O Meio utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência. Ao navegar você concorda com tais termos. Saiba mais.
Assine para ter acesso básico ao site e receber a News do Meio.

A suíte Cosby: o caso de assédio na Blizzard

Nós sabemos que o ambiente gamer é tóxico e amplamente sexista, mas isso tem um fim? Em agosto de 2014, um pouco antes do termo ‘cancel culture’ (cultura do cancelamento) se popularizar no Twitter, a hashtag #GamerGate ganhou visibilidade. O ‘movimento’ atacava mulheres na indústria do videogame, mais especificamente duas desenvolvedoras e uma crítica feminista; Zoe Quinn, Brianna Wu e Anita Sarkeesian.

Os ataques eram em essência sexistas, e os participantes ameaçavam as mulheres da indústria de estupro, morte e vazamento de informações íntimas. Um dos motivos do cancelamento ter começado foi um jogo independente de Zoe Quinn que fez muito sucesso na mídia. Com isso, um de seus ex-namorados fez um post com falsas acusações sobre Quinn ter tido relacionamentos com jornalistas para sua criação ser bem-recebida.

Foi uma campanha de assédio em massa que atacou diversas mulheres. A resposta da indústria na época? Notas de repúdio, reportagens extensas falando sobre a “toxicidade da comunidade do videogame” e alguns discursos de produtoras declarando apoio a quem sofreu algum ataque. Em resumo, nada que promovesse alguma mudança. Um dos discursos aconteceu na BlizzCon, conferência da própria Activision Blizzard para divulgar seus jogos. O então presidente e cofundador da empresa, Mike Morhaime, falou emblematicamente sobre como aquele evento era positivo e respeitoso e que um “grupo pequeno de pessoas estava fazendo coisas horrorosas e destruindo a nossa reputação como gamers”. Mas essa reputação algum dia foi boa?

Esse ano, a Activision Blizzard confirmou que não somente os jogadores são sexistas, como também a sua cultura empresarial é. Em julho, centenas de trabalhadores da empresa se juntaram num ‘walkout’ – um tipo de greve. O motivo foi a falta de resposta da companhia para as diversas alegações de abusos sexuais. O Estado da Califórnia processou a Activision Blizzard após uma investigação do Department of Fair Employment and Housing (Departamento de Justiça no Trabalho e Habitação). Uma das consequências do processo foi um acordo com a Equal Employment Opportunity Commission (Comissão de Oportunidades Iguais de Empregabilidade). A Blizzard concordou em estabelecer um fundo de US$18 milhões para compensar as vítimas de assédio sexual e discriminação de gênero no estúdio.

Uma das vozes desse movimento é de Christine, que, ao lado de sua advogada Lisa Bloom, está denunciando o comportamento e a cultura sexista da empresa. Bloom também foi a advogada de defesa das vítimas do caso do Jeffrey Epstein – bilionário americano condenado por estupro e até tráfico de crianças.

Mas a companhia precisa mudar por dentro. Apenas 20% de sua equipe é composta por mulheres. Todos os cargos de liderança são de homens brancos, mulheres são mais demitidas e menos promovidas. Entre a cultura sexista, mulheres comentaram no processo a existência de “cube crawls” – onde homens entravam nos escritórios das mulheres para agarrá-las em suas mesas. Além disso, no processo, mencionaram a “Cosby Suite” – um quarto de hotel onde trabalhadores homens se juntavam para assediar as mulheres em eventos empresariais. Fotos mostram vários desenvolvedores deitados numa cama de hotel com a foto do ator e comediante BIll Cosby, acusado de estupro por aproximadamente 60 mulheres. A resposta do CEO, Bobby Kotick, ao processo foi apenas que iria ‘escutar melhor as mulheres da empresa’. Após a revelação do processo pelo Wall Street Journal, centenas de mulheres começaram a denunciar outros comportamentos machistas dentro da empresa com fotos, histórias e prints de conversas. Inclusive, foi relatado que o leite materno de mulheres em puerpério que retornavam ao trabalho era roubado pelos colegas.

Dessa vez, os trabalhadores cansaram. O processo veio aparentemente ‘do nada’, depois de anos de investigação. Após o GamerGate e a aparência de que o clima não mudaria, os trabalhadores da Activision Blizzard se uniram e estão em greve desde a última segunda-feira. A empresa, porém, não pagará salários de quem permanecer em greve após esta quarta-feira. Por isso, os trabalhadores realizaram uma vaquinha online – com meta de US$1 milhão. O objetivo da greve é sindicalizar os trabalhadores. Jessica Gonzalez, organizadora da greve e da vaquinha, disse ao Washington Post que os trabalhadores merecem mais e que Bobby Kotick segue os ignorando. Ela já se demitiu, e seu último dia no estúdio foi sexta-feira.

O timing da greve foi para coincidir com o maior evento de tapete vermelho da indústria, The Game Awards. Criado em 2014 pelo jornalista canadense Geoff Keighley, o evento não só premia os melhores jogos e criadores do ano, como também mostra trailers e gameplays inéditos de próximos lançamentos. Na abertura edição deste ano, no dia 8 de dezembro, Keighley fez um discurso condenando o abuso da indústria, de forma vaga. O que não foi vago foram seus tweets e o fato de que removeu toda a participação da Activision Blizzard do seu evento.

O banimento da empresa do evento não apaga o fato de que ela ainda é um membro da Fortune 500 e incrivelmente bem-sucedida, com títulos como Diablo, World of Warcraft, Overwatch e Call of Duty. Mas agora, finalmente, pessoas decidiram dar um passo à frente para que o sexismo no mundo gamer seja punido.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.

Já é assinante premium? Clique aqui.

Este é um conteúdo Premium do Meio.

Escolha um dos nossos planos para ter acesso!

Premium

  • News do Meio mais cedo
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*
ou

De R$ 180 por R$ 150 no Plano Anual

Premium + Cursos

  • News do Meio mais cedo
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*
ou

De R$ 840 por R$ 700 no Plano Anual

*Acesso a todos os cursos publicados até o semestre anterior a data de aquisição do plano. Não inclui cursos em andamento.

Quer saber mais sobre os benefícios da assinatura Premium? Clique aqui.