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Prezadas leitoras, caros leitores —

Não é todo dia que a História se descortina diante de nossos olhos. Mas foi o que aconteceu nesta quinta-feira. Pela primeira vez em nossa longa trajetória de golpes bem ou malsucedidos, os responsáveis por tentar romper a ordem democrática foram julgados e condenados, independentemente de cargos e patentes. Uma linha foi traçada no chão pelos votos de quatro dos cinco ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal. O Brasil agora também tem seu 11 de setembro, mas, diferentemente do Chile e dos Estados Unidos, o nosso deve ser comemorado.

Mas as duas semanas de julgamento no Supremo não se limitaram a sustentações, votos e sentenças. Para além da firmeza de Alexandre de Moraes, das citações poéticas de Cármen Lúcia e da surpreendente divergência que ameaça isolar Luiz Fux na Corte, as sessões foram marcadas por sutilezas, olhares, irritações, gracejos e bocejos que não raro passaram despercebidos para o público em geral. Mas o Meio estava lá para ver.

Na Edição de Sábado especial, exclusiva para assinantes premium, Giullia Chechia, nossa testemunha ocular da História, revela esses bastidores, esse clima de um evento que, esperamos, vai mudar para melhor a vida política brasileira.

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— Os editores.

Bolsonaro é condenado a mais de 27 anos de prisão

Foto: Sérgio Lima / AFP

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O ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado a cumprir uma pena de prisão de 27 anos e três meses pelos cinco crimes que lhe foram imputados pela Procuradoria-Geral da União, entre eles o de golpe de Estado, organização criminosa e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. Bolsonaro foi considerado culpado por quatro dos cinco ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que também condenou os outros sete réus que formavam o que ficou conhecido como o “núcleo crucial” da trama golpista. Tanto a ministra Cármen Lúcia quanto o ministro Cristiano Zanin seguiram o voto do relator, Alexandre de Moraes, e condenaram Bolsonaro e os outros sete réus por todos os crimes de que eram acusados. O ministro Luiz Fux, que em um voto de mais de 12 horas na quarta-feira inocentou Bolsonaro e boa parte dos acusados, optou por participar do debate sobre a dosimetria da pena apenas para o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, os únicos que condenou. Esta foi a primeira vez na história do Brasil que um ex-presidente que tentou um golpe de Estado foi condenado pela Justiça. (g1)

Também pela primeira vez na história, quatro militares das mais altas patentes das Forças Armadas foram condenados à prisão por golpe de Estado. O general Braga Netto, um dos militares mais próximos de Bolsonaro em seus anos no Planalto, foi condenado a 26 anos de prisão e já está preso em um quartel no Rio de Janeiro. O almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, foi condenado a 24 anos de prisão. O ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional general Augusto Heleno também foi condenado pela Primeira Turma. Mas, de acordo com o entendimento dos ministros, teve um papel menor na trama e recebeu 21 anos de prisão. Já o também ex-ministro da Defesa de Bolsonaro general Paulo Sérgio Nogueira recebeu a menor pena entre os militares de alta patente: 19 anos de prisão. Todos podem perder suas patentes, a depender de decisão do Supremo Tribunal Militar. (CNN Brasil)

Mauro Cid teve sua delação premiada reconhecida tanto pela PGR quanto pelos ministros do STF e recebeu uma pena branda: dois anos de prisão em regime aberto. (Terra)

Os únicos civis entre os réus também foram condenados a penas pesadas. O ex-ministro da Justiça e secretário de Segurança Pública do Distrito Federal em 8 de janeiro de 2023, Anderson Torres, pegou 24 anos de prisão em regime fechado. Já o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Nacional de Inteligência (Abin) recebeu uma pena de 16 anos de prisão e perda do mandato na Câmara. Os dois são delegados da Polícia Federal e perderão seus cargos na corporação. (Metrópoles)

De acordo com a decisão dos ministros da Primeira Turma, todos os condenados — com exceção de Mauro Cid — devem iniciar o cumprimento da pena em regime fechado, ou seja, em uma prisão. A grande dúvida recai sobre o destino de Bolsonaro. Essa decisão cabe ao ministro relator da ação penal, Alexandre de Moraes, que pode autorizar prisão domiciliar. Caso Moraes decida enviá-lo à prisão, três opções estão sendo avaliadas: uma cela na Superintendência da Polícia Federal, uma cela especial no Complexo Penitenciário da Papuda ou um quartel do Exército. As Forças Armadas já solicitaram ao STF que Bolsonaro não fique em instalações militares. Celas para receber o ex-presidente na Papuda e na Polícia Federal já estão preparadas. A defesa de Bolsonaro pretende pedir a prisão domiciliar em razão de seus problemas de saúde e da idade do ex-presidente. (Folha)

