Prezadas leitoras, caros leitores —
Se nós, brasileiros, nos dividimos em bolhas, como nos acostumamos a dizer, então elas são nove. O número não é um chute, ele vem de uma extensa e profunda análise de valores da sociedade brasileira. Quase 10 mil entrevistas realizadas pelo Instituto Quaest a pedido do Grupo Globo. O estudo, até agora trancado a sete chaves, foi tornado público com o lançamento de “O Brasil no Espelho”, novo livro do cientista político Felipe Nunes.
A bolha da qual mais falamos é na verdade a menor — a extrema direita tem tamanho. Representa os 3% dos brasileiros que realmente preferiam um regime autoritário. Este achado não é a única surpresa. Muitos que são claramente de esquerda compartilham de valores conservadores, um conservadorismo que não vem do nada. A experiência de ser brasileiro é uma difícil, dura. Para o brasileiro típico, a vida é instável e por isso ele deseja o conforto de muitas regras, tão rígidas quanto possível.
Para a Edição de Sábado, Pedro Doria entrevistou com exclusividade Felipe Nunes, que explica esses números e os recados que eles nos trazem. Os assinantes premium podem também assistir à íntegra da conversa no streaming do Meio.
Mas não é só isso. Giullia Chechia mostra como a extrema direita, tirada do centro do debate pela briga dos presidentes da Câmara e do Senado com o governo, busca desesperadamente caminhos para manter viva a esperança de anistia aos condenados pela trama golpista. E Guilherme Werneck fala dos novos trabalhos da atriz Maria Manoella, o monólogo “Escute as Feras”, baseado no livro de Nastassja Martin, e a exposição “Onda Avalanche Vulcão”.
Assine o Meio premium e tenha a informação que você não vê em qualquer lugar.
Os editores.
Sob o comando de Alcolumbre, Congresso derruba vetos ao ‘PL da Devastação’
Receba as notícias mais importantes no seu e-mail
Assine agora. É grátis.
Menos de uma semana depois de o Brasil sediar a COP30, o Congresso impôs um retrocesso inédito nas políticas de proteção ambiental na história recente do país. Em sessão conjunta, deputados e senadores derrubaram uma série de vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao chamado “PL da Devastação” e restauraram dispositivos que flexibilizam o licenciamento ambiental, criticados pelo Planalto e por entidades ambientalistas. Com a decisão, volta a valer a autorização para que empreendimentos de baixo e pequeno impacto obtenham licenças por adesão e compromisso (LAC), processo simplificado que, segundo o governo, pode beneficiar obras com risco relevante, como barragens de rejeito. Também foi restabelecida a dispensa de licença ambiental para obras de saneamento básico até o cumprimento das metas de universalização. Parlamentares ainda retomaram trechos que isentam manutenção de rodovias de licenciamento, liberam atividades rurais em áreas com problemas jurídicos e restringem consultas a povos indígenas e quilombolas apenas a terras homologadas ou tituladas. Houve também redução de proteções para matas primárias e secundárias da Mata Atlântica. (g1)
Confira como votou cada parlamentar e o que muda no licenciamento ambiental após a derrubada dos vetos. (g1)
Com a derrubada dos vetos, Alcolumbre elevou a pressão sobre o Palácio do Planalto e passou a cobrar cargos estratégicos em troca de abrir caminhos ao governo na Casa. Segundo aliados e integrantes do governo, ele quer o comando de órgãos como Banco do Brasil, Banco do Nordeste (BNB), Cade e CVM. Lula está disposto a conceder parte do espaço pedido, já que seu o foco é garantir a aprovação de Jorge Messias para o STF. A sabatina está marcada para 10 de dezembro, e o presidente pretende conversar pessoalmente com Alcolumbre nos próximos dias para tentar assegurar apoio. O presidente do Senado queria a vaga para seu antecessor, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e a indicação de Messias detonou seu rompimento com o governo. (Metrópoles)
