Prezadas leitoras, caros leitores —

Quem antes não dava a mínima para vacinas agora pressiona para a aprovação de um imunizante russo que o Brasil não testou. Há lobby pelos corredores palacianos, mas observar o movimento apenas no território brasileiro não ajuda a compreender o jogo que acontece.

As vacinas da Covid-19 se tornaram arma geopolítica.

China, Índia e Rússia são apenas alguns dos países que, a despeito de não terem o suficiente para vacinar suas próprias populações, estão fazendo da venda de imunizantes para o mundo uma ferramenta para ampliar sua influência. Cada qual tem sua lógica, mas estamos assistindo a uma partida de soft power — aquele tipo de poder que as diplomacias exercem.

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Anvisa reage a pressões do Centrão

A Anvisa reagiu ontem à mais ostensiva tentativa de politizar as vacinas contra a Covid-19. O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), ameaçou “enquadrar” a agência para que aprove o uso emergencial de 11 vacinas. Segundo Barros, os diretores da Anvisa “não estão nem aí” para a pandemia. O presidente da agência, Antonio Barra Torres, chamou o deputado às falas, afirmando que ou o parlamentar deve formalizar denúncias que tenha contra a Anvisa ou se retratar. Com a repercussão, o presidente Jair Bolsonaro acabou desautorizando o líder, dizendo que a Anvisa “não pode sofrer pressão”. (Estadão)

No cerne da polêmica está a liberação da vacina russa Sputnik V, apelidada de “vacina do Centrão” e “vacina do Bolsonaro”. Ela é objeto de um lobby intenso, comandado pelo ex-deputado e ex-governador do DF Rogério Rosso (PSD), que tem grande trânsito junto ao Centrão. Segundo o presidente da Anvisa, nos 22 anos da agência “pouquíssimas vezes houve tanta movimentação política”. A questão é que, não testada no Brasil em fase 3, a Sputnik V pode livrar o governo federal da incômoda dependência da CoronaVac, importada e produzida pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo. (Folha)

O Senado aprovou a MP que agiliza aprovação de vacinas e autoriza o Brasil a participar da Iniciativa Covax, da OMS. (UOL)

Não é mais só o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. A Procuradoria-Geral da República abriu uma investigação preliminar para apurar a conduta do governo Bolsonaro na crise da Covid-19 no Pará. A decisão, porém, não foi espontânea; foi tomada após o PCdoB acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito da crise. (G1)

No inquérito que já está em andamento sobre a situação no Amazonas, Pazuello prestou depoimento ontem à Polícia Federal em Brasília. Ao longo de quatro horas, ele listou ações do Ministério da Saúde no estado. (UOL)

E o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou no Senado um pedido de CPI para investigar possível omissão do governo federal no combate a pandemia. O pedido tem assinatura de 30 senadores, três a mais que o mínimo exigido, mas a instalação da CPI depende da leitura pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Que é aliado do governo. (Poder 360)

Com a sensibilidade de sempre, Jair Bolsonaro disse ontem no Pará que as mortes pela pandemia “são uma realidade” e “que não se pode parar o país por isso”. A “realidade” na quinta-feira foi traduzida em 1.291 vidas perdidas, elevando o total de mortes a 228,8 mil e mantendo a média móvel acima de mil pelo décimo-quinto dia consecutivo.

E o Rio de Janeiro ultrapassou São Paulo como a cidade com o maior número de mortos no país, mesmo tendo a metade da população (6,748 milhões de pessoas contra 12,33 milhões). A capital fluminense acumula 17.535 óbitos, contra 17.491 da outra ponta da Via Dutra. (G1)

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Derrotado na tentativa de eleger seu sucessor na presidência da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) articula seu futuro político atirando em várias direções no espectro partidário. Ele já conversou com o Cidadania e também avalia o PSL, que tem a maior bancada na Casa. Seu plano é levar consigo outros 40 políticos, a maioria do DEM. Aliás, segundo Bela Megale, o desligamento de Maia da legenda é esperado para a próxima semana. (Globo)

A distância entre Maia e o presidente do DEM, ACM Neto, só aumenta. Segundo Mônica Bergamo, o nome de Neto já circula como possível vice de Bolsonaro, em 2022. (Folha)

