mais da metade já passou pela cadeia. E, hoje, como está hoje, o Brasil precisa de 200 mil vagas nas cadeias. Vamos prender mais gente e por mais tempo? Bem, começa assim. Precisamos construir muito mais presídios. Veja, esses jovens já passaram pela cadeia. Na cabeça deles, o destino é um de dois. Ou morte cedo ou prisão novamente. Eles não acham que terão um destino diferente. Na cabeça deles, a pena aumentar não muda nada. Porque, veja, não é só que mais da metade dos entrevistados já foi presa. Mais da metade têm parentes presos ou que foram presos também. Percebe o ciclo? E, olha, eles passam uma boa parte dos dias drogados. Metade não completou o Fundamental. 7% não têm qualquer instrução formal. Só 13% têm ensino médio completo. Vivem drogados, têm pouca instrução, a vida que conhecem inclui violência e morte e cadeia. Não quero dar uma de gente de esquerda que passa a mão na cabeça de facínora, não, tá? Mas isso aqui que a gente tem é um problema social. Podemos prender mais. Devemos prender quem comete crimes. É só que a lei parte do princípio de que, se prender e prender por tempo o suficiente, resolve. Não resolve. Não resolve porque o medo de ser preso e ser morto já existe e não impede ninguém de estar nisso hoje. E tem outra coisa que a gente sabe, tá? É nas prisões que PCC e Comando Vermelho se estruturam. As prisões fazem parte da mecânica de poder destas organizações criminosas. Seria ótimo se fosse fácil resolver prendendo, é só que o tipo de cadeia que temos fortalece as facções. Não as enfraquece. Então como resolve? Bem, vamos lá. 68% dizem que não têm qualquer orgulho do que fazem. 84% dizem que não querem os filhos seguindo o mesmo caminho. Insônia, ansiedade, depressão. Se queixam de tudo e é fácil imaginar que é assim mesmo, né? É uma vida desgraçada e é como um vício. O sujeito entra e não sabe como sair. Entra no ciclo. E ele ganha muito mal. Quem acha que é uma vida de namoradas, tênis da moda e ser celebridade no morro, para a maioria deles não é nada disso. Que tipo de profissão tira seu futuro, põe a chance de você morrer jovem lá em cima, te mantem em estresse absoluto 100% do tempo e te paga dois salários mínimos por mês? A maioria diz que o dinheiro acaba antes do fim do mês, tá? 58% dizem que deixariam o crime se tivessem oportunidade econômica. É só que eles não acreditam que vão conseguir emprego. E, se conseguirem, não acreditam que vão manter o emprego. Vocês perceberam a armadilha da lei? O deputado Guilherme Derrite veio de São Paulo com um projeto ruim debaixo do braço. O governo pressionou, o Parlamento trabalhou, no final saiu um projeto direito. Ele entende as falhas que a legislação tem hoje. Ele não chama nosso problema de máfia, mas tipifica o crime, ataca a organização e vai no dinheiro. O problema que fica é o seguinte. Ele não resolve a base. Enquanto as favelas do Brasil não tiverem economias saudáveis, capazes de gerar oportunidades reais, de criar negócios capazes de pagar dois salários para quem mora lá, não vai ter resolvido. E isso acontece de duas maneiras principalmente. Uma é o Estado reocupando o território. Não adianta subir e matar. Os soldados são repostos, gente. Também não adianta subir e prender só. Os soldados são repostos. A polícia não tem de subir o morro. A polícia tem de estar no morro. Todo dia. Como está em Ipanema, como está em Higienópolis ou no Plano Piloto. A polícia tem de estar lá, o posto de saúde tem de ter médico, precisa agência do Itaú, do Bradesco e do Banco