Eduardo Cunha passou boa parte do primeiro dia como prisioneiro lendo seu processo. Segundo relato de dentro da carceragem obtido pela Folha, não treme ou demonstra nervosismo. É uma descrição que soaria bem familiar aos congressistas. É um homem que se dedica a estudar, conhecia profundamente as legislações que punha em votação. E é frio. Um de seus primeiros atos foi constituir, como advogado, Marlos Arns. Negociador da delação premiada de executivos da Camargo Correia, é um especialista. Se uma delação vier, o acordo será muito demorado.
No Planalto há dois temores. Um de curto prazo, o outro de longo. O temor imediato é paralisia do Congresso. Na Câmara, pelos cálculos iniciais dos próprios deputados ouvidos pelo Globo, Cunha poderia delatar até cem parlamentares. Muitos têm medo. Mas o governo Temer precisa de um Congresso capaz de votar projetos difíceis, como a PEC do Teto e reformas Política e da Previdência. Se a negociação para conquistar os votos necessários já é difícil em condições normais, com uma bomba relógio do tamanho de Eduardo Cunha, ela aumenta.
A longo prazo o receio é pior. Antes de chegar à presidência da Câmara, Cunha foi próximo de Michel Temer. Ele tem ligações e inimizades com muitos na cúpula do governo. Mesmo num processo de delação lento, há vazamentos. Na pior das hipóteses, o temor é de que presidência Temer comece a enfraquecer como ocorreu com a de Dilma.
E, neste cenário, pode ganhar força o processo que já corre no Tribunal Superior Eleitoral contra a chapa Dilma-Temer.
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