Sistema tech da Amazon era possível por indianos

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Você entra, pega o que quer comprar e vai embora! Mas qual a tecnologia? Machine Learning, Inteligência artificial generativa, reconhecimento de objetos, visão de computadores, dados sintéticos e tudo isso para que o computador saiba exatamente o que você pegou para te cobrar na saída.

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Um bingo das buzzwords não só da Faria Lima mas do mundo business todo. AI, machine learning, melhorando nossas vidas e diminuindo empregos de base: tudo de bom.

O marketing segue;

É só entrar na loja, colocar o cartão e sair. Sem fila e seu recibo certinho. Assim, essa tecnologia deixa as filas no passado.

Esse vídeo da Amazon é de seis meses atrás e mostra como eles triunfaram, como o uso da tecnologia aumenta o número da compra em um estádio, lucro, tecnologia, pressa.

A promessa era de que a tecnologia funcionava no background, sabendo quem pegou o que e deixando clientes simplesmente saírem com seus itens.
Ah, como é bom viver um boom tecnológico que muda e molda nossas relações sociais e que seguimos em frente sem nem se importar com…

Calma, calma.

Não era só tecnologia e IA não.

Dependia de mais de MIL indianos na Índia pra que as Just Walk Out Stores pudessem “funcionar”.

Funcionar incriiiivelmente entre aspas porque a loja leva de uma a duas horas pra te enviar o recibo e aí, querido, eu te pergunto: quando um brasileiro ia entrar numa loja se só soubesse o que pagou duas horas depois??? Meu amigo a gente usa calculadora no MERCADO.

Mas esse não é o ponto, hoje a gente vai falar do lero lero em IA.

Gerador de lero lero é comum quando falamos de tecnologias novas, né? Lembra da TV 3.0? Quando começou o papo sobre era um enorme “teremos novas interatividades na TV aberta de forma a revolucionar o comportamento do espectador.”

Que é um grande: sim, ok, mas e daí? O que vai mudar? Levou um ano pra termos um vídeo de exemplo da tecnologia e finalmente entender o que estava sendo vendido. Que é inovação de fato, mas até isso ser visível – levou um tempo.

Nesse caso da Amazon, a tecnologia lançou em 2016 só para funcionários e em 2017 abriu a primeira loja geral em Seattle. Todo mundo podia ir, era só passar o cartão na catraca, pegar o que queria e ir embora. Eficiência e sucesso em estádios.

O problema é que em seis anos os problemas com a tecnologia continuaram. Mesmo treinando o algoritmo, ele não avançou.

Mais de mil pessoas na Índia precisavam trabalhar à distância para manualmente revisar as compras das lojas.

Sim, para que a tecnologia de ponta funcionasse, a cada 1000 compras, 700 precisavam de revisões manuais à distância. Isso são os dados de 2022.

Ou seja, em seis anos não conseguiram treinar uma IA, não conseguiram diminuir os custos de ter caixas e ainda não conseguiam ter certeza nos recibos, que levavam horas para serem entregues aos clientes.

Não à toa, vão trocar a tecnologia, ao invés de contratarem caixas remotos tecnológicos que ficam de olho nos clientes por câmeras de segurança vendo quem pegou o quê, vão colocar sensores direto no carrinho do cliente.

(Que é uma ideia magnífica considerando que o cliente consegue consultar o seu carrinho em uma tela. Magnífico, incrível, não sei como ninguém nunca pensou nisso antes – acho que toda criança que vai muito no mercado já tinha pensado nisso.)

Mas o que acontece é que a Amazon virou estudo de caso com sua tecnologia High Tech Just Walk Out até nas maiores Venture Capitals dos Estados Unidos. Que falaram sobre a eficiência, a economia do tempo e também a falta de confiança da big tech de desenvolver tantos produtos diferentes um do outro.

Pra no fim ter sido uma tecnologia que dependia altamente de trabalho barato num outro país, sabe? De pessoas que poderiam estar na loja e, ainda por cima, com todo o perdão da palavra e o susto que isso causa: interação social.

Uma compra que era transmitida pra um panóptico te supervisionar?

E vamos lá, “a gente passa mais de 60 horas por ano em filas de checkout”, mas e a contabilidade do tempo tendo que resolver problemas que a tecnologia cria? Puxa, a loja não contabilizou essa garrafa, eita isso aqui foi cobrado duas vezes, hmmm deu um erro na máquina. Com quem você vai reclamar? Com a câmera? Passar horas mandando e-mail para formulários de contato respondidos por robô? Ir no aplicativo para abrir uma reclamação para receber o reembolso? Quem contabiliza esse tempo perdido?

Ah, a alta tecnologia.

É quase como esse TikTok aqui.

Até porque a OpenAi também usou trabalhadores baratos de outro país, do Quênia, para conseguir lançar a tecnologia, né? Mas a OpenAi de fato lançou o chatGPT com segurança.

A Amazon vai trocar as tecnologias, substituindo quase todas as Just Walk Out Stores pelos Dash Carts.

E eles falaram com a Business Insider, que também divulgou a notícia sobre os caixas indianos, e disseram que a equipe tecnológica na Índia apenas ajudava a treinar o modelo de IA quando a visão do computador não conseguia completar com confiança uma compra.

IA, no caso, Indiano Atendente. Visão do computador, no caso, o panóptico falho.

Não é um problema fazer um gerador de lero lero tecnológico quando no fim há de fato uma tecnologia resultante. O problema aqui é que a empresa escondeu o fato de que a tecnologia precisava ser sustentada por trabalho humano. E vendeu isso como um sucesso da Inteligência Artificial.

Os humanos por trás da Just Walk Out precisavam revisar 70% das compras. 70% das compras não eram automatizadas, isso não é real. Eram pessoas que verificavam o que uma pessoa pegava, deixava de lado e levava pra fora. Via câmeras. Ou seja, caixas normais. Mas com a desvantagem de estarem longe e tendo que bisbilhotar o movimento alheio.

Nas Just Walk Stores 100% dos clientes achavam que estavam tendo uma experiência livre de humanos, mas essa era a realidade pra apenas 30% deles.
De resto, todos os trabalhadores seguiram invisibilizados. Considerados apenas uma mera equipe de apoio em outro país, mesmo que eles quem fiscalizavam e garantiam o modelo de negócios que a Amazon dava tapinha nas costas de que triunfava.

Não triunfava, não triunfou, vai ser até trocada, e isso porque dependia de humanos. Assim como quase toda nova tecnologia. O problema é esconder e invisibilizar a mão de obra.

Na dúvida, é sempre bom agradecer a máquina que te atende. Quando for ao shopping, deseje bom dia de volta à cancela; vai que de fato tem alguém ali.

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