Glória Pires desafia convenções nas telas

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O amor está no ar, e não é o amor natalino. Uma das nossas mais consagradas atrizes, Glória Pires estreia na direção com Sexa, estrelado por ela mesma. Bárbara, a protagonista, acaba de fazer 60 anos carregando algumas desilusões amorosas e enfrentando a visão etarista do filho, para quem a mãe “já passou da idade de namorar”. Apesar dos incentivos da amiga Cristina (Isabel Fillardis), Bárbara parece disposta a aposentar o coração até surgir em seu caminho o viúvo Davi (Thiago Martins), que, para desafiar ainda mais a convenções, é 25 anos mais novo. Será que ela vai jogar fora o “genária” e ficar só com o “sexa” do título?
Lara (Pilar Fogliati) vai receber Piero (Edoardo Leo) para um jantar romântico a dez. Como assim “a dez”? Primeiro Encontro, de Paolo Genovese, é uma espécie de Divertida Mente adulto com atores de carne e osso. Dentro da cabeça de cada um, quatro aspectos de suas personalidades (a romântica, a cínica, o garanhão, o impaciente etc.) vão dando palpites e conduzindo o encontro dentro daquela pegada cômica tipicamente italiana.
Se um encontro a dez é claramente um exagero, uma noite a três pode ser igualmente complicada, como mostra Entre Nós: Uma Dose Extra de Amor, de Chad Hartigan. Connor (Jonah Hauer-King) tem uma queda por sua amiga Olivia (Zoey Deutch), que dá corda, mas não consuma. Uma noite no bar, um amigo aconselha Connor a dar em cima de uma moça sozinha para provocar ciúmes em Olivia. Ele faz isso e acaba descobrindo que Jenny (Ruby Cruz) é uma garota bem legal, mas o plano dá certo e Olivia se senta à mesa para atrapalhar a conversa. Papo vai, papo vem, e os três acabam na cama em uma noite na qual rola de tudo… exceto contraceptivos. As duas engravidam e, como o poliamor não é uma opção em Arkansas, está instalada a trama dessa comédia.
Mas às vezes o amor traz problemas. Baseado no livro de Thalita Rebouças, Traição Entre Amigas, do mestre Bruno Barreto, conta a história de Penélope (Larissa Manoela) e Luiza (Giovanna Rispoli), amigas desde a infância, apesar das personalidades muito distintas. Até que, após uma festa, Penélope transa com o rapaz pelo qual a tímida Luiza é apaixonada. Para esta, foi uma traição e a amizade acabou. Cada uma segue sua vida, com Penélope estudando teatro em Nova York e Luiza batalhando a carreira de cantora/youtuber, mas a ausência da amizade segue pairando sobre elas.
Já está bom de romance, não é? Podemos passar para outros temas. Em Imperfeitamente Perfeita, de James L. Brooks, Emma Mackey vive Elle McCay, uma jovem política idealista em vias de se tornar governadora de seu estado. A mudança de status, porém, vai obrigá-la a confrontar sua relação com a família, do marido incomodado com a proeminência da esposa ao pai ausente e sem noção, tendo como apoio a tia doidinha e o fiel motorista/segurança/conselheiro. Mas não se iluda, é um filme sobre roubos: Jamie Lee Curtis, a citada tia, rouba todas as cenas em que aparece.
É preciso muita delicadeza para tratar certos temas. Pois a atriz Eva Victor acertou em cheio com seu primeiro longa como diretora e roteirista, Sorry, Baby, na abordagem dos traumas derivados de uma agressão sexual. Victor vive Agnes, professora de inglês em uma universidade no interior da Nova Inglaterra que recebe a visita de melhor amiga Lydie (Naomi Ackie), que constituiu família e está grávida. É Lydie que vai fazer referência ao “incidente” e conduzir o filme ao passado, quando ambas eram doutorandas na mesma faculdade e Agnes era a aluna-modelo, alvo das “atenções” do orientados. A diretora/atriz consegue imprimir um tom de humor sem perder de vista a gravidade da situação e mostrar como Agnes, que hoje ocupa a vaga e o escritório de seu agressor, nunca seguiu realmente adiante.
