Bolsonaro consegue o que quer e muda chefia da PF no Rio

O presidente Jair Bolsonaro nomeou e logo deu posse, ontem, ao novo diretor-geral da Polícia Federal. É Rolando Alexandre de Souza, número dois de Alexandre Ramagem na Agência Brasileira de Informação. Ramagem, o favorito de Bolsonaro, havia tido sua nomeação suspensa pelo STF por suspeita de haver interesse particular do presidente em sua indicação. Já no cargo sem mesmo uma cerimônia pública, Souza determinou a troca no comando da PF do Rio de Janeiro. O atual superintendente, Carlos Henrique Oliveira, se tornará diretor-executivo da organização. No organograma, é o número dois da PF. Mas é um cargo sob o qual não há investigações. (Poder360)

Esta troca no Rio, com jeito de promoção mas suspeita de intervenção, fez com que a Associação dos Delegados da Polícia Federal suspendesse uma nota que pretendia soltar em apoio ao novo diretor-geral. Grupos de delegados no WhatsApp, conta Bela Megale, viram ali orientação direta de Bolsonaro. (Globo)

Em seu depoimento à Polícia Federal, no sábado, o ex-ministro Sérgio Moro afirmou que Bolsonaro insistia em querer trocar o comando da PF no Rio de Janeiro. Ele chegou a ameaçar demitir Moro, caso não o fizesse. Segundo o ex-juiz, foram testemunhas da ameaça, em reunião gravada em vídeo, os generais palacianos — ministros Augusto Heleno, Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos. (Globo)

Ricardo Rangel: “O próximo passo dos investigadores será ouvir os ministros. Moro deixou os militares em uma saia justa daquelas. Se confirmarem o que Moro diz, serão desleais ao chefe e demonstrarão que sabiam da ação criminosa do presidente e calaram, arriscando-se a se desmoralizar (e até a ser processados). Se desmentirem Moro e ficar provado que o que ele disse é verdade, ficará demonstrado que foram coniventes com Bolsonaro, arriscando-se a se desmoralizar (e até a ser processados). Para complicar ainda mais a vida dos generais, a reunião em que Bolsonaro teria pressionado Moro na presença deles está gravada.” (Veja)

A Defesa de Moro requisitou ao Supremo que abra o sigilo de seu depoimento. (G1)

Pois é... O procurador-geral da República, Augusto Aras, já requisitou ao ministro Celso de Mello o depoimento dos três generais, assim como os de outros citados por Moro. (Estadão)

Enquanto isso... O Ministério da Defesa soltou uma nota em resposta indireta à afirmação de Bolsonaro, no domingo, de que teria o apoio das Forças Armadas. “As Forças Armadas cumprem a sua missão Constitucional”, diz o texto. “Marinha, Exército e Força Aérea são organismos de Estado, que consideram a independência e a harmonia entre os Poderes imprescindíveis para a governabilidade do País. As Forças Armadas estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade.” Leia a íntegra.

José Casado: “Foi um longo fim de semana para Jair Bolsonaro. Imerso na realidade paralela, entreteve-se no seu jogo predileto: envolver as Forças Armadas na sua campanha para reeleição em 2022. Varou a madrugada de ontem com o plano de declarar desobediência ao Supremo. Renomearia Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal. A indicação havia sido suspensa pelo STF, por conflito de interesses — é amigo de Bolsonaro, cujos filhos estão sob investigação federal. Aceitou deixar Ramagem indicar seu vice na Abin, Rolando de Souza. Resignou-se, ainda, a manter o general Edson Pujol no comando do Exército. Queria trocá-lo por Luiz Eduardo Ramos, um general da ativa no Planalto. Provocaria uma cisão, alertaram, acelerando a erosão já perceptível no respaldo militar ao seu governo. Também se conformou com a nota da Defesa lembrando o papel constitucional das Forças Armadas. Foi a segunda em 15 dias. Bolsonaro perdeu, de novo. Mas quem o viu nas últimas 72 horas acha que o presidente-candidato vai continuar apostando no arriscado jogo de atração dos quartéis à política.” (Globo)

Meio em vídeo: Jair Bolsonaro cruzou a última linha. Assista.

