Prezadas leitoras, caros leitores —

Tinham prestígio, os juízes italianos, um prestígio construído com sangue. Nos anos 1970, investigaram destemidos os terroristas que incendiaram o país. Na década seguinte, foram fundo nos laços da máfia centenária que intimidava o Sul. Juízes morreram assassinados, nessa. Enquanto isso, os bem-sucedidos partidos italianos entraram os anos 1990 numa decadência marcada pela perda de votos. Foi quando começou a prisão de empresários e políticos envolvidos em corrupção. Políticos que, presos, viam-se no dilema de entregar ou serem entregues. A operação Mani Pulite angariou, naquele princípio, sucesso popular para os juízes ainda maior do que antes.

Mas o desmonte da estrutura de governo, a instabilidade política que se sucedeu e a polarização que se impôs no país disparou um debate na sociedade, e o sucesso de procuradores e juízes foi se esvaindo. Se no início pareceu que legislação para minimizar corrupção seria aprovada, em grande parte não foi. E no rastro da confusão, um outsider, um dos empresários mais acusados de práticas de corrupção na Itália, liderou uma coalizão que angariou sucesso eleitoral e terminou primeiro-ministro. Silvio Berlusconi se mostraria um líder que envergonhou o país no palco internacional, que outros chefes de Estado evitavam chocados, e ainda assim, internamente, por um tempo parecia incapaz de perder popularidade. Embora sua política econômica fosse um desastre e a ideia de que pudesse ser honesto virasse piada até entre seus eleitores.

É.

Já aconteceu antes.

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— Os editores.

Pressão faz Bolsonaro tirar máscara e buscar apoio

Desde que Lula recuperou os direitos políticos e especialmente após seu discurso na quarta-feira, a palavra que pesa sobre o presidente Jair Bolsonaro é pressão – não raro em sentidos contrários. Em primeiro lugar, ele busca consolidar os apoios que já tem. Demitiu Fabio Wajngarten da Secretaria de Comunicação após este entrar em choque com militares, manteve a promoção de servidores (leia-se policiais) na PEC Emergencial e confirmou em live as negociações para voltar ao PSL, que lhe ofereceria uma melhor estrutura para tentar a reeleição. (Globo)

Em outra frente, largou a máscara que usara em solenidade na quarta-feira, já que apoiadores consideraram o uso um gesto de temor diante das críticas de Lula. Em reunião virtual com microempresários já apareceu, como sempre, com o rosto descoberto e criticou novamente medidas de isolamento. (Estadão)

Mas o súbito apoio às vacinas deve continuar. Ele já vinha sendo sugerido desde antes da fala de Lula como forma de apaziguar empresários. O setor produtivo, que continua apoiando o presidente, teme que o atraso na vacinação prejudique ainda mais a economia. (Folha)

Os dois filhos mais velhos de Bolsonaro, o senador Flávio (Republicanos-RJ) e o vereador carioca Carlos (Republicanos), coordenam o disparo em massa de mensagens contra Lula nas redes sociais, com ajuda do deputado Hélio Lopes (PSL-SP). (UOL)

A volta de Lula ao cenário eleitoral está fazendo o centro correr para definir um nome de baixa rejeição avesso aos extremos e evitar o fracasso dos esforços por uma frente ampla. Sem essa frente, diz uma fonte na direção do DEM, o centro ficará de fora do segundo turno. (Folha)

O ex-ministro Luiz Henrique Mandeta, possível candidato do DEM, diz que o partido pode abrir mão da cabeça de chapa em nome de uma aliança mais ampla. (Estadão)

Thomas Traumann: “O discurso de Lula ressuscitou o petismo, assustou os bolsonaristas, acordou a Faria Lima e fez abrir um sorriso nos deputados do Centrão. Os 300 deputados sempre dispostos a apoiar o governo, qualquer governo, ganharam com a volta de Lula um cenário de sonhos: um presidente que precisa de apoio para não perder a reeleição. Com Lula podendo se candidatar, o jogo eleitoral mudou. Só não mudou o fato que quanto mais instável é a política, maior é o preço do Centrão.” (Poder360)

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O ministro do STF Gilmar Mendes pode se tornar relator de todas as ações pedindo a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro na Lava-Jato, hoje sob o guarda-chuva de Edson Fachin. Se Nunes Marques, que pediu vista, apoiar a suspeição, Cármen Lúcia mudar voto que deu em 2018, Gilmar passa a ser o autor do acórdão e julgador natural dos próximos pedidos semelhantes, podendo até decidi-los monocraticamente. (Globo)

