Prezadas leitoras, caros leitores —
Donald Trump está estudando mandar tropas para lutar contra cartéis de drogas em outros países; declarou guerra aos museus, à mídia, às universidades e a bancas de advogados; interferiu na soberania de nações historicamente amigas; criou uma espécie de milícia oficialesca para perseguir imigrantes e, num movimento político cinematográfico, designou a intervenção nas forças policiais de Washington e colocou o Exército nas ruas da capital. Já dá para chamá-lo de fascista?
Se você perguntar a Jason Stanley, filósofo estudioso do tema, passou muito da hora. Autor do livro “Apagando a História”, recém-chegado ao Brasil, Stanley deixou a cadeira de professor de Yale em março para lecionar no Canadá, argumentando que os Estados Unidos já vivem sob o fascismo. As sandices de Trump — e a resistência de parte da sociedade em nomeá-las pelo que Stanley garante que elas já são — estão deixando o professor revoltado, indignado, radicalizado. A Edição de Sábado traz uma vigorosa entrevista que o filósofo concedeu a Flávia Tavares.
Traz também um artigo do antropólogo Juliano Spyer sobre como o UFC, que vai passar a ser transmitido em TV aberta nos EUA e pode ter uma luta realizada na Casa Branca, se relaciona com a política trumpista, mas está se espalhando para além da machosfera. E Guilherme Werneck conversa sobre arte e política com Rivane Neuenschwander, uma das principais artistas plásticas de sua geração, que está abrindo uma retrospectiva no Itaú Cultural, em São Paulo.
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Trump volta a atacar Brasil e Lula diz que não ‘andará de joelhos’

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Perdeu quem apostou que a entrada em vigor do tarifaço americano contra os produtos brasileiros traria alguma calmaria nas relações entre Brasil e Estados Unidos. O presidente Donald Trump voltou à carga contra o governo brasileiro nesta quinta-feira, reforçando as críticas e ameaças dos últimos meses. Dessa vez, o presidente americano acusou o Brasil de ser um parceiro comercial “horrível” e de realizar uma “execução política” do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao conversar com repórteres no Salão Oval da Casa Branca, Trump voltou a defender Bolsonaro. “E eu conheço esse homem, e vou te dizer: eu sou bom em avaliar as pessoas. Acho que ele é um homem honesto”, disse. Ato contínuo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu Trump, afirmando que o Brasil é um bom parceiro comercial, mas que não irá “andar de joelhos para o governo americano”. Lula ainda disse que, se os Estados Unidos não quiserem comprar, o Brasil não vai ficar chorando. “Vamos buscar outros mercados”. (Folha)
O ataque do presidente americano foi reforçado por uma nova postagem da Embaixada dos EUA no Brasil dizendo que o programa Mais Médicos foi um “golpe diplomático” e que os Estados Unidos vão penalizar todos os envolvidos. No Planalto, a expectativa é de que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e a ex-presidente Dilma Rousseff sejam os próximos sancionados. (g1)
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) teve encontros, na quarta-feira, com assessores próximos do presidente americano Donald Trump. Ele e o blogueiro Paulo Figueiredo foram recebidos na Casa Branca, em Washington, e apresentaram um relatório sobre o impacto político das sanções e das tarifas americanas no STF e no Planalto. Eduardo disse aos americanos que as instituições bancárias brasileiras seguem permitindo que Alexandre de Moraes faça movimentações financeiras mesmo após ser incluído na Lei Magnitsky. (Globo)
Em Brasília, o presidente Lula acusou Eduardo Bolsonaro de ser um traidor da pátria e pediu que os deputados federais cassassem o mandato do parlamentar, que está nos Estados Unidos desde março. “Esta é a verdadeira traição da pátria. Ele foi para lá instigar os americanos contra nós. Não dá para a gente ficar quieto”, disse o presidente. (Veja)