Mas Planalto ainda não aceitou a derrota nos vetos. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que o governo estuda alternativas como decretos, portarias e ações no STF para tentar reverter trechos restabelecidos pelo Congresso, que ampliam flexibilizações no processo de licenciamento. Gleisi lamentou o resultado da votação e afirmou que o governo já vinha tentando negociar mudanças com o Legislativo havia meses. O embate reacendeu a disputa entre setores econômicos e ambientalistas após a retomada de pontos da proposta considerada um retrocesso por organizações da área. (UOL)
Já as empresas de infraestrutura comemoraram. Embora criticado por ambientalistas, o projeto recuperou trechos considerados fundamentais pelo setor privado, como a dispensa de licenciamento para obras de manutenção em rodovias já pavimentadas e para dragagens em portos e hidrovias. (CNN Brasil)
Leonardo Sakamoto. “Deputados e senadores esperaram o fim da COP30, a cúpula do ONU sobre o clima, em Belém, para ajudar quem busca o lucro fácil em detrimento da coletividade”. (UOL)
Vera Magalhães: “A facilidade de arregimentar maiorias e impor derrotas, algumas delas amargas, ao governo pode dar aos presidentes da Câmara e do Senado a impressão de que saem vitoriosos dos embates, mas a conta de perdas e ganhos com a manutenção desse ambiente não é tão simples como parece.” (Globo)
Pressionado pela operação da Receita Federal para desmontar um esquema bilionário de sonegação e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis ligado ao Grupo Refit, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tirou da gaveta o projeto o projeto que pune devedores contumazes. O texto, que teve a urgência aprovada pelo plenário há 28 dias, diferencia inadimplentes eventuais de empresas que estruturam esquemas de sonegação. Ele também anunciou os relatores de medidas contra fraudes no setor de combustíveis. (Globo)
A operação da Receita contra o Grupo Refit cumpriu 126 mandados de busca em cinco estados. A empresa é apontada como o maior devedor contumaz do país, com mais de R$ 26 bilhões em débitos. As investigações mostram que o grupo movimentou mais de R$ 70 bilhões em um ano por meio de importadoras, distribuidoras, postos e uma rede de empresas financeiras e offshores que ocultavam os beneficiários das fraudes, além de ter importado R$ 32 bilhões em combustíveis entre 2020 e 2025, muitos deles com falsa declaração. (CNN Brasil)
O PL suspendeu as funções partidárias e a remuneração do ex-presidente Jair Bolsonaro, após a perda de seus direitos políticos decorrente da condenação no Supremo Tribunal Federal. A sigla informou que cumpre exigências previstas na Lei dos Partidos Políticos e em decisões da Justiça Eleitoral. Segundo o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, a suspensão “é a lei”. Bolsonaro, que ocupava o cargo de presidente de honra do PL e recebia salário como dirigente político, fica impedido de exercer qualquer atividade na legenda enquanto durarem os efeitos da condenação criminal. (g1)
Bolsonaro recebeu nesta quinta a visita de seu quarto filho, Jair Renan. Segundo ele, seu pai teve uma nova crise de soluços nesta quinta-feira e precisou ser atendido na cela da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, onde está preso desde sábado. Segundo relatos da defesa e dos filhos, o quadro se intensificou durante a madrugada e foi acompanhado de episódios de refluxo. A família relata que Bolsonaro tem se alimentado pouco e está emocionalmente abalado. (Globo)
Último dia para aproveitar a Black Friday do Meio! Para atravessar as eleições bem-informado e ter acesso ao melhor que a gente produz, esta é a chance. Por apenas R$ 120 no plano anual, você recebe duas newsletters especiais com reportagens e entrevistas, bastidores de Brasília e ainda acessa nosso streaming, com produções que ajudam a entender o país para além do noticiário. Assine agora e acompanhe as eleições com informação que realmente importa.
