Já é 2026?!

No último Ponto de Partida React do ano, desta sexta-feira (19), Yasmim Restum e Pedro Doria sentem que 2026 já começou - ao menos, eleitoralmente - e conversam sobre o atual cenário para a disputa presidencial, questionando a viabilidade de Flávio Bolsonaro como o herdeiro direto do capital político da família. O papo passou também pela relevância de Ciro Gomes e Renan Santos; as percepções sobre corrupção na esquerda e na direita; e ainda o dilema do século: por que, em algumas democracias, a população tem uma sensação de mal-estar mesmo com bons índices econômicos? Na segunda (22), ainda tem o último Ponto de Partida do ano. O React retorna na sexta, dia 9 de janeiro. Para participar, comente nos vídeos do Ponto de Partida de segunda ou quarta no Youtube. Assista em vídeo, e acompanhe em áudio no seu tocador de podcasts preferido.
O caminho da direita

Agora vamos compreender que tipo de eleição será travada. E ela depende, essencialmente, do eleitor de direita. Agirá de forma racional para ter uma oportunidade de vitória? Ou o vírus bolsonarista ainda contamina o corpo?
Flávio é mesmo candidato?

A candidatura de Flávio Bolsonaro é para valer? Bem, depende para quem você pergunta. Se, neste momento, você for dar uma olhadinha no Fintweet, a turma da Faria Lima que badala no X, no Twitter, eles ainda estão convencidos de que Tarcísio é candidatíssimo. Essa é daquelas análises que misturam muito desejo com o racional. Se você for perguntar a Gilberto Kassab, ele já está trabalhando ativamente com o cenário Flávio é candidato até o fim e Tarcísio disputa a reeleição em São Paulo. Nessa análise não tem nada de desejo mas também não quer dizer que seja por convicção. O que rola, aí, é cálculo. O cenário pode mudar, mas é prudente operar como se já fosse certo. Flávio anunciou sua candidatura em 5 de dezembro. Aí, no dia 7, um domingo, fez que podia negociar uma saída. Na segunda da semana passada, reiterou a candidatura. No final de novembro, o pessoal da AtlasIntel fez perguntas sobre um cenário em que Flávio seria candidato. No primeiro turno, Lula teria 47% dos votos e, Flávio, 23%. Ronaldo Caiado chegaria em terceiro com 10%, Ratinho Júnior com 7, Zema com 5, daí vêm os nanicos, os retardatários. Importante registrar: esse aí é um levantamento no qual ainda não havia se espalhado, pelas redes bolsonaristas, a notícia de que o filho Zero Um havia sido ungido. Nesse cenário da Atlas, tem segundo turno e Flávio disputa com Lula. Perde, mas essa é outra história, muito cedo pra realmente dizer. Quando o anúncio da candidatura Flávio foi feito, muita gente no Bluesky lulista ficou eufórica. Agora sim, vitória no primeiro turno. Vai ser fácil. Pois é. Muito mais desejo do que análise também aí. Na verdade, uma candidatura Flávio pode até não levá-lo ao segundo turno, mas aumenta em muito as chances de haver segundo turno. Vem cá, qual é a regra? É simples. Se um candidato recebe mais votos do que seus adversários somados, vitória no primeiro turno. Metade mais um dos votos válidos. Se recebe menos, ele e o segundo colocado vão disputar uma nova eleição. Vocês lembram como foi, em 2022? Primeiro turno, Lula teve 48,4%. Jair Bolsonaro teve 43,2%. Diferença de cinco pontos percentuais. De seis milhões de votos. Um bocado. Chegou no segundo, apertou e muito. Lula chegou muito perto do seu teto já no primeiro. Bolsonaro, não. A diferença entre os dois foi de menos do que dois pontos percentuais. Ficaram por dois milhões de votos um do outro. Se Flávio for candidato mesmo, esta eleição de 2026 vai ser muito diferente daquela. Os motivos são dois. Um, que o bolsonarismo enfraqueceu. E, dois, que