Lula vai manter briga constante com o mercado
Durante um café da manhã com jornalistas nesta terça-feira, dia 7, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve seu discurso beligerante contra o mercado, como tem feito desde a campanha eleitoral. Presente na mesa, a repórter especial do Meio Luciana Lima conta que Lula estava exaltado, chegando a bater na mesa ao falar de economia. Ele cobra sensibilidade do mercado e responsabilidade em relação à taxa de juros do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Para a jornalista, ficou claro que o embate com o setor não vai arrefecer nos próximos dias. “Pelas falas do presidente ele não está nenhum pouco disposto a baixar esse tom”. Em bate papo no programa #MesaDoMeio, ela explica que o embate do petista com o economista do BC ainda deve persistir por tempo indeterminado. “Não vi nenhuma disposição de Lula de ceder ao mercado. Ao contrário, ele adota um discurso ainda mais beligerante contra o Banco Central.”
O editor-chefe do Meio, Pedro Doria, lembra que Campos Neto tem mandato até 2024 e não há indicação de que o economista saia do cargo antes disso. Ele diz que os discursos de Lula são discrepantes das falas de seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que recentemente chegou a elogiar a ata do Copom. Pedro cita uma teoria que o jornalista José Paulo Kupfer tem sobre os motivos de Lula agir dessa maneira: culpar o BC e a taxa de juros, caso a economia fracasse em seu governo. “Eu entendo essa estratégia do ponto de vista político. O problema é que ele está fazendo isso com um mês de governo.” Para Doria, a briga com o mercado é “um desperdício de energia” e essa relação acaba piorando a economia, porque o mercado não vai agir de maneira diferente apenas porque o presidente reclama.
A briga de um presidente da República com algum setor da sociedade não é algo novo na história recente do país. A colunista Mariliz Pereira Jorge compara o embate entre Lula e o mercado com a queda de braço que Bolsonaro travou com os presidentes da Petrobras em sua gestão. Além disso, o discurso do “nós contra eles”, presente em seus mandatos anteriores, faz com que a atuação de Lula lembre os atos de seu rival político. “Difícil não fazer uma comparação porque todos os dias em todos os discursos, a gente vê, de novo, um presidente que não desce do palanque. Ele parece que continua em campanha eleitoral.”
A política do “nós contra eles” faz parte de um traço do populismo, como lembra o cientista político Christian Lynch. Ele afirma que Lula recorre a esses discursos, enquanto se opõe a seu antecessor no governo, “comprando a tese de que ele é a defesa dos pobres, enquanto Bolsonaro é a defesa dos ricos”. Olhando para outras lideranças mundiais que assumem a mesma postura, ele questiona se o discurso populista tem prazo para terminar no Brasil. “Talvez a gente tenha entrado em uma época em que os políticos jamais desçam novamente do palanque.” De acordo com o cientista político, Lula aproveita que Campos Neto é uma herança bolsonarista para ressaltar que tê-lo como presidente do BC é um reforço da “herança maldita”.