Em uma indústria na qual o envelhecimento ainda é um tabu, a grande Glenn Close abraça o papel de uma idosa no drama Memórias de um Verão, de Charlie McDowell, baseado no livro de Tove Jansson. A pequena Sophia, de 9 anos, vai passar o verão com a avó (Close) em uma ilha na Finlândia após a morte da mãe. A menina precisa lidar com uma perda dupla, já que o pai está mais distante a cada dia, mergulhado no próprio luto. “Ele não me ama desde que mamãe morreu”, diz Sophia, para surpresa da avó. Esta, além de tentar reavivar o laço entre o filho e a neta, precisa lidar com o próprio envelhecimento, em particular a perda da memória, da qual tem pleno conhecimento.
Um menino de 7 anos se comporta mal durante uma viagem em uma estrada do interior e, como punição, os pais param o carro e o deixam por alguns minutos de castigo sozinho no bosque. Já seria horrível o suficiente se o garoto não desaparecesse. Essa é a trama da produção chilena-argentina O Castigo, de Matías Bize, que se passa em tempo real. O ambiente opressivo da floresta, a desconfiança da polícia em relação aos (no mínimo, irresponsáveis) pais e a tensão crescente do casal, com seus muitos segredos vindo à tona mantêm o público em atenção permanente.
Dirigido por André Corrêa, O Coreto é antes de tudo uma celebração da cultura das cidades do interior. Ambientado na zona rural da cidade paulista de Guararema, o longa retrata Tina (Fernanda Schiavo), uma jovem que vive da agricultura familiar com a avó e a irmã, mas sonha em ser escritora. O livro ela já concluiu, mas, para publicá-lo de forma independente, precisa de R$ 4,6 mil, algo muito além das posses da família. Incentivada por um desconhecido (Alexandre Borges), Tina decide usar o coreto da praça, símbolo da cultura local, como palco para arrecadar o dinheiro que necessita para tirar do papel, ou melhor, botar no papel seu sonho.
Como o próprio nome indica, Livros Restantes, de Márcia Paraíso, traz a literatura como mote. Prestes a se mudar para Portugal, Ana Catarina (Denise Fraga) se desfaz de todas as suas posses, sobrando apenas cinco livros que recebeu de presente ao longo de 20 anos, cheios de dedicatórias e lembranças. Ela decide devolvê-los a cada pessoa que a presenteou como forma de deixar algo de si com todos, e cada reencontro traz de volta lembranças (boas ou nem tanto), funcionando um encerramento que lhe permita seguir em frente com sua nova vida.
E já que o cinema tem de atender a todos os gostos, temos carnificina à americana em Natal Sangrento, escrito e dirigido por Mike P. Nelson. Refilmagem de um controvertido slasher de 1984, o longa foca em Billy (Rohan Campbell), um jovem traumatizado pela morte dos pais, assassinados brutalmente por um homem vestido de Papai Noel. Incapaz de lidar com a perda e mergulhando cada vez mais na loucura, Billy assume a identidade do Mau Velhinho e começa sua própria onda de mortes.
Para os fãs de documentários e artes plásticas, a dica é Munch: Amor, Fantasmas e Vampiras, de Michele Mally, sobre a vida do pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944), precursor do impressionismo e do expressionismo e criador do célebre O Grito. O longa percorre a vida do artista e revela como seus quadros sombrios refletiam suas próprias angústias e de sua época.
E entre as animações há duas pedidas. Está bem no clima religioso: Jesus: A Luz do Mundo, de Tom Bancroft e John J. Schafer. O longa conta a vida, a morte e a ressurreição de Cristo pela ótica do menino João, que vem a ser o apóstolo ao qual é atribuído o mais místico dos evangelhos canônicos.
E do Japão chega o anime Make a Girl, no qual um rapaz decide usar inteligência artificial para criar a namorada dos seus sonhos. Claro que isso raramente dá certo.
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