Bolsonaro não é presidente. O incumbente, quer dizer, o sujeito que está na presidência e se candidata a seguir no cargo, tem uma vantagem natural. Olha só, todo presidente, no ano da reeleição, tem uma melhora de sua avaliação entre o primeiro e o segundo semestre. Não tem nenhuma razão para achar que isso não será verdade para Lula. Isso acontece pelo seguinte: o governo gasta mais com propaganda e se organiza para gastar mais dinheiro no ano eleitoral. Mais dinheiro na economia dá uma aquecida a mais, as pessoas têm a impressão de que tem mais grana rolando. O otimismo é bom pro governante. Todo mundo fez isso, todo presidente, todo governador, até os prefeitos fazem isso. Vencer incumbente é difícil. O problema para Lula é o seguinte: só um político, em todo o Brasil, tem rejeição maior do que a de Lula. Jair Bolsonaro. Lula é muito rejeitado. Os dois são. Mais de metade dos brasileiros, realmente, gostariam de ver os dois pelas costas. Só que, aí, entra outra questão. Eles são também os políticos com a maior base de fãs, de eleitores dedicadíssimos, do país. Lula tem 17% de fãs, segundo o Instituto Ideia. Bolsonaro tem 12% de fãs. Essa é a base, o alicerce, o mínimo do mínimo do mínimo. Parte daqueles 23% de votos que a Atlas encontrou na pesquisa para Flávio são esses 12%, aí. Isso é sólido. A outra parte é puro reconhecimento de nome. É a parte que dá pra roubar. Ou não. Então voltamos para nossa pergunta essencial. A candidatura de Flávio Bolsonaro é para valer? A chave é saber se tem segundo turno e se ele estará lá. Se chegarmos a junho, julho, e Flávio ainda estiver em segundo nas pesquisas, com cara de que vai ter segundo turno, não tem muito motivo para ele sair da briga. E o fato de Flávio estar na briga já meio que faz essa uma eleição com jeitão que terá segundo turno. Sabe por quê? Porque, gente, vamos voltar à regra? Metade mais um. Se o líder da corrida não tiver metade mais um dos votos válidos, tem segundo turno. Se a direita apresenta muitos candidatos, o que ocorre? Na maior parte das eleições presidenciais que tivemos, o cenário é algo assim: um primeiro lugar acima dos trinta, um segundo acima dos vinte e um terceiro, distante, mas ali com 10 a 15 porcento dos votos. E um pelotão com cinco, com quatro, com seis, com dois. Eleição com muito candidato tem disso. As pessoas não querem Dilma, não querem Aécio. Correm pra Marina. As pessoas não querem Bolsonaro, não querem Haddad, correm pro Ciro. Sempre tem esse candidato meio para-raios. Uma pessoa que atrai os votos de todo mundo que quer evitar aquela dupla no segundo turno. Se a direita lança o governador paulista Tarcísio de Freitas, a tendência são os partidos de direita se reunirem ao redor dele. Pouca gente na briga. Mas, se alguém com o sobrenome Bolsonaro entra na briga, aí a tendência é a direita se dividir. Ironicamente, Tarcísio é simultaneamente o candidato mais forte da direita e aquele que dá a maior chance de Lula vencer no primeiro turno. Porque uma eleição com Tarcísio candidato é uma com poucos outros candidatos. Tem menos gente para ser aquele terceiro para o qual todo mundo que não quer nem um, nem o outro, consegue correr. E aí? A candidatura de Flávio vale, vale de verdade, é firme? Vamos trabalhar com duas datas-chaves para sabermos. A primeira, 4 de abril de 2026. E, a segunda, 15 de agosto. Se Flávio ainda for candidato no dia 4 de abril, isso é tipo um mês depois do carnaval, 80% de chances de ele ser candidato. Se em 15 de agosto estiver de pé, essa é a briga. Por que, vocês perguntam. Vamos lá ao por quê. Vamos lá, sem firula. Os partidos de direita querem lançar Tarcísio de Freitas à presidência. Tarcísio