Bolsonaro decepa cabeças na Receita e no Coaf

A queda de braço simultânea do presidente Jair Bolsonaro com Receita Federal, Polícia Federal e Procuradoria Geral da República fez ontem a primeira vítima graúda. Caiu o número dois da Receita, João Paulo Ramos Fachada Martins da Silva, que havia reagido negativamente a ingerência do Planalto nas nomeações do órgão. Perguntado, o porta-voz de Bolsonaro, Otávio Rêgo Barros, negou qualquer participação do Palácio na decisão. (G1)

O presidente se queixa de que a Receita “fez uma devassa” em sua vida financeira e na de seus parentes. “Quase todo dia a Receita entrava na minha vida financeira”, se queixou na semana passada. “Não é de hoje o que fazem com a minha família.” (Globo)

Pois é... Por cortes do Orçamento, ou assim informa a Receita, a emissão de CPFs e a restituição do Imposto de Renda, além do envio de cartas de cobrança aos devedores, podem parar a partir da semana que vem. (Globo)

O presidente conseguiu, também, a cabeça de Roberto Leonel, indicado por Sergio Moro para encabeçar o Coaf. O órgão foi extinto por Medida Provisória assinada ontem e será recriado dentro do Banco Central, com o nome de Unidade de Inteligência Financeira, já sem o dirigente lavajatista. (Estadão)

Então... O novo Coaf não limita a técnicos de carreira seus membros. Indicações políticas passam a ser possíveis. (Folha)

Helio Gurovitz: “A sucessão de derrotas acumuladas por Sergio Moro desde que aceitou o cargo de ministro de Bolsonaro demonstra que a distância entre os dois aumenta a cada dia. Uma ruptura provocaria um baque sem precedentes na correlação de forças que sustenta o governo. Nenhum outro nome do mesmo campo desperta tanta paixão (contra ou a favor). Nas eleições de 2022, Moro seria um antagonista da esquerda tão ou mais eficaz que Bolsonaro. Reside aí a razão do fosso entre os dois. A postura de linha-dura diante do crime, a visão da política como terreno da moral — tudo isso aproximava Bolsonaro das forças que apoiavam Moro na sociedade. Há, contudo, uma diferença — sutil, porém essencial – entre afirmar que a Justiça é leniente com bandidos ou corruptos e defender a tortura. Gente com ambas as visões se misturou no comboio do bolsonarismo. Mas a turma de Moro nunca foi a mesma. Bolsonaro tem tentado usar todo o poder ao seu alcance para proteger seu filho das denúncias do caso Queiroz. Em meio aos malabarismos, o Coaf, essencial ao combate à corrupção, se tornou um joguete de destino incerto. O Planalto fala em remanejar o órgão para o Banco Central, alegando que ficaria imune a interferência política. Interferência é o que não tem faltado nas investigações que chegam perto dos interesses de Bolsonaro. A distância é sentida ainda na indicação de quem sucederá Raquel Dodge na PGR. O mais provável é que Bolsonaro se incline por algum nome externo, em desafio à categoria mais interessada no combate à corrupção. O mais importante, aparentemente, é a garantia de controle sobre investigações que possam chegar perto do presidente. Por fim, formou-se uma aliança tácita entre Bolsonaro e a ala garantista do STF. A proteção a Flávio é apenas uma das decisões que aproximam o Supremo do presidente. Vem hoje do STF a maior ameaça que paira sobre as decisões tomadas por Moro quando juiz — e sobre toda a Lava Jato.” (G1)

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Míriam Leitão: “O risco do Brasil é viver uma tempestade perfeita. De um lado, a crise internacional afugenta o capital externo. De outro, a política ambiental insensata está criando mais riscos. O Brasil exporta US$ 17,8 bilhões de produtos agrícolas para a Europa e isso começa a ficar em perigo. Ontem a imprensa alemã pediu o que já se fala entre consumidores europeus: o boicote aos produtos brasileiros. Para se ter ideia do que já aconteceu. Os investidores estrangeiros sacaram R$ 19,1 bilhões da bolsa brasileira este ano. O governo tem mandado os estímulos errados e não quer ouvir as vozes que alertam para os riscos. No mundo, há o conflito comercial EUA x China que ameaça virar guerra cambial, o Brexit sem acordo, Itália com risco politico, Alemanha com queda do PIB no trimestre, China querendo intervir em Hong Kong, a crise argentina piorando. A consequência de tudo isso é uma postura mais conservadora dos investidores, queda das commodities e alta do risco de países como o Brasil. No meio desses tremores, o governo brasileiro toma decisões erradas na área ambiental. O Brasil ficará exposto nos próximos meses em eventos como o Sínodo da Amazônia, a COP do Chile, o número oficial do desmatamento anual, Prodes, que o Inpe normalmente divulga entre outubro e novembro. E se o governo tentar esconder será pior. A política ambiental alimenta o risco de barreira ao produto brasileiro. As crises externas podem se somar aos erros cometidos pelo governo Bolsonaro.” (Globo)

Em sua entrevista ao Roda Viva, ontem, o deputado Alexandre Frota reconheceu à âncora Daniela Lima que sabia, durante a campanha, que o movimento bolsonarista fazia uso de notícias falsas como estratégia eleitoral. “Topei jogar esse jogo, tanto é que estou aqui.” (Twitter)

Aliás... O ex-senador José Aníbal assinou uma nota pedindo impugnação da filiação de Frota ao PSDB. “O vídeo publicado por Frota na eleição caracteriza o PSDB como partido da pior espécie”, ele escreveu. “E agora, no dia da sua filiação, diz que a deputada Joice Hasselmann é sua candidata à prefeitura de São Paulo.” Bruno Covas, o tucano atual prefeito, é candidato à reeleição. (Estadão)

O ex-presidente Lula completa, hoje, 500 dias preso. Em artigo, a também ex-presidente Dilma afirma, com base nas reportagens da Vaza Jato publicadas pelo Intercept Brasil, que “Lula foi vítima de uma trama para destruir sua reputação e roubar sua liberdade”. Ela também ataca o governo. “O Brasil está sendo devastado por um governo neofascista na política e neoliberal na economia.” (Folha)

E... Agora de manhã, durante o fechamento do Meio, a Polícia Rodoviária Federal cercava um ônibus parado na Ponte Rio-Niterói. Lá dentro, um homem armado faz passageiros de reféns. (Globo)

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HealthTech

Jeffrey Cronk, um dos principais especialistas americanos em danos à coluna vertebral, argumenta que o corpo inteligente — smart bodies — vai ter muito mais impacto sobre nossas vidas do que as casas inteligentes. Todo aparelho que traz alguma forma de sensor para nossos corpos e nos liga à internet entra no conjunto. Os mais populares são os relógios com monitoramento de frequência cardíaca, alguns já capazes de fazer eletros, mas há novos lançamentos todo ano. Na Noruega, em fevereiro, um senhor de 67 anos levou um tombo, bateu com a cabeça, desmaiou. Usava um Apple Watch. O aparelho registrou o movimento brusco da queda e, ao identificar que após um minuto ele não se mexia, disparou um alerta para a polícia local. Toralv Østvang tinha uma hemorragia interna no crânio. Não tivera sido socorrido a tempo, possivelmente teria morrido. É um exemplo já real da diferença em vida que corpos conectados farão. Nos EUA, uma pessoa morre por acidente que poderia ser evitado a cada três minutos. 20% da população convive com dores crônicas. Estes são apenas dois dos espaços nos quais tecnologia de vestir fará ainda muita diferença.

Um StartupWeekend com foco em Inteligência Artificial ocorreu entre sexta-feira e domingo, em São Paulo, com as jovens empresas demonstrando o que fazem com inteligência artificial. A vencedora da competição foi a Extravision, que usa a tecnologia para fazer com mais eficiência análise de lâminas em exames oncológicos. A terceira colocada, Ávida, lê dados científicos e os repassa a médicos que atendem via telemedicina para desafogar o pronto-atendimento.