do Brasil. A concessionária pública de luz precisa poder cobrar uma conta. A banda larga tem de ser de uma empresa normal, com CNPJ. As pessoas precisam ter título das suas casas e precisam pagar IPTU. E, olha, a escola pública vai precisar começar a educar direito, tá? A gente universalizou acesso ao ensino, toda criança na escola, nos anos 1990. O passo seguinte era melhorar educação. Melhorou traço. Não pode. Muitos países resolveram seu problema de educação em menos de vinte anos. Estamos há quase trinta desde a universalização do acesso e ainda não conseguimos ensinar direito as crianças pobres do país. Ah, mas é complicado. Claro que é. O problema do Brasil é que resolver é complicado. Mas, enquanto a favela estiver à parte da cidade, será complicado. Cidades têm bairros pobres. Isso é normal em qualquer lugar do mundo. Mas favelas não são bairros pobres, são pedaços à parte das cidades. Tem de integrar a favela à cidade, tem de integrar as pessoas da favela ao pedaço da sociedade que tem direito a sonhar. Enquanto não fizermos isso, vai ter violência, vai ter barbárie. Porque, como sociedade, não conseguimos criar um ambiente em que um grupo de jovens olhem para o futuro e achem que tem uma chance de haver uma vida melhor. O diabo dessa frase, “ter direito a sonhar”, é que ela parece poesia barata. Não é isso. Se você acha que você não tem qualquer chance de ser médico ou engenheiro ou astronauta, quando tem cinco anos, a vida é ladeira abaixo. Se tudo o que você tem é tio preso, pai ausente, primo trabalhando de vapor. Esse é o tamanho do mundo para você. O que a pesquisa do Datafavela está dizendo é isso. Esses rapazes trabalham por muito pouco arriscando tudo. Eles não acreditam que vão manter qualquer emprego. E periga ser verdade. Aos 16 anos, eles já sequer se veem como parte com qualquer chance no mundo. Eles não entendem a possibilidade de outra vida. O Preto Zezé está falando isso pra gente faz quanto tempo? Dez anos? Quinze? Vinte? A gente vai parar pra ouvir quando? A lei Antifacção não é ruim. Ela está bem direita. Ela é necessária. Mas ela não é nem próximo do suficiente para resolver o problema.
Como máfias institucionalizadas têm tudo a ver com insegurança pública

A disputa presidencial de 2026 será uma briga apertada a ser definida por cerca de 3% do eleitorado brasileiro. Esse público decisivo valoriza o esforço, desconfia de políticos, e se preocupa com a economia, a segurança e a corrupção. Essa sensibilidade moral conecta-se à percepção da sociedade de que o crime organizado não é "terrorismo", mas sim uma máfia que atua corrompendo policiais, empresários e políticos. No Ponto de Partida React, desta sexta-feira (14), Yasmim Restum e Pedro Doria conversam sobre o conceito e máfia e como essa corrupção institucionalizada tem conexão direta com a pauta da segurança pública como moeda eleitoral mais do que valiosa nas próximas eleições. Yasmim Restum e Pedro Doria te guiam nessa jornada com uma seleção dos comentários que vocês enviam nas redes sociais e canais do Meio. Para participar, comente nos vídeos do Ponto de Partida de segunda ou quarta. Assista em vídeo no Youtube, e acompanhe em áudio no seu tocador de podcasts preferido.
Quem elegerá o próximo presidente?

Um grupo muito pequeno de brasileiros, apenas 3% do eleitorado, decidirá o próximo presidente da república. São mulheres, de classe C, mulheres jovens das periferias urbanas do Sudeste. E um novo levantamento do Instituto Ideia nos ensina muito sobre elas.
