Sem Trump, Bolsonaro se isola no mundo

O presidente Jair Bolsonaro achou por bem deixar o Alvorada, cedo no domingo, para passear por um mercado aglomerado de Ceilândia, cidade satélite de Brasília. Depois, seguiu para Taguatinga, também nas proximidades do Plano Piloto, e depois Sobradinho. Em ambos os lugares, insistiu em duas mensagens. “A hidroxicloroquina está dando certo em tudo quanto é lugar”, afirmou. Ainda em testes, e não recomendado para uso generalizado sequer pelo Ministério da Saúde, é uma das drogas exploradas para tratamento do novo coronavírus. “Esse isolamento horizontal”, seguiu, “se continuar assim, com a brutal quantidade de desemprego que teremos pela frente, teremos um problema seríssimo que vai levar anos para recuperar.” O presidente tem em mãos pesquisas internas, de acordo com apuração do Poder 360, que sugerem apoio nas camadas mais humildes da população, que temem a falta de receita por conta da quarentena. (Poder 360)

Com ampla repercussão negativa, o Twitter achou por bem apagar os posts da conta do presidente divulgando seu passeio. (Poder 360)

As redes sociais estão particularmente atentas a mensagens que provoquem desinformação neste período. Mas é a primeira vez que o presidente brasileiro é claramente marcado como um agente de desinformação em sua rede favorita. Antes, apenas o venezuelano Nicolás Maduro havia tido posts apagados, segundo o Painel. (Folha)

O racha no governo está se tornando mais nítido. No sábado, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que se portou de forma hesitante ao longo da semana, tornou à ênfase anterior. “Daqui a duas semanas, três, os que falam ‘vamos fazer carreata’ são os mesmos que ficarão em casa”, disse em entrevista coletiva. “Não é hora. Se sair andando todo mundo de uma vez, vai faltar atendimento para rico e pobre.” (Estadão)

Mandetta ainda não comentou o passeio de Bolsonaro, em rompimento à quarentena. “Ele vai manter a posição da ciência, mesmo que isso signifique a sua demissão”, ouviu Gerson Camarotti de um aliado. (G1)

Pois é... Vários membros do núcleo mais próximo do presidente estão há vários dias trabalhando em home office, conta Bela Megale. (Globo)

Marcelo de Moraes e Vera Magalhães: “Cada vez mais desgastado, Bolsonaro decidiu abraçar o discurso de defesa da economia para tentar obter apoio de setores do empresariado e do mercado financeiro, além de seu público nas redes sociais. A estratégia, no entanto, tem feito com que ele aumente seu isolamento em relação a outros líderes mundiais, a governadores e prefeitos, ao Congresso, à Justiça, que tem derrubado medidas suas em série, e a setores mais amplos da sociedade, que têm intensificado os protestos na forma de panelaços diários. A controvertida estratégia mostra, mais uma vez, que o presidente tenta se sustentar de pé na base do método tentativa e erro diante do que poderá ser a maior calamidade do século. Pressionado por empresários que o apoiam, Bolsonaro adotou essa linha de defender o afrouxamento dos controles para favorecer a economia numa estratégia na contramão do que acontecia no resto do planeta. A mesma ideia prevaleceu em Milão, na Itealia, no início da chegada da doença na cidade. Um mês depois, o prefeito de Milão veio a público reconhecer seu erro, depois de mais de quatro mil vítimas fatais.” (BR Político)

Elio Gaspari: “Passará o tempo e ficará a lembrança de que, durante a epidemia do Covid, o presidente da República fez confusões, gracinhas e provocações com delírios autoritários. Brincando com a crise sanitária, Bolsonaro causou estragos, mas os governadores e as lideranças parlamentares contiveram a ruína. Resta a crise econômica, paralela e duradoura. Nela, não haverá lugar para gracinhas, fantasias ou teatrinhos como que se organizou com amigos da Federação das Indústrias de São Paulo. A mente tumultuada do capitão produz frases desconexas. Um exemplo: ‘O povo tem que parar de deixar tudo nas costas do poder público’. Ele nunca recebeu um só centavo que não viesse das arcas do Tesouro, que é sustentado por esse mesmo povo. Para Bolsonaro, tudo ‘é uma questão de poder’. Nas suas palavras, ‘se acabar a economia, acaba qualquer governo, acaba o meu governo’. Engano, nenhum governo corre o risco de acabar, mas o dele depende de Jair Bolsonaro. (Globo ou Folha)

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Enquanto isso... Em sua entrevista coletiva diária, o presidente americano Donald Trump deu um cavalo de pau nas orientações que vinha passando nas últimas semanas. Anunciou que o período de distanciamento social deve se estender no mínimo até o final de abril. Trump foi pressionado pelos especialistas liderados pelo doutor Anthony Fauci, principal epidemiologista dos EUA, que acenou com a possibilidade algo entre 100 e 200 mil mortos mesmo com as políticas de contenção. Bolsonaro é, agora, o único presidente do mundo a questionar a quarentena. (CNN)

Viver

O país tem 4.256 casos confirmados e 136 mortes, segundo dados do Ministério. O plano da pasta, apresentado aos estados, quer manter a quarentena até o final de abril e aplicar medidas de transição. As escolas ficariam fechadas durante esse período, com possibilidade de extensão por mais 30 dias. Para os próximos três meses, quer manter a proibição de qualquer evento de aglomeração e abertura de bares e restaurantes apenas com metade da lotação. Grupos de risco ainda ficariam sobre isolamento social, enquanto no ambiente de trabalho deve manter o distanciamento social e reuniões remotas. (Globo)

