Prezadas leitoras, caros leitores —
PEC da Blindagem enterrada, aprovação da isenção do IR até R$ 5 mil diante da demora da Câmara, recados dados à Casa presidida por Hugo Motta e incertezas sobre o PL da Anistia. Enquanto deputados se atolam no fisiologismo, o Senado veste a fantasia de “adulto na sala” e se coloca como contrapeso institucional. Não foi a primeira vez — de Collor à pandemia, de travas em CPIs a manobras engavetadas, a Casa Alta já encenou esse papel de filtro da democracia.
Na Edição de Sábado, exclusiva para assinantes premium, Giullia Chechia mostra como o Senado voltou a assumir a liturgia, deixando a Câmara com a bomba no colo.
E mais. Leonardo Pimentel analisa a série espanhola “O Refúgio Atômico”, da Netflix, que retrata as interações de um grupo de bilionários confinados em um bunker de luxo após uma guerra nuclear. E Guilherme Werneck entrevista o escritor camaronês Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, curador da Bienal de São Paulo.
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Câmara desiste de votar anistia na próxima semana

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O futuro do projeto de lei da anistia, que busca reduzir as penas de condenados por atos golpistas, parece estar subindo no telhado. O relator da proposta, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), reconheceu que a votação, antes prevista para a próxima terça-feira, dificilmente ocorrerá. Desde que a Comissão de Constituição e Justiça do Senado rejeitou a PEC da Blindagem e a proposta foi arquivada de vez pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), os esforços de Paulinho em buscar consenso no Parlamento não têm tido muito sucesso. A indefinição cresceu ainda mais depois do cancelamento de uma reunião marcada com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e Alcolumbre. Oficialmente, a ausência foi justificada por um compromisso de Alcolumbre com o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso. Nos bastidores, porém, está claro que o clima entre os dois presidentes azedou de vez depois que a PEC da Blindagem, aprovada com folga na Câmara na semana anterior, foi sumariamente enterrada no Senado. Paulinho, por sua vez, tenta recompor apoio. Ele prevê encontros com PSD e PCdoB e negocia com o Senado para aproximar o texto do entendimento do Supremo. Mesmo assim, a proposta, apresentada como uma “anistia restrita”, segue sem base consolidada e enfrenta resistências para avançar no Congresso. (CNN Brasil)
Apesar de ter se sentido traído por Alcolumbre e visto seu poder ser ainda mais enfraquecido como presidente da Câmara, Hugo Motta tratou de minimizar a derrota que amargou nesta semana com o arquivamento da PEC da Blindagem no Senado. Publicamente, o deputado paraibano disse respeitar o presidente do Senado e afirmou ser normal que as duas casas discordem em algumas pautas. “Bola pra frente. A Câmara cumpriu seu papel, aprovou a PEC, e o Senado entendeu que ela não deveria seguir. Vivemos em um sistema bicameral, e cabe respeitar a decisão”, disse Motta. Segundo o presidente da Câmara, ainda não há clima definido para a votação. “Preciso de mais tempo para entender o sentimento da Casa. O relator não conversou com todos os partidos, e eu também não dialoguei com todos os líderes”, afirmou. (g1)
Hugo Motta, no entanto, disse que o impasse em torno do projeto de anistia, também conhecido como o PL da Dosimetria, não terá impacto sobre a votação da reforma do Imposto de Renda, prevista para a próxima quarta-feira. A proposta amplia a faixa de isenção para quem recebe até R$ 5 mil mensais e é uma das prioridades do governo neste semestre. A hipótese de ligação entre os dois temas surgiu após declarações de Paulinho da Força, que, após reunião com a bancada do PT, sugeriu que a análise do projeto de anistia poderia influenciar o calendário da reforma do IR. Motta refutou a leitura: “Garanto a pauta do IR para quarta-feira. Não há vinculação dessa pauta com nenhuma outra. A matéria está madura”, disse. (Valor)
