Congresso ataca poder de Marina Silva, Planalto cede
Desidratado, enfraquecido, esvaziado. Assim ficará o Ministério do Meio Ambiente, de Marina Silva (Rede-AC), se o Congresso aprovar como está a medida provisória que reestrutura administrativamente o governo. Já o Centrão sai mais forte com as mudanças aprovadas pela comissão mista por 15 votos a 3 — todos os governistas votaram a favor. O veto do Ibama à exploração petrolífera na Foz do Amazonas e declarações recentes de Marina desagradaram principalmente congressistas da região Norte, como o presidente da comissão mista, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). O texto aprovado, do relator Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), desconstrói a política ambiental do governo, retirando órgãos e responsabilidades do Meio Ambiente. A Agência Nacional de Águas e a Política Nacional de Recursos Hídricos passam para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, de Waldez Góes, filiado ao PDT, mas indicado por Alcolumbre. O Cadastro Ambiental Rural, que gerencia a fiscalização de crimes ambientais em propriedades rurais, como grilagem e desmatamento, vai para Gestão e Inovação em Serviços Públicos. Já os sistemas de informação sobre resíduos sólidos ficam com o Ministério das Cidades. Antes da votação, Marina esteve na Câmara e criticou as mudanças: “Isso vai fechar todas as nossas portas”. O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (AP), que deixou o partido da ministra após a decisão do Ibama, disse que o Executivo tentou, mas não conseguiu, um acordo sobre a pauta ambiental. Apesar disso, afirmou que o governo sai vitorioso, por ter mantido 90% da MP. O recém-criado Ministério dos Povos Indígenas também perdeu sua principal atribuição, a demarcação de terras indígenas, que passou para a Justiça. Veja aqui quem ganha e quem perde. Para ONGs ambientais, a MP está consolidando, via lei, o esvaziamento das questões ambiental e indígena. O texto segue agora para o plenário da Câmara e, depois, para o do Senado. A votação deve ocorrer rapidamente, já que há prazo até 1° de junho. (Folha e Estadão)
Além do esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente, Marina sofreu mais um baque ontem. Um dia após o anúncio de acordo para respeitar a decisão do Ibama sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu o projeto da Petrobras: “É inadmissível que nós não possamos equilibrar desenvolvimento econômico, com desenvolvimento social com a questão ambiental conjuntamente”. Em comunicado ao mercado, a estatal informou que vai protocolar, nesta semana, pedido ao Ibama para reconsiderar a negativa. (Globo)
À jornalista Mônica Bergamo, um ministro palaciano reconheceu que o Planalto entregou o ministério do Meio Ambiente. Abriu mão de “políticas públicas concretas e também simbólicas, como na área do meio ambiente”, explicou, “para conseguir avanços em ao menos um tema central, o do desenvolvimento econômico.” (Folha)
Pois é. Na avaliação, a política ambiental era “simbólica”.
Meio em vídeo. O Congresso está trabalhando ativamente para esvaziar e enfraquecer o Ministério do Meio Ambiente. Os deputados federais em particular estão numa ofensiva inédita para atacar o governo. E o Planalto não tem forças para se defender. Confira a análise de Pedro Doria no Ponto de Partida. (YouTube)
E em mais um baque para os indígenas, a Câmara aprovou, por 324 votos a 131, o regime de urgência para votar o marco temporal das terras indígenas. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), alegou que o requerimento estava “na pauta há quatro semanas”. A bancada do agro comemorou aos gritos. A indígena reagiu: “Assassinos, assassinos.” A pauta deve ir a plenário na terça-feira. (UOL)
Em entrevista à GloboNews, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que o Congresso está “dando oportunidades” ao governo para se estruturar e viabilizar seus projetos. Ele destacou, porém, que o Congresso “conquistou maior protagonismo” nos últimos anos e que o governo precisa melhorar as condições de negociação. (g1)
Vera Rosa: “A nova configuração do governo aprovada por uma comissão mista do Congresso, nesta quarta-feira, 24, indica que o Centrão adotou o semipresidencialismo”. (Estadão)
A articulação política do governo falhou feio ontem e não conseguiu impedir que a CPI do MST, dominada por bolsonaristas, aprovasse convites para depor aos ministros do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, e da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro. Eles devem falar sobre invasões de terras privadas. Os governistas também não conseguiram aprovar um pedido de informações sobre recursos públicos destinados ao agronegócio e sobre anistias a infrações e multas ambientais durante o governo Bolsonaro. (g1)
No Meio Político desta semana, o cientista político Guilherme Casarões, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), analisa a política externa de Lula até aqui e o quanto a retórica da multipolaridade, embora cumpra um papel importante em termos de posicionamento, é virtualmente inalcançável. Seja um assinante premium e receba uma nova análise política toda quarta-feira.
