Cancelem as festas juninas!
No Ponto de Partida desta sexta-feira (13), Yasmim Restum e Pedro Doria conversam sobre uma polêmica recente envolvendo as tradicionais festividades juninas, de São João, Santo Antônio ou mesmo de São Pedro. Neste papo, você vai saber um pouco mais sobre o brasileiro rural, caipira, de um passado nem tão distante, e como ele se relaciona com essa festividade mais intimamente do que costuma-se falar por aí. Ao final, passando rapidamente pelo assunto dos depoimentos dos réus da trama golpista no STF, sobrou tempo para Pedro discorrer acerca de uma Brasil que precisa conhecer o seu passado para caminhar junto para o futuro - democraticamente, é claro. Yasmim Restum e Pedro Doria te guiam nessa jornada com uma seleção dos comentários que vocês enviam nas redes sociais e canais do Meio. Participe! Assista em vídeo no Youtube, e acompanhe em áudio no seu tocador de podcasts preferido
O plano de Bolsonaro
Se você acha que ontem assistimos a vários depoimentos meio modorrentos com os interrogatórios de Jair Bolsonaro ou dos generais Augusto Heleno, Braga Netto e Paulo Sérgio, calma lá. Muita coisa aconteceu no STF.
Vamos proibir o caipira
Quando começamos a botar em dúvida se cabe às crianças se fantasiarem de caipiras, estamos abandonando uma das últimas tradições que restavam. E agora, como é que saberemos o que é ser brasileiro?
Censura demais e Lula de menos
No Ponto de Partida desta sexta-feira (6), Yasmim Restum e Pedro Doria conversam sobre a maré ruim que acomete o governo Lula. Tanto na última edição da pesquisa Atlas como na Genial/Queast, as novidades foram ruins para Lula. Sua aprovação está no pior momento em 15 meses. Para quais caminhos esse xadrez político aponta? No mais, com o apoio dos questionamentos dos meiers nas redes, Yasmim e Pedro se debruçam sobre a problemática da censura na atualidade, analisando se estamos intolerantes à tolerância. Envie sua pergunta ou comentário e participe dos vídeos do Meio! Assista em vídeo no Youtube, e acompanhe em áudio no seu tocador de podcasts preferido
Censura já!
Uma das minhas memórias políticas mais antigas foi um dos atos de maior ruído do governo José Sarney. A censura do filme Je vou salue Marie. A tradução literal desse título é “eu vos saudo, Maria”, mas é só a abertura da oração à virgem Maria. Quer dizer “Ave Maria”. É um filme menor do Jean-Luc Goddard, um dos últimos dele, lançado em 1985 mas que chegou ao Brasil em 1986. Os filmes não tinham lançamento simultâneo em todo mundo naquela época. Mas, de qualquer jeito, a premissa do Goddard é muito interessante. Marie, a personagem principal, é uma jovem jogadora de basquete que, mesmo virgem, um dia aparece grávida. Ela sabe que a gravidez apareceria porque um sujeito chamado Gabriel, que diz receber mensagens divinas, a informa que o milagre vai acontecer. E o namorado dela, um camarada chamado Joseph, se contorce em ciúmes. Não sabe como lidar com a gravidez de Marie, que jura que ainda é virgem. E a gente fica com aquela dúvida ali. Será que ela está dizendo a verdade? Além do mais, Marie aparece nua o tempo todo. Não é uma nudez sexualizada, não é erótico. Mas é uma moça normal, virgem, com um namorado normal, que aparece grávida após um camarada que diz ouvir mensagens de Deus dizer que tudo aquilo ia acontecer.
O PT é corrupto?