Enquanto isso, nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro decidiu dobrar a aposta. Em um encontro em Miami com o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), o deputado afirmou que sua atuação para que o governo de Donald Trump aplique sanções contra o Brasil e autoridades brasileiras só vai aumentar caso o Congresso aprove um projeto que não conceda anistia absoluta ao seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Eduardo estava acompanhado do blogueiro Paulo Figueiredo, seu parceiro na articulação junto a autoridades americanas. (Globo)
No Congresso, líderes do Centrão demonstram irritação com Eduardo Bolsonaro e avaliam que o deputado pode implodir o acordo em construção para reduzir as penas dos condenados pelos atos golpistas. No X, o filho 03 de Bolsonaro disse estar disposto a ir às últimas consequências para garantir a anistia ao pai. “Será vitória ou vingança, mas não haverá submissão”, escreveu. (g1)
O Centrão não é o único irritado. Segundo Malu Gaspar, Jair Bolsonaro, que está em prisão domiciliar, tem pedido a interlocutores que o visitam para convencerem Eduardo a baixar o tom da beligerância. Seu maior temor é que a troca de farpas entre o filho e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, faça o partido afrouxar o empenho pela anistia e inviabilize a inclusão de um nome da família na chapa presidencial para o ano que vem. (Globo)
As manobras no Parlamento para tentar blindar deputados e senadores de investigações e, de alguma forma, anistiar o ex-presidente Jair Bolsonaro estão fortalecendo a aprovação popular do governo do presidente Lula. Neste mês de setembro, o governo teve a aprovação de 50% dos brasileiros, de acordo com levantamento do instituto Pulso Brasil/Ipespe divulgado nesta quinta-feira. O índice ultrapassa, pela primeira vez no ano, a desaprovação, que caiu para 48%. A pesquisa ouviu 2.500 pessoas entre 19 e 22 de setembro, com margem de erro de dois pontos percentuais, e foi capaz de captar os impactos da aprovação, na Câmara, da PEC da Blindagem e da aprovação da urgência do PL da Anistia. Em julho, a rejeição ao governo era maioria, com 51%. O estudo ainda não captou a repercussão da troca de afagos entre Lula e Donald Trump na Assembleia Geral da ONU. Enquanto o Planalto ganhou fôlego, o Congresso saiu arranhado: sete em cada dez brasileiros desaprovam a atuação da Câmara. O Senado, por sua vez, manteve índices relativamente estáveis: 26% de aprovação e 59% de reprovação. (Valor)
Apesar das promessas de um encontro na próxima semana, até agora as equipes diplomáticas de Brasil e Estados Unidos ainda não definiram uma data ou mesmo a pauta de uma conversa entre Lula e Trump. A expectativa era de que a chancelaria dos dois países iniciasse tratativas imediatamente após o encontro cordial entre os dois presidentes, mas até esta quinta-feira não houve qualquer contato. Apesar do otimismo no Planalto, o Itamaraty tem recomendado cautela e lembrado que Trump é imprevisível e que o gesto de aproximação não pode ser aceito “pelo valor de face”. A expectativa dos diplomatas brasileiros é de que as tratativas comecem a andar o mais rápido possível, para que a conversa ocorra, de fato, na próxima semana. (g1)
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Cotidiano Digital
O presidente Donald Trump assinou nesta quinta-feira uma ordem executiva que aprova um acordo para manter o TikTok nos Estados Unidos, em uma transação avaliada em US$ 14 bilhões, segundo o vice-presidente JD Vance. Os termos, que ainda precisam ser aprovados pela China, incluem uma nova joint venture, que supervisionará os negócios do TikTok nos EUA, com a ByteDance mantendo menos de 20% de participação. Oracle, Silver Lake e o fundo de investimento MGX, sediado em Abu Dhabi, serão os principais investidores, controlando uma participação de aproximadamente 45% da companhia. Trump afirma que o presidente chinês, Xi Jinping, deu sinal verde para o acordo. (CNBC)
Meio em vídeo. Pedro Doria e Cora Rónai conversam sobre a relação de Donald Trump com os grandes donos de empresas no Vale do Silício. No Pedro+Cora, eles falam sobre o motivo das companhias elogiarem o governo de Trump, mesmo discordando de suas atitudes, e como o presidente americano tem o futuro da rentabilidade de grandes empresas nas mãos. Assista. (YouTube)
