Mandetta: ‘Fico até encontrarem uma pessoa‘

O ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta pegou de surpresa a todos, ontem à tarde, quando apareceu às 17h, no Palácio do Planalto, para comandar a coletiva diária sobre o novo coronavírus acompanhado de seus dois principais assessores — os secretários João Gabbardo e Wanderson Oliveira. A notícia de que Oliveira se demitira havia circulado horas antes e o dia inteiro foi marcado por especulações sobre quem substituirá Mandetta. “Hoje teve muito ruído por conta do Wanderson”, afirmou o ministro. “Já falei que não aceito, Wanderson continua. Vamos trabalhar juntos até o momento de sairmos juntos do ministério.” O tom geral da coletiva foi um de quem se despede. “O importante é que, seja lá quem o presidente colocar no Ministério da Saúde, que ele confie e que ele dê as condições para que a pessoa possa trabalhar baseada na ciência, nos números, na transparência dos casos.” Mandetta falou abertamente sobre o conflito com o presidente Jair Bolsonaro. “Existem pessoas que acreditam, criam essas teorias de negócio vertical, oblíquo, horizontal. Não sei de onde vêm essas angulações, mas acreditam fielmente”, comentou. “Nós temos um conjunto de informações que nos levam a ter essa conduta de cautela. Parece que eu sou contra o presidente, o presidente é contra mim. Não. São visões diferentes do mesmo problema. Se tivesse uma visão única, seria muito fácil solucionar." Assista. (G1)

Nas horas seguintes, Mandetta concedeu uma entrevista à Veja. “Fico até encontrarem uma pessoa para assumir meu lugar. São 60 dias nessa batalha. Isso cansa. Sessenta dias tendo de medir palavras. Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo. Já chega, né? Já ajudamos bastante. O vírus se impõe. A população se impõe. O vírus não negocia com ninguém. Não negociou com o Trump, não vai negociar com nenhum governo.” (Veja)

Igor Gielow: “A mudança no Ministério da Saúde é considerada por aliados mais moderados de Bolsonaro um ponto de inflexão para o governo. Para um deles, a crise do coronavírus ameaça existencialmente o presidente, mas pode ser uma oportunidade. Primeiro, escolher um substituto para Mandetta que evite as críticas que uma escolha ideológica traria. Daí a especulação sobre nomes de médicos estrelados de São Paulo. Os círculos mais moderados em torno do presidente sabem que tolerância à defesa da hidroxicloroquina feita por Bolsonaro é pré-requisito. Mas, argumentam, bastaria ao escolhido adotar o discurso de que a droga está em testes e tocar o trabalho para o chefe não reclamar. Sobre isolamento social, rompido por Bolsonaro sempre que possível, a solução seria vender a ideia de que o governo quer uma ‘saída controlada’ das quarentenas. Como se vê, está longe de ser um trabalho simples. O isolamento político de Bolsonaro instilou a certeza entre aliados de que é preciso alguma ordem unida ante os arroubos da família do presidente. Os fardados ora de terno vivem à turras com os filhos presidenciais, em especial o vereador carioca Carlos, que comanda a guerrilha digital do pai. Na avaliação deles, amparada em pesquisas qualitativas feitas por governistas, as bravatas do presidente não seriam um problema quando feitas nas ruas ou redes sociais. O nó, com a crise do coronavírus, é que elas foram incorporadas à figura presidencial em pronunciamentos de TV, o que levou ao enquadramento parcial de Bolsonaro nas duas últimas semanas.” (Folha)

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Um conjunto de ex-presidentes, ministros da economia e líderes de bancos centrais latino-americanos assinaram uma carta aberta sobre como lidar com a pandemia. “Suprimir a epidemia para minimizar a mortalidade deve ser a prioridade”, afirmam. Eles pedem um conjunto de políticas públicas que envolvam, por um lado, apoio financeiro a quem é mais pobre, e capital para pequenas e médias empresas. Segundo FH, o chileno Ricardo Lagos e o colombiano Juan Manuel Santos, o FMI deve apresentar linhas de financiamento e bancos de desenvolvimento precisam se apresentar. “Os desafios não têm paralelo na história recente”, escreveram. “O mundo não pode se dar ao luxo de reagir de forma inadequada. Confiança mútua, transparência e razão — não populismo e demagogia — devem ser as melhores guias nestes tempos incertos. A crise não pode ser uma desculpa para enfraquecer nossas democracias conquistadas com tanta luta. Deveria, isto sim, ser uma oportunidade para fortalecer a democracia na América Latina e mostrar o que o regime é capaz de entregar aos cidadãos.” (Americas Quarterly)

