Ponto de Partida

Esteja você na direita ou na esquerda, comece por aqui. Pedro Doria explica didaticamente o início, o fim e o meio da política nacional.

Segundas, quartas e sextas, sempre ao final do dia.

O buraco em que o Brasil está

Quais são as grandes pautas políticas desses últimos dias? Teve o PL do Aborto, evidentemente. Houve o presidente Lula reclamando do tamanho da renúncia fiscal à qual o governo se submete. E, claro, vamos jogar na colcha de retalhos o fim da greve das universidades federais. Vamos amarrar as três numa só?

O que a Bíblia fala de aborto

Qual a participação de brasileiros conservadores em frustrar os planos da extrema direita de prender vítimas de estupro que abortam após 22 semanas? O que, afinal, pensavam os escritores do Velho Testamento sobre aborto? E ainda: o Banco Central é mesmo técnico?

PL do Aborto: há conversa com a direita

Ninguém esperava o que aconteceu ontem. De repente, sem anúncio prévio, o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira convocou os líderes de partido para se enfileirarem atrás dele e fez um anúncio à nação. Disse que o projeto de lei que equipara aborto após a vigésima segunda semana a homicídio não vai ser votado em urgência, que sua intenção sempre foi de que os debates na Câmara fossem tocados com toda a transparência perante a sociedade. Disse, ainda, que em agosto, com muita calma, vai organizar uma comissão na Casa para fazer o debate. Foi além, tá? Afirmou que nada, nesse projeto, vai “retroagir direitos já garantidos e nada vai avançar que traga qualquer dano às mulheres”.

Os reacionários erraram no aborto

O projeto de lei que manda prender quem faz aborto após a vigésima segunda semana não é um projeto de lei contra mulheres. Eu sei que parece, mas não é.

Dá para conversar com a direita?

Existe um problema no mundo: a radicalização do eleitorado de direita. É preciso reconhecer que há um movimento fascista. Mas, ainda assim, descartar seus eleitores como fascistas todos, tratar como inimigos por derrotar, recusar-se a ouvir seu pleito é o caminho para acirrar o problema. Não para resolvê-lo.

Quem ainda vota em Lula?

Está caindo, no Palácio do Planalto, uma ficha importante. Não é a esquerda que vai reeleger Lula. Que, na verdade, sem Bolsonaro no páreo sua campanha para reeleição em 2026 vai ser até bastante mais difícil. Está caindo a ficha de que Lula precisará cada vez mais de votos do centro e, sim, da direita não radicalizada para se eleger. A ficha já está caindo no Planalto, mas é aquele caindo mais ou menos. Já tem gente que verbaliza isso nos corredores, gente que o presidente ouve. O próprio Lula já ensaiou começar a falar mais de Deus nuns discursos aqui, criticar Nicolás Maduro ali. Mas ele logo volta. Hoje mesmo já estava dizendo que vai aumentar impostos e conta com a queda das taxas de juros para controlar a dívida pública. Ele sabe perfeitamente que não controla o Banco Central, portanto não controla a taxa de juros. Sabe, igualmente, que este é o discurso que a esquerda quer ouvir mas que todo o resto odeia. Ou seja, ouve aplauso da esquerda enquanto a economia dá aquela saída básica dos trilhos. Não tem jeito. Quem trabalha profissionalmente fazendo transações de dinheiro entende exatamente o que o recado diz. Haverá descuido com as contas públicas, haverá déficit, então a Bolsa cai, o dólar sobe. E esses discursos do presidente fazem com que aquela ficha, a de que não tem eleitor de esquerda o suficiente no país para garantir a eleição de Lula, não chegue a ninguém da esquerda. E isso, para Lula, é um problema que não está claro ainda como resolver. Porque resolver é delicado.

A onda fascista encobre a Europa

Não é só Donald Trump, nos Estados Unidos. A onda da extrema direita se tornou, neste fim de semana, uma ameaça também na Europa. As eleições para o Parlamento Europeu aconteceram nos últimos dias em 27 países. Na maioria dos países membros, foi uma eleição normal, de vitória conservadora. Só que, na Alemanha, a AfD de extrema direita passou o Partido Social Democrata do premiê Olaf Scholz e se tornou o segundo maior partido do país. Os Irmãos da Itália, partido da premiê Giorgia Meloni, manteve-se o número um em votos. E, na França, a Reunião Nacional comandada por Marine Le Pen deu uma surra no grupo do presidente Emmanuel Macron.

Brasília é antidemocrática

Como fazer com que grandes mobilizações sociais tenham impacto político agora que sabemos que os números não estão mais na casa dos milhões?

Rui contra Haddad

Existe um conflito aberto no interior do governo Lula: é entre o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o da Fazenda, Fernando Haddad. Há duas semanas, por exemplo, Haddad soube da demissão do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, pelos jornais. E a Petrobras é a maior companhia do Brasil. O cara responsável pela economia sequer foi informado de que Prates estava a caminho do Planalto pra ser demitido.

Quantas pessoas cabem na Paulista?

No ano passado, a Parada LGBTQIA+ levou, para a avenida Paulista, três milhões de pessoas. Na edição anterior, 2022, quando estava para acontecer a eleição presidencial, foram quatro milhões de pessoas. Este ano, não. Este ano foi diferente. Setenta e três mil e seiscentas pessoas no momento de pico, lá por volta das quatro da tarde.