O ministro Luiz Fux teve um comportamento muito diferente do exibido na quarta-feira, quando leu eloquentemente seu extenso voto por mais de 12 horas. Nesta quinta-feira, diante de um plenário claramente incomodado com sua decisão e com o tempo que gastou para proferi-la, Fux adotou uma postura bem mais comedida. Passou quase todo o tempo de cabeça baixa enquanto a ministra Cármen Lúcia e o ministro Cristiano Zanin liam seus votos, evitando contato visual. Fux praticamente não participou dos descontraídos apartes entre os ministros. Ao que tudo indica, saiu do julgamento bastante isolado na Corte, em especial na 1ª Turma do STF. (Estadão)

Nos EUA, Donald Trump se disse surpreso com a condenação. O presidente americano afirmou acreditar que Bolsonaro foi um bom presidente para o país e classificou a decisão do STF como “muito surpreendente”. Trump ainda comparou o julgamento de Bolsonaro com os processos que enfrentou nos Estados Unidos entre seus dois mandatos. Coube ao secretário de Estado americano, Marco Rubio, fazer as ameaças de praxe, afirmando que seu país vai “responder adequadamente” ao que chamou mais uma vez de “caça às bruxas”. No Brasil, o presidente Lula respondeu às ameaças afirmando que o país não teme novas sanções de Washington. “Eles precisam saber que não estão tratando com uma republiqueta de banana”, disse o presidente. (Globo)

Horas antes de a Primeira Turma sacramentar as condenações, Lula disse, em entrevista à TV Band, que o Executivo vai agir contra o projeto que anistia os golpistas. “O governo vai trabalhar contra a anistia. Isso está escrito, gente. Está desenhado já se sabe quem foi que fez isso [o golpe], quem ia fazer, não tem mais o que discutir”, afirmou. (UOL)

E, claro, os memes explodiram nas redes. (Poder360)

Vera Magalhães: “A partir de 11 de setembro de 2025, o Brasil tem um ex-presidente eleito pelo voto e condenado por tentar uma ruptura institucional, algo inédito na História da República e também um caso raro no mundo, diante das cada vez mais frequentes ameaças autoritárias em países democráticos a partir de chefes de Estado, partidos institucionalizados ou líderes populistas carismáticos”. (Globo)

Vinícius Torres Freire: “Foram condenados quatro oficiais-generais de quatro estrelas, topo da carreira. Outros militares irão para a cadeia. O otimista poderá dizer que agora somos capazes de evitar o cancelamento da democracia e, de quebra, mandamos para a cadeia candidatos a tiranos e generais. Mas tivemos de fazê-lo”. (Folha)

Fabiano Lana: “A condenação de Bolsonaro será para sempre controversa. Só um Deus onipotente tem acesso a todas as verdades do mundo. Porém, algo é inegável: a punição faz sentido. Não estaria na hora de tentar diminuir a fervura social? O primeiro passo deveria ser do Supremo Tribunal Federal”. (Estadão)

Meio em vídeo. O voto que condenou Bolsonaro vem de uma pessoa que representa tudo o que o bolsonarismo despreza. Cármen Lúcia é uma mulher de 70 anos, solteira, sem filhos, independente, bem-sucedida e respeitada, conta Mariliz Pereira Jorge na coluna De Tédio a Gente Não Morre. (Meio)

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Próximos capítulos
Marcelo Martinez

Bolsonaro foi condenado. Mas o que você vê no noticiário é só a ponta do iceberg. No documentário O Julgamento do Século, exclusivo para assinantes do Meio Premium, você descobre bastidores inéditos e entende como a trama golpista foi arquitetada — e por que ela fracassou. Assine agora e assista no seu fim de semana.

Viver

Um estudo inédito produzido por pesquisadores de oito países da bacia amazônica, com destaque para o Brasil, conclui que as terras indígenas na Amazônia são fundamentais para proteger a saúde pública da região. Com dados de 1.733 municípios desses países, o trabalho publicado na revista científica Communications Earth & Environment, do grupo Nature, analisou 27 condições de saúde e identificou que a taxa de enfermidades diminui em municípios próximos a terras indígenas. Doenças cardiovasculares e respiratórias, associadas a queimadas e contato com animais e insetos, também apresentaram menor risco de aumento. (Veja)

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O Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira que vai disponibilizar pelo SUS a vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), responsável por cerca de 80% dos casos de bronquiolite e até 60% das pneumonias em crianças menores de 2 anos. A distribuição na rede pública deve começar na segunda quinzena de novembro para a proteção de gestantes a partir da 28ª semana de gravidez e bebês. Entre 2018 e 2024, foram registradas 83 mil hospitalizações de prematuros por complicações ligadas ao vírus, sendo que uma a cada 50 crianças acaba hospitalizada no primeiro ano de vida. (Terra)