O brasileiro entendeu tudo

A tese da esquerda, para a eleição de 2026, é simples. Defesa da soberania nacional e discurso contra as elites. É isso. Ou seja, a direita quer atacar o Brasil e os ricos têm de contribuir mais. A aposta da direita também é simples. Esta será uma eleição sobre segurança pública. O brasileiro não está em paz, tem medo de ser assaltado, e a esquerda está mais preocupada com o bandido do que com o cidadão de bem. É claro que um está fazendo uma caricatura do outro, mas eleição é assim. Faz duas semanas que aconteceu a operação no Morro do Alemão e a esquerda segue sem uma resposta clara para dar. Mas e a direita? Em grande parte, os políticos de direita estão tentando entender para onde ir. O que já é claro para todos? Lula perdeu uns pontinhos de popularidade, então na direita já se sabe que foi uma vitória. A primeira vitória, da direita, em vários meses. Mas sabe quem perdeu mais do que Lula no Alemão? Jair Bolsonaro. Porque, veja, há décadas que Bolsonaro é o político dono da frase “bandido bom é bandido morto” no Congresso Nacional. Era o primeiro deputado que apareceria na cabeça de qualquer um quando alguém justificava violência policial. E, no entanto, ninguém da família Bolsonaro viabilizou, chamou atenção, puxou decisões para si. Nada. Isso é importante, tá? Porque é uma mudança. Na opinião popular, foi uma derrota pequena do governo federal e uma derrota gigante da família Bolsonaro. Naquele episódio, o resto da direita ganhou independência e espaço para agir. A cada momento assim, a relação de poder interna da direita muda. Os partidos de direita vão precisando menos da popularidade de Bolsonaro e a família Bolsonaro vai dependendo mais dos favores de políticos de direita com poder. Guilherme Derrite, o secretário de Segurança do estado de São Paulo, deixou o cargo para voltar à Câmara dos Deputados e relatar o projeto da Lei Antifacção, enviado pelo Palácio do Planalto. O texto vai ser muito mexido. Os governadores começaram a chamar esses grupos criminosos como o Comando Vermelho de terroristas. Derrite foi para a Câmara fazer isso, trazer a palavra terrorismo para o centro do palco. Só que ele tem um problema que não é pequeno nessa operação. Terrorismo é um crime tão grave que quem cuida dele é a União. É o governo federal. É um crime contra o Estado nacional. Isso quer dizer que uma lei que classifique como terroritas os traficantes tira poder dos governadores e o entrega para o presidente Lula. Isso, ora, a direita não quer. Tem outros problemas, também. Se o Brasil começa a dizer para o mundo que tem grupos terroristas agindo em seu interior, o país abre espaço para sanções econômicas, empresas brasileiras podem ter investimentos cortados nelas se houver suspeita de envolvimento com o crime. Investimento cai. Ações militares contra o Brasil entram no radar. Classificar legalmente como terrorista é uma dor de cabeça que os governadores de direita não querem. Mas ao mesmo tempo, eles querem o peso da palavra para fazer campanha eleitoral. A saída de Derrite é montar um Frankenstein. Trata todas as penas como se fosse terrorismo sem chamar de terrorismo. Mas tem um problema aí, tá? Porque estão pensando errado sobre esse crime. Terrorismo é essa palavra que enche a boca, impõe gravidade, mas é pensar errado sobre o problema que o Brasil tem. Grupos terroristas atuam politicamente. Seu objetivo é ter ganhos políticos. A base pode ser ideológica, para grupos paramilitares fascistas ou comunistas. A base pode ser nacionalista, como foram IRA e ETA, na Europa, o a OLP, da Palestina. Pode ser religiosa, como é o caso do Hamas o da al-Qaeda. Mas, fundamentalmente, o objetivo é ter um ganho político. O Comando Vermelho, o PCC ou as milícias cariocas não estão nem aí pra isso. Seu objetivo é econômico. Querem ganhar dinheiro com o crime. Então como é que chamamos grupos que corrompem a polícia e o Estado, tomam o controle de certos territórios? Que cobram uma tributação própria. Vão lá e achacam o dono da birosca, o sujeito que dirige a van. Se quer trabalhar nessa área, tem de me pagar um arrego? Como é que chamamos um crime que impõe certos serviços. Luz, compra de mim. TV a cabo? Compra de mim. Gás? Segurança? Se