Vários leitores estranharam, na edição de ontem, a afirmação de que a ideia original por trás da PEC do teto pertence ao ex-ministro da Fazenda de Lula, Antonio Palocci. A memória foi resgatada em breve passagem por Merval Pereira, em sua coluna no Globo. Não custa, aqui, lembrar os detalhes.
Palocci passou 2005 em tour pelo país propondo ancorar os gastos públicos no crescimento do PIB por até 10 anos. Na época, a economia crescia a pleno vapor. Seu plano tinha como mentor Delfim Netto, um dos mais influentes conselheiros econômicos de Lula, e contava com o apoio de Paulo Bernardo. A PEC 241 de Michel Temer propõe conter os gastos por um período mais longo, de 20 anos, e ancora o limite na inflação e não no PIB. Mas há uma crise de gastos, coisa que não havia, a inflação está alta e, o PIB, no chão.
Os principais adversários de Palocci estavam dentro do governo: eram os ministros Tarso Genro e Dilma Rousseff. Lula mais de uma vez defendeu sua política de austeridade. Mas, no fim, Palocci perdeu a briga. Foi abatido por envolvimento no Mensalão. E, no meio a uma séria crise política e enfrentando campanha de reeleição em 2006, o presidente engavetou a ideia de contenção de gastos.
Esta é uma discussão importante, com argumentos relevantes pró e contra.
O risco está em misturá-la com a disputa partidária. Uma coisa nada tem a ver com a outra. PSDB e DEM, como lembrou o comentarista Kennedy Alencar, há apenas um ano votavam para piorar as contas do governo nas pautas-bomba de Eduardo Cunha contra Dilma. E o PT fazia o discurso da austeridade.
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