Ao longo dos últimos dez anos, 25 milhões de pessoas fizeram um teste de DNA por kits de correio. Uma destas pessoas foi Dorothy Pomerantz, experiente jornalista que dirigiu a sucursal de Los Angeles da Forbes. Ao receber os resultados do 23AndMe.com, abriu-os displicente e um quê curiosa — e então descobriu que tinha o gene BRCA1. Elevadíssimo risco de câncer de mama ou ovário. Foi uma pancada escrita no monitor. Desorientada e em choque, buscou primeiro confirmação com uma médica. O novo exame confirmou o anterior. Mas, desta vez, ela estava conversando com um ser humano, uma especialista, capaz de trazer tanto informação quanto consolo na medida em que Dorothy, feita paciente, era capaz de processar. Em um longo artigo, ela disseca a experiência. “Sou muito grata a testes genéticos caseiros que são baratos e estão à disposição”, escreve. Graças a esta informação, pôde evitar o pior. “Mas com a expansão destes testes, também sinto que estamos tratando diagnósticos médicos muito sérios como se fossem um jogo de salão”, ela continua. Choca receber este tipo de notícia online, de forma fria, ao invés de por um ser humano. E este é um problema ético que a indústria ainda precisará resolver.

Viver

O relógio ainda marcava 15h, ontem, quando o céu paulistano escureceu. Nas redes sociais, especulou-se que poderia ser resultado das queimadas da Amazônia ou da Bolívia — que chegou a provocar uma nuvem de fumaça de 30 km —, mas tanto Helena Turon Balbino, meteorologista do Inmet, quanto o pesquisador Alberto Setzer, do Inpe, disseram ser pouco provável. Setzer diz que um pouco dessa fumaça de fato chega a São Paulo, mas não a ponto de ser a principal explicação para a escuridão. De acordo com Balbino, chegou à cidade uma nuvem muito baixa e profunda que se formou a partir de ventos muito úmidos vindos de Sudeste e Sul. (Estadão)

Mas... Queimadas muito densas e amplas estão acontecendo há vários dias em Rondônia e na Bolívia, explicou o Climatempo. No país, os incêndios para desmatamento aumentaram 82% em relação a 2018. Se compararmos o mesmo período de janeiro a agosto, foram 71.497 focos neste ano, contra 39.194 no ano passado. Esta é a maior alta e também o maior número de registros em 7 anos. Os dados são do Inpe, gerados com base em imagens de satélite. (G1).

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E o derretimento de gelo na Groenlândia atingiu níveis recordes na última semana de julho. Só no dia 1º de agosto, foram perdidas 12,5 bilhões de toneladas de gelo, maior número desde 1950. Se essa taxa continuar alta assim, o território pode desaparecer – o que afetaria o planeta inteiro, já que aumentaria o nível do mar em áreas costeiras de todos os continentes.

Cultura

O tráfico de drogas, as ações do Bope e os elos entre a corrupção e a violência urbana. Estas são as temáticas da série Arcanjo renegado, que estreia em 2020 na GloboPlay. Cenas foram filmadas em locações como as favelas Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro e Roquette Pinto, no Complexo da Maré, e na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.

Cotidiano Digital

O Twitter comunicou ter suspendido, ontem, 936 contas operadas de dentro da China dedicadas a disseminar discórdia política entre os manifestantes de Hong Kong. Como a rede é bloqueada na China, os operadores — provavelmente ligados ao governo de Beijing — utilizavam VPNs, atalhos que permitem disfarçar a origem do acesso e driblar a censura estatal. Estas eram contas particularmente ativas de contrainformação. Outras 200 mil reencaminhavam as postagens para criar ruído. Muitas sequer chegaram a entrar no ar, identificadas pelo Twitter e suspensas antes de qualquer ação.

O Facebook encontrou comportamento similar, embora em menor escala. Foram removidas sete páginas, três grupos e cinco contas dedicadas à desinformação que desorientasse os protestos na ilha.

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