Viver
A implementação da tarifa zero nos ônibus de 706 cidades brasileiras em 2026 custaria R$ 78 bilhões, segundo estudo divulgado nesta quarta-feira pela Frente Parlamentar em Defesa da Tarifa Zero. O valor representa um aumento de cerca de 20% em relação ao custo atual do sistema, estimado em R$ 65 bilhões. O cálculo inclui apenas o transporte por ônibus. Metrôs e trens, que somam cerca de R$ 15 bilhões ao ano, ficaram fora da projeção. Coordenado pelo Instituto de Ciência Política da UnB o estudo defende que a principal fonte de financiamento do novo modelo seria a reformulação do vale-transporte. A criação da chamada Contribuição para a Disponibilização do Transporte Público (CTP) poderia gerar R$ 80 bilhões, valor suficiente para cobrir a operação. Críticos apontam dificuldades na implementação, risco de repasses aos salários, entraves à formalização e falta de transparência nos custos das empresas. Já defensores dizem que a tarifa zero traria ganhos sociais, econômicos e ambientais, ampliando deslocamentos e reduzindo desigualdades. (Folha)
A Polícia Federal deflagrou uma operação contra uma rede de profissionais de saúde, clínicas e laboratórios suspeitos de produzir ilegalmente versões manipuladas do medicamento Mounjaro, usado para emagrecimento. Foram cumpridos 24 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro. Segundo a PF, o grupo fabricava tirzepatida — princípio ativo do Mounjaro — em larga escala, sem autorização sanitária ou licença de patente, operando como se fosse a própria indústria farmacêutica. O esquema teria movimentado laboratórios clandestinos e vendido os produtos sem controle de qualidade. Carros de luxo, relógios e até aviões registrados em nome de laranjas foram apreendidos. O principal alvo é o médico baiano Gabriel Almeida, que atua em São Paulo e comercializava o “tratamento” pelas redes sociais. (g1)
Quem segue uma alimentação baseada em “comida de verdade” não precisa se preocupar obsessivamente com proteínas, vitaminas, minerais ou fibras. A avaliação é de Marion Nestle, uma das maiores especialistas em nutrição do mundo, que esteve no Brasil e elogiou a culinária local. Para ela, o tradicional prato de arroz, feijão, carne e salada é completo, mas a questão central, diz, é a quantidade consumida. Aos 89 anos, doutora em biologia molecular, mestre em saúde pública e professora emérita da Universidade de Nova York (NYU), Marion critica a influência da indústria alimentícia nas políticas públicas dos EUA e no aumento da obesidade infantil. Segundo a pesquisadora, empresas multibilionárias dificultam a vida dos pais ao convencer crianças de que precisam de produtos feitos “especialmente para elas”, quase sempre ultraprocessados. (Estadão)
Meio em vídeo. Qual é a sua comfort food? No episódio 12 do Dou-lhe Duas, Flávia Tavares e Pietra Príncipe conversam sobre sua relação com a comida e como as emoções influenciam na alimentação. Além disso, desabafam sobre o desejo por magreza e a febre dos remédios para emagrecer. (YouTube)
Cultura
Com Maria Bethânia lendo poemas, começa hoje a primeira Festa Literária da Casa de Rui Barbosa, a FliRui, que ocupa o fim de semana no Rio com debates, slam, oficinas e participação de nomes como Ailton Krenak, Bia Lessa, Amara Moira e André Dahmer. Também na cidade, Borda, novo espetáculo de Lia Rodrigues Companhia de Dança, encerra o Festival Panorama com sessões sexta e sábado no João Caetano, a R$ 20. A Cidade do Samba recebe, de sexta a domingo, desfiles e shows gratuitos pelo Dia Nacional do Samba, com Zeca Pagodinho e Paraíso do Tuiuti, Vila Isabel, Grande Rio e Salgueiro no domingo. Em São Paulo, a Casa de Francisca celebra os 25 anos da YB com samba instrumental no almoço, Pagode da Várzea no Largo e, à noite, shows de Blubell, Lulina, Kaboom 23, Rômulo Fróes, Nina Becker, Bruna Alimonda e Paulo Tó. Mais dicas estão no site do Meio desta semana.