A Microsoft suspendeu o acesso do Ministério da Defesa de Israel a parte de seus serviços em nuvem depois de descobrir que a tecnologia vinha sendo usada para vigiar civis em Gaza. A prática viola as regras de uso da empresa, segundo pessoas ligadas à investigação, que ainda está em andamento. O presidente da companhia, Brad Smith, afirmou em comunicado que a decisão segue o princípio de proteger a privacidade como um direito fundamental e de manter a confiança dos clientes. Apesar disso, ele disse que a Microsoft continuará apoiando Israel em questões de cibersegurança. O governo israelense não comentou o caso. (WSJ)
Um relatório produzido por grupos de defesa da segurança infantil, apoiado por pesquisadores da Northeastern University, afirma que vários recursos de segurança que a Meta afirmou ter implementado para proteger usuários jovens no Instagram ao longo dos anos não funcionam bem ou, em alguns casos, não existem. Dos 47 recursos testados, apenas oito eram completamente eficazes. Os demais apresentavam falhas, “não estavam mais disponíveis ou eram substancialmente ineficazes”. A Meta chamou as descobertas de errôneas e enganosas. (Reuters)
Viver
Uma análise feita pelo Unicef, com base no Censo Escolar da Educação Básica 2024, mostra que o Brasil tem 4,2 milhões de alunos da educação básica com dois ou mais anos de atraso escolar. O número representa cerca de 12,5% dos mais de 33 milhões de alunos da rede pública do país. Apesar de alto, o índice é menor que os 13,4% apresentados em 2023. Segundo os dados divulgados nesta quinta-feira, o atraso atinge mais os alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental ou 1,8 milhão, contra 1,03 milhão dos que estão na etapa inicial, do 1º ao 5º ano. (Folha)
Enquanto isso… O Anuário Brasileiro da Educação Básica, divulgado pelo Todos Pela Educação, aponta que um terço dos municípios brasileiros não paga o piso salarial para os professores de escolas públicas. Enquanto no Sudeste, região mais rica do país, 45% das cidades ignoram o salário inicial, de R$ 4,8 mil por 40 horas semanais de trabalho, as regiões Nordeste e Norte são as que mais garantem o piso, em 80% e 73% dos municípios, respectivamente. (Globo)
A Fifa apresentou os três mascotes da Copa do Mundo de 2026, que será realizada na América do Norte. Representando o Canadá, Maple the Moose é um alce que leva o nome da folha presente na bandeira do país; pelos Estados Unidos, Clutch the Bald Eagle é uma águia careca, um dos símbolos nacionais; e Zayu the Jaguar é o felino marcante da cultura mexicana. (ge)
Cultura
O Rio de Janeiro terá um fim de semana de celebração da melhor música brasileira, com o festival Doce Maravilha no Jockey Club. Em três dias, o evento receberá o rock de Nando Reis & Samuel Rosa e da banda Dead Fish, além de grandes nomes da MPB, como Ney Matogrosso, Marisa Monte e Jards Macalé. Em São Paulo, o CineSesc traz uma mostra para celebrar os 80 anos do cineasta alemão Win Wenders. O destaque é uma cópia em 4k de Paris, Texas, entre outros títulos variados. Ainda tem a 12ª edição da Mostra 3M de Arte, no Jardim da Luz, e um híbrido entre música e teatro no Sesc 24 de Maio. Leia todas as sugestões no site do Meio.
A Câmara Brasileira do Livro divulgou os semifinalistas da 67ª edição do Prêmio Jabuti em 23 categorias. Entre os destaques dos pré-selecionados, estão Chico Buarque e sua autoficção Bambino a Roma, e Jeferson Tenório com De Onde Eles Vêm, na categoria de romance literário. Em crônicas, Ruy Castro concorre pela coletânea sobre Tom Jobim, O Ouvidor do Brasil. Os finalistas serão anunciados no dia 7 de outubro. Para celebrar o título de Capital Mundial do Livro pela Unesco, a cerimônia de premiação acontecerá no Rio de Janeiro, em 27 de outubro, no Theatro Municipal. (Folha)
A gravadora Biscoito Fino está lançando um single triplo de Gal Costa com gravações extraídas de seu último show no Coala Festival em 2022. Antecipando o álbum As Várias Pontas de uma Estrela (Ao Vivo no Coala), que chega em formato digital e audiovisual em 17 de outubro, o lançamento desta quinta-feira antecipa as faixas Como 2 e 2, Vapor Barato e Brasil, registros que trazem participações especiais da apresentação no Memorial da América Latina, em São Paulo. Os singles também celebram a vida e carreira da cantora, que completaria 80 anos nesta sexta-feira. (Rolling Stone)
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