deixou claro para todo mundo que só sai com apoio de Bolsonaro. E Bolsonaro indicou Flávio. Pois bem, Tarcísio tem um de dois caminhos. Por um lado, candidatura fácil à reeleição em São Paulo. Por outro, a batalha pelo Planalto. A Constituição determina que, se você concorre à reeleição, pode seguir onde está. Se quer outra disputa, precisa deixar o cargo executivo seis meses antes. A eleição é em 4 de outubro. Tarcísio tem até 4 de abril para renunciar ao governo de São Paulo. Se não renunciar, só tem uma eleição que ele pode disputar. A para continuar onde está. Então vamos lá: por que Flávio desiste da candidatura se, em 4 de abril, ele se mantiver em segundo, distante do terceiro, num quadro com cara de dar segundo turno? Tem um motivo. Anistia para o pai. O Congresso aprova a anistia, o Supremo deixa rolar. Está com zero cara de que vai acontecer. Tem outro cenário? No momento, muito difícil imaginar. “Ah, mas de que adianta chegar ao segundo turno se vai perder para Lula?” Muito simples. Por mais quatro anos a família Bolsonaro poderá dizer que é líder da direita no Brasil. Pode valer mais perder tendo chegado ao segundo turno do que não disputar. No momento, é este cálculo que estão fazendo. Agora, conforme julho vai se aproximando, os partidos precisarão definir seus candidatos. Isso quer dizer que, embora a campanha não esteja rolando oficialmente, todo mundo vai estar batendo perna pelo Brasil. Governadores como Zema, Ratinho e Caiado terão renunciado ao cargo e vão fazer de tudo e gastar os tubos para se apresentarem a muita gente. E os números vão começar a flutuar. Mais gente vai ver estes nomes no Zap, no Insta, no TikTok, no X, onde for. Uns vão crescer, um deles vai botar o pescoço pra fora e chegar ali em terceiro. Esse terceiro é um terceiro 12%? Ou um terceiro 18%? Flávio, a essa altura, vai estar estável, vai inclinar para baixo, para cima? No primeiro semestre, tudo é pesquisa. As pesquisas vão mostrar que, para uns, é mais negócio desistir e virar vice. Para outros, bota mais grana porque está rendendo. Em 15 de agosto, os partidos terão já de ter registrado os candidatos. É dada a largada. Alguém ultrapassa Flávio? Flávio desiste antes? E aí? Flávio é candidato ou não é? Tudo é pesquisa. Vamos assistir de camarote. Vai ser intenso. Vai ter surpresa. Que surpresa? Pois é.
Truco entre poderes

Desde a candidatura chantagista de Flávio Bolsonaro, à aprovação do PL da Dosimetria na Câmara, passando pela crise institucional no STF envolvendo os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes e pela barbárie na Câmara dos deputados, os sintomas de uma corrosão democrática se avolumam. No Ponto de Partida React, desta sexta-feira (12), Yasmim Restum e Pedro Doria conversam sobre o perigo do abandono da universalidade e do diálogo. Como exemplo da tribalização social agravada pelas redes, está a polêmica de Francisco Bosco — filósofo cancelado recentemente sob o argumento do "lugar de fala". Yasmim Restum e Pedro Doria te guiam nessa jornada com uma seleção dos comentários que vocês enviam nas redes sociais e canais do Meio. Para participar, comente nos vídeos do Ponto de Partida de segunda ou quarta. Assista em vídeo no Youtube, e acompanhe em áudio no seu tocador de podcasts preferido.
Dosimetria, Glauber e Chico

É incrível, 10 de dezembro e o Brasil não para. Gilmar Mendes suspendeu parcialmente sua decisão de mudar a lei do impeachment para o Supremo. Hugo Motta arrancou com violência Glauber Braga, um deputado federal, do plenário da Câmara. E a Casa aprovou, mandando para o Senado, a Lei da Dosimetria. Se aprovar, se virar lei, diminui a pena de Bolsonaro e dos generais.