Bela Megale: “A defesa do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha solicitou ao STF que seja declarada a suspeição de Moro. O pedido foi baseado nas mensagens hackeadas da operação Lava-Jato. Cunha foi sentenciado pelo ex-juiz a 15 anos de prisão no caso conhecido como petrolão e cumpre em casa uma ordem de prisão preventiva decretada há quatro anos e cinco meses.” (Globo)

Meio em vídeo. Esqueça o que você sente pelo ex-presidente Lula — sim, no Brasil de hoje, é difícil. Mas o ministro do STF Edson Fachin, acaba de anular por uma questão técnica todos os processos que corriam contra Lula na Lava-Jato em Curitiba. Se está certo, a decisão vem com atraso demais e impactou a última eleição de forma irreversível. Se está errado, impactará a próxima. É brincar com a democracia. Confira o Ponto de Partida no Youtube.

O decano do STF, ministro Marco Aurélio não gostou de ser contrariado na sessão sobre a libertação ou não do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ). Após o relator Alexandre Moraes adiar a decisão para dar mais prazo à defesa, Marco Aurélio sugeriu que o plenário decidisse, o que Moraes considerou um desrespeito. O ministro insistiu e pediu que o presidente Luiz Fux submetesse o caso ao colegiado, o que foi rejeitado. Furioso, Marco Aurélio chamou Moraes de “xerife” e Fux de “autoritário”. (Folha)

A martelada do Fachin

Tony de Marco

Baseado em comentário de Christian Lynch no Conversas com o Meio (Youtube)

Kraken

Viver

Com 10,3% das mortes por Covid-19 no mundo, apesar de ter apenas 3% da população global, o Brasil vive hoje o pior momento desde o início da pandemia, diz o boletim quinzenal da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). (G1)

Como que corroborando a avaliação, o país registrou mais de duas mil mortes pelo segundo dia consecutivo. Foram 2.207 óbitos, elevando o total a 273.124 e a média móvel em sete dias para 1.705, 13º recorde consecutivo. (UOL)

O avanço desordenado da doença e a falta de uma coordenação nacional estão levando estados e municípios a adotarem medidas isoladas e não raro conflitantes. Compreende-se. O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), representante do Fórum Nacional dos Governadores, disse que mais de 40 mil pessoas esperam leitos para Covid em todo o país e cobrou responsabilidade do governo federal. Confira a situação em seu estado. (Globo)

E São Paulo endureceu ainda mais as restrições contra pandemia. Ficam proibidas atividades esportivas, inclusive o campeonato de futebol, cultos religiosos presenciais e atendimento in loco em lojas de material de construção e eletrônicos. As escolas estaduais vão abrir apenas para alimentação dos alunos e entrega agendada de materiais e chips. As escolas privadas devem manter o ensino remoto. As medidas valem do dia 15 ao dia 30 deste mês. (Estadão)

Enquanto São Paulo aperta, o Rio afrouxa. O prefeito Eduardo Paes (DEM) ampliou o atendimento a clientes em bares e restaurantes até 21h, com delivery e retirada após esse horário, e liberou, também até 21h, os quiosques na orla. Por outro lado, Paes suspendeu a vacinação de pessoas com 75 anos, que deveria acontecer hoje. Faltam doses. (G1)

Jair Bolsonaro criticou duramente tanto o toque de recolher decretado no Distrito Federal por seu aliado Ibaneis Rocha (MDB). Para ele, a medida é um “estado de sítio”. O governador paulista João Doria (PSDB) também não escapou das críticas, acusado de estar “destruindo empregos” em São Paulo. (Globo)

Enquanto isso, nos EUA, todos os ex-presidentes, fora Donald Trump, gravaram um vídeo incentivando a população a se vacinar. (Youtube)

O julgamento ainda não foi concluído, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para estabelecer um marco civilizatório fundamental no Direito brasileiro. Seis dos 11 ministros votaram para tornar inválida a alegação de “legítima defesa da honra” em casos de feminicídio. Segundo o relator, ministro Dias Toffoli, a tese “é estratagema cruel, subversivo da dignidade da pessoa humana e dos direitos à igualdade e à vida”, perpetuando a violência doméstica e o feminicídio. Os ministros Marco Aurélio Mello, Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Gilmar Mendes e Edson Fachin já votaram no plenário eletrônico, acompanhando Toffoli. O outros cinco ministros devem se manifestar hoje, quando a votação eletrônica será encerrada. (G1)

Cultura

Confira a agenda cultural.

Onze galerias brasileiras integram a exposição virtual Female Voices of Latin America, que ocupa a plataforma internacional Vortic até 2 de maio. Obras de Gretta Sarfaty, Lenora de Barros e Rivane Neuenschwander estão entre os destaques.