Míriam Leitão: “Maia, em conversa com amigos sobre a sua situação partidária, está dizendo que é difícil permanecer no DEM e a um deles explicou dessa forma: ‘Arena não dá’, referindo-se ao partido que deu sustentação à ditadura. Na entrevista que concedeu à Camila Matoso, na Folha, o presidente do Democratas, ACM Neto, disse que o partido ‘não vai com extremos em 22’, mas acrescentou que não descarta alinhamento com Bolsonaro. Uma resposta que é uma contradição ambulante.” (Globo)

Pois é... O governador goiano Ronaldo Caiado já deu a partida. Assumiu a defesa ostensiva de que o DEM apoie a reeleição de Bolsonaro em 2022. (Folha)

E a eleição para presidências de Câmara e Senado não afetou só o futuro de Maia, conta Alberto Bombig na Coluna do Estadão. As eleições serviram para “o bolsonarismo se infiltrar nos partidos”, ele ouviu do deputado federal Junior Bozzella (PSL-SP). Em São Paulo, o vice-governador Rodrigo Garcia estuda deixar o DEM e migrar para o PSDB — e isto o definiria como candidato à sucessão de João Doria. (Estadão)

Roberto Freire, presidente do Cidadania: “Esse processo que estava existindo do ponto de vista de 2022 — discussões sobre alternativas, que tipo de articulação e de aliança que estava surgindo — isso mudou, sofreu um retrocesso. O que ocorreu com o DEM e com o PSDB gerou problemas para o PSDB, para o DEM, para a articulação do Luciano Huck, para setores da esquerda que também tiveram problema. Foi desconstruído um pouco do que você já tinha acumulado, vai ter que ser retomado. Precisa ver o rescaldo desse episódio para começar a saber como retomar.” (Estadão)

Os integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato não escondem a frustração com a dissolução do grupo. Januário Paludo, um dos mais experientes procuradores a atuar na força-tarefa diz que o futuro do combate à corrupção no país é incerto, mas que instituições como o MPF renascem mais fortes. (Globo)

Para ler com calma: “A Operação Lava Jato foi o principal evento político do Brasil na década de 2010. O Brasil de hoje foi em grande parte moldado por uma operação criminal deflagrada em Curitiba em 2014, cujo principal líder foi o então juiz Sergio Moro”, avalia o doutor em filosofia e teoria do direito Rubens Glezer. Mas o próprio Moro deflagou a crise na operação ao aceitar ser ministro da Justiça de Bolsonaro meses depois de condenar Lula e tirá-lo da disputa eleitoral. Em 2021, além da dissolução da força-tarefa, o STF deve julgar o habeas corpus de Lula pedindo que sua condenação seja anulada. “É uma oportunidade para reafirmar o pacto civilizatório segundo o qual o modo pelo qual a punição é alcançada importa tanto quanto o resultado.” (Piauí)

Meio em vídeo. Na quarta-feira, 3, o YouTube suspendeu o canal do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, o Terça Livre, para sempre. Essa é uma vitória da democracia. Pode um ato que alguns chamam de censura ser democrático? Se está combatendo ainda em seu ninho uma tirania que tenta nascer, sim. Mas como identificar quando isto ocorre? Veja no YouTube.

A Smartmatic, responsável por um dos sistemas de votação eletrônica usados nos EUA, entrou na Justiça contra o canal de TV FoxNews, três de seus apresentadores e os dois principais advogados de Donald Trump, Rudy Giuliani e Sidney Powell, por difamação. Eles são acusados de prejudicarem a reputação da empresa ao espalharem notícias falsas sobre fraudes nas eleições de 2020. A Smartmatic pede como indenização a bagatela de US$ 2,7 bilhões (R$ 14,5 bilhões). (CNN)

Dissolução do problema

Tony de Marco

 
Fim-da-Lava-Jato

Cultura

Oferecido pelo Sindicato dos Atores dos Estados Unidos, o SAG Awards divulgou ontem sua lista de indicados. Entre os destaques está Chadwick Boseman, que morreu de câncer no ano passado, indicado como melhor ator por A Voz Suprema do Blues e melhor ator coadjuvante por Destacamento Blood. Assim como o Globo de Ouro, cuja lista de indicações saiu na quarta-feira, o SAG é considerado um dos principais termômetros do Oscar. (Estadão)

