O Meio utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência. Ao navegar você concorda com tais termos. Saiba mais.
Assine para ter acesso básico ao site e receber a News do Meio.

Existe vida além do Spotify

Receba as notícias mais importantes no seu e-mail

Assine agora. É grátis.

“O que eles chamam de lealdade e fidelidade, eu chamo de letargia do hábito ou falta de imaginação.” Lembrei dessa frase irônica de O Retrato de Dorian Gray, do Oscar Wilde, ao repassar a minha própria procrastinação em relação ao uso do Spotify. Como num casamento em crise, há anos eu já não estava totalmente feliz com a minha opção de ter migrado para o serviço de streaming sueco. Coisa que fiz 2015, depois que a Rdio, minha noiva preferencial, foi vendida para a Pandora e me deixou na rua da amargura. Como sempre fui um pouco glutão, à época o Spotify parecia a melhor opção, com seu catálogo que só crescia e um plano familiar que atendia bem às minhas necessidades de pai de três meninos criados numa dieta musical farta.

Ao longo dos anos, confesso que fui ficando menos feliz. Mas já estava enredado naquele universo e, como num casamento morno, preferia ignorar alguns defeitos do meu parceiro. Mudar parecia custoso, difícil e sem grandes vantagens. Assim fui relevando a baixa qualidade dos streamings, o crescimento do jabá na plataforma, as indicações que não tinham nada a ver com o meu gosto musical, a baixa remuneração dos artistas, coisa, aliás, que já havia sido denunciada por músicos que admiro, como Neil Young e Thom Yorke, e por outros que respeito, como Taylor Swift. Em que pese o fato de que os três chegaram a retirar suas músicas da plataforma e depois voltaram atrás.

Essa história, inclusive, está em um dos livros mais interessantes sobre a indústria da música lançados neste ano, Mood Machine, da jornalista Liz Pelly. O livro define o Spotify como uma empresa de tecnologia e publicidade focada em maximizar o engajamento através do consumo passivo, transformando a música em conteúdo utilitário para preencher momentos cotidianos, o que ela astutamente batizou de neo-Muzak. Conta das estratégias de corte de custos com royalties, que passam pela inclusão em playlists de música genérica e barata feita por “artistas fantasmas”, incluindo aí criações com inteligência artificial, sem que o devido crédito seja dado. E ainda mostra como funciona o sistema de remuneração e o uso do Discovery Mode, espécie de jabá digital em que artistas têm de aceitar uma redução nos royalties em troca de promoção pelos algoritmos, reforçando a dependência da plataforma e a exploração do trabalho criativo.

Como cubro música há muitos anos, nada disso era novidade para mim, mas o que me fez decidir partir para o divórcio foi um sentimento mais profundo de traição. Música é possivelmente a paixão mais viva que cultivo e, ao saber que o CEO do Spotify, Daniel Ek, havia investido € 600 milhões de na startup militar alemã Helsing, que usa inteligência artificial para “defesa”, decidi que o Spotify não precisava mais da minha assinatura familiar. Uma questão íntima de consciência. Meu amor pela música é tão intenso quanto meu horror pela guerra.

Não fui o único. Neste ano, alguns artistas que admiro seguiram o mesmo caminho. A banda indie californiana Deerhoof anunciou a retirada das suas músicas do catálogo em junho, seguido nos meses posteriores pela turma experimental do Xio Xio, pela banda psicodélica australiana King Gizzard & The Lizard Wizard, pelo grupo de pós-rock canadense Godspeed You Black Emperor! e pelos os papas do trip hop Massive Attack.

Em outubro, o movimento anti-Spotify ganhou mais fôlego com a plataforma rodando campanhas de anúncio de recrutamento para o ICE, polícia dos serviços de imigração e fronteiras dos Estados Unidos, que tem sido a face mais brutal da escalada do governo Trump contra imigrantes. Se bem que, para fazer justiça, Max e Pandora também rodaram os anúncios em suas plataformas.