Entra hoje no ar um episódio especial do 451 MHz, podcast literário da revista Quatro Cinco Um, que discute o legado do escritor Rubem Fonseca um ano após sua morte.

Em parceria com a plataforma Spcine Play e o Cineclube Mário Gusmão, a Mostra de Cinemas Africanos exibe uma seleção de curtas e longas recentes do continente a partir de hoje. Programe-se.

O produtor Marcelo Cabral apresenta hoje um show do disco Motor, criado a partir do violão de 7 cordas, no Palco Virtual do Itaú Cultural. Ele será acompanhado pela artista Manuela Eichner, que criou a capa do álbum e realizará uma colagem ao vivo.

Fechada em virtude da pandemia, a Fábrica de Arte Marcos Amaro transpôs parte de suas atividades para o ambiente digital e lançou uma série de vídeos baseados na exposição Ontologias.

A poesia de Ana Cristina Cesar inspira a nova peça da atriz e dramaturga Laura Nielsen, Ana C., que estreia online na quinta. Dirigido por Sandro Borelli, o bailarino Marcos Abranches está em cartaz com o solo virtual O Idiota, baseado no romance de Dostoiévski.

Shows de Céu, Mariana Aydar e Alzira E estão entre os destaques da 9ª Virada SP Online, que ocupa a plataforma #CulturaEmCasa ao longo do sábado.

Em nove sábados do ano, a Filarmônica de Minas Gerais visita diferentes períodos da música no projeto Fora de Série, começando, amanhã, com obras de Bach, Vivaldi e outros compositores barrocos. No mesmo dia, o Theatro Municipal de São Paulo transmite um concerto gravado da Sinfonia nº 2 de Schumann.

A diretora Adélia Sampaio é a homenageada da edição online do Festival Internacional de Cinema de Santos, que começa na terça. Confira a programação completa.

O Festival Virtuosi, uma das principais iniciativas da música de concerto em Pernambuco, realiza a sua primeira edição digital a partir de terça e apresenta uma série de concertos, masterclasses, palestras e debates gratuitos.

Na quarta, o Flow Literário celebra a presença da palavra escrita em diferentes expressões artísticas, com apresentações de artistas como a slammer Luz Ribeiro, o rapper Gaspar Z'África Brasil e os músicos Meno Del Picchia e Zé Nigro.

Na quinta, o Museu Lasar Segall relembra a produção do artista Rossini Perez, morto no ano passado, na mostra online Arqueologia da Criação, com destaque para suas gravuras.

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É estranho pensar no pernambucano Alceu Valença sem a alegria do carnaval de Olinda, mas é igualmente estranho pensar em alegria após meses de isolamento no Rio de Janeiro, longe de sua terra-natal. Por isso é um fio de tristeza que conduz Sem Pensar no Amanhã, novo álbum em que o cantor e compositor revisa sua obra só com a voz e o violão, amarrando com a faixa-título inédita. Um disco solo/solitário em sua essência, mas nem por isso indigno da carreira de Alceu. (Folha)

Cotidiano Digital

Três meses após ter recebido acusações de antitruste pela Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC) e a maioria dos estados americanos, o Facebook pediu suspensão do processo. A big tech alega que os procuradores não conseguiram provar que a empresa tem um monopólio ou prejudica consumidores. Os órgãos têm até abril para responder esse pedido. Mas segundo o Wall Street Journal, dificilmente as acusações serão rejeitadas antes de um julgamento. Em dezembro, a FTC e os estados chegaram a pedir ao tribunal para obrigar o Facebook a vender o WhatsApp e o Instagram. O caso ainda será ouvido pelo juiz. Ao todo, o governo federal e os dos estados entraram com cinco ações judiciais contra o Facebook e o Google no ano passado.

A Espanha se tornou o primeiro país da UE a reconhecer trabalhadores de apps de delivery como funcionários. Além dos direitos e proteção social, o texto prevê que os sindicatos sejam informados “das regras contidas nos algoritmos e nos sistemas de inteligência artificial que podem afetar as condições de trabalho, e pelas quais as plataformas de entrega são regidas”. Esse movimento tem crescido na Europa. Mês passado, o Uber perdeu uma ação no Reino Unido e terá que tratar os motoristas como funcionários.

Meio em vídeo: Uma tecnologia que usa inteligência artificial (IA) para manipular vídeos e imagens de forma extremamente realista. Com o potencial de colocar o rosto de um artista ou de uma figura pública em uma outra pessoa. O que é isso? Se chama deepfake. E o que surgiu com uma pegada de entretenimento, se transformou em uma ameaça à segurança digital. Pedro Doria e Cora Rónai explicam. Confira no Youtube e no Spotify.

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