Conversa com o Meio: Os parlamentos brasileiros estão preparados para virar virtuais? O vereador Gabriel Azevedo, de Belo Horizonte, é daqueles raros parlamentares que se debruçam sobre o futuro da democracia brasileira. Assista à entrevista.

Viver

No Brasil, o número de pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus subiu para 28.320 e o total de mortes a 1.736. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde na tarde de ontem.

O número de casos confirmados da covid-19 no Brasil pode aumentar 50% nos próximos dez dias, chegando a um total de cerca de 40 mil. A projeção é do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois), grupo que reúne pesquisadores da USP, PUC, UFRJ e Fiocruz dentre outras instituições e vem fazendo projeções regulares sobre a epidemia.

O Estado de São Paulo, epicentro da pandemia no Brasil, pretende zerar a fila de testes para a doença até o dia 24 de abril. Em suma, a promessa de zerar a fila se deve à compra de 1,3 milhão de testes rápidos da Coreia do Sul, dos quais 725.000 chegaram nesta semana. Ontem foram liberados 1.451 testes e outros 2.370 aguardam liberação, enquanto que, paralelamente, o sistema recebeu 1.319 testes novos. Até o mesmo dia o Governo estadual confirmou 11.043 casos da Covid-19 e 778 mortes pela doença. A equipe do Governo paulista também apresentou dados que indicam uma quase lotação de leitos de UTI e de enfermaria de hospitais estaduais. O Instituto de Infectologia Emílio Ribas, uma unidade estadual pública de referência, tem todos os seus 30 leitos de UTI já ocupados.

E o coronavírus fez a vítima mais nova no Estado do Rio. Kamilly Ribeiro, de 17 anos, morreu após ficar 20 dias internada na UTI do Hospital Moacir do Carmo, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ela sonhava virar médica e foi testada ainda em março, mas o resultado demorou nove dias para ser concluído. A adolescente não tinha doenças preexistentes.

Já os Estados Unidos registraram um novo recorde, com quase 2.600 mortes provocadas pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, o pior boletim diário para um país em todo o mundo, segundo contagem na Universidade Johns Hopkins. No total, morreram 2.569 pessoas de Covid-19 entre as 20h30 local de terça-feira e o mesmo horário de ontem, segundo números da Universidade. As mortes pelo novo coronavírus nos EUA já chegam a 28.325, mais do que qualquer outro país. O segundo lugar onde mais pessoas morreram em consequência da Covid-19, doença provocada pelo vírus, é a Itália, com 21.645 falecimentos, seguida pela Espanha, com 18.812.

Alemanha, Nova Zelândia, Finlândia e Taiwan. Com estratégias diferentes, as respostas de maior sucesso dos países à crise do coronavírus, em comparação a outras grandes economias, têm em comum governos chefiados por mulheres. No primeiro caso, o da chanceler Angela Merkel realizou um vasto número de testes, ofereceu milhares de leitos de UTI e equipou seu pessoal de saúde com as proteções necessárias para lidar com a pandemia. A Alemanha foi atingida duramente pelo vírus, mas com uma taxa de mortalidade baixa, cerca de 1,6%. Na Itália, ela foi de 12%, na Espanha e no Reino Unido, de 10%. Já a Nova Zelândia, liderada por Jacinda Ardern, também se destacou com apenas 9 mortes. Ela determinou testes em massa e tomou a rápida decisão de fechar fronteiras e ordenar o isolamento no início da pandemia. A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, deu uma das respostas mais rápidas à pandemia. Em janeiro, dois meses antes de a OMS declarar a pandemia, organismo do qual Taiwan não faz parte, Tsai apresentou 124 medidas para evitar que o vírus se espalhasse sem ter de recorrer ao isolamento total, que viria a ser adotado em vários países mais tarde. Hoje, Taiwan contabiliza um saldo de 393 casos e apenas 6 mortes. Na Finlândia, Sanna Marin, a chefe de Estado mais jovem do mundo, de 34 anos, comanda a cruzada contra a pandemia usando as redes sociais e influenciadores digitais, que vem ajudando o país a manter números baixíssimos de infectados — apenas 3 mil. O sucesso da premiê finlandesa é tão grande que uma pesquisa recente indicou que seu desempenho durante a crise recebeu a aprovação de 85% dos eleitores.