Hoje o Spotify se consolidou como o maior serviço de streaming do mundo. Dados deste semestre mostram a sua posição em primeiro lugar com 696 milhões de usuários ativos mensais e 276 milhões de assinantes. Mas existe vida além do Spotify, e a migração é bem tranquila. Em dez anos de uso intenso, eu havia acumulado um número gigantesco de playlists e músicas favoritas e, ao migrar para o Tidal, que foi o serviço que escolhi por conta da qualidade do áudio e do pagamento dos artistas, menos de 10% da minha biblioteca musical foi perdida no processo.

Neste ponto vale lembrar que, se perdi um tanto na migração, ganhei acesso a músicas que não estavam no catálogo do Spotify. Pensando em ajudar quem também gostaria de fazer essa travessia, segue uma lista dos serviços de streaming de música com as informações mais relevantes para os seus ouvidos, seu bolso e sua consciência.

Aqui o foco são concorrentes diretos do Spotify, mas vale lembrar que existem serviços complementares. O Soundcloud continua sendo uma das melhores alternativas para descobrir artistas novos, que ainda não chegaram ao streaming, e o Bandcamp é a melhor opção para quem quer comprar música e remunerar decentemente os artistas pela sua produção no mundo digital.

Vamos à lista:

Amazon Music
Embora quem seja assinante do Amazon Prime ganhe uma versão gratuita do Amazon Music, ele não é um serviço muito utilizado por aqui, mesmo com um acervo de mais de 100 milhões de músicas. Em termos de qualidade de áudio, disponibiliza todo o seu catálogo em qualidade HD e Ultra HD (superior à de CD) para assinantes de planos pagos. São dois planos mensais. O individual (R$ 21,90) e o família (R$ 34,90). Para o artista, paga US$ 0,004 por stream.

Apple Music
Para usuários de iPhone, é uma boa opção. Também tem um catálogo de mais de 100 milhões de músicas. A qualidade do áudio é um ponto alto, pois oferece Lossless Audio (qualidade de CD ou superior) e Spatial Audio sem custo adicional em todos os seus planos. São três planos mensais. O individual (R$ 21,90), o família (R$ 34,90) e o universitário (R$ 11,90). Para o artista, paga US$ 0,01 por stream.

Deezer
A empresa francesa é a concorrente mais tradicional do Spotify. Tem como estratégia utilizar parcerias de grande escala com operadoras de telecomunicações e outros provedores de serviço para oferecer seu plano Premium de graça. Tem um catálogo de mais de 90 milhões de músicas. Em termos de qualidade, oferece Lossless Audio para assinantes. Tem os planos premium (R$ 24,90) e família (R$ 39,90). Paga US$ 0,0064 por stream.

Qobuz Studio
Outra francesa, mais nova no mercado brasileiro, é das melhores opções tanto em qualidade de áudio como em remuneração para artistas. Oferece mais de 100 milhões de faixas em Lossless Audio e um dos maiores catálogos em alta definição. Os planos são Solo (R$ 21,90), Duo (R$ 29,90), Família (R$ 34,99) e Estudante (R$ 9,99). Paga US$ 0,018 por stream.

Tidal
Fundado por Jaz-Z com a preocupação de remunerar melhor os artistas e oferecer uma boa qualidade de áudio, o Tidal tem um catálogo de mais de 90 milhões de músicas. Em termos de qualidade, compete com o Qobuz Studio, e oferece a qualidade mais alta, incluindo Master Quality (MQA). Os planos são Individual (R$21,90), Família (R$ 34,90) e Estudante (R$ 10,90). Aos artistas, paga US$ 0,0125 por stream.

YouTube Music
É tipicamente citada com uma das taxas mais baixas de remuneração de artistas, estimada em US$ 0,002 por stream. Também tem um catálogo de mais de 100 milhões de músicas, mas a pior qualