Cinema interativo, imersivo e volumétrico

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Continuamos aqui a saga de Valentina nos anos dois mil e 5G. Clique aqui se você perdeu o fio.

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Eliminar filtro ‘Efeitos Mágicos Rainbow Bliss’. 

Bloquear holocoach proativo motivacional. 

Detetor de celebridades próximas: desligar. 

Sinalização RA para locais descolados: desligar.  

Bolha sonora com as mais tocadas do K-Popanejo: desligar já!  

 

Depois de longos minutos, Valentina finalmente conseguiu reconfigurar o óculos de Lis e deixá-lo minimamente utilizável. 

“Agora vamos ao que importa: qual o emocine mais próximo apresentando o show dos Koalas Lobitos?” Um mapa surgiu à sua frente com um ponto azul mostrando a localização e um vermelho com a legenda ‘Emocine Sensorama’. A barrinha de lotação da pista estava razoavelmente vazia, mas em progresso rápido. “Não é longe. Mas é melhor correr se eu quiser pegar um bom lugar.”

Valentina apertou o passo, pensativa. Ela podia desistir e ir pra casa, ver o show no videowow da sala. Mas o emocine era TÃO melhor. Nada se compara a dançar todo mundo junto na pista com os hologramas saindo do palco e tocando a seu lado. E sempre havia a possibilidade de um dos membros da banda estar tocando no SEU emocine. Já pensou?

“Ei. Você não é a Valentina?” — Perguntou a garota que passava ao seu lado.

“Ahnn…Sim…sou” — respondeu Valentina tentando descobrir se a conhecia ou não.

“Ai que tudo! Posso tirar uma Wholie do seu lado?” — perguntou a garota abraçando Valentina enquanto uma pequena câmera voava em um círculo perfeito ao redor das duas. “Obrigado, Valentina. Estou torcendo por você! Bom show!” — e partiu correndo.

“Quem era essa doida?” — Pensou Valentina, retomando sua corrida. “E como ela sabia que eu estou indo para o show? Opa, cheguei.” 

Uma multidão de meninas e meninos se aglomerava na frente do Emocine Sensorama. Sobre a placa do emocine, um globo terrestre translúcido girava. Sobre cada continente flutuava um dos membros da banda nigero-australiana sensação do momento. Letras garrafais explodiam no céu como fogos de artifício. Koalas Lobitos! Estreia da teleturnê mundial virtual! Juntos separadamente pela primeira vez! Cada um tocando em um país diferente!

Valentina se aproximou da entrada e seu ingresso foi validado imediatamente. Uma hostess holográfica surgiu e apontou o caminho — “por aqui, por favor”. Valentina andou por um corredor estreito enquanto ia sendo escaneada por sensores em busca de objetos não permitidos. Chegou a uma porta enorme, negra e opaca. Os graves da música pulsando atrás dela. Um ridículo robô vestido como um antigo lanterninha de cinema abriu a porta — “por aqui, por favor”. A porta se abriu e com ela veio aquela onda de som trepidante, luzes e calor humano. Valentina fechou os olhos por um instante, sentindo o clima contagiante da pista. Quando os reabriu, viu na sua frente os dois homens sorridentes vestidos de preto, que a agarraram pelos braços.

“Por aqui, por favor.” — disseram em uníssono enquanto carregavam a garota para fora do emocine.

 

Bem-vindo ao espetacular mundo transformado pelo 5G, onde tudo é diversão, tudo é interativo, tudo é imersivo, mas só se você quiser.

Fica difícil imaginar o futuro do entretenimento em um momento como o que estamos vivendo, sem cinema, sem shows, sem trios elétricos para ir atrás. Mas não é preciso pensar muito tempo para entender que filmes, shows, games e outros tipos de entretenimento vão ser o grande motor que irá impulsionar a adoção do 5G. Afinal, telecirurgias e ensino à distância são importantes, mas nem se comparam a um show do Mumuzinho em realidade virtual.

As projeções são de que 90% do tráfego da rede 5G seja ocupado pela transmissão de vídeo. Segundo relatório encomendado pela Intel, o  faturamento da indústria de entretenimento em 2028 deverá ser quase a metade do todo o faturamento de empresas que irão utilizar a rede 5G. Novas maneiras de se divertir, interagir, jogar ou simplesmente relaxar irão surgir. Como será a diversão do futuro? Como consumiremos histórias?