De Flávio, Centrão e STF

A estranhíssima candidatura-chantagem de Flávio Bolsonaro, por um lado, e as crises abertas por Gilmar Mendes e José Antonio Dias Toffoli, no Supremo, por outro, são pontas de uma mesma briga. É uma briga de foice no coração da República. Uma briga em que o personagem principal está oculto. É o Centrão.
É inconstitucional, ministro!

A liminar do ministro Gilmar Mendes, que visa blindar a Corte de processos de impeachment, desafia o equilíbrio dos Três Poderes. Tanto a classe política quanto os mais variados juristas têm dificuldade de entender e defender a decisão de Mendes. No Ponto de Partida React desta sexta-feira (5), Yasmim Restum e Pedro Doria conversam sobre as caracterísicas da liminar e Pedro explica como ela pode ser interpretada como inconstitucional. O papo também atravessa a pesquisa Brasil no Espelho, da Quaest com o Grupo Globo, sobre quem somos e no que acreditamos. Yasmim Restum e Pedro Doria te guiam nessa jornada com uma seleção dos comentários que vocês enviam nas redes sociais e canais do Meio. Para participar, comente nos vídeos do Ponto de Partida de segunda ou quarta. Assista em vídeo no Youtube, e acompanhe em áudio no seu tocador de podcasts preferido.
A PEC da Blindagem do Supremo

O que o ministro Gilmar Mendes fez, hoje, é perigosíssimo. Ele colocou o Brasil na antessala de uma crise constitucional. Mas, antes de explicar qual é o problema em sua decisão, vamos deixar clara as consequências. O que é uma crise constitucional? É o momento em que um dos três poderes diz que vai fazer x. O outro diz que não pode fazer x. E a Constituição não deixa claro quem desempata o jogo. Ou seja, um ou dois dos três poderes foi tão no limite da sua autoridade pela lei que não está mais claro, pela Constituição, como resolver o problema. Ou um dos dois volta atrás ou só há solução fora da Constituição.
Você conhece as bolhas brasileiras?

A edição deste Sábado do Meio, aquela que os assinantes premium recebem por email no fim de semana, é uma entrevista que fiz com o Felipe Nunes, da Quaest Pesquisas, na semana passada. Os assinantes podem assistir a entrevista inteira, também, no nosso streaming. Mas eu queria trazer um pouco da conversa para cá. Para a nossa conversa cotidiana. Pelo seguinte: essa é a maior pesquisa de valores jamais feita no Brasil. Dez mil entrevistas, mais de uma hora e meia de questionário. Essa pesquisa gigantesca, o Brasil no Espelho, é tema do livro que o Felipe acaba de lançar. E muitas das perguntas que nos fazemos cotidianamente estão respondidas lá. Por exemplo: bolhas existem. E vamos dar a real aqui. São nove bolhas no Brasil. São grupos fechados, que compartilham de valores bastante específicos, e têm resistência a falar com quem é muito diferente. Estas nove bolhas se dividem da seguinte forma: três estão fechadas com Lula. No total, representam 41% do eleitorado. Quatro estão fechadas com a direita. Representam 49% do eleitorado. E tem duas que podem ir para um lado ou para o outro, 10%. Mas calma. Isso quer dizer que a direita tem uma vantagem? Claro que sim. Mas, primeiro, o brasileiro não é tão coerente assim. Então há traições, gente numa bolha que, apesar de comungar de valores, vota no outro lado. E tem gente que não vota. Então a vantagem da direita existe, mas ela não define a eleição. A eleição do ano que vem deve ser apertada. Mas antes de entrarmos no detalhe sobre o que é cada bolha, vamos falar de ser brasileiro. Porque há alguns traços que todos nós compartilhamos. O primeiro é bem triste. Somos uma das sociedades com menor índice de confiança interpessoal do mundo. A gente simplesmente não confia um no outro. Sabe, democracias liberais dependem de dois elementos. Um é a capacidade de autonomia individual. As pessoas poderem fazer suas escolhas para sua vida. Governo não dá pitaco, família não dá pitaco, cada adulto faz suas escolhas e se responsabiliza por