A política de quarentena muda significativamente os números no país, segundo o Imperial College em Londres. Os dados levantados por esses epidemiologistas nortearam a estratégia do governo britânico. Para o Brasil, eles preveem, caso nenhuma medida seja tomada, 181 milhões de infectados e mais de um milhão de mortes. Com a redução da distância social em até 42%, o número de infectados cai para até 114 milhões e 500 mil mortes. Ao intensificar o isolamento social o quanto antes, os números caíram pela metade podendo chegar a 11,45 milhões de infectados e 44 mil mortes. (Estadão)

O estado de São Paulo, que tem o maior número de casos, tem seis vezes mais mortes por dia do que a China. De acordo com o balanço feito pela Secretaria da Saúde, estão morrendo em média 7,5 pessoas por dia desde que o primeiro óbito foi registrado, no dia 17 de março. Em um intervalo similar, de 13 dias, a China teve uma média diária de 1,3 óbitos. Os dados são da Universidade Johns Hopkins (Folha)

Muitos casos não são registrados. Na semana passada, o número de internações por insuficiência respiratória grave foi nove vezes a média histórica semanal para o período, segundo a Fiocruz. 2.250 pessoas foram internadas frente a média de 250 a 300 para os meses. Para os pesquisadores, muitos dos casos devem ser de Covid-19. (G1)

As mortes também não são registradas. Em uma manhã, a Época contabilizou 19 casos de mortes suspeitas no Cemitério Vila Formosa em São Paulo, o maior da América Latina. Enquanto os números oficiais registraram apenas 12 mortes no mesmo dia. Mesmo não sendo confirmados, os enterros são feitos com caixões lacrados e em apenas dez minutos, sem tempo para os familiares se despedirem. (Época)

Nos EUA, o número de infectados passou de 100 mil — o maior do mundo. Nova York e Nova Jersey são os estados americanos com maior número de casos. Se a taxa de crescimento continuar nesse patamar, a região sofrerá um surto mais grave do que o de Wuhan, na China, ou na região da Lombardia, na Itália. O número de mortes nos EUA pode chegar a 200 mil, segundo o epidemiologista da Casa Branca. (New York Times)

A Itália, com mais de 10 mil mortes, vai estender o seu período de quarentena, que terminaria no começo de abril. Segundo balanço da AFP, mais de 40% da população mundial está em casa. As mortes pelo mundo já passam de 30 mil e mais de 134 mil pessoas foram curadas.

Para o Nobel de economia Paul Romer, as quarentenas não são viáveis a longo prazo. Em artigo no New York Times, ele e o reitor da Universidade de Harvard, Alan Garber, defenderam o fechamento do comércio por algumas semanas desde que tenha melhores opções dentro de um mês. Em vez dos governos investirem bilhões, Romer acredita que é mais barato um investimento concentrado na produção em larga escala de testes e equipamentos de proteção. Para ele, parte da população deveria ser examinada a cada uma ou duas semanas para evitar novas ondas de contágio depois do fim do isolamento. (Globo)

11 imagens das três principais capitais do Brasil em meio à pandemia. Boa parte da população não saiu de casa na última semana.

saiba o que está fechado em cada unidade da Federação.

Segundo relatos colhidos pela Associação Médica Brasileira e pelo Conselho Federal de Enfermagem nas duas últimas semanas, estão faltando equipamentos de proteção nos hospitais públicos e particulares. A escassez atinge até itens básicos como sabão. O Fantástico teve acesso exclusivo às denúncias.

Pois é...os leitos de UTI têm 78% de ocupação em 17 estados, o ministério informou ao Globo. Informou ainda que “3.000 leitos de UTIs volantes” estão sendo custeados pela pasta, dos quais 540 tiveram distribuição iniciada.

Para sair do tema coronavírus... há um ano, cientistas produziram a primeira imagem de um buraco negro. Agora, um novo estudo mostra que a imagem pode levar os cientistas a verem o universo. Eles criaram uma técnica que permitiria distinguir luzes de um conjunto infinito de estrelas e galáxias distantes envolvidas no buraco negro. A ideia dos cientistas é adicionar mais um radiotelescópio no espaço para criar uma imagem com melhor resolução.

Por falar no espaço, veja por dentro do maior telescópio espacial já construído. O James Webb está previsto para ser lançado pela Nasa em março de 2021.

Cultura

Não haverá tão cedo quarta temporada de Stranger Things — talvez no segundo semestre de 2021. As filmagens de novos episódios foram interrompidas por conta da pandemia. Outra série obrigada a estacionar é The Handmaid’s Tale. A adaptação de O Senhor dos Anéis que estava nos planos de lançamento, pela Amazon Prime, tampouco virá ao ar este ano. Na lista das adiadas entram, ainda The Morning Show, da Apple TV+, e Euphoria, da HBO e The Walking Dead, TNT. Veja as outras. (Globo)

Cotidiano Digital

A crise provocada pelo novo coronavírus está provocando toda sorte de grandes e pequenas mudanças nas empresas de tecnologia. A Microsoft está lutando para manter de pé os servidores de nuvem. Serviços que vão do Office 360 ao game Xbox estão recebendo, diariamente, até três vezes mais usuários do que normalmente. As redes sociais estão batalhando fervorosamente para extirpar informação falsa. E, por isso mesmo, este ano o Google decidiu que não publicará sua tradicional brincadeira de Primeiro de Abril. Não é o momento de brincar com mentiras. O maior medo, no entanto, não é este. É de que a infraestrutura de banda larga do mundo não dê conta do aumento de tráfego, que ainda não chegou ao pico.

Em tempo: usuários do app de chamadas Zoom devem baixar a nova versão para iPhone e iPad. As versões anteriores enviavam informação pessoal para o Facebook. A nova, não.

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