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Bolsonaro entra em conflito com governadores

O presidente Jair Bolsonaro passou o fim de semana em conflito aberto com os governadores. “É um lunático”, afirmou a respeito do paulista João Doria. No sábado, Doria havia criticado o presidente por relativizar a gravidade do novo coronavírus. “Ele está aproveitando desse momento para crescer politicamente”, retrucou Bolsonaro, em entrevista à CNN Brasil. No domingo, falando à Record, voltou ao tema. “Brevemente o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia nessa questão”, falou ao programa Domingo Espetacular. Bolsonaro demostrou irritação com o repórter Eduardo Ribeiro. Quando perguntado sobre os panelaços, ele levantou o tom. “Não estou preocupado com minha popularidade”, se queixou. “Ninguém acredita em pesquisa no Brasil. Este panelaço foi incentivado pela TV Globo, endossado pela revista Veja.” (Folha)

Assista à entrevista de Bolsonaro para a Record.

O presidente não falou sobre pesquisas à toa. O Datafolha ouviu brasileiros entre 18 e 20 de março — e por telefone, para evitar contato com o público. A gestão da pandemia pelo governo federal é aprovada por 35%. O trabalho dos governadores, que têm sido mais rigorosos, é aprovado por 54%. Até o ministério da Saúde é mais bem avaliado do que o presidente. 55% aprovam o trabalho de Luiz Henrique Mandetta. (Folha)

O Ibope também tem pesquisa nova, concentrada em São Paulo, capital. Sua administração é considerada ruim ou péssima por 48% dos paulistanos. 25% a veem como ótima ou boa. Na cidade de São Paulo, Bolsonaro venceu a eleição presidencial. (Estadão)

Não são apenas os brasileiros. Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group, considera Bolsonaro o líder mundial mais ineficaz na resposta ao novo coronavírus. Ele, que é um dos mais respeitados consultores do mundo. (Estadão)

Eduardo Giannetti: “Podemos ter uma situação de privação material gravíssima para milhões de brasileiros e podemos caminhar para algum tipo de onda de descontentamento que gere conflagração. Tenho acompanhado as sucessivas ondas de descontentamento que tem se visto no Brasil desde 2013. A próxima onda já está começando a se erguer, aparentemente, vai ser contra o Bolsonaro. Assim como uma onda o elegeu, muito baseado no sentimento antipetista, essa mesma dinâmica, que é muito violenta de um tempo para cá no Brasil, pode desaguar em uma situação de contestação popular ampla da legitimidade desse status quo. O ideal, para Bolsonaro e seu grupo político, é, de novo, uma polarização com o Lula e o petismo. Para o país, seria realmente um desastre. Acho que temos de unir as forças do campo democrático progressista como elas se uniram contra a ditadura militar. Hoje, temos um inimigo que é igual ou pior que o regime militar. Se não conseguirmos nos unir em uma oposição democrático-progressista, com um projeto que seja aceito por todos, vamos polarizar de novo, e a chance de eles continuarem aumenta muito.” (Folha)

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O BNDES anunciou um pacote de medidas que inclui a injeção de R$ 55 bilhões na economia. O valor será destinado para reforçar o caixa de 150 mil empresas — entre elas, micro, pequenas e médias empresas. O banco também suspendeu em até seis meses os pagamentos das parcelas de financiamentos diretos e indiretos para empresas no valor de R$ 30 bilhões. (Estadão)

Mas… O pacote real é menor do que anunciado: pelo menos R$ 20 bilhões destinados ao FGTS já tinham sido apresentados semana passada e não têm qualquer efeito prático, aponta Miriam Leitão. (Globo)

A política americana será bem mais agressiva — quando sair. O pacote total para a economia pode chegar a US$ 2 trilhões de dólares. Um dos planos, proposto pelo senador republicano Marco Rubio, considerado conservador fiscal, é de uma linha de crédito de US$ 300 bilhões para pequenas e médias empresas. O empréstimo será perdoado para aquelas que não demitirem funcionários. (Miami Herald)

As propostas incluem, ainda, a suspensão do pagamento de hipotecas por um ano para aqueles que perderam empregos. Quem se formou pagando com empréstimos o curso universitário também poderá a ter um ano sem contagem de juros ou mesmo os pagamentos de parcelas suspensos. (NPR)