É bem ruim a notícia trazida pela última edição da pesquisa Atlas para o governo Lula. E para o presidente Lula, também, se ele deseja a reeleição. Sua aprovação está no pior momento em 15 meses, 53,7% dos brasileiros o reprovam pessoalmente. É cinco pontos mais do que a pesquisa realizada em março. Se o segundo turno de 2022 ocorresse hoje, Bolsonaro venceria com quase 47% dos votos contra 44% de Lula. E por que isso? Corrupção. Os números principais são os seguintes. Em outubro do ano passado, 51% dos brasileiros consideravam corrupção o maior problema do país. Subiu para 60% em março e se manteve no mesmo lugar, agora. 59%, mas na margem de erro. O número é o mesmo. Em 2023 e 24, os principais problemas que os brasileiros enxergavam no país, nas várias pesquisas, eram economia e saúde. Estavam acontecendo filas gigantes no SUS para cirurgias e consultas, coisa que o governo conseguiu resolver. Tudo aquilo que não deu para fazer durante a pandemia acumulou e demorou para tirar o gargalo. Teve um surto feio de dengue, no ano passado, um surto histórico, para não falar dos reajustes altos dos planos de saúde e Covid longa. Muita gente lidando com isso tudo fez Saúde disparar como problema. E teve inflação, juros altos. O governo jogou muita grana na economia, o que dá uns picos de crescimento de PIB mas também desorganiza mercados e gera inflação. É aquele tipo de crescimento que as pessoas não sentem na vida cotidiana porque o que veem são os preços subindo toda hora no supermercado. Só que, nesses primeiros meses do ano, saúde foi sumindo como problema grande, a economia não está nos eixos mas a inflação aperta menos. E aí estourou o escândalo do INSS. Para Lula, o pior tema que pode estar no topo das preocupações dos brasileiros é corrupção. É onde ele não consegue ganhar. Veja, a popularidade do presidente estava baixa, mas ela vinha subindo lentamente desde o primeiro semestre do ano passado. Entrou a coisa do INSS, abateu. Quer entender a natureza do problema? Então pensa só nesse número: 68% dos brasileiros julgam ou muito provável ou provável que “revelações sobre grandes fraudes ou esquemas de corrupção” aconteçam nos próximos seis meses. O impressionante deste número, quase 70%, é que ele vai muito além dos eleitores de direita. Isso quer dizer que pelo menos metade das pessoas que votariam em Lula para a presidência acham que é inevitável um escândalo grande nos próximos meses. Essa ideia de que um governo Lula é, necessariamente, um governo corrupto é uma que até quem vota no presidente compra como fato. Os governos do PT são percebidos como muito corruptos inclusive pelos eleitores petistas. E esse é um tema sobre o qual a gente não fala o suficiente. Até porque a responsabilidade desta percepção não é só do PT. Entender isso é importante porque esta percepção de que corrupção é o maior problema do país, se ela se mantém no ano que vem, derruba Lula e elege a oposição. Vamos começar por ideologia? Muita gente pensa em ideologia como uma escolha racional que as pessoas fazem. Raramente é. Ideologia costuma ser fruto natural de nossas predisposições internas, da nossa personalidade. Tem mais a ver com psicanálise e genética do que tem a ver com pensamento frio. A gente que racionaliza nossos valores a posteriori. E a mente conservadora, antes de tudo, percebe o mundo como um caos que precisa ser controlado. O conservador vê o mundo como ameaçador. O papel do Estado, para ele, é controlar essas ameaças. É um papel de força para a ordem. Então a relação do conservador com Justiça tende a ser punitivista, mesmo. Impor pelo receio de prisão, de punição, os limites a estes bichos selvagens que nós humanos somos. A cabeça liberal é bem diferente. Prum liberal, o instinto é que, se houver dúvida a respeito da culpa, melhor não prender, não condenar. O liberal prefere um Estado parcimonioso. Não pode ser ausente, porque sem Estado o forte se impõe ao fraco e liberal, liberal de verdade, quer que as pessoas estejam livres de qualquer opressão. Do Estado mas também de gente, de empresas. Não importa de onde vem. O socialista tem um terceiro caminho. Ele, como o conservador, quer um Estado forte. Mas é por outra razão. É um Estado para fazer Justiça social, se impor sobre os ricos, distribuir os recursos da sociedade. Ter esse guia sobre as três ideologias ajuda a explicar muita coisa. O conservador não lida bem com o jeito como a Lava Jato acabou. Os muitos problemas de rito da Justiça, a maneira como o juiz de primeira instância em Curitiba atravessou suas atribuições, para a cabeça conservadora isso é firula, é bobagem, tudo