Justiça assombra ex-presidentes Trump e Bolsonaro
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O ex-presidente americano Donald Trump se declarou inocente de 34 acusações nesta terça-feira, após duas horas de julgamento em um tribunal de Nova York. Ele é acusado de, durante as eleições presidenciais de 2016, ter pagado a atriz pornô Stormy Daniels para ela não revelar o relacionamento extraconjugal que tiveram em 2006. Os processos envolvem a falsificação de recibos para pagamentos de suborno à atriz.
O cientista político Christian Lynch destaca que os líderes de extrema direita que ressaltam a moralidade estão envolvidos em escândalos na Justiça. No programa #MesaDoMeio, ele aposta em uma condenação de Bolsonaro no Brasil, o que pode deixá-lo inelegível. “Bolsonaro periga acabar sendo preso”, comenta.
A colunista Mariliz Pereira Jorge acredita que as acusações contra Trump podem “dar mais fôlego” à sua próxima campanha, que pode trabalhar a imagem de um político injustiçado. “Isso vai dar um vigor para a extrema direita americana. E tem uma parcela da população daqui [do Brasil] que se espelha no que acontece lá fora, a ponto de ter brasileiros nas redes sociais defendendo Donald Trump.”
O editor-chefe do Meio, Pedro Doria, lembra a renúncia do ex-presidente americano Richard Nixon, que obteve perdão presidencial de seu sucessor, Gerald Ford, por qualquer crime que pudesse ter cometido. “Durante muito tempo, na ciência política americana, houve um consenso de que essa foi uma maneira inteligente de lidar com a situação para evitar uma grande perturbação do sistema americano”, explica, ressaltando, porém, que outra frente mais contemporânea entende que essa anistia permitiu que Trump surgisse. Christian avalia que a falta de aplicação das leis para evitar colapsos políticos cria “péssimos precedentes e a gente vai caindo num abismo”.
De Brasília, a repórter especial Luciana Lima conta que Bolsonaro e seu ajudante de ordens Mauro Cid vão depor nesta quarta-feira sobre o caso envolvendo as joias presenteadas pelo regime saudita. O ex-presidente deverá explicar as tentativas de liberação dos objetos destinados à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro retidos no aeroporto de Guarulhos, o segundo conjunto que estava com o ex-presidente e um terceiro entregue nesta terça-feira, que estava em uma propriedade do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet.
Para Mariliz, faz sentido Michelle não ter tido conhecimento das joias, podendo Bolsonaro ter escondido as peças até mesmo da esposa. Pedro destaca que até o momento não houve qualquer manifestação do governo saudita dizendo que deu algum presente ao então presidente da República. Já Christian lembra que o governo Bolsonaro visitou o país árabe pelo menos 150 vezes. “Por isso que eles não saíam de lá e diziam que era maravilhoso”, ironiza.
Enquanto isso, o Ministério da Educação suspendeu a implementação do Novo Ensino Médio até o fim de uma consulta pública aberta pela pasta no mês passado. Pedro lembra que a reforma foi realizada com “rapidez excessiva pelo governo Temer” e “completamente ignorada por Bolsonaro”. Outro problema é a falta de espaço e de professores necessários para aplicar a reforma. No entanto, afirma que, se bem executada, o novo modelo traz melhorias aos alunos da rede pública.
Christian destaca que há uma resistência natural a mudanças por setores da educação e vê legitimidade nas reclamações dos estudantes, que criticam o agravamento do abismo das desigualdades no ensino. A alternativa, segundo o cientista político, seria aumentar o prazo para implementação da nova política pública. “A saída é dar mais prazo para ganhar tempo e criar condições para fazer uma mudança mais justa.”
Mariliz destaca que as alterações de grade curricular ocorreram em escolas particulares antes mesmo da reforma do governo federal. Para reduzir as discrepâncias na educação, ela julga necessário que o MEC corra atrás dessas mudanças. “Do jeito que estava também não dava”, conclui.