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Jair Bolsonaro atravessou a secretária da Cultura, Regina Duarte, e devolveu ao comando da Funarte o maestro Dante Henrique Mantovani. É o mesmo que havia afirmado que o rock é coisa do diabo e havia sido demitido por Regina. A atriz vem evitando soltar notas públicas de pesar pela morte de artistas importantes para evitar atritos com o Planalto, informa o Radar. (Veja)

Viver

O Brasil chegou a 7.321 mortes e 107.780 casos do novo coronavírus, segundo dados do Ministério da Saúde atualizados ontem às 20h. A pasta disse que, a partir de agora, as informações de casos e óbitos por Covid-19 serão atualizadas em duas ocasiões: às 15h, com dados preliminares por estado, e às 19h, com dados finais. (Estadão)

Epicentro da crise, São Paulo tem visto o índice de isolamento social cair no estado. Segundo levantamento feito pela Secretaria da Saúde, as mortes avançam principalmente por regiões onde há favelas, cortiços e núcleos habitacionais. O segundo estado com maior número de casos é o Rio de Janeiro. Já quando analisados os dados de incidência da Covid-19, indicador que abrange o total de casos pela população, outros estados passam à frente. São eles: Amapá, Amazonas, Roraima, Ceará, Pernambuco, Acre e Espírito Santo. (Folha)

As cidades que registram maior aprovação ao governo de Jair Bolsonaro tiveram um aumento na taxa de contágio da Covid-19, 18,9% maior do que aquelas que demonstram menor apoio ao presidente, em março. É o que mostra um estudo das universidades da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e de Bocconi, na Itália. Pesquisa avaliou comportamento da população em 255 municípios brasileiros. (O Globo)

Pois é... em Santa Catarina, dados analisados pela Exame nesses dez dias desde a reabertura dos shoppings, mostram que os casos confirmados da doença no estado dobraram, passando de 1.170 pessoas confirmadas em 24 de abril para 2.519 no último balanço de ontem. Foi um aumento de 1.349 casos confirmados nesse período. O estado passou, em 13 de abril, a liberar a reabertura gradual da economia com direito a reaberturas marcadas por aglomerações em shoppings.

Por falar em números, menos da metade dos Estados brasileiros divulga dados detalhados sobre o coronavírus. É o que mostra um levantamento da Open Knowledge Brasil (OKBR), uma organização sem fins lucrativos que avalia a transparência e a condição da abertura de dados públicos em mais de 60 países. Segundo a pesquisa, apenas 32% das unidades federativas compartilham de maneira satisfatória informações sobre a pandemia. Além disso, 39% dos Estados ainda não conseguiram alcançar o nível bom de transparência. (Uol)

O Brasil já é o epicentro global do coronavírus. Estudo da Universidade de São Paulo aponta que o número de infeções no Brasil já pode ter atingido 1,6 milhão. Isso significa que o país pode já ter mais casos que os Estados Unidos. O Brasil testou apenas cerca de 1.600 por milhão de pessoas, muito abaixo dos 20.200 testes por milhão realizados nos EUA até agora, segundo a empresa de pesquisa Statista. (WSJ)

Sobre os avanços científicos, pesquisadores da Universidade de Utrecht, na Holanda, reportaram a descoberta de um anticorpo humano, o 47D11, capaz de impedir a infecção das células pelo novo coronavírus. Publicado na revista científica Nature Communications, ele pode acelerar o processo de testes clínicos para a produção de uma vacina.

O infectologista Mauro Schechter, professor-titular da UFRJ, recebeu alta de Covid-19 há pouco mais de um mês, depois de passar cinco dias internado — sem tomar drogas experimentais. “Quando a pessoa que me acompanhava perguntou se eu queria tomar cloroquina, respondi: 'você me respeite'”.

Sobre outras drogas: “A única droga a qual realmente se acredita na comunidade científica internacional que possa ter algum impacto antiviral contra a Covid-19 é o remdesivir, e mesmo assim o otimismo não é enorme.” A entrevista completa. (O Globo)

E a vida aos poucos volta à Itália, que chegou à fase dois. Depois de mais de 50 dias de emergência máxima, o primeiro país pelo qual a Covid-19 entrou na Europa começou a relaxar as medidas restritivas que reduziram a mortalidade para menos de 200 casos por dia e achataram a curva de contágio. Já dá para notar nas ruas.