desculpa pra tirar a punição de corruptos. Para um liberal, os ritos da Justiça são a essência da garantia de que ninguém terá suas liberdades cerceadas sem o devido processo legal. Para os socialistas, a corrupção meio que não importa. O Estado brasileiro é corrupto mesmo, mas como o importante é que as pessoas em seu comando estejam fazendo Justiça social, se alguma corrupção for necessária, manda ver. É uma versão de esquerda do rouba mas faz, percebe? Cerca um petista, qualquer um, e pergunta se ele acha que nunca houve corrupção bárbara na Petrobras. Ninguém vai dizer isso. Eles só não acham tão relevante assim. Tem uma tese de doutorado do cientista político Thiago Barbosa, que ganhou prêmio da Capes em 2020, mostrando outra coisa. Se você é de esquerda, você tende a diminuir a percepção de corrupção da sua turma e aumentar a dos outros. Se você é de direita, idem. Entender o componente ideológico ajuda a explicar um pouco um mistério: por que a direita não liga pras muitas evidências de corrupção do ex-presidente Jair Bolsonaro? O fato de ser corrupção pessoal pode ajudar a explicar. É na física. É pra botar no bolso. Isso é pouco relevante porque, afinal, ele é durão, põe ordem no país. Isso que é importante. O PT, por sua vez, rouba da Petrobras, rouba do Estado, rouba em volumes muito maiores. Isso faz sentido racional? Nenhum. Primeiro porque não sabemos muito sobre a corrupção no governo Bolsonaro. Segundo porque, legalmente, todo dinheiro desviado é do Estado. Se foi pra comprar deputado ou apartamento, não tem qualquer relevância. Mas a gente vê isso no discurso público a toda hora. Porque não é só com Flávio Bolsonaro comprando casa de seis milhões de reais em dinheiro. A direita brasileira se joga em horda contra a ideia do julgamento da tentativa de golpe de Estado. E faz sentido. Afinal, a ordem pela força mesmo que fora da Constituição, é o lugar para onde escorrega todo conservador extremista. Botar ordem que é importante. E, neste rumo, a gente descobre como alguns conservadores vão parar nessa de defender ditadura. Nós, no fim, ficamos entre essas duas pressões. Um quer a força do Estado para reorganizar toda a sociedade. O outro quer a força do Estado para mexer o menos possível na sociedade. Essa, aliás, já era a tese de outro cientista político, bastante mais conhecido, André Singer, no livro Esquerda e Direita no Eleitorado Brasileiro. São essas forças que desembocam na percepção que um e outro têm da corrupção dos seus e dos outros. Fato é que a turma da direita ou não acredita nas rachadinhas do Bolsonaro, ou acha que não são relevantes. Afinal, ele é de direita e melhor que haja um governante de direita. A turma da esquerda sabe que o governo petista foi corrupto mas não acha relevante. Afinal, ele é de esquerda e melhor que haja um governante de esquerda. Uma turma quer ordem a todo custo, a outra distribuição das riquezas a todo custo. No meio disso fica o Brasil. Fica um Poder Judiciário que vai e volta, que hesita, que um ano pensa uma coisa e, no outro, pensa outra. E isso mina sua credibilidade. Numa democracia liberal, o ideal, ideal mesmo, é que tivéssemos leis claras, bem construídas, e um Judiciário que fosse capaz de normatizar a maneira como julga. Previsibilidade. A gente avançou nesse sentido, mas grandes decisões pelo Supremo ao longo dos últimos dez anos matam qualquer percepção de que a Justiça esteja melhor. E, sim, gente demais, entre esquerda e direita, acha que quando a Justiça julga a favor dos seus, ela é justa. Quando julga contra os seus, é injusta. É difícil, hein? O fato é o seguinte: os brasileiros acham que a direita lida melhor com corrupção do que a esquerda. Se isso é verdade? Não há qualquer indício de que seja. A percepção do brasileiro sobre o que é corrupção que deve ser punida muda de acordo com classe econômica e muda de acordo com preferências ideológicas. O resultado, no fim das contas, é que todo mundo acha o PT corrupto, uns não ligam. Nem todo mundo acha Bolsonaro corrupto. O governo Lula poderia escolher pegar este caso do INSS e transformar num exemplo, fazer umas demissões estrondosas, tocar barulho, fazer pose, quem sabe até promover uma grande investigação pública para trazer transparência ao que houve. Ia trazer a público até parte da corrupção no governo Bolsonaro. Mas isso ninguém de esquerda parece querer fazer. A esquerda, afinal, não liga pra corrupção. Mas devia. Se não porque corrupção é crime, é desviar dinheiro do Estado e, portando, de gente que precisa, pelo menos porque quem se dá mau quando há corrupção não é a direita. É a própria esquerda.
