Nas telas, a mais célebre volta para casa

Quase três décadas depois do clássico O Paciente Inglês, Ralph Fiennes e Juliette Binoche estão de volta em O Retorno, de Uberto Pasolini, vivendo um dos mais célebres e sanguentos reencontros da dramaturgia. Fiennes vive Odisseu (Ulisses para os romanos), rei de Ítaca, que volta para casa como um náufrago após 20 anos — dez na guerra de Troia e dez de aventuras e desventuras no Mediterrâneo. Velho, alquebrado e com remorso pela morte de seus companheiros, ele descobre que a esposa, a rainha Penélope (Binoche), ainda o espera, embora todos o considerem morto. Pior, dezenas de pretendentes tentam fazê-la se casar novamente, já que era dela que emanava o poder real. Como a história termina? Não vou dar spoilers, embora Homero tenha contado tudo há quase três mil anos.
Quase tão longa quando a jornada de Odisseu, a série Invocação do Mal, que já rendeu três spin offs, promete chegar a sua conclusão. Vera Farmiga e Patrick Wilson encarnam novamente (sem trocadilho) os investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren em Invocação do Mal 4: O Último Ritual. Ao tentar solucionar a assombração de uma casa, eles descobrem que força sobrenatural presente é um velho conhecido com o qual têm contas a acertar. Se é realmente o último capítulo, só o tempo e a bilheteria dirão, pois, como Jason e Freddy Krueger nos lembram, há sempre uma próxima vez em franquias de terror.
Embora seja baseado na obra de Stephen King e dirigido por Mike Flanagan, A Vida de Chuck não é um filme de terror, pelo contrário. Tom Hiddleston, o eterno Loki, vive, ou melhor, morre o personagem-título, um contador. Sua história é contada de trás para frente, começando com sua morte aos 39 anos com um câncer no cérebro — coincidentemente, o universo morre junto com Chuck. Dali em diante, acompanhamos o que aconteceu com ele nos meses e anos anteriores até a infância, criado pelos avós após a morte dos pais. Esqueça os sustos que King e Flanagan costumam nos dar e o começo mórbido. O longa é acima de tudo uma celebração dos prazeres da vida.
Falando em prazeres. Quer quiser rir deve conferir O Rei da Feira, de Felipe Joffily. Leandro Hassum vive Monarca, um policial com faro apuradíssimo e poderes mediúnicos, sendo que a última característica não é exatamente agradável — já pensou ter que pedir licença aos fantasmas para ir ao banheiro com privacidade? Tudo vai bem até que seu amigo Bode, um feirante, é assassinado após ganhar muito dinheiro no jogo do bicho e encher a cara para comemorar. Monarca vai ser literalmente assombrado pelo falecido para resolver o crime. O problema é que não faltam suspeitos, e a vítima estava tão bêbada que não se lembra do rosto de seu assassino.
Imagine ser generalizadamente detestado a ponto de servir de base para um vilão clássico. Essa é a história que nos conta o longa português O Pior Homem de Londres, de Rodrigo Areias. Trata-se do caso real do luso-britânico Charles Augustus Howell (1840-1890), que fez fortuna na capital inglesa como negociante de artes, mas seria de fato um bem-sucedido chantagista e manipulador. Entre outras façanhas, Howell teria coagido o pintor e poeta Dante Gabriel Rossetti a exumar o corpo da própria esposa para pegar de volta os poemas que enterrara com ela. Sua má reputação era tão grande que inspirou Sir Arthur Conan Doyle a criar Charles Augustus Milverton, vilão de um dos contos de Sherlock Holmes.
Marcélia Cartaxo, sempre ótima, estrela A Praia no Fim do Mundo, um drama de realismo fantástico dirigido por Petrus Cariry. Ela é Helena, uma viúva que vive com a filha Alice (Fátima Macedo) em Ciarema, uma praia que vem aos poucos sendo tragada pelas águas. A jovem quer ir embora, mas a mãe não quer deixar o lugar onde nasceu e viveu todos os seus anos, numa casa marcada pela ausência do marido, que desapareceu no mar. A belíssima fotografia em preto e branco acentua o sentido de erosão, tanto a real, das areias e casas, quanto a metafórica, da vida das personagens.
E o estúdio Angel nos inflige mais um drama-edificante-de-superação-e-fé. Em O Último Rodeio, o cowboy aposentado Joe (Neal McDonough) decide voltar a competir montando touros para pagar a cirurgia do neto com câncer. É aquilo, se a família vivesse em algum lugar civilizado, e não nos Estados Unidos, o garoto faria a operação de graça em um hospital público, mas pelo menos eles podem andar armados.
Dirigido por Sérgio Machado, o documentário 3 Obás de Xangô retrata um trio fundamental da cultura baiana (e brasileira e universal, claro): o escritor Jorge Amado (1912-2001), o cantor e compositor Dorival Caymmi (1914-2008) e o artista plástico Carybé (1911-1997), argentino de alma baiana. Cada um a sua maneira, retratou o modo de ser da Bahia, a força feminina, a profundidade do candomblé e a onipresença do mar.
E para as crianças há duas opções. Também do Angel, mas mais divertido que a média do estúdio, Desenhos retrata uma menina que canaliza para um caderno seus medos e frustrações, imaginando criaturas como as “olhanhas” (literalmente olhos com perninhas) e outras piores. Até que um dia seu caderno cai em um lago misterioso e seu desenhos ganham vida.
A outra é Super Wings: Velocidade Máxima. Basicamente Carros, só que com aviões e vilões humanos.
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