O presidente Lula sancionou a lei que cria a Carteira Nacional Docente do Brasil (CNDB), que dá descontos a professores em eventos culturais e redução de 15% no valor da diária em hotéis associados. O documento poderá ser solicitado a partir de outubro, mês em que é comemorado o Dia do Professor, e é válido para profissionais das redes pública e privada em todos os níveis da educação básica e superior. (g1)

Cultura


Maior feira carioca de arte, a 15ª edição da ARTRio vai até domingo na Marina da Glória, sendo um dos destaques culturais deste fim de semana. Ainda no Rio, a D-Edge prepara mais uma festa épica, a Selvagem. Em São Paulo, além de mais uma rodada do The Town, no Autódromo de Interlagos, tem o Massari Fest, como opção musical no domingo, com atrações como Violeta de Outono, Bufo Borealis e A Place to Bury Strangers, no Fabrique Club. Para os cinéfilos, o diretor russo Andrei Tarkovski tem seus filmes reunidos no Reag Belas Artes. Leia todas as sugestões no site do Meio.

Zé Ramalho apresenta sua nova turnê em São Paulo com o show 75 Anos de Vida - Temporada de Sucessos, desfilando uma sequência de composições que marcam sua carreira, como Avôhai, Frevo Mulher, Eternas Ondas e Sinônimos. Este ano também marca os 50 anos da gravação do seu primeiro álbum, Paêbirú: Caminho da Montanha do Sol, altamente influenciado pela psicodelia da banda Pink Floyd. O disco é considerado o mais caro do Brasil, podendo ser vendido por até R$ 10 mil entre colecionadores. O cantor se apresenta nesta sexta-feira no Espaço Unimed. (Folha)

A cinebiografia do ícone do Hall da Fama do Boxe Internacional Christy Martin ganhou um trailer estrelado por Sydney Sweeney. Dirigido por David Michôd, que divide o roteiro com Mirrah Foulkes, a partir de um conto de Katherine Fugate, Christy teve sua estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF) deste ano. Sweeney teve de ganhar 13,5 kg e desenvolver suas técnicas de luta para encarnar o papel da boxeadora. No trailer, a atriz aparece bem diferente, em cenas com muitos socos e ação. Ainda sem previsão de lançamento no Brasil, o filme chega nos cinemas dos EUA em 7 de novembro. (Variety)

Cotidiano Digital

A Comissão Federal de Comércio dos EUA abriu uma investigação sobre sete empresas de tecnologia, entre elas, Alphabet, Meta, OpenAI e a recém-criada xAI, de Elon Musk. O órgão quer entender como as companhias monitoram os riscos de seus chatbots, usados por milhões de consumidores, e pediu informações sobre monetização, coleta de dados e geração de respostas. O movimento acontece em meio a denúncias sobre falhas graves, inclusive no escândalo dos documentos internos que revelaram que o chatbot da Meta chegou a manter conversas de teor romântico com crianças e até sustentou falas racistas. (Reuters)

Falando nisso, um comitê parlamentar francês que investiga os efeitos psicológicos do TikTok em menores de idade concluiu que a plataforma coloca deliberadamente em risco a saúde e a vida de seus usuários. O presidente desta comissão pediu ao Ministério Público de Paris a abertura de uma investigação criminal sobre o caso. Em resposta, o TikTok rejeitou as conclusões, alegando que a empresa tinha se tornado um “bode expiatório” para problemas que afetam todo o setor. (Reuters)

O CEO da Warner Bros. Discovery, David Zaslav, confirmou que a HBO Max vai aumentar de preço e passará a restringir o compartilhamento de senhas. Em conferência do Goldman Sachs, ele disse que o serviço está “muito abaixo do preço” e que o catálogo de filmes e séries justificaria o reajuste. A plataforma ainda não definiu quando começará a fiscalizar usuários que dividem contas, mas Zaslav afirmou que o plano é seguir caminho semelhante a concorrentes como a Netflix. (TechCrunch)

Meio em vídeo. No Pedro+Cora, a jornalista Cora Rónai desta vez recebe Luiza Silvestrini, jornalista e apresentadora do Meio. No papo, falam sobre o governo do Nepal e o bloqueio de diversas redes sociais no país, a visão dos jovens como uma medida que tira a liberdade de expressão, os protestos e violências e um relato de como é a vida no país. Não perca. (YouTube)

O julgamento de Jair Bolsonaro já entrou para a História. No Central Meio ao vivo, às 12h15, esmiuçar a condenação e analisar os efeitos dela. Acompanhe com a gente em nosso canal do YouTube.

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