Ron DeSantis, o ultraconservador governador da Flórida, formalizou ontem que vai disputar a indicação do Partido Republicano para as eleições presidenciais de 2024. “Estou concorrendo à presidência para liderar nosso Grande Retorno Americano”, ele publicou no Twitter antes da cerimônia de lançamento, que contou com a presença de Elon Musk, dono da plataforma. A relação entre os dois é antiga, e o governador usou seu peso político para facilitar a compra pelo bilionário do Twitter, tido até então como hostil a conservadores. DeSantis, que chamou a atenção do partido ao se reeleger com facilidade no ano passado, adotou uma política de antagonismo à comunidade LGBTQIA+, o que levou a um embate com a Disney, maior empregadora do estado. Nas pesquisas entre os pré-candidatos republicanos, ele aparece atrás apenas do ex-presidente Donald Trump. (CNN)
Para ler com calma. DeSantis entra na corrida carregando um peso: a Flórida, único entre os dez estados mais populosos dos EUA que jamais conseguiu eleger um presidente. (Politico)
Viver
“O melhor simulador de proprietários de escravos e comércio de escravos.” Assim é a descrição do Simulador de Escravidão, jogo da Magnus Games, que estava disponível até ontem na Play Store, com mais de mil downloads e vários comentários com discurso de ódio. O usuário podia simular ser dono de três tipos de escravos: “trabalhador”, homem negro acorrentado pelo pescoço; “gladiador”, com tom de pele mais claro; e “por prazer”, mulher branca com roupa de dança. Após a repercussão negativa, o Google removeu o app. O Ministério da Igualdade Racial entrou em contato com a big tech para propor “um filtro eficiente para que discursos de ódio, intolerância e racismo não sejam disseminados com tanta facilidade”. A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro vai apurar a responsabilidade civil do Google. (Globo)
Meio em vídeo. Vinícius é diferenciado ou há um marco geracional no ineditismo das reações aos crimes de racismo cometidos contra jogadores? No Conversas Com o Meio desta quarta, o jornalista e comentarista esportivo Paulo César Vasconcellos analisa — e explica — os caminhos do racismo entre o gramado, a arquibancada e a sociedade. À luz dos acontecimentos criminosos com o atacante do Real Madrid na Espanha, PC comenta, também, os desafios e as derrotas por estas bandas do Atlântico nesta seara. (YouTube)
Uma equipe de pesquisadores conseguiu o maior avanço até agora nas tentativas de restabelecer a movimentação de pessoas com paralisia por lesão medular. Com implantes no cérebro e na medula de um paciente tetraplégico de 40 anos, eles conseguiram criar uma ponte digital, que “pulou” a área lesionada e restabeleceu a conexão interrompida, permitindo-o caminhar quase normalmente. Uma inteligência artificial decodificou os sinais cerebrais e os traduziu em comandos de movimento. Publicado na revista Nature, o estudo parece ser promissor. (Folha)
Panelinha no Meio. Milho é tão bom e importante que os astecas o consideravam um símbolo dos deuses. Justiça seja feita, milho grelhado com uma manteiguinha de ervas é realmente uma experiência divina.