Sobre Sionismo, Netanyahu e Gaza
No Ponto de Partida desta sexta-feira (30), Yasmim Restum e Pedro Doria conversam sobre o atual momento do governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, após quase 20 meses de conflito israelo-palestino em Gaza, desde que o Hamas atacou Israel em 7 de outubro de 2023. Nesse papo nada fácil, Pedro fala sobre a crise humanitária em Gaza, o significado de sionismo, esclarece sobre a sua visão acerca do governo de Israel e mergulha em um denso contexto histórico para explicar como a luta de povos, como o judeu, por território e preservação cultural não é algo de agora. Yasmim Restum e Pedro Doria te guiam nessa jornada com uma seleção dos comentários que vocês enviam nas redes sociais e canais do Meio. Participe! Assista em vídeo no Youtube, e acompanhe em áudio no seu tocador de podcasts preferido
A dor palestina
Israel comete crimes de guerra em Gaza e a mudança de discurso do premiê Benjamin Netanyahu, nos últimos dias, deixa claro que o objetivo de seu governo é a limpeza étnica da região. Vocês não têm ideia de como me dói dizer isso. Desde que me entendo por gente, sou sionista. Ao longo da vida, mudei de opinião a respeito de muitas questões. Este é um dos raros casos em que me mantive constante. Ser sionista é ser favorável a um Estado, no Levante Meridional, para o povo judeu. Um Estado na sua terra. Mas o meu é o sionismo de Theodor Herzl, o sionismo de David Ben Gurion. O meu é o sionismo de Yitzhak Rabin, que compreendeu, como todo israelense inteligente, que as mesmas razões que sustentam o direito de judeus terem seu país sustenta, igualmente, o direito de palestinos terem o seu. O governo Netanyahu é a negação de todos esses valores. Neste momento, estão nas ilhas de edição do Meio três episódios especiais da série Ponto de Partida que vão para nosso streaming e tratarão de Israel e da Palestina. Não pretendia voltar a este assunto antes do lançamento porque, afinal, em dez, doze minutos de um vídeo aqui, não cabe tudo o que gravamos num total de uma hora e meia. Só que os acontecimentos não esperam. O governo Netanyahu está propositalmente deixando sem comida e sem remédios milhões de pessoas na Faixa de Gaza. Não existe qualquer razão estratégica, do ponto de vista militar ou político, para justificar algo assim. É um nível absurdo de crueldade, de desumanidade. No Knesset, o parlamento de Israel, na semana passada, Netanyahu afirmou que por conta de sua política de “destruir mais e mais moradias”, as palavras são do premiê, “o resultado inevitável será o desejo pelos moradores de Gaza de deixarem a região”. Neste mesmo discurso, ele afirmou que só permitirá que ajuda humanitária chegue a quem não voltar para casa. Se o desejo de Benjamin Netanyahu é tornar a vida em Gaza tão insuportável que a população deseje deixar suas casas para nunca mais voltar, o nome disso é limpeza étnica. É a definição de dicionário. É limpar, de uma região, um povo. A política de tornar um lugar impossível para a vida de quem vive lá. O primeiro-ministro de Israel está declarando isso. Ministros de seu gabinete já diziam desde o ano passado, mas Netanyahu, não. Agora ele começou a dizer. É política de Estado. Que ninguém se engane. Esta política não só é bárbara e anti-Palestina. Ela é, igualmente, anti-Israel. Esta política não vai eliminar o Hamas. Ela vai alimentar o ódio palestino a um ponto como jamais houve na história. Ela vai acirrar o conflito. A longo prazo, ela ameaça a existência do Estado de Israel. E, não, ela não vai expulsar os palestinos. Primeiro porque o povo palestino já demonstrou, ao longo das décadas, uma resiliência sem igual. Eles querem sua terra e vão ficar. Mas, em segundo lugar, é preciso considerar os vizinhos imediatos. O Egito já deixou claro que não quer os palestinos no seu país. A Jordânia, idem. O Líbano, a Síria, mesma coisa. Não há outro lugar para o povo palestino que não a sua terra. Gaza e Cisjordânia. Além disso, o que a