“A gente se espanta todo o dia com novas plataformas que nunca conseguiríamos imaginar”, diz Tadeu Jungle, artista multimídia e diretor da Junglebee. “Veja o Clubhouse, por exemplo. Quem diria que, em 2021, a grande novidade que todas as redes iriam querer copiar seria uma rede social baseada em áudio? Em 2032, 2042, com computadores quânticos, 5G, 6G teremos uma grande força tecnológica que irá nos trazer múltiplas telas, hologramas e meios de consumo de narrativas que nem conseguimos imaginar. Mas sempre haverá espaço para a narrativa oral, para o filme sem interatividade e outras narrativas convencionais.”

Experiências compartilhadas

Estaremos fadados a um mundo digital onde cada um consome seus vídeos, games e mundos virtuais em seus pequenos cubículos? Ao que tudo indica, a vontade de juntar uma turma para ver um filme ou um show não vai morrer. O que o streaming separou, o 5G irá reunir novamente. A experiência de todos apreciarem um mesmo espetáculo, no mesmo dia e hora, como nos velhos tempos da TV, irá voltar. A diferença é que a experiência poderá ser ao vivo, em casa ou em locais especiais onde grupos de pessoas irão ver o mesmo show, filme ou jogar o mesmo game juntas. Com o uso de óculos de realidade virtual você poderá ter a sensação de estar na platéia do show. Projeções holográficas em tempo real poderão colocar atores interagindo em palcos diferentes pelo mundo. Games interativos poderão ser jogados em espaços reais em um misto de paintball e caça ao Pokemon. “Vamos poder fazer shows e estar presente virtualmente em eventos registrados por câmeras 360 graus, de forma imersiva, como se estivéssemos no evento real”, diz Michel Lent, sócio e CMO do Banco Modal.

Esportes

Assistir a jogos dentro de estádios ou em casa também será uma experiência bem diferente. O fim da latência entre a captação das câmeras e o que é mostrado na tela vai permitir uma fusão entre o jogo real e o digital com resultados bem interessantes. Você vai poder ter a visão dos melhores assentos em seu óculos 5G, não importa em que lugar da arquibancada esteja, por exemplo. Vai ver estatísticas sobre o jogo e dados flutuando sobre cada jogador durante o jogo, ter acesso a câmeras extra, entre outros truques. Sem contar que a possibilidade de conectar milhões de aparelhos em um mesmo local sem a famigerada perda de sinal vai permitir uma interatividade nunca vista.

Em casa, a transmissão de “vídeo volumétrico” — o novo nome para o desgastado e impreciso ‘holograma’ — deve se tornar realidade, inicialmente para esportes como boxe e MMA e depois para outros mais complicados para se transmitir.

Games

Os gamers — os únicos que realmente sabem o significado da palavra latência — serão os maiores beneficiados pelo 5G. Experiências multiplayer geolocalizados em tempo real e uma nova geração de consoles que rodarão jogos na nuvem estão entre as apostas mais quentes. A Realidade Virtual — essa tecnologia que de 5 em 5 anos vira a tecnologia do ano — vai finalmente se massificar, graças a óculos leves e práticos que não vão precisar estar conectados a um PC Gamer para funcionar. “O console como conhecemos não faz nenhum sentido com o 5G”, diz Michel Lent. “No momento em que tivermos latência próxima de zero, não precisaremos de uma máquina superpoderosa para rodar jogos localmente.”

SuperCreators, ativar!

Imagine os atuais youtubers, blogueirinhas e criadores de conteúdo com superpoderes. Capazes de invocar cenários verossímeis em cima de telas verdes, contracenar com personagens realistas em computação gráfica e produzir efeitos com qualidade George Lucas. O 5G e a inteligência artificial aplicada aos programas de edição de vídeo vão colocar nas mãos dessa nova geração de web creators ferramentas que hoje só estão disponíveis a grandes produtoras de vídeo. Torça para que usem seus poderes para o bem.

É filme ou é game?

Será que os filmes e séries que consumimos hoje serão vistos pelas novas gerações como nós vemos os filmes silenciosos e programas de rádio do passado? Filmes sem interatividade, sem imersão, sem tridimensionalidade serão ‘coisa de velho’?

“Sou um pouco cético com a questão da participação das pessoas no entretenimento”, diz Lent. “Tem uma hora em que a gente não quer participar de nada, quer descansar, desligar o cérebro. Vamos ter espaço para filmes e entretenimento interativo, mas claro que se você não quiser participar e ficar tranquilo no seu canto, também teremos o entretenimento convencional.”

“Sou um fã da Realidade Virtual e da Realidade Aumentada”, diz Jungle. “Acredito que sua massificação é inexorável. Não que ela vá terminar com o cinema ou com a narrativa feita da forma que a gente consome hoje em um retângulo. A história oral, contada de um para o outro, vai continuar. O importante é a capacidade de contar uma boa história, seja por Realidade Virtual ou seja no boca a boca. Isso é imbatível e vai existir para sempre.”

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