Nos Estados Unidos, enquanto o presidente Trump pressiona os estados a reabrirem suas economias, seu governo prevê um aumento constante no número de casos e mortes de coronavírus nas próximas semanas. O número diário de mortos chegará a 3.000 em 1º de junho, de acordo com um documento interno obtido pelo The New York Times, um aumento de 70% em relação ao número atual; cerca de 1.750. Os números sublinham uma realidade preocupante, a de que reabrir a economia pode piorar a situação.

Hora de Panelinha. E de refletir sobre a importância de comer à mesa. Montar o prato, sentar e comer com atenção é uma parte importantíssima da alimentação saudável. Uma das características dos produtos ultraprocessados é que eles desviam a atenção da comida: é só abrir o pacote, sentar no sofá e ligar a TV. Dá para comer andando, comer dirigindo. E, de repente, sem que a pessoa se dê conta, o pacote acabou. E pior, ela nem lembra o que comeu. O Guia Alimentar para a População Brasileira dedica um capítulo inteiro ao momento da refeição. São três as orientações básicas: 1. comer com regularidade e com atenção; 2. comer em ambientes apropriados; 3. comer em companhia. No Panelinha, tem dicas da Rita Lobo para colocar o hábito em prática.

Cultura

O poeta Aldir Blanc morreu ontem de Covid-19, no Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel, não longe de sua casa. As personagens de suas letras eram bêbados e amantes, prostitutas e gente comum, nelas havia sempre alguma melancolia mas também esperança. Cantada por Elis Regina, O Bêbado e o Equilibrista (Spotify) foi marco da abertura política. O Mestre-sala dos Mares (Spotify) virou samba clássico. Arnaldo Antunes lembrou de dois versos desta letra — Rubras cascatas / Jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas, tão carregados de história e sensibilidade brasileira. “Quando morre o autor de um verso como esse, só nos resta chorar e reverenciar.” Segundo Caetano Veloso, não é possível ser brasileiro sem se emocionar com Resposta ao Tempo na voz de Nana Caymmi (Spotify). O parceiro de toda vida, João Bosco, se emocionou e disse: “Não existe João sem Aldir”. Em inúmeras varandas do Rio, durante a noite, cariocas cantaram músicas suas. Aldir tinha 73 anos.

Assista: O Canal Brasil pôs no ar uma homenagem a Aldir.

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O ator paulista Flávio Migliaccio, 85 anos, foi encontrado morto na manhã de ontem no sítio que mantinha desde a década de 1970, na Serra do Sambê, em Rio Bonito. O ator ficou muito conhecido com o seriado infantil Shazan, xerife & cia ao lado de Paulo José. O espetáculo autobiográfico Confissões de um Senhor de Idade foi seu último trabalho no teatro. Na TV, participou de mais de 30 novelas e minisséries, fazendo sucesso com vários personagens, como o pão-duro Moreiras, em Rainha da Sucata (1990) e o turco Chalita, da série Tapas & Beijos (2011). A última foi Órfãos da Terra, onde interpretou Mamede, um imigrante palestino que é diagnosticado com Alzheimer.

Cotidiano Digital

A internet ficou instável ontem para os usuários das operadoras Claro e Vivo. O serviço de banda larga fixa falhou em oito capitais das regiões Sul, Sudeste e Norte. Segundo o Down Detector, o pico ocorreu por volta das 14h. Desde o início das quarentenas, operadores brasileiros não se prepararam para um pico de demanda de streaming e videochamadas. Mesmo assim, analistas descartam risco de colapso, mas pode acontecer casos de lentidão.

O YouTube excluiu o canal de David Icke, conhecido por criar teorias da conspiração. O inglês tinha mais de um milhão de inscritos e era um dos responsáveis por ligar a disseminação do novo coronavírus às redes 5G. No Reino Unido, torres de telefone chegaram a ser atacadas por causa dessa fake news. O Facebook já tinha removido no início do mês a página oficial de Icke.

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