política de Netanyahu faz é estender o sofrimento dos 58 reféns que ainda vivem no cativeiro, em Gaza. Estão sendo torturados, passam fome e estão nas mãos de pessoas que os odeiam. Nunca na história, desde 1948, houve um único governo israelense que não pusesse como absoluta prioridade a segurança de cada judeu no mundo. Nunca. Israel nasceu para que o resultado de dois mil anos de racismo, perseguição e violência que os judeus sofreram na Europa nunca mais ocorresse. Nunca mais. Esta política mudou com Netanyahu. A guerra em Gaza não representa qualquer estratégia de interesse do Estado de Israel. Ela representa os interesses da extrema-direita israelense e os interesses pessoais do primeiro-ministro. Netanyahu é um político corrupto que compreende que, no momento em que deixar o governo, será imediatamente processado e corre o risco de passar seus últimos dias na cadeia. Manter-se em guerra garante o apoio da extrema-direita e, com o apoio da extrema-direita, seu governo não termina antes da próxima eleição. Enquanto ele controlar metade mais um do Knesset, o governo fica de pé. Ou seja, eleição só em 27 de outubro do ano que vem. É um pesadelo para os palestinos. É um pesadelo para as famílias dos reféns. É um pesadelo para os democratas israelenses. A gente não tem como prever o futuro, mas temos como compreender o que aconteceu para chegarmos até aqui. Este não é um vídeo que vai agradar a turma do “Palestina livre do rio ao mar”. Não é um vídeo que agradará quem acha que Israel está sempre certa. É um vídeo para quem deseja compreender e quem anseia, urgentemente, pela paz. Uma paz cada vez mais distante. Eu sou Pedro Doria, editor do Meio. Netanyahu não é um premiê popular. Ele sabe disso. Sabe que perderia a eleição pesado. Ele tem o apoio de apenas 32% dos israelenses. Mais do que isso. 55% acreditam que seu único interesse é se manter no poder. Uma pesquisa realizada este mês pelo Maariv afirma que a oposição, se as eleições fossem hoje, conquistaria 62 cadeiras do Knesset e, o bloco de Netanyahu, 48. Existem duas extrema-direitas diferentes em Israel. E é importante entender isso. São dois grupos que, embora igualmente extremistas, não se bicam. Não se falam. De um lado estão os nacionalistas sionistas e, do outro, os ultra-ortodoxos. Uma das principais marcas dos nacionalistas sionistas, tipo a camisa da Seleção brasileira deles, o boné MAGA, é uma kipá de tricô. Eles são quem mais faz pressão para que Israel anexe os territórios palestinos, a Cisjordânia e Gaza. É a turma que ergue assentamentos, condomínios inteiros, em território que não pertence ao Estado de Israel. Defendem uma Grande Israel, andam pesadamente armados, em geral quando há instantes de violência contra palestinos, são eles. Foi um cara desse grupo que assassinou Yitzhak Rabin no momento em que ele tentava negociar a paz com Yasser Arafat. Os nacionalistas sionistas são sempre os primeiros a se alistar no Exército e se oferecem para estar na linha de frente. São, por isso mesmo, os que mais morrem na guerra. Os ultraortodoxos são o contrário. Não se alistam, têm licença especial para escaparem do serviço militar que é obrigatório para todos os outros cidadãos israelenses. Também não trabalham. Estudam a Torá o dia todo e são financiados pelo Estado. Seu principal objetivo é manterem-se isentos do serviço militar e de qualquer trabalho, é manter os recursos do Estado vindo pra eles enquanto estudam a palavra de Deus. A tensão entre os dois grupos é grande e é real justamente por isso. Só que em nenhum outro governo na história de Israel qualquer um dos dois já teve o espaço de poder que eles têm hoje. Porque, a sua maneira, são extremistas de formas distintas. Então um atura o outro e os dois grupos, embora minoritários, têm votos o suficiente para manter Netanyahu no poder. A coalizão de governo se mantem no poder por 4 votos. Apenas quatro cadeiras. Se quatro deputados deixam o governo, ele desmorona. Só que não acontece. Não