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Em março de 1985, a posse do civil José Sarney na presidência da República encerrou oficialmente o ciclo da ditadura implantada no Brasil pelo golpe civil-militar de 1964 – mesmo com o novo presidente sendo, na verdade, vice de Tancredo Neves e eleito de forma indireta. O país saiu da ditadura, mas a rigor a ditadura nunca saiu de fato do país. O processo que viabilizou a redemocratização, conduzido pelo próprio regime, fez, por exemplo com que crimes cometidos pelos agentes do governo jamais fossem punidos, além de manter a sombra dos militares pelo país pelo menos até o fim daquela década. E o governo de Jair Bolsonaro (PL) mostrou o quanto a democracia brasileira ainda estava exposta ao risco da nostalgia autoritária.

Daí a importância de iniciativas como o livro 1964: O Que Ainda Nos Resta Dizer, publicado pela Editora Metanoia. São 11 textos que analisam os impactos do regime militar na sociedade brasileira, abordando temas como a repressão, a resistência e as consequências para diversos segmentos da população. Das artes plásticas à política indigenista, da destruição do patrimônio como apagamento da oposição ao uso político do esporte, os artigos, escritos por especialistas nas mais diversas áreas, traçam um mosaico do que foi o Brasil sob o arbítrio.

A proposta não é apenas revisitar o passado, mas instigar um debate sobre o presente, como explica Luciene Carris, historiadora e organizadora do livro. “A ideia da coletânea surgiu da inquietação que possuo ao perceber o quanto ainda precisamos falar – e, sobretudo, rememorar a ditadura militar. A minha intenção era propor um outro olhar que escapasse do lugar-comum, que buscasse outras histórias, outros personagens, outras formas de escrever e contar sobre esse tenebroso período da história do Brasil”, diz ela.

O lançamento de 1964: O Que Ainda Nos Resta Dizer no Rio de Janeiro vai acontecer no próximo dia 13 de maio, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Uerj, na Rua São Francisco Xavier, 524/9º andar, às 18h30.