elas. Mas, simultaneamente, um senso forte de comunidade. A ideia de que estamos juntos nesse barco, precisamos nos respeitar uns aos outros e entrar em acordos para colaborarmos. É assim que negócios nascem e a economia cresce, é assim que construímos um lugar bacana no qual moramos os vizinhos. É um sentir: hashtag tamo junto. Não tem isso no Brasil. A gente não confia no outro. Isso tem consequências institucionais. Não importa se você é de direita ou de esquerda, o brasileiro quer um Estado forte e quer muita regra. Muita proibição. É um Estado forte para controlar que o outro não esteja quebrando as muitas regras. O tipo de governo que temos, o tipo de lei que fazemos, está diretamente ligado ao fato de que a gente não confia. Aí tem outro elemento interessante. O brasileiro entende muito pouco de Brasil, entende muito pouco de economia, mas não percebe isso. Ele acha que entende muito. A turma da Quaest perguntou sobre PIB, sobre segurança, sobre inflação, quem respondeu errou quase tudo. Mas errou tendo a certeza de que estava certo. O que isso quer dizer? Que põe dois sujeitos num debate, um de um lado, o outro do outro, ninguém vai ceder, os dois vão ter certeza de que estão certos, e ambos têm muito pouca informação real. O Felipe chama isso de a “ilusão do conhecimento”. Agora, sabe o que é interessante? Mulheres e homens são bem diferentes. Não é que as mulheres tenham mais informação. Não têm. Mas elas reconhecem quando não sabem. Nós homens? Nenhuma surpresa, né? Mulheres são, também, a força que empurra por transformações na sociedade. Se há mudanças, no Brasil, é por causa delas. A maioria dos homens são conservadores. E, sim, isso vale para a esquerda, também. A direita brasileira é bem homogênea. 70% dela é conservadora. Mas a esquerda, bem, metade da esquerda é conservadora a respeito de gênero, põe a família como núcleo moral, defende autoridade do pai, tem uma visão de mundo em que a providência de Deus tem um papel imenso. São pessoas que votam em Lula sem piscar mas não compram discurso de diversidade. Progressistas, a turma identitária, eles são 11% dos brasileiros. É uma super-minoria. Talvez muitos de vocês já saibam disso, mas vamos dar a real para quem não sabe. O Lulismo é conservador nos costumes. Vamos falar das bolhas brasileiras? Vem comigo. Vamos da esquerda para a direita. Os três conjuntos de brasileiros que votam em Lula majoritariamente são, primeiro, os militantes de esquerda. Representam 7% do eleitorado. Imagina um sindicalista, uma pessoa de muitos dos movimentos sociais como MST. Pessoas de partido, fundamentalmente. Aí tem a classe dos dependentes do Estado. São 23% de nós. É gente para quem programas sociais são fundamentais. Os brasileiros mais pobres. Os serviços públicos, para eles, o Bolsa Família, um Jovem Aprendiz, tudo faz diferença gigante no mês. Cada dia é uma batalha, é sair de casa e matar um leão para trazer comida. Eleitores fidelíssimos de Lula. E, sim, conservadores. Como muitos dos militantes. Aí os progressistas. 11%. Já falamos deles. Alto nível educacional, em geral renda mais alta, muitos fazem parte da elite econômica embora tenham profunda dificuldade de reconhecê-lo. Esses não têm nada de conservadores. No total, 41% do eleitorado brasileiro e vão de Lula. Agora, à direita. Conservadores cristãos. 27% do eleitorado. Não são todos evangélicos, há católicos no grupo, mas é uma gente conservadora que se aproxima muito de considerar que as leis da nação deveriam se aproximar de valores religiosos. O Agro. 13%. Não são só os grandes fazendeiros, mas é este mundo no interior de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, do Centro Oeste, que orbita o agronegócio, a cultura do sertanejo. Empresários, 6%. O nome explica. Não entram na conta só os grandes, não, mas também médios e pequenos. É gente que emprega, que gera PIB, que produz, e que acha que o Estado atrapalha mais do que ajuda na economia. E, por fim, extrema direita. 