Um alienígena e uma mulher do outro mundo

A década de 1970 foi uma das mais criativas da história do cinema, com clássicos em cima de clássicos redefinindo os mais diversos gêneros, inspirando cineastas posteriores e gerando continuações e refilmagens. E é nessa última categoria que estão os dois principais destaques nas estreias desta quinta-feira. James Gunn, diretor de Guardiões da Galáxia, abre a nova fase do universo cinematográfico da DC com Superman, trazendo de volta ao personagem o otimismo, a cor e a polêmica sunga por cima da calça. Uma das muitas qualidades do filme é não recontar a manjada origem do kryptoniano. Outra é a atualização do contexto, com um herói com uma visão clara de bem enfrentando o tempo de ética fluida das redes sociais. Não por acaso, Lex Luthor (Nicholas Hoult, o Fera dos X-Men) é um bilionário do setor de tecnologia que acredita saber o que é melhor para o mundo — mesmo que o mundo não concorde. Outro ponto alto é a química entre David Corenswet (Clark Kent/Superman) e Rachel Brosnaham (Lois Lane). E claro, Krypto, o super-cão, criado por CGI. Ele rouba o filme.
Outra versão dos anos 1970 é Emanuelle, clássico erótico francês censurado pela ditadura brasileira (não só por ela) e que elevou a saudosa atriz holandesa Sylvia Kristel a sex symbol mundial. A nova versão é dirigida pela francesa Audrey Diwan e procurar dar uma roupagem atualizada e feminista à trama, baseada no livro homônimo lançado em 1967 por Emmanuelle Arsan, pseudônimo de Marayat Rollet-Andriane. No filme original, como no livro, a protagonista viaja para a Tailândia, onde já está seu marido, e se envolve em uma série de relações sexuais/amorosas com homens e mulheres. Na nova versão, Emmanuelle, vivida por Noémie Merlant, vai a Hong Kong assumir uma função em um hotel de luxo e descobrir o prazer. A crítica não gostou, com uma avaliação de que, ao jogar fora a água (o machismo no filme de 1974), Diwan jogou junto a criança (o erotismo).
Mas nem só de releituras vivem as estreias de hoje. Da Itália vem Vermiglio – A noiva da Montanha, tema de artigo em nossa última Edição de Sábado (exclusiva para assinantes). Durante a Segunda Guerra, a chegada de um desertor do Exército a uma aldeia nas montanhas abala a vida modorrenta da comunidade, em especial da família do professor Cesare, por cuja filha mais velha o rapaz se apaixona. Escrito e dirigido por Maura Delpero, o longa abocanhou o Leão de Prata – Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza, além de ter sido ao Globo de Ouro.
Parte filme família, parte blacksploitation de ação, Shadow Force – Sentença de Morte traz Kerry Washington (de Django Livre) e Omar Sy (de Lupin) como um casal de assassinos a serviço de uma agência secreta do governo americano, a tal Shadow Force. Até se apaixonam, se casam, têm um filho e decidem sair dessa vida. Claro que não há aposentadoria para assassinos, e o chefe da organização (Mark Strong, vilão de plantão em quase todos os filmes de ação dos últimos anos) não economiza agentes para acabar com a família inteira. O elenco talentoso bem que tenta, mas é daqueles filmes que desaparecem da mente meia hora depois de sairmos do cinema.
E o Brasil comparece com o documentário Yõg Ãtak: Meu pai, Kaiowá, de Sueli Maxakali, Isael Maxakali e Roberto Romero. O longa mostra a luta da própria Sueli e de sua irmã Maiza para localizar o pai, desaparecido durante a ditadura militar. Nessa busca, retratam as violências passadas e presentes do Estado contra os povos originários do Brasil.
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