36a America’s Cup começa na Nova Zelândia

Enquanto isso, na Nova Zelândia, que está livre da Covid-19 devido a boas políticas implementadas desde o início da pandemia, está para começar a 36a edição da America’s Cup. É o mais antigo torneio esportivo disputado continuamente até hoje. A Caneca Velha, como é carinhosamente chamada, foi disputada pela primeira vez em 1851, em uma regata ao redor da Ilha de Wight, no sul da Inglaterra, oferecida pelo Royal Yacht Squadron junto com um prêmio de 100 guinéus. Foi vencida pela escuna America do Iate Clube de Nova York, que havia atravessado o Atlântico para competir na Europa. A partir daí, o troféu passou a ser disputado de forma semirregular com regras arcaicas que definiam critérios para que alguém pudesse desafiar o detentor da taça.

A segunda metade do século 19 viu uma série de desafiantes ingleses e canadenses tentando tirar o troféu dos americanos, mas sempre sem sucesso. Na virada para o século 20 as regras começaram a ser mais padronizadas, foi um longo período em que o escocês Sir Thomas Lipton, aquele mesmo do chá, desafiou seguidamente os americanos tentando levar o troféu de volta para as ilhas britânicas. Sobrevive uma rara filmagem de um trecho de uma das regatas do segundo desafio de Sir Lipton. Mostra o defensor Columbia montando uma boia na frente do desafiante Shamrock II, na America’s Cup de 1901. Seguiu-se a época dos belos Classe-J, com seus cascos longilíneos, imensa área vélica que precisavam de grandes tripulações para serem velejados. Clássicos a ponto de existir ainda uma flotilha de 9 Classe-J, entre restaurados, réplicas e até mesmo um projeto novo. Em geral operam como charter, para turismo, mas de vez em quando se juntam para competir.

No período pós guerra a America’s Cup voltou já com a regra dos 12 metros. Mais modernos, menores e mais adequados aos orçamentos da época. A mudança de regras fez também aumentar o interesse dos desafiantes. Na década de 1970 passou a ser realizada uma disputa prévia entre todos os desafiantes para ver quem iria enfrentar o defensor, e a America’s Cup passou a ser disputada de forma mais regular. Os americanos seguiam invencíveis, ninguém tirava a copa de NY. Até que em 1983 o barco australiano Australia II conseguiu o feito. Usava uma diferente quilha em asa e venceu o defensor Liberty de virada por 4 a 3, depois de estar perdendo a série por 3 a 1. Pela primeira vez a copa saía do Estados Unidos. Dennis Conner, comandante do Liberty, se mudou de NY para San Diego e montou um desafio para recuperar o troféu. Em 1987 enfrentou outros 13 desafiantes pelo direito de disputar contra o Kookaburra III, que venceu o Australia IV e era o defensor australiano. No ano seguinte, um milionário neozelandês desencavou uma obscura clausula no Deed of Gift, o documento original da copa, e fez um desafio direto aos americanos. Construiu o New Zealand, um imenso veleiro com quase 30 metros de comprimento e que mais parecia um porta-aviões. Sem tempo para projetar um barco semelhante, os americanos viram que na regra original não havia muitos limites e fizeram um catamarã (barco com dois cascos) que mal chegava à metade do tamanho. No vento fraco de San Diego, deixaram os neozelandeses para trás.

De lá pra cá, a história mudou e o troféu da America’s Cup passeou. Em 1995 os neozelandeses finalmente venceram e conseguiram defender com sucesso em Auckland, no ano 2000. No entanto, perderam em 2003 para os suíços, que por não terem mar, levaram a disputa para Valência, onde defenderam a copa com sucesso em 2007. Mas, em 2010, Larry Ellison, da Oracle, usou por sua vez o Deed of Gift e fez um desafio aos suíços. Construiu um trimarã, com 3 cascos, e venceu o catamarã construído pelos helvéticos, levando para São Francisco o troféu. Assim começava uma nova revolução na regras. Vieram os barcos que voam. Em 2013, quando o Time Oracle defendeu com sucesso a copa, eram catamarãs de mais de 20 metros, com hidrofólios que levantavam os cascos da água. Os barcos chegavam a quase 70 km/h. Em 2015, os americanos resolveram disputar em Bermuda, dessa vez com catamarãs um pouco menores, com cerca de 13 metros, para reduzir o custo, mas também voadores. Os neozelandeses levaram a melhor, trazendo novamente o troféu para o Hemisfério Sul.

Este ano a disputa é de novo em Auckland, na Nova Zelândia. Para trás ficaram os catamarãs. Mas os hidrofólios vieram para ficar. O design dos barcos parece um tanto estranho, e velejam o tempo todo fora d’agua. Deixar o barco cair na água significa perder uma regata. Nessa sexta começou a disputa da Prada Cup, o campeonato prévio em que os desafiantes lutam entre si para ver quem vai disputar contra os neozelandeses. São três desafiantes: O American Magic, tentando levar o troféu de volta para o Iate Clube de NY, o italiano Luna Rossa e o britânico Team Ineos, liderado pelo hoje Sir Ben Ainsley – sim, aquele mesmo que tirou a medalha de ouro de Robert Scheidt na última regata da Olimpíada de Sidney em 2000 –, que em vídeo recente diz que está tentando acabar com 170 anos de sofrimento. A primeira fase da Prada Cup é composta de quatro rodadas de três regatas em que os três times disputam sempre um contra outro. O time com mais pontos se classifica para a final, os outros dois vão disputar uma série de melhor de sete regatas, em que o vencedor vai disputar a final em uma melhor de 13 regatas. Nas duas primeiras desta sexta feira, o barco inglês, surpreendeu e venceu ambas, uma contra cada um dos desafiantes. As regatas estão sendo transmitidas ao vivo pelo Youtube no canal da America’s Cup. Em geral, começam as 23h do nosso horário. São regatas curtas que demoram de 20 a 30 minutos cada. A transmissão é de alta qualidade e esbanja no uso de tecnologia para ajudar o espectador a entender a disputa.

E para quem não quer entender dos pormenores, é uma oportunidade de ver belas paisagens e perceber que ao menos, em um lugar do mundo as pessoas já estão tendo uma vida normal, curtindo o sol sem medo de se aglomerar.

A final da Prada Cup está marcada para acontecer entre 13 e 22 de fevereiro, e o vencedor vai a disputa America’s Cup contra o Team New Zealand entre os dias 6 e 15 de março.

Por Vitor Conceição

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