Conflito com Trump eleva aprovação de Lula, aponta Quaest

O anúncio feito por Donald Trump de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros — segundo ele mesmo em protesto pelos processos contra Jair Bolsonaro — e a reação do Planalto se refletiram positivamente na avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pesquisa Genial/Quaest (íntegra) divulgada na manhã desta quarta-feira mostra que a aprovação do governo, que vinha em queda desde dezembro, passou de 40% para 43%, enquanto a reprovação recuou de 57% para 53%. Nos dois casos, a variação ultrapassou a margem de erro de dois pontos percentuais. O governo Lula é avaliado positivamente por 28% dos entrevistados, contra 26% da última pesquisa; enquanto 40% o avaliam negativamente — eram 43% no levantamento anterior.
“A recuperação do governo aconteceu na classe média, com maior escolaridade, no Sudeste”, explica o cientista político Felipe Nunes, CEO da Quaest. São os segmentos mais informados da população, que se percebem mais prejudicados pelas tarifas de Trump, e que consideram que Lula está agindo de forma correta até aqui, por isso passam a apoiar o governo”, completa.
O enfrentamento com os EUA teve um efeito claro nessa variação, já que 66% dos entrevistados disseram ter conhecimento da carta enviada por Trump ao Brasil, contra 33% que não sabiam. O presidente americano está errado para 72% e certo para 19% — na divisão por posicionamento ideológico, Trump está certo para 52% dos eleitores de direita que não se declaram bolsonaristas e para 48% dos seguidores assumidos do ex-presidente. A maioria geral, 55%, porém, acha que Lula provocou o americano com falas no encontro dos Brics, mas 53% concordam com a postura brasileira de invocar o princípio da reciprocidade, e 84% acreditam que governo e oposição deveriam se unir para reagir ao tarifaço.
Já o embate do Executivo com o Congresso em torno do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) não teve o mesmo apelo. O assunto só era do conhecimento de 51% dos entrevistados, contra 48% que o desconheciam. A grande maioria, 79%, acredita que o conflito entre os poderes mais atrapalha que ajuda o país, e 59% acham que Executivo e Legislativo deveriam chegar a um acordo sobre o tema. Apontada como uma vitória da esquerda nas redes, os vídeos feitos com inteligência artificial chegaram a apenas 17% dos entrevistados, contra 83% que não os viram. A própria pauta de justiça tributária adotada pelo governo é desconhecida para 56% dos entrevistados. E o cumprimento da meta fiscal divide igualmente o público: 41% defendem o corte de gastos, contra 40% que preferem o aumento da arrecadação.
Concentração regional
Como apontou Felipe Nunes, a melhora na avaliação do governo e do presidente se concentrou na Região Sudeste, a mais populosa do país. Ali, a aprovação saltou de 40% para 48%, enquanto a reprovação teve recuo igual, de 64% para 56%. No Nordeste, região de maior apoio ao governo, a avaliação positiva recuou um ponto, de 54% para 53%, enquanto a negativa permaneceu em 44%. O salto foi ainda maior entre os entrevistados com ensino superior: aprovação indo de 33% para 45% e reprovação de 64% para 53%. Entre os católicos, a aprovação foi de 45% para 51%, ultrapassando a reprovação, que variou de 53% para 45%. Já os evangélicos seguem refratários a Lula, com a avaliação negativa subindo de 66% para 69% e a positiva recuando de 30% para 28%.
Na economia, o clima ainda é de pessimismo, com 46% achando que a situação piorou nos últimos 12 meses e 21% avaliando que melhorou — eram 48% e 18% no levantamento anterior. Talvez em função do tarifaço, a expectativa com o desempenho econômico nos próximos 12 meses se inverteu, com 43% prevendo que a economia vai piorar e 35% que vai melhorar, contra 30% e 45% da última pesquisa.