Prezadas leitoras, caros leitores —
O habitual do Meio é não circularmos nos feriados. Dada a temperatura política do país desde domingo, saímos hoje com uma edição extra. Mais enxuta, traz apenas as editorias ligadas ao notíciário quente — Política, Viver — e, para os assinantes premium, Economia, que destaca a queda extraordinária do preço do petróleo, mais um componente sério que pode agravar a crise mundial em meio à pandemia.
Os assinantes premium recebem todos os dias esta editoria — e não custa praticamente nada. Assine.
— Os editores.
Edição Extra: Bolsonaro recua enquanto negocia no Congresso
À porta do Palácio da Alvorada, ontem pela manhã, um presidente Jair Bolsonaro distinto daquele de domingo conversou com sua claque de praxe. Quando um sugeriu o fechamento do Supremo, ele interveio. “Sem essa coisa de fechar”, afirmou. “ Aqui não tem que fechar nada, dá licença aí. Aqui é democracia, aqui é respeito à Constituição brasileira. E aqui é minha casa, é a tua casa. Então, peço por favor que não se fale isso aqui. Supremo aberto, transparente. Congresso aberto, transparente.” Segundo o presidente, qualquer manifestante que estivesse pedindo por um AI-5 ou confronto com as instituições da Democracia exercia seu direito de livre expressão mas que ele pedia era o retorno ao trabalho. “Em todo e qualquer movimento tem infiltrado, tem gente que tem a sua liberdade de expressão. Respeite a liberdade de expressão. Pegue o meu discurso, dá dois minutos, não falei nada contra qualquer outro poder, muito pelo contrário.” E arrematou, tentando explicar que defendia o sistema democrático. “Eu sou realmente a Constituição.”
Míriam Leitão: “Bolsonaro tentou consertar ontem o que havia feito na véspera, como é de seu estilo. Mas, ao fazer isso, mostrou de novo que de democracia ele não entende. ‘A Constituição sou eu.’ Não é não. A Lei Maior está sobre todos nós, e a ela todos devemos respeito, inclusive o presidente. O ato ao qual compareceu no domingo na prática pedia o fim da Constituição como foi pactuada entre os brasileiros em 1988. As Forças Armadas ficaram em silêncio durante um dia inteiro. No começo da noite de ontem, o Ministério da Defesa disse que as Forças Armadas trabalham ‘com o propósito de manter a paz e a estabilidade’ e disse que são obedientes à Constituição. O problema é que há muita ambiguidade. A ordem do dia de 31 de março exaltava o golpe, dizendo que ele fora feito para defender a democracia. O presidente usa símbolos do Exército — o dia, o local — para passar a mensagem de pedido de intervenção militar. Ontem, Bolsonaro se fez de desentendido. Ora, presidente, não faça tão pouco da inteligência alheia. A presença física do chefe do Executivo, comandante em chefe das Forças Armadas, já era suficiente. Significa endosso ao que estava escrito nas faixas e ao motivo da convocação. As democracias não morrem mais como antes, com militares, tanques e blindados desfilando nas avenidas das grandes cidades. Eles morrem aos poucos, quando um chefe de governo vai minando diariamente a força dos poderes, como foi feito pelo coronel Hugo Chávez na Venezuela. Se cercou de militares e era isso que se via em Miraflores, uma presidência militarizada. Chávez atacava diariamente a imprensa, os partidos que não se submetiam a ele, a Justiça e estimulava a polarização. Nos seus discursos, ele dizia falar pelo povo. Chávez dizia que, com ele, o povo estava no poder. O populismo é assim.” (Globo)
Enquanto isso... O PT estuda apresentar um pedido de impeachment do presidente diz Bela Megale. (Globo)
Não será o único. De acordo com Guilherme Amado, já são 16 os pedidos de impeachment na mesa de Rodrigo Maia. Ao menos por enquanto, todos na gaveta. (Época)
Bolsonaro subiu na picape domingo para afirmar que não negociaria. Enquanto isto, está em fase de negociação aberta de troca de cargos por votos com partidos do Centrão, no Congresso. Segundo o que a repórter Thais Bilenki ouviu de parlamentares, o clamor por ditadura e as críticas à velha política formam uma cortina de fumaça para desviar o olhar do troca-troca em curso. No fundo está o princípio do desgaste de Rodrigo Maia, cujo mandato como presidente da Câmara se encerra em fevereiro de 2021, e já há grupos políticos pleiteando a posição. É onde o Planalto gostaria de intervir. Não à toa, portanto, a onda de ataques bolsonaristas a Maia, via redes sociais. Mas a estratégia tem um risco: embora seja pequena, existe uma base leal ao bolsonarismo no Legislativo. E ela se oporá, provavelmente com estridência, à distribuição de cargos para o Centrão. (Piauí)
Pois é... Líder da tropa de choque do ex-presidente Fernando Collor durante seu processo de impeachment, delator do Mensalão petista após se desentender com o então ministro José Dirceu a respeito do valor do butim, ex-presidiário da Lava Jato, Roberto Jefferson está de volta. Agora, defendendo Bolsonaro. Jefferson circula com a ‘denúncia’ de que Maia trama contra o presidente. Sinal de que o PTB está mergulhado na negociação. (Folha)
De acordo com os serviços de inteligência americanos, o líder norte-coreano Kim Jong-um está com risco de morrer após uma cirurgia cardiovascular grave. Ele esteve ausente da celebração pelo aniversário de seu avô, fundador do país, no último dia 15 — o que saltou aos olhos. Não há sucessor imediato claro, o que poderia perturbar o já frágil equilíbrio do país. (CNN)
Os serviços de inteligência sul-coreanos põe em dúvida a ideia de que eles esteja sob perigo. Reconhecem que deve ter havido cirurgia, mas que ele se recupera bem. É o país mais fechado do planeta. (Reuters)
Viver
Na França o número de mortos por Covid-19 passou de 20 mil, informou ontem o diretor-geral de Saúde, Jérôme Salomon. Com isso, o país europeu é o quarto com mais mortes causadas pela doença do novo coronavírus. Apesar disso, a França registrou quedas nos números de pessoas hospitalizadas pelo 12º dia consecutivo, segundo a imprensa local. Na comparação com domingo, o país teve 26 pessoas a menos internadas em hospitais.
Nos EUA, alguns estados do sul começaram a flexibilizar suas quarentenas, liberando comércios e restaurantes. O movimento veio depois de Trump delinear diretrizes para os estados que desejam diminuir as restrições impostas ao combate ao vírus. Só que as autoridades de saúde têm criticado a baixa testagem no país.
É possível que apenas uma pequena proporção de pessoas infectadas com o covid-19 não tenha apresentado sintomas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (2% ou 3%). “A redução das restrições não significa o fim da epidemia em nenhum país”, disse o diretor-geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, em uma entrevista à imprensa em Genebra. “Os chamados bloqueios podem ajudar a aliviar a epidemia de um país”, continuou ele. Porém, testes sorológicos para descobrir qual a proporção da população de quem já teve a infecção e desenvolveu anticorpos contra ela - o que, espera-se, signifiquem que eles tenham algum nível de imunidade - estão sugerindo que os números são baixos.