acontece enquanto Netanyahu garantir as benesses dos religiosos e acenar com limpeza étnica palestina para os nacionalistas. Mas como foi que Netanyahu chegou lá? Tem uma verdade inconveniente nisso tudo. Israel apresentou duas vezes um plano concreto para a criação do Estado da Palestina. A primeira com o gabinete de centro-esquerda de Ehud Barak, no ano 2000. A segunda pelo gabinete de centro-direita de Ehud Olmert, em 2008. Não é que os palestinos tenham recusado. Nem Arafat, em 2000, nem Mahmoud Abbas, em 2008, apresentaram uma contra-proposta. Na verdade, após a primeira apresentação de proposta, explodiu a Segunda Intifada, que matou muita gente em Israel. É como se, no momento em que finalmente Israel conseguiu se convencer, tanto na esquerda quanto na direita, de que era preciso haver um Estado palestino, o governo da Palestina tivesse congelado. Vejam, teve uma vez, sem resposta. Veio uma onda brutal de ataques terroristas. Aí apresentaram uma segunda proposta. Silêncio no rádio. Os palestinos nunca disseram, sequer, não. Nunca explicaram exatamente o que não gostavam na Foi neste cenário que Benjamin Netanyahu se elegeu. Ele era o único político dizendo “os palestinos não querem paz”. Subentendido nesta ideia está a percepção que muitos israelenses ainda têm de que, para os palestinos, a única solução é o fim de Israel. Pois, em 2009, a população de Israel ouviu Bibi. E o elegeu. Mais de uma década e meia depois, ele segue no governo e tudo piorou muito. Netanyahu tornou a paz ainda mais difícil de ser conquistada. Então como se constrói a paz? O Sete de Outubro é um trauma que não vai embora tão cedo. A destruição de Gaza, muito menos. Mas eu queria sublinhar um último ponto. Hoje, 50% da população de Israel é formada por judeus cujos avós moravam no Norte da África e no Oriente Médio. 30% por judeus cujos avós vieram da Europa. 20% de árabes palestinos com cidadania israelense. Geneticamente, os judeus asquenazitas, os europeus, são mais próximos dos judeus mizrahim e sefarditas do que de qualquer povo europeu. Eles são a mesma gente. E não há povo mais próximo de qualquer judeu do que os palestinos. Isso tem explicação. São os dois povos cananeus. Os dois povos são de lá. Os dois povos descendem diretamente dos homens e mulheres que primeiro aprenderam a plantar na história. Isso. Dez mil anos atrás, na Revolução Agrícola. Nenhum povo pertence mais a uma mesma terra do que judeus e palestinos pertencem a Canaã. Não importa sua crença ideológica, sua crença religiosa, nada muda o fato de que são duas culturas ancoradas há milênios naquela terra. Todas suas rezas, seus monumentos, seus textos. Cada artefato arqueológico encontrado com mil, dois mil, três mil, cinco mil, oito mil anos foi construído, moldado, pelas mãos dos antepassados de todos os judeus e todos os palestinos. Em alguns casos, dos antepassados comuns aos dois povos. Não existe saída que não o reconhecimento de que a terra é dos dois. Precisamos dos dois países. E, às vezes, a paz nasce justamente quando não parece mais haver esperança.
Que Judiciário é esse?
Na semana passada, a jornalista Rosane de Oliveira foi condenada, junto com o jornal Zero Hora, a pagar uma indenização de 600 mil reais à desembargadora Íris Helena Medeiros Nogueira, ex-presidente do Tribunal de Justiça, em Porto Alegre. O que Rosane fez? Abriu o Portal Transparência, pegou todos os juízes gaúchos, viu quanto cada um ganhou num determinado mês e listou o ranking dos mais bem pagos. Descobriu que a doutora Íris havia recebido 662 mil reais. Não é só salário, tá? Não é todo mês que ela ganha isso. Ali, em abril deste ano, mês passado, juntou o salário e umas verbas indenizatórias e deu isso.
Quem deve governar o Brasil em 2026?
No Ponto de Partida desta sexta-feira (23), Yasmim Restum e Pedro Doria conversam sobre o posicionamento político de Janja Lula da Silva, socióloga e primeira-dama do Brasil, após o último imbróglio diplomático na viagem à China.