De qualquer forma, o pacote americano ainda não saiu. Ontem à noite, domingo, os democratas derrubaram a primeira versão em voto no plenário. A oposição quer mais dinheiro para os trabalhadores e maiores controles sobre as empresas que receberão estímulos. Os parlamentares voltam a se reunir hoje. (CNN)

Pois é... “O que temos até agora de estímulos é uma gota no oceano.” A frase, sobre o pacote proposto pelo governo brasileiro, é de Guilherme Benchimol, presidente da XP Investimentos. Ele considera ser necessário um plano Marshall. Em seus cálculos, 40 milhões de brasileiros podem perder seus empregos devido à pandemia. (Estadão)

Porém... Paulo Guedes tem repetido que vai manter o teto de gastos. Na visão do ministro, de acordo com Lauro Jardim, se furar o teto, os juros voltam a subir e não haverá dinheiro para gastar com os mais vulneráveis. (Globo)

Yuval Noah Harari: “De forma a conter a epidemia, as populações terão de seguir certas normas. Há duas maneiras de conseguir isto. Uma é o governo monitorar e punir quem quebra as regras. Pela primeira vez na história, a tecnologia torna possível seguir todo mundo. Muitos governos já o fizeram, como a China, que monitorou smartphones. O premiê israelense Benjamin Netanyahu autorizou o monitoramento de pacientes com o coronavírus. Pedir que as pessoas escolham entre privacidade e saúde é uma escolha falsa. Podemos proteger a saúde empoderando cidadãos. Alguns dos casos de maior sucesso de contenção ocorreram na Coreia do Sul, Taiwan e Singapura. Testaram muita gente e confiaram na cooperação de uma sociedade bem informada. Quando se explica às pessoas os fatos científicos, quando a sociedade confia que o Poder Público a informará, as pessoas fazem o certo. Uma população motivada e bem informada é mais poderosa e eficaz do que uma população ignorante policiada. Mas, para chegar a este nível de cooperação é preciso confiança em ciência, nas autoridades e na imprensa. Nos últimos anos, políticos irresponsáveis vêm torpedeando as três. Estes mesmos políticos, agora, podem se sentir tentados a escolher o autoritarismo com o argumento de que não se pode confiar no público para fazer o certo.” (Financial Times)

Viver

Na manhã desta segunda-feira, os números oficiais do governo federal indicam que o Brasil tem 1.546 casos confirmados de pacientes com o novo coronavírus — destes, 25 morreram. Ainda serão atualizados: a soma dos números das secretarias estaduais de Saúde já alcança 1.604 infectados. Os planos do Ministério da Saúde são de ampliar o número de testes feitos. Para isto, conta com um pacote de cinco milhões de novos kits, que dão resultados em minutos e foram doados pela Vale. Já aprovados pelas agências reguladoras chinesas e pela Comissão Europeia, estes kits ainda não foram validados pela Organização Mundial de Saúde. Por isto, o uso generalizado não será imediato. Os testes serão feitos com profissionais de saúde, de longe os mais expostos à doença. (G1)

O Ministério também quer antecipar as formaturas de estudantes de Medicina do último ano para que ajudem no combate. A medida, que já foi adotada na Itália, ainda deve ser analisada pelo MEC. (Globo)

Aliás... 73% dos brasileiros apoiam a quarentena temporária, segundo o Datafolha. A grande maioria disse ter medo (74%), considera a pandemia um problema sério (88%) e acha que tem chances de ser infectada (83%). Mesmo assim, só quase metade das pessoas afirma ter parado de sair às ruas (46%). O maior índice de pessoas que acham que não serão contaminadas pelo vírus é os idosos, um dos grupos de risco: 19%. (Folha)

A OMS, no entanto, afirmou que só o isolamento não é suficiente. Para o diretor-executivo de emergências, os países precisam adotar políticas de testes em massa para que a doença não volte a subir depois de contida. (Extra)

Desde 2009, durante a epidemia do H1N1, o Brasil perdeu 34,5 mil leitos de internação no SUS. Hoje, contabiliza 426,38 mil. As políticas públicas focaram em reforçar a atenção básica e deixaram a bola do outro lado cair. O sistema privado, no entanto, aumentou em 14 mil leitos. Mesmo assim, uma alta considerada baixa por especialistas do setor. (Estadão)

Miguel Srougi, cirurgião da USP: “Nos países com mais de 10 leitos hospitalares por mil habitantes, todos tiveram baixo índice de mortes no coronavírus, coisa de 0,2% a 0,3%. Nos países que têm menos de 4 ou 5 leitos para cada grupo de mil habitantes, todos estão tendo alta mortalidade. O Brasil tem 1,95 leitos para cada mil habitantes. Estes números mostram que na hora que chegarmos no pico, não vai ter hospital para colocar este pessoal, não há leitos.” (Globo)

Aliás... O STF autorizou o repasse de R$ 1,6 bilhão, recuperados da Petrobras pela Lava Jato, para ações de combate à pandemia. (G1)

Começa hoje a campanha de vacinação para gripes sazonais. A primeira fase é para quem tem mais de 60 e profissionais de saúde. A vacina não protege contra o coronavírus, mas ajuda na exclusão do diagnóstico. (Folha)

A China voltou a ter casos de transmissão local — o primeiro em quatro dias. Mesmo assim, o país está voltando aos poucos ao normal em cidades como Beijing e Xangai, embora todos usem máscaras em público. A Ásia tem sofrido uma nova onda de casos trazidos por cidadãos que estão retornando do exterior. Em Hong Kong, o número de infectados quase dobrou na semana passada. (Globo)

Uma reportagem interativa do New York Times mostra porque a restrição de viagens não foi suficiente para conter a disseminação pelo mundo do vírus.

Antes aparentemente intacta, a África já registra mais de 800 casos, em 42 dos 54 países. A maioria dos doentes na África são estrangeiros ou pessoas que retornaram do exterior. Muitos países já fecharam suas fronteiras, escolas e universidades e proibiram grandes aglomerações de público. (Globo)

A situação do coronavírus no Japão é uma incógnita. É a nação desenvolvida menos afetada. De acordo com os números oficiais, com pouco mais de mil casos há 41 mortes. Só que estão excluídos os 712 infectados e oito que morreram à bordo do navio de cruzeiro Diamond Princess. Especialistas acusam o governo de maquiar a situação para não prejudicar ainda mais a economia em risco de recessão e continuar garantindo a realização das Olimpíadas. O governo diz que a situação está controlada, com as aulas voltando nas escolas e serviços reabrindo. O país não seguiu nenhuma regra recomendada pela OMS ou seguiu o exemplo de outros países, como triagem em aeroportos, testes em massa e quarentenas.

Então... O Comitê das Olimpíadas deu um mês para tomar uma decisão. Considera-se adiar, mas não cancelar o evento.

A Europa chegou a 160 mil casos de coronavírus, o dobro da China. O número de mortes causadas por Covid-19 já é duas vezes e meia a contabilizada entre chineses. Além dos grupos de risco, os que estão na linha de frente também são os mais afetados: na Espanha, ao menos 12% dos infectados são profissionais da saúde. (G1)

O cotidiano nos hospitais pelas lentes de um enfermeiro fotógrafo na Itália. (Instagram)

Cultura

O happy-hour do mundo em quarentena ocorre no Instagram. Dentre as contas brasileiras algumas andam particularmente ativas. É o caso, entre músicos, de Leo Jaime e do Biquini Cavadão. Os humoristas Antonio Tabet e Rafael Portugal, do Porta dos Fundos, vêm se encontrando em lives diárias.

Cotidiano Digital

A Fórmula 1 levou as suas corridas para o mundo virtual. Com o cancelamento dos GPs, foi lançado o F1 Esports Virtual Grand Prix. Até maio, alguns pilotos da F1 e convidados vão competir virtualmente. A primeira aconteceu ontem e foi transmitida pelas contas oficiais da F1 no YouTube, Facebook e Twitch. A competição é apenas uma brincadeira para manter entretidos os fãs do esporte e não valerá pontos para os campeonatos reais.

A Globoplay é o primeiro streaming no país a reduzir a resolução. A medida já tem sido adotado por Netflix, Amazon e YouTube na Europa. Tem como objetivo não sobrecarregar o tráfego de internet no Brasil com mais pessoas de quarentena.

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