Para ler com calma. Quem nunca se emocionou ouvindo Adiós, Nonino (Youtube) simplesmente não está vivo. Seu criador, o argentino Astor Piazzolla (1921-1992), foi o responsável por levar o tango para além de todos os limites impostos pelo tradicionalismo. Da infância em Nova York, trouxe o fascínio pelo jazz, ao qual somou a música erudita e os tangos clássicos, misturou em seu bandoneón e dele expôs a alma argentina. No dia 11 de março o mundo comemora seu centenário, mas as homenagens começarão bem antes da data. (Estadão)

Edith Pretty tinha 56 anos quando, em 1937, descobriu tesouros arqueológicos em sua propriedade no interior da Inglaterra. Mas, no filme A Escavação (Netflix), Edith é vivida nessa época por Carey Mullingan, de 35 anos. É só mais um exemplo da exclusão sofrida por atrizes com mais de 45 anos em Hollywood. Fora as grandes estrelas de praxe, é incomum uma atriz madura conseguir um papel principal. (UOL)

Poxa, mas será que existem atrizes de 56 anos que poderiam se encaixar nesse papel e atrair o público? Se o leitor tem dúvidas, confira a lista.

Depois de encerrar suas atividades em cinco cidades brasileiras nos últimos meses, a Livraria Cultura mostra que está longe de sair da crise financeira. A rede anunciou o fechamento de três lojas, incluindo a unidade no Shopping Curitiba, a única que mantinha na capital paranaense. Em São Paulo, fecharam as filiais dos shoppings Villa-Lobos e Bourbon, considerada a joia da rede. Com isso, Cultura está reduzida na capital paulista a três lojas, uma delas em reformas. A empresa está desde 2018 em recuperação judicial. (Folha)

Viver

No momento em que o Brasil se vê na condição de pária ambiental, uma pesquisa do Ibope mostra o completo descolamento entre as políticas do governo e o pensamento da população. Segundo o levantamento divulgado nesta quinta-feira, 77% dos brasileiros consideram proteger o meio ambiente uma prioridade, mesmo que isso tenha um impacto negativo sobre a atividade econômica. O aquecimento global é reconhecido por 92% dos entrevistados, e 88% acreditam que ele pode afetar as gerações futuras. (Globo)

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Quase 521 anos depois do desembarque de Cabral os povos nativos brasileiros vão ter que preencher uma série de requisitos criados pela Funai para serem reconhecidos como tal. Antes, o reconhecimento era baseado em autodeclaração. Agora, além dela, é necessário “vínculo histórico” da etnia com parte do território brasileiro, “origem e ascendência pré-colombiana” e “identificação do indivíduo por grupo étnico existente”. A Funai diz que o objetivo é evitar fraudes na concessão de benefícios, mas o Ministério Público Federal afirma que a medida é ilegal e recomenda sua revogação imediata. (Estadão)

Não é só a poluição ambiental produzida pelo ser humano que põe em risco a vida nos oceanos. A poluição sonora também ameaça o ecossistema marinho, segundo estudo de 25 especialistas de diversas partes do mundo. Debaixo d’água uma infinidade de espécies se guia pelo som para encontrar alimento ou abrigo. Mas atividades humanas, da prospecção de petróleo ao surf, tornam o ambiente “ensurdecedor”. (New York Times)

Cotidiano Digital

Dias após tomarem o poder em um golpe, o novo governo militar de Mianmar bloqueou o Facebook. A suspensão será até 7 de fevereiro por uma questão de “estabilidade”.

Pois é... Quando os militares tomaram conta do governo esta semana, além de garantir o controle da TV estatal também cortaram a internet antes de ser “parcialmente restaurada” no final do dia. Essa estratégia se tornou quase que uma receita de governos autoritários para controlar movimentos populares. E tem se tornado cada vez mais comum. Tem acontecido atualmente na Índia, em protestos de agricultores contra o governo, e na Rússia. Pelo menos 35 países restringiram o acesso à internet ou plataformas de mídia social pelo menos uma vez desde 2019.

Meio em vídeo. Depois de transformar uma loja de livros na internet em um dos maiores marketplaces do mundo, Jeff Bezos anunciou que está deixando seu cargo de CEO da Amazon para se dedicar a um novo hobby. Pedro Doria e Cora Rónai falam sobre os planos de carreira do bilionário e relembram fatos marcantes de sua história. Também em pauta a polêmica dos celulares nas salas de aula da China e os novos recursos do Galaxy S21. Veja no YouTube.

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