Lula vai ao Chile atrás de apoio contra ofensiva dos EUA

Após uma bem-sucedida campanha interna para reforçar a ideia de que o país está sendo vítima de um ataque econômico para interferir em assuntos domésticos, o governo brasileiro inicia a semana trabalhando para angariar apoio internacional em sua crise com os Estados Unidos. Nesta segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em Santiago para se encontrar com os presidentes do Chile, Gabriel Boric, da Colômbia, Gustavo Petro, do Uruguai, Yamandú Orsi, e com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. A reunião é vista como uma frente de esquerda contra a ofensiva autoritária do presidente americano Donald Trump. (CNN Brasil)
O encontro entre os presidentes deveria ter ocorrido no ano passado, mas, por conta de agenda, foi transferido para este ano e ganhou uma conotação política ainda mais forte devido à tentativa americana de influenciar o sistema Judiciário brasileiro para que o ex-presidente Jair Bolsonaro não seja condenado no processo que investiga a trama golpista. Lula pretende usar o encontro para afirmar que a investida de Trump é um ataque explícito à democracia brasileira. O presidente brasileiro dirá que vem tentando dialogar com o governo americano há meses para tratar de negociações econômicas e que as tarifas impostas são uma retaliação política. (Estadão)
Neste domingo, Lula, Boric, Petro, Orsi e Sánchez publicaram um artigo conjunto em defesa da democracia. “A erosão das instituições, o avanço dos discursos autoritários impulsionados por diferentes setores políticos e o crescente desinteresse dos cidadãos são sintomas de um mal-estar profundo em amplos setores da sociedade”, escreveram os mandatários. Os cinco se colocam como defensores da democracia em um mundo cada vez mais extremado e violento. “… como líderes progressistas, temos o dever de agir com convicção e responsabilidade frente àqueles que pretendem enfraquecer a democracia e suas instituições”, concluíram. (Folha)
Elio Gaspari: “O empresariado brasileiro não quer que o Brasil vá à mesa de negociação com a arma das retaliações no coldre”. (Globo)
Duas semanas depois de dizer que sacrificaria seu mandato de deputado federal para permanecer nos Estados Unidos fazendo lobby para que o governo americano sancione autoridades brasileiras em troca da anistia de seu pai, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) voltou atrás. Em uma live neste domingo, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro declarou que não pretende renunciar ao mandato. “Eu não vou fazer nenhum tipo de renúncia. Se eu quiser, consigo levar meu mandato, pelo menos, até os próximos três meses”, afirmou. Eduardo pediu licença do mandato em março, quando chegou aos Estados Unidos. Neste domingo, o prazo para reassumir a vaga na Câmara dos Deputados expirou e, a partir de agora, as faltas às sessões passam a ser contabilizadas. De acordo com o regimento da Casa, ele pode faltar até um terço das sessões sem apresentar justificativa. Pelos cálculos da família Bolsonaro, Eduardo ainda pode se ausentar de 44 sessões antes de perder o mandato. (UOL)
Eduardo Bolsonaro também fez ameaças ao ministro do STF Alexandre de Moraes. Segundo ele, seu principal objetivo é retirar o jurista do Supremo Tribunal Federal. “Toda hora a gente tem que expor o nível de várzea que é Moraes com a caneta do STF. O ideal seria ele fora do STF. Trabalharei para isso também, tá, Moraes?”, afirmou o deputado, que acusa de forma recorrente o ministro de agir politicamente para impedir que seu pai concorra às eleições de 2026. (Metrópoles)
Na mesma live, Eduardo Bolsonaro ameaçou integrantes da Polícia Federal que estariam investigando a ele e a outros integrantes de sua família em processos do Supremo Tribunal Federal. “Cachorrinho da Polícia Federal que tá me assistindo, deixa eu saber não. Se eu ficar sabendo quem é você... ah, eu vou me mexer aqui”, disse o filho do ex-presidente Bolsonaro. O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou que as falas do deputado federal licenciado são uma tentativa de intimidação aos policiais federais. “Nenhum investigado intimidará a Polícia Federal”, disse Rodrigues. De acordo com ele, a PF tomará medidas legais contra Eduardo, que é escrivão da Polícia Federal em São Paulo. (g1)