O ministro Alexandre de Moraes pediu formalmente, nesta quinta-feira, que seja marcada a data para o julgamento de Jair Bolsonaro e dos demais réus no chamado núcleo crucial da trama golpista no Supremo Tribunal Federal. Com o fim do prazo para o recebimento das alegações finais dos acusados, cabe agora ao ministro Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma do STF, marcar a data em que o julgamento vai ocorrer, de forma presencial, no Supremo. Além de Bolsonaro, são réus nesse núcleo: o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem; o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos; o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres; o ex-ministro do GSI, general Augusto Heleno; o ex-ajudante de ordens Mauro Cid; o ex-ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira; e o ex-candidato a vice na chapa derrotada encabeçada por Bolsonaro, general Braga Netto. (Metrópoles)
O ministro Zanin avalia marcar o julgamento para a primeira quinzena de setembro, informa Gustavo Uribe. Dessa forma, se algum magistrado pedir vistas do processo, com o prazo de 90 dias para devolução, o julgamento se encerra ainda em 2025. A ideia é que as sessões ocorram nas manhãs e tardes de terça-feira, com possibilidade de sessões extras. (CNN Brasil)
Pressionado pela oposição para colocar em pauta projetos de lei que acabam com o foro privilegiado e de anistia, na tentativa de livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro de uma condenação no STF, o presidente da Câmara, Hugo Motta, disse não haver clima para uma anistia ampla, geral e irrestrita, como defendem os bolsonaristas. Em entrevista à GloboNews, Motta disse não ver “dentro da Casa um ambiente para, por exemplo, anistiar quem planejou matar pessoas”. Motta, no entanto, afirmou haver uma preocupação com as penas extremamente elevadas aplicadas a alguns dos condenados por terem participado dos ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. (g1)
Ainda assim, parlamentares do PL articulam uma visita de Motta a Bolsonaro na prisão domiciliar. O ex-presidente já disse a interlocutores que aceita recebê-lo. (Metrópoles)
A prisão domiciliar imposta ao ex-presidente Jair Bolsonaro, na semana passada, interrompeu a curva de crescimento das menções positivas ao presidente Lula e ao STF nas redes sociais, conta Mônica Bergamo. A avaliação é da própria Secretaria de Comunicação do Planalto, que monitora constantemente o humor nas redes. (Folha)
O mundo aguarda apreensivo o resultado do primeiro encontro pessoal entre o presidente americano, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para discutir os rumos da Guerra da Ucrânia. Os dois irão se reunir pessoalmente em uma base aérea isolada no Alasca nesta sexta-feira. Putin vai apresentar a Trump as condições que considera essenciais para encerrar o conflito. Entre elas estão o reconhecimento americano das quatro províncias ucranianas anexadas ilegalmente e à força pela Rússia, além da Crimeia. Putin também quer garantias de que o que restar da Ucrânia não se unirá com a Otan. Horas antes do encontro, Trump afirmou que Putin parece estar pronto para um acordo. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, não participará da reunião que vai discutir o destino do país que governa. (Guardian)
Colocados de escanteio nas discussões sobre o futuro da Ucrânia, líderes europeus reforçam que não haverá acordo possível sem que a Europa e a própria Ucrânia tenham voz nas negociações. Nesta quinta-feira, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Keir Starmer, recebeu Zelensky na sua residência oficial em Londres e renovou a parceria e a cooperação com o país. Zelensky, uma vez mais, afirmou que não aceitará negociar a cessão de territórios à Rússia. No campo de batalha, no entanto, tropas de Moscou têm conquistado cada vez mais terreno. (Independent)
No plano doméstico, Trump promove uma intervenção na segurança de Washington, capital dos Estados Unidos, sob pretexto de combater a criminalidade. Agentes federais tentaram desocupar acampamentos de pessoas em situação de rua no noroeste da cidade na noite de quinta-feira. A operação estava prevista para 18h30, mas só começou depois de escurecer. Por volta das 21h, agentes do FBI e do Serviço Secreto dos EUA começaram a remover barracas onde esses moradores viviam há muito tempo. Ainda ontem a procuradora-geral Pam Bondi emitiu uma diretriz revogando a política anterior do Departamento de Polícia de Washington D.C. de não participar da aplicação das leis de imigração, contrariando uma série de normas anteriores. (New York Times)
É justamente o sonho que faz com que a gente faça a realidade avançar. No documentário Democracia: Uma História Sem Fim, o sociólogo Sérgio Abranches explica que o que mantém a democracia viva é o desejo coletivo de torná-la mais justa e avançar como sociedade. Assine o Meio Premium e assista.