O ator Kevin Spacey enfrentará três novas ações civis por agressão sexual em Londres em 2026. Três homens afirmam ter sido atacados por ele entre 2000 e 2013, e o Tribunal Superior sugeriu um julgamento para 12 de outubro de 2026, ainda indefinido se em um único processo ou em três casos separados. Spacey, absolvido em 2023 em um julgamento criminal no Reino Unido, nega todas as acusações, sendo que duas das ações já foram contestadas formalmente, e a terceira ainda aguarda resposta. (Variety)
O Louvre vai subir o preço dos ingressos para visitantes de fora da União Europeia a partir de 14 de janeiro de 2026. A partir desta data, o ticket custará €32, uma alta de 45%, com expectativa de render até €20 milhões por ano para bancar reformas no museu mais visitado do mundo, que ainda tenta se reerguer do roubo de joias avaliado em US$ 102 milhões em outubro. A direção diz que o novo valor é necessário para enfrentar problemas estruturais, mas sindicatos criticaram a diferenciação de preços e alertaram para o risco de que a medida seja vista como discriminatória. (Le Monde)
Cotidiano Digital
Mais de 700 vídeos do youtuber Felipe Neto aparecem na YT-Temporal-180M, uma coleção de 5,4 milhões de publicações do YouTube usada no treinamento de inteligências artificiais do Google, Microsoft, Baidu e outras empresas sem autorização dos criadores. Esse processo viola as regras da plataforma ao permitir a raspagem automática de conteúdo protegido por direitos autorais. A base também inclui vídeos de alguns dos maiores canais do país, como KondZilla, Maria Clara & JP, além de materiais jornalísticos de veículos como Veja e Correio do Povo. O YouTube afirma que criadores controlam o uso de seus dados e que o Google utiliza o conteúdo para melhorar produtos de IA. (Folha)
A União Europeia chegou a um acordo para endurecer as regras contra fraudes digitais, obrigando bancos e prestadores de serviços de pagamento a reembolsar clientes sempre que falharem na prevenção de golpes e a congelar transações suspeitas. As plataformas online também passam a responder por anúncios fraudulentos que não forem removidos, arcando com custos que hoje recaem apenas sobre os bancos. O pacote ainda exige que o atendimento ao cliente tenha suporte humano, e não apenas chatbots. O texto agora precisa da aprovação formal do Parlamento Europeu e dos Estados-membros para entrar em vigor. (Reuters)
Meio em vídeo. No novo episódio de Pedro+Cora, os jornalistas Pedro Doria e Cora Rónai recebem Juliana Felippe, Diretora Geral da Tools for Humanity, para uma conversa sobre o projeto que escaneia e fotografa a íris de seres humanos em troca de criptoativos. No papo, falam sobre o caos instalado na internet que dividiu opiniões sobre vender imagens da íris, qual a ideia global do projeto da World ID e desmistificam a polêmica do roubo e vazamento de dados. Saiba tudo sobre o assunto. (YouTube)
A partir de janeiro, o Meio vai ter uma pesquisa eleitoral. A Pesquisa Meio Ideia vai buscar, todos os meses até o final do segundo turno, sentir o pulso do eleitor brasileiro: para onde ele se inclina e o que está buscando quando escolhe um candidato. Assinantes do Meio Premium recebem cada edição em primeira mão, em PDF, assim que os dados são liberados pelo TSE. Ainda não é Premium? Hoje é o último dia para aproveitar o desconto de Black Friday: o plano anual está por apenas R$ 120. Quem é Meio Premium acompanha a eleição na palma da mão. A hora é agora.