O cancelamento de vistos americanos, anunciado pelo secretário de Estado do país, Marco Rubio, atingiu praticamente todos os ministros do Supremo Tribunal Federal, com exceção de Nunes Marques, André Mendonça e Luiz Fux. Além de Alexandre de Moraes, o principal alvo do governo americano, também estão proibidos de entrar nos Estados Unidos os ministros Luís Roberto Barroso, Flávio Dino, Edson Fachin, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Gilmar Mendes e a ministra Cármen Lúcia. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, também teve seu visto cancelado. As sanções se estendem ainda aos familiares imediatos dos ministros e do PGR, que também estão impedidos de entrar nos EUA. (CNN Brasil)
Celso Rocha de Barros: “Quando Bolsonaro chamou uma superpotência para intervir no Brasil topou o risco de Trump aproveitar a oportunidade para quebrar justamente os setores mais competitivos de nossa economia”. (Folha)
Dezenas de palestinos que tentavam chegar a centros de distribuição de alimentos na Faixa de Gaza foram mortos neste domingo por soldados israelenses, de acordo com o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas. No sábado, outras 32 pessoas foram mortas por disparos de combatentes das Forças de Defesa de Israel. No Vaticano, o Papa Leão XIV condenou a “barbárie” da guerra em Gaza e o “uso indiscriminado da força” contra civis palestinos. (New York Times e Guardian)
É possível distribuir ideologicamente os principais nomes da tecnologia em alguns poucos grupos. E, dentre as ideias que mobilizam a indústria da tecnologia hoje, algumas se aproximam de um tecno-supremacismo. Pedro Doria conta essa história na Edição de Sábado, exclusiva para assinantes premium. Assine e leia.
Cultura
A cantora, atriz, empresária e apresentadora Preta Gil morreu neste domingo, aos 50 anos, por complicações decorrentes de um câncer. O tratamento havia sido iniciado em janeiro de 2023, quando Preta anunciou publicamente o diagnóstico: adenocarcinoma, um câncer no intestino. Após cirurgia e sessões de quimioterapia e radioterapia, ela chegou a anunciar que a doença estava em remissão. No entanto, em agosto de 2024, Preta revelou que o câncer havia retornado em diferentes partes do corpo. Como em todas as fases de sua vida, Preta encarou a batalha com resiliência e transparência, sempre incentivando o diagnóstico precoce do câncer. (Folha)
Preta comemorou seu aniversário de 50 anos no ano passado com uma festa para 700 pessoas e lançou a autobiografia “Preta Gil: os primeiros 50”, pela editora Globo. No livro, ela relata a luta contra o câncer e o término do casamento de oito anos com o produtor Rodrigo Godoy, em 2023, após descobrir que ele a traía enquanto ela realizava o tratamento. Nas últimas semanas, Preta tentava uma terapia experimental contra a doença nos Estados Unidos. (Globo)
Mulher preta, bissexual e fora dos padrões estéticos convencionais, a artista, filha do cantor Gilberto Gil, enfrentou preconceitos e usou sua imagem para promover a inclusão e combater a discriminação. Embora tenha crescido cercada pela música, Preta inicialmente trabalhou nos bastidores como produtora e publicitária. Seu álbum de estreia, Prêt-à-Porter (2003), trouxe um repertório que mesclava pop, MPB, samba e funk. A capa e o encarte do CD, nos quais aparecia nua, causaram polêmica na época. Ao longo da carreira, lançou três álbuns, criou o Bloco da Preta — sucesso no carnaval do Rio e de São Paulo —, participou de novelas e atuou em séries e filmes. (g1)
Logo após o anúncio da morte, as redes sociais foram inundadas com mensagens de carinho e homenagens. A apresentadora Angélica escreveu: “Gratidão por ter tido você na minha vida”. O diretor Boninho disse que Preta “já é saudade nos nossos corações”. Xuxa também homenageou a amiga: “Que sua força, alegria e amor por tudo que você fez nunca sejam esquecidos”. (UOL)
Vencedora do Globo de Ouro e indicada ao Oscar por Ainda Estou Aqui, Fernanda Torres foi anunciada como parte do júri da mostra competitiva e ajudará a escolher o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Ela se junta à atriz chinesa Zhao Tao e aos diretores Stéphane Brizé, Cristian Mungiu, Mohammad Rasoulof, vencedor da Palma de Ouro de Cannes, e Maura Delpero, que venceu Veneza com Vermiglio, no júri que será presidido por Alexander Payne. O Festival de Veneza acontece entre os dias 27 de agosto e 6 de setembro. A programação oficial será anunciada nesta terça-feira. (Folha)
Viver