estes grupos começam a ficar tão poderosos que, além de entrar na Polícia e no Estado, também começam a se impor em grandes negócios, e forçar sociedade em empresas de capital aberto, e encontram outros caminhos de lavagem de dinheiro, qual é o nome que damos para esse tipo de crime? A gente pode dar um passo além. O que acontece se estes criminosos começam a ter seus próprios deputados, seus próprios políticos? Isso tem nome, gente. Tem série de TV, tem filme, aliás tem grandes séries de TV e grandes filmes sobre exatamente este tipo de crime, brutal, que depende de substituir o Estado em sua atuação. O nome é máfia. E sabe de uma coisa? Tem uma nova pesquisa, do Instituto Ideia, que mostra com clareza que a população está entendendo tudo do que está acontecendo. Vem comigo. O Ideia fez essa pesquisa em 6 de novembro e nos dá muito mais sutileza sobre o que o brasileiro pensa sobre o problema do crime que ocupa territórios de cidades, como acontece aqui no Rio mas não só. Quando a polícia é aplaudida por matar, a sociedade presta menos atenção na corrupção dentro dela. 48% concorda. 19% discorda. Quando as pessoas se sentem inseguras, aceitam que a polícia aja sem prestar contas por seus atos. 50% concordam, 21% discordam. Quando a polícia tem liberdade para agir sem prestar contas, a corrupção dentro dela aumenta. 61% concorda, 15 discorda. A violência da polícia leva o crime a se armar mais e isso faz a polícia agir com mais violência. 50% concordam, 25% discordam. Ver mortes em operações dá a sensação de que a polícia está agindo, mesmo sem resolver o problema. 51% concordam, 21% discordam. Segura essas, vamos para outro pacote de perguntas. O envolvimento de policiais, empresários e políticos corruptos dificulta o combate ao crime organizado. 81% concordam, 5,4% discordam. O combate ao crime deve priorizar a investigação e punição dos chefes, empresários, políticos e policiais corruptos. 80% concordam, 5% discordam. Facções e milícias crescem porque conseguem circular dinheiro e armas com ajuda de gente influente. 84% concordam, 4% discordam. O acesso de criminosos presos a celulares mostra que parte da polícia e do Estado participam do crime. 74% concordam, 7% discordam. A sociedade percebe que uma polícia mais violenta não resolve nada. E a sociedade tem toda a convicção de que o problema está dentro das polícias, dentro das assembleias legislativas, até em alguns palácios de governos. Com a Cosa Nostra, foi assim. Com a máfia de Al Capone, na Chicago dos anos 1930, igual. Estes sistemas criminosos se tornam intermediários entre mercados ilegais e o poder público. Fazem isso corrompendo. Ambos criam toda uma rede de economia paralela, com negócios que incluem drogas, contrabando, jogo, prostituição, venda de gás, transporte, TV a cabo. A partir daí, porque tem muito dinheiro sujo acumulado, começam a penetrar em negócios legítimos para fazer a lavagem da grana. O ponto aqui é o seguinte. Existem soluções conhecidas. Para lidar com máfias, é preciso seguir simultaneamente dois caminhos. O primeiro é ir atrás do dinheiro. Esses grupos criminosos geram muito dinheiro e precisam lavá-lo. A gente precisa entender como estão lavando suas fortunas e cair dentro dos mecanismos e das empresas que resolvem este problema deles. O segundo caminho é o de reocupação de territórios. Se tem um bairro de uma cidade em que o bandido pode chegar prum pequeno empresário e dizer metade do seu lucro, paga pra mim, a polícia tem de agir. Inclusive com força. Para impedir. Mas, para que a ação da polícia tenha sucesso, a gente não foge de fazer uma limpa dentro da polícia e dentro da política. Porque, vejam, existe uma razão para o problema não ter sido resolvido. A polícia trabalha mais para o crime do que para a sociedade. Em muitos estados, os políticos locais trabalham mais para o crime do que para a sociedade. Olha a pesquisa do Ideia. Os brasileiros já sabem disso.
Aprendizados: Mamdani em NY e megaoperação no Rio

Transporte público com gratuidade universal, creches em tempo integral, congelamento de alugueis. Tudo isso faz parte das promessas de governo de Zohran Mamdani, democrata que é hoje o mais jovem prefeito de Nova York - socialista e muçulmano.