Cultura
A música internacional perdeu ontem uma de suas maiores divas com a morte, aos 83 anos, de Tina Turner (Spotify), que ultrapassou barreiras entre soul, rock e rhythm and blues e superou uma vida marcada por abusos e violência. Nascida Anna Mae Bullock na zona rural do Tennessee, ainda era adolescente quando atraiu a atenção do renomado guitarrista de R&B e rock Ike Turner, tornando-se cantora de apoio de sua banda. Em 1960, teve a chance de cantar a voz principal em A Fool In Love (Spotify), que escalou as paradas e chamou a atenção para sua voz. Em 1962, já rebatizada Tina, casou-se com Ike, com quem tinha um filho. Se no palco eram uma dupla perfeita, fora dele ela sofreu com as agressões físicas e abusos do marido. Mas o show tinha que continuar. Em 1970, o casal abriu os shows da turnê americana dos Rolling Stones, não raro empalidecendo a atração principal. No ano seguinte, Proud Mary (Spotify), versão de um sucesso do grupo de rock Credence Clearwater Revival, chegou ao número 4 da parada de pop e arrebatou um Grammy. Tina dialogava bem com o rock. Em 1975, roubou para si a canção Acid Queen, do Who, no filme Tommy, com uma performance incendiária (YouTube). O casamento chegou ao fim um ano depois, após Ike espancá-la em um hotel no Texas. Sozinha, endividada e com quase 40 anos (na época era muita coisa), parecia que sua carreira havia terminado. A virada começou na década de 1980, quando David Bowie convenceu a Columbia Records a dar-lhe uma chance. Como o compacto Let’s Stay Together (Spotify) fez sucesso na Europa, a gravadora bancou em 1984 o álbum Private Dancer (Spotify). Tina Turner estava de volta ao topo, agora para ficar. Cinco milhões de cópias vendidas, três compactos no Top 10, três Grammys e uma turnê mundial que não deixou pedra sobre pedra. Era roqueira, era cantora de R&B e era diva pop num mesmo pacote, correndo e dançando pelo palco enquanto cantava (sem playback!) como poucas. We Don’t Need Another Hero (Spotify), da trilha sonora de Mad Max, Além da Cúpula do Trovão, no qual ela também atuou, foi outro arrasa-quarteirão. Em 2000, anunciou sua despedida dos palcos, mas continuou a gravar esporadicamente em projetos especiais. Em 2013, abandonou a cidadania americana, mudou-se para a Suíça e casou-se com o executivo alemão Irwin Bach, com quem já vivia havia 27 anos. No ano seguinte, a família desmentiu o rumor de que Tina teve um derrame, mas suas aparições foram cada vez mais raras. O marido e os dois filhos da cantora não divulgaram a causa da morte. (Variety)
As canções que fizeram de Tina Turner um ícone da música internacional. (CNN)
Relembre, em imagens, momentos marcantes de sua carreira. (g1)
Chega hoje aos cinemas a esperada versão com atores de A Pequena Sereia (trailer) na qual a Disney volta ao conto clássico do dinamarquês Hans Christian Andersen. O filme se viu cercado de controvérsia pela escalação de uma atriz negra, a talentosa Halle Bailey, mas, segundo a crítica, ela é o que o longa tem de melhor. Fazer rir com um tema espinhoso. Esse é o objetivo do suíço Meu Vizinho Adolf (trailer), onde um judeu sobrevivente do Holocausto acredita que a casa ao lado, na Argentina de 1960, é ocupada pelo próprio Hitler foragido. E os cinemas exibem hoje Roger Waters: This Is Not A Drill — Live From Prague (trailer), show ao vivo do criador de The Wall (Spotify).
Confira a programação completa na sua cidade. (Adoro Cinema)
Cotidiano Digital
E a Sony promoveu ontem o PlayStation Showcase, transmissão que contou com novidades de vários jogos que estão para chegar aos consoles PlayStation. A apresentação anunciou Marvel’s Spider-Man 2, o remake de Metal Gear Solid 3, Assassin’s Creed Mirage, Alan Wake 2 e mais. A Sony também anunciou novidades do headset PSVR 2 e um novo hardware: o Project Q, console portátil para jogar via streaming. (Jovem Nerd)
A cobrança extra de R$ 12,90 pelo compartilhamento de senhas de contas da Netflix gerou uma onda de reclamações de consumidores no Brasil. Por isso, o Procon-SP notificou a plataforma a prestar esclarecimentos sobre a mudança anunciada aos assinantes. O Procon quer saber se a Netflix efetivamente está adotando um novo critério de cobrança, como funcionará o eventual novo sistema de acesso e o que de fato a empresa está anunciando. Após os esclarecimentos, o Procon-SP analisará se o streaming cometeu “eventuais infrações ao Código de Defesa do Consumidor”. (g1)