Um estudo publicado na revista científica Lancet mostrou que uma versão genérica do lenacapavir, novo medicamento recomendado pela OMS para prevenção do HIV, poderia ter um custo até 99.9% menor que o valor atual. Comercializado pela biofarmacêutica Gilead, o tratamento custa atualmente US$ 25,3 mil por pessoa ao ano, mas poderia custar de US$ 25 a US$ 47, se fosse vendido em versões genéricas por outros laboratórios. A produção depende de uma combinação complexa de fatores técnicos, regulatórios e financeiros, mas os benefícios em aderir ao lenacapavir em vez da versão de comprimidos diários como profilaxia pré-exposição (PrEP) também seria ambiental, ao reduzir substancialmente as emissões de carbono com menos transporte e descarte de embalagens. (Folha)
Já a Universidade de Manchester, no Reino Unido, descobriu que a doença de Parkinson pode ser diagnosticada até sete anos antes analisando o sebo da pele. A descoberta pode dar origem a um exame simples e de baixo custo, com amostra coletada com cotonete. O Parkinson é uma doença degenerativa com sintomas como tremores e rigidez que geralmente são detectados em estágio avançado, impossibilitando tratamentos precoces. A pesquisa foi inspirada por Joy Milne, uma enfermeira aposentada que notou um cheiro diferente no marido anos antes de ele ser diagnosticado com a doença. (Globo)
Para ler com calma. O Brasil registra, por mês, mais de três mortes de crianças e adolescentes em ambientes de trabalho. De 2007 a maio de 2025 foram 415 mortes de menores, sendo 22 crianças com menos de 13 anos. Todos os dias pelo menos 15 são feridos em trabalhos perigosos e insalubres, atividades proibidas para menores de 18 anos. (Globo)
José Maria Marin, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), morreu no domingo, em São Paulo, aos 93 anos. Marin ficou conhecido mundialmente por seu envolvimento no escândalo de corrupção chamado de Fifagate, deflagrado em 2015, e que expôs um esquema bilionário de propinas envolvendo contratos de marketing e direitos de transmissão de competições internacionais. (g1)
Cotidiano Digital
A Meta se recusou a assinar voluntariamente o código de práticas de inteligência artificial da União Europeia por considerar um exagero que prejudicará as empresas, informou seu chefe de assuntos globais Joel Kaplan. Ele afirma que a “Europa está trilhando o caminho errado em relação à IA” e que o texto “introduz uma série de incertezas jurídicas para os desenvolvedores de modelos, bem como medidas que vão muito além do escopo da Lei de IA”. Entre as exigências, o código proíbe desenvolvedores de treinar IA em conteúdo pirateado e atende às solicitações dos proprietários de conteúdo para não usar suas obras em seus conjuntos de dados. (TechCrunch)
A Netflix disse ter usado pela primeira vez efeitos visuais criados por inteligência artificial generativa em uma de suas séries originais. O copresidente-executivo da companhia, Ted Sarandos, revelou que a ferramenta foi usada para criar uma cena de um prédio desabando na série argentina O Eternauta. Sarandos afirma que a tecnologia permitiu que produções com orçamentos menores usassem efeitos visuais avançados, como a sequência do desabamento do edifício que foi produzida 10 vezes mais rápido do que se tivessem usado ferramentas tradicionais de efeitos especiais. “O custo disso simplesmente não seria viável para um show com aquele orçamento”, garante. (BBC)
Para ler com calma. Há um abismo nas universidades dos EUA em relação à inteligência artificial. Enquanto o comando das instituições incentiva o uso dessas ferramentas, a maioria dos docentes, especialmente nas ciências humanas, o combate. Professora de escrita criativa em Yale, poeta e editora, Meghan O’Rourke mergulhou no mundo da IA e constatou três coisas: ela (ainda) não é capaz de escrever textos “autorais” de forma convincente; nas tarefas diárias “não criativas”, é uma auxiliar imprescindível; e a relação que se cria com essas ferramentas não é exatamente saudável. (New York Times)
Discutir economia com segurança é também uma forma de participar das escolhas que impactam o país. No novo curso Teoria Econômica para Diálogos Construtivos, Deborah Bizarria apresenta as bases por trás de conceitos econômicos como inflação, juros e crescimento — para quem busca argumentos sólidos e compreensão sem simplismos. Assinantes do Meio têm 30% de desconto no pré-lançamento. Aproveite.