Cidades Maravilhosas

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“DESCE!” — Gritou Valentina em pânico para o drone autônomo.

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Pois não, passageire — disse o drone, muito educado e politicamente correto — Você pode alterar a rota para o próximo ponto de desembarque, por favor?

“DESCE JÁ, OU EU PULO!”

A menina já estava forçando a janela do Supra quando ele começou a perder altitude. O drone nem tinha tocado o chão e ela já saltava para fora. — “Esta parada de emergência resultou em um acréscimo na sua fatura. Obrigado por viajar com a Supra. Não esqueça de clicar nas estrelinhas para classificar sua viagem.”

Valentina tentou correr desabaladamente pela cidade, mas a rua estava lotada de HoloAds, o que dificultava um tanto a locomoção.

“Nanomeds genéricos! No meu QRCODE é mais barato”, gritava uma caixa de remédios com olhos de desenho japonês saltitando em frente a uma farmácia. Desviando da caixinha, Valentina deu de cara com uma alienígena translúcida e voluptuosa.

“Venha, garota. Tá começando agora”, sussurrou a moça azul turquesa em seu ouvido. Antes que ela pudesse dizer o que estava começando e aonde, Valentina retirou rapidamente os óculos do rosto.

Silêncio. Ruas vazias. Um drone de entrega passou zunindo no meio de suas pernas como um cachorrinho cúbico alucinado.

Decididamente não estava na Zona Sul. Precisava chegar logo na casa de Lis. Mas para chegar lá precisava do mapa. E para ver o mapa precisava dos óculos. — “Afff!” — suspirou resignada e vestiu sua lente.

“..e na compra de um Flabergaster você ainda leva dois Tunavox V. E tem mais…”

“”Pular anúncio! Pular anúncio!” — Gritou. As propagandas sumiram, mas ela sabia que voltariam em alguns instantes. Conexão básica. “Vai ter volta, Amélia.”

Valentina acionou o mapa e começou a seguir suas instruções hápticas. Uma pequena pressão na têmpora esquerda significava virar a próxima esquina à direita. Dois toques na testa, seguir em frente duas quadras. Andando com passo rápido e firme — mas não tão rápido que desse na cara que estava fugindo da Polícia Tecnológica — ela foi em frente.

Já estava mais relaxada quando viu um personagem bizarro se aproximando ao fundo. Um cara alto de bengala dourada, casaca roxa com enormes botões na frente, botas de cano alto, cartola e um lenço listrado laranja e branco envolvendo o pescoço. “Ain…como eu odeio propaganda”, pensou Vale. Só de raiva, não desviou nem desacelerou o passo, foi de encontro ao holograma para atravessá-lo e POU. Caiu no chão, ela para um lado, o óculos para o outro. Sentou-se ainda atordoada e olhou para cima sem as lentes. O holograma, mais sólido que ela esperava, ainda estava lá.

Bem-vindo ao inacreditável mundo transformado pelo 5G, onde as cidades vão ter olhos, ouvidos, cérebro e, talvez, até coração. Se você leu até aqui e não entendeu nada, não entre em pânico. Clique aqui para ler nossa história desde o início.

Repensando as cidades

A humanidade cresce e, com ela, crescem as cidades. A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) prevê que em 2050 a população mundial chegará a 9 bilhões de habitantes, 70% deles morando em centros urbanos. Com o adensamento populacional das cidades, crescem seus problemas. Trânsito, segurança, poluição, apenas para ficar nos maiores.

O 5G pode dar um grande impulso a um movimento que vem ganhando força nos últimos dez anos: a Cidade Inteligente. Uma das primeiras empresas a lidar com o tema foi a IBM, ainda em 2009, dentro de um programa para alavancar o uso de tecnologias para melhorar o planejamento urbano.

De lá para cá, diversos governos — inclusive o brasileiro — encamparam a ideia e aprimoraram a definição de Cidade Inteligente para “uma cidade que faz um esforço consciente para empregar a tecnologia de informação para suportar um ambiente urbano mais inclusivo, diverso e sustentável”.

“O conceito de cidade inteligente não é apenas o controle de segurança via câmeras ou o controle do semáforo”, diz Márcio Veronesi, diretor de Segmento Energia, Transporte e Cidades da Nokia. “As pessoas confundem muito cidade inteligente com um desses pontos. Cidade inteligente é um conceito muito abrangente. A questão da mobilidade é um de seus pilares. Hoje, no Brasil, a gente tem os processos de cidade inteligente muito mais voltados para a questão da segurança pública, com otimização de câmeras, sensores, integração dos diversos departamentos de defesa, bombeiros, hospitais. A próxima onda possivelmente vai ser o transporte porque esses dois pilares — segurança e transporte — são os que mais afetam a qualidade de vida de nossas cidades. Depois dessas ondas virão outras que irão abordar sustentabilidade, energia, qualidade do ar etc…”

Não é magia, nem futurologia

Hoje já existem experiências de cidades inteligentes em todo mundo, inclusive no Brasil. Seus componentes básicos são:

Sensores. Colocados em postes de iluminação para medir a qualidade do ar ou otimizar o gasto em eletricidade, em semáforos para analisar o fluxo de carros.

Controle central. Um sistema de análise de dados que coleta as informações enviadas pelos sensores e as transforma em gráficos e tabelas para auxiliar na tomada de decisões.

Smart Grid. Atualmente, essa rede inteligente ainda é incipiente e roda em cima do 4G. Com a chegada do 5G, a inteligência, eficiência e o custo desse sistema devem se tornar exponencialmente melhores.

Esses são os componentes básicos. A eles se somarão nossos smartphones, wearables, painéis solares, veículos autônomos, robôs, cartões de banco e qualquer pedaço de pau velho com um chip dentro. Prédios inteligentes vão saber quantas pessoas estão dentro deles, se existe alguma falha estrutural que possa causar um acidente e seus elevadores vão tocar sua música favorita em vez de uma versão pasteurizada de Garota de Ipanema. Ruas inteligentes vão avisar se existe alguma vaga disponível para você estacionar seu carro elétrico (como já acontece no bairro de Westminster, em Londres). A Polícia Inteligente vai usar ferramentas de Big Data e reconhecimento de padrões para prever onde os crimes poderão ocorrer e direcionar seus recursos para essa região. Serviços de água, esgoto, gás e eletricidade vão aproveitar o smart grid para analisar e otimizar o consumo, prevenir problemas e evitar desperdícios.
Tudo isso não é futurologia, são tecnologias que já existem, mas que para deslanchar dependem de uma rede pervasiva, flexível e inteligente: a rede 5G.

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