CPI das BETS: Jogue com responsabilidade, viu?
Vocês viram a Virgínia Fonseca na CPI das Bets?
Moletom com imagem da filha, copo stanley, óculos, marido a tiracolo, e um alto teor de deboche nas suas falas. Incômodo demais, né?
Assistindo ao escárnio que foi esse depoimento, eu fiquei pensando muito no que a palavra influenciador significa. Minha primeira reação, como a de muitos de vocês, é a de julgar a atuação dela na chave do “nossa, também, pelamor, quem é essa mulher também, sabe? que tem 53 milhões de seguidores e fica falando no nome de deus toda hora enquanto lucra com a desgraça alheia!“. Também já fiz uma porção de deduções sobre a ideologia dela, o tipo de visão de mundo que tem, etc.
Só que aí eu me lembrei de um sentimento que tive muito recentemente assistindo a várias horas seguidas de transmissões na CazéTV. Eu acho ele muito legal, o que ele conseguiu construir sendo um mero comentarista de YouTube, o império que tá montando pra cobrir esportes de um jeito divertido e tal. E desconfio, pelo que já li e ouvi dele, que sua visão de mundo seja muito mais parecida com a minha do que a da Virgínia. Pois bem, eu passei umas três ou quatro horas assistindo ao canal na final do Paulista. E fiquei muito, mas muito incomodada com o quanto as propagandas de bet ali eram onipresentes. Era o tempo todo falando de bet, com quadros sobre bets, com comentaristas de esportes participando de dinâmicas entre eles patrocinadas por bets. Aquilo me deu um profundo mal-estar
.Vamos falar rapidinho de responsabilidades? Bom, eu tenho a minha, que é de cuidar do conteúdo do Meio — e seria também de entregar um Cá entre Nós por semana, mas não tenho conseguido, porque estou envolvida em um monte de outros projetos, incluindo vários pro streaming do Meio pro segundo semestre. O Meio tá aqui no Youtube, tá nas newsletters diárias, tá nas newsletters exclusivas pra assinantes premium, que também têm acesso ao streaming, e tá em tudo que é canto da tua vida digital pra te ajudar a ler o mundo com olhos mais frescos, mais espertos. Assine o Meio, são só 15 reais por mês!
A real é que o poder financeiro que essa galera das bets tem é tanto, mas tanto que tá difícil dizer não pra elas. Seja pra gerar grana pra si, seja pro seu empreendimento, seja você conservador ou progressista, tem gente demais caindo nessa teia. Pensa só: um cara como Galvão Bueno precisa de mais grana? Ou o Vini Jr? Ambos fazem propaganda pra bet. Não é ilegal, tá? O que Virgínia é acusada de ter feito pode ser ilegal, sim: não faturar a partir do tombo dos outros, que é só imoral, mas talvez ter usado bets pra lavar dinheiro. Isso não pode.
Agora, o que esses influenciadores pensam quando decidem fazer uma propaganda de bet? Bom, é legalizado, então, tudo bem? Pensando por esse ângulo, acho que faz sentido, sim. Uma pessoa que topa fazer propaganda de uma cerveja sabe que tem quem consiga beber com moderação e tem quem não consiga, quem caia no alcoolismo. E ainda assim a gente não julga tanto.
O governo regulamentou a atividade e, com isso, passou a abocanhar um pedaço dessa grana — fazendo promessas de usar parte do dinheiro pra tratar os jogadores compulsivos, mas não há garantias de que o que for arrecadado não vai ser sugado pra dentro do sistema de outros gastos. Além disso, depois de quatro meses de regulamentação, o site do Ministério da Saúde não tem sequer a definição de ludopatia, que é a definição do vício em jogos, e o grupo interministerial criado pra formular ações para tratar do vício de 3 milhões de brasileiros ainda não apresentou nada.
Nessa briga sobre o que fazer com o problema das bets, parlamentares de diferentes colorações estão nas mãos desse lobby. Mesmo os religiosos, consistentemente contrários a essa pauta, têm sofrido a tentação e sentido a pressão.
E aí é isso. Fica o “influenciável” que segue a gostosona ou que curte seu futebol, tanto faz de que lado da polarização, completamente vulnerável. A CPI vira um circo e os influenciadores seguem falando em “jogo responsável”, “jogue com responsabilidade”. Mas ninguém quer assumir responsabilidade por nada. O cidadão que se vire.