3%. É a menor de todas as bolhas. Esse é o pessoal que realmente preferia um regime autoritário. Não é muita gente, é a menor das bolhas, mas não custa lembrar. São seis milhões de pessoas. Total, 49% do eleitorado. E os outros dez? As duas bolhas que estão em disputa são muito diferentes com exceção do tamanho. Cada uma representa 5% do eleitorado. Um grupo é o dos empreendedores individuais. São homens, são jovens, tiveram uma educação melhor. Seus pais eram pobres. Muitos tiveram educação superior. E são frustradíssimos. Porque estudaram em faculdades públicas novas ou nas muitas particulares onde tiveram uma educação muito ruim. Fizeram faculdade, saíram com um canudo, mas não são uma mão de obra realmente qualificada. Então dirigem Uber. Isso dá uma frustração, a crença de que educação faz você crescer foi rompida. É como se o país não permitisse que eles cresçam. E essa turma tem uma gana de crescer. Olha que complicado, esse grupo. Votaram em Lula, em 2022. Os de São Paulo votaram em Pablo Marçal, em 2024. Por que votaram em Lula? Porque não tiveram qualquer ganho no governo Bolsonaro. É um público que não está nem aí para se o candidato é de direita ou de esquerda. Vota pensando na economia, pode votar em qualquer um, e só pensa em crescer na vida. Agora, vem cá, não confia no Estado, tá? Acha que o Estado atrapalha. Lula se deu muito mal com esse público quando tentou regular quem trabalha por aplicativo. Não querem que se metam na vida deles. A popularidade de Lula não passa de 50% principalmente por causa desses caras e, sim, são principalmente homens. Mas dá para reconquistá-los. Tem de ver se o PT vai ser capaz de criar um discurso para eles. Se criar, eles vão prestar atenção. E aí, por fim, os liberais sociais. Classe média tradicional, ávidos leitores, liberais na economia, progressistas nos costumes e defensores de um Estado de bem-estar social. Acham o PT, Lula e a esquerda em geral um desastre na economia. Tomaram horror da política externa deste governo Lula. Querem votar na direita. Querem não precisar votar na esquerda. Mas esse grupo tem um detalhes. De todas as nove bolhas, é a única que põe a democracia como o valor máximo. Se a direita vier com alguém com muita cara de bolsonarista, não leva o voto desse pessoal. Os dois, empreendedores individuais e liberais sociais, votaram em Lula em 2022. Preferiam não, mas votaram, por razões distintas. Um pela economia, o outro pela democracia. São, na leitura de Felipe Nunes, os dois grupos que definirão o próximo presidente da República. Quando Tarcísio fala que o Brasil precisa trocar o CEO, os empreendedores gostam. Quando Tarcísio defende a anistia, os liberais sociais tomam asco. Quando Lula trata Putin de um jeito e Netanyahu do outro, os liberais sociais não gostam. Mas pé de meia pega bem. A eleição já começou, pessoal.
Bolsonarismo fraco, democracia forte

No Ponto de Partida React desta sexta-feira (28), Yasmim Restum e Pedro Doria falam sobre um momento decisivo e sem precedentes na política brasileira, marcado não apenas pela prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro e de altos oficiais condenados pela trama golpista, mas também pelo esvaziamento do bolsonarismo. Estamos falando da encruzilhada histórica enfrentada pelo Superior Tribunal Militar (STM), que vai julgar a perda de posto e patente desses militares. As Forças Armadas vão decidir se tentar derrubar a República é algo "normal" ou a "desonra máxima" para quem veste o uniforme — um processo que pode revelar o amadurecimento da nossa democracia. Yasmim Restum e Pedro Doria te guiam nessa jornada com uma seleção dos comentários que vocês enviam nas redes sociais e canais do Meio. Para participar, comente nos vídeos do Ponto de Partida de segunda ou quarta. Assista em vídeo no Youtube, e acompanhe em áudio no seu tocador de podcasts preferido.