Aliás... A chanceler alemã anunciou um plano para começar a reabrir escolas e comércio a partir de 4 de maio. Eventos com grandes aglomerações, no entanto, vão continuar proibidos até o final de agosto. (Guardian)

Esperança e exaustão. Cenas de um hospital em Nova York, onde os médicos se reúnem em torno do bebedouro para trocar conhecimentos sobre a progressão imprevisível do coronavírus. (New Yorker)

E mais uma capa comovente da New Yorker.

Foto: Mindy Brock e Ben Cayer se abraçam no Hospital Geral de Tampa, na Flórida. O casal se conheceu na escola de enfermagem em 2007 e se casou há cinco anos. Hoje enfrentam, juntos, a pandemia do novo coronavírus. (AP)

Macarrão instantâneo? Não precisa. É hora de Panelinha no Meio com penne ao tomate e azeitonas, tudo em 20 minutos. E não tem desculpa pra comida de verdade, pois é possível preparar uma refeição inteira, numa panela só, cozinhando o molho e o macarrão ao mesmo tempo. A outra sugestão da Rita Lobo é o macarrão com molho de cebola. É possível que você tenha todos os ingredientes em casa, o que faz esta receita perfeita para dias de pouca inspiração ou quando não deu tempo de ir ao supermercado. O sabor das cebolas com o vinho branco é surpreendente. Bom apetite.

Cultura

O escritor José Rubem Fonseca morreu na tarde de ontem, aos 94 anos. Ele sofreu um infarto no horário do almoço e foi levado às pressas para o Hospital Samaritano, Zona Sul do Rio. O escritor faria 95 anos em maio. Considerado um dos pioneiros do gênero policial no Brasil, Fonseca foi autor de livros marcantes como AgostoFeliz Ano Novo, Caso Morel e Bufo & Spallanzani.

Trecho, Calibre 22: “Não gosto de matar barata, nem piolho, nem seres humanos. Não mato por ódio, ciúme, inveja, medo, casos em que o matador é também vítima desse sentimento, ou, se preferem, dessa percepção, ou noção, ou senso, ou consciência. Não conheço as pessoas que eu empacoto. Nada sinto por elas, mas tenho meus princípios”. (Amazon).

Rubem venceu, em 2003, o Prêmio Camões, o mais prestigiado da literatura em língua portuguesa. Suas obras foram adaptadas para cinema e televisão. Carioca desde os oito anos, nasceu em Juiz de Fora, em 11 de maio de 1925. Leitor precoce porém atípico, descobriu a literatura devorando autores de romances de aventura e policiais de variada categoria: de Rafael Sabatini a Edgar Allan Poe, passando por Emilio Salgari, Michel Zévaco, Ponson du Terrail, Karl May, Julio Verne e Edgar Wallace. Era ainda adolescente quando se aproximou dos primeiros clássicos (Homero, Virgílio, Dante, Shakespeare, Cervantes) e dos primeiros modernos (Dostoiévski, Maupassant, Proust). Nunca deixou de ser um leitor voraz e ecumênico, sobretudo da literatura americana, sua mais visível influência.

Cotidiano Digital

A Apple anunciou o seu novo iPhone de baixo custo. O design do iPhone SE é semelhante ao iPhone 8, que inaugurou o aparelho sem um botão. No Brasil, o smartphone ainda não tem previsão de lançamento, mas será vendido por preços a partir R$ 3.699 na sua versão mais básica, podendo chegar até R$ 4.499.

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