Viver
O projeto do governo Lula para regulação das big techs, que deve ser levado ao Congresso na semana que vem, na esteira do vídeo do youtuber Felca, prevê uma escala de sanções que inclui advertências, multas e também a suspensão provisória de plataformas, por até dois meses, sem necessidade de decisão judicial. A Folha teve acesso à minuta do texto, com mais de 60 artigos. A proposta é que o acesso a essas redes pode ser bloqueado por 30 dias, prorrogáveis por mais 30, em caso de descumprimento sucessivo de regras para detecção e remoção de conteúdos ilícitos, que configurem crimes já tipificados no Código Penal e em outras leis. Segundo o projeto, as plataformas têm obrigação de impedir a circulação de publicações que configurem crimes como violência doméstica, estupro, racismo e indução ao suicídio e à automutilação. Também estão inclusos os chamados crimes contra o Estado democrático de direito, como atentado à soberania ou à integridade nacional, espionagem, abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, interrupção do processo eleitoral e violência política. (Folha)
Meio em vídeo. A tragédia moral exposta pelo influenciador Felca, sobre exploração de menores e adultização nas redes sociais, foi importante para sacudir a opinião pública, mas as suas denúncias não são novidade. Confira a explicação de Mariliz Pereira Jorge no programa De Tédio a Gente Não Morre. (YouTube)
Proteína encontrada no cabelo, pele e lã, a queratina pode reparar o esmalte do dente e prevenir os estágios iniciais da cárie, segundo pesquisadores do King's College London. Quando aplicada à superfície dental e entra em contato com os minerais naturalmente presentes na saliva, a queratina forma uma estrutura cristalina altamente organizada que imita a estrutura e a função do esmalte dentário natural. Com o tempo, essa estrutura leva ao crescimento de uma camada protetora, formando uma densa camada mineral que protege o dente e sela os canais nervosos expostos que causam sensibilidade. (Globo)
Cotidiano Digital
Um documento interno da Meta expôs diretrizes controversas para o comportamento de seus chatbots de IA no Facebook, WhatsApp e Instagram. As regras, aprovadas pelas áreas jurídica, engenharia e pelo diretor de ética da empresa, permitiam que bots flertassem com crianças, gerassem informações médicas falsas e até criassem textos depreciativos sobre negros, desde que em contexto específico. Após ser questionada, a Meta removeu trechos que aceitavam interações românticas com menores e afirmou que tais conversas “nunca deveriam ter sido permitidas”. O material, com mais de 200 páginas, também incluía exemplos de como contornar pedidos de conteúdo sexualizado de figuras públicas. (Reuters)
Um em cada três brasileiros sofreu golpe virtual com prejuízo financeiro entre julho de 2024 e junho de 2025, segundo pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O levantamento aponta 56 milhões de vítimas e perdas de R$ 111,9 bilhões, envolvendo golpes do Pix, boletos falsos, fraudes com cartão e compras não entregues. Os ricos são alvos preferenciais e 27,6% da classe A/B sofreram ameaças com dados pessoais, contra 16,4% da C/D/E. O roubo ou furto de celular atingiu 15,7 milhões de pessoas, com prejuízo médio de R$ 1.700 e aumentou em 3,7 vezes o risco de golpe digital. (Globo)
Cultura
O público do Rio de Janeiro vai ter um fim de semana animado. Destaque para o Festival Toca 2025, que vai até domingo no MAR com Dona Onete, Gaby Amarantos, Suaras do Tapajós e Maria Gadú no palco. Já na Cinemateca do MAM serão exibidos todos os longas do holandês Paul Verhoeven. Em São Paulo, a artista visual Rivane Neuenschwander ganha uma retrospectiva de peso no Itaú Cultural. Ainda tem um evento que mistura exposições, lançamentos de livros e visitas guiadas na Travessa Dona Paula. Leia todas as sugestões no site do Meio.
O escritor manauara Milton Hatoum foi escolhido nesta quinta-feira para ocupar a cadeira número 6 da Academia Brasileira de Letras, antes ocupada pelo jornalista Cícero Sandroni. Ele foi eleito com 33 votos contra um de Antônio Campos. Romancista, contista, ensaísta, tradutor e professor, Hatoum tem mais de 500 mil livros vendidos no Brasil, sendo traduzido em 16 países. Venceu duas vezes o prêmio Jabuti, com Relato de um Certo Oriente e Dois Irmãos, que foi adaptado para uma minissérie de TV. Sua próxima obra, Dança de Enganos, chega às livrarias em outubro encerrando a trilogia O Lugar mais Sombrio. (Folha)
Milton Hatoum tem também uma longa trajetória acadêmica. Morou na capital amazonense até o início da adolescência, voltando anos depois para lecionar literatura francesa na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Na década de 1970, formou-se em arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde desenvolveu uma pesquisa sob a orientação do geógrafo Milton Santos. Morou na Europa na década seguinte, cursando em Paris seu mestrado em literatura latino-americana. Foi professor visitante de universidades como Berkeley e Sorbonne. (g1)
A Academia Brasileira de Cinema anunciou nesta quinta-feira os 16 longas que concorrem para representar o Brasil no Oscar 2026 na categoria de melhor filme internacional. A lista conta com obras de peso, como O Agente Secreto, filme de Kleber Mendonça Filho que levou dois prêmios no Festival de Cannes, e O Último Azul, de Gabriel Mascaro, vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim. A Comissão de Seleção vai escolher seis títulos entre os inscritos em 8 de setembro, elegendo o representante ao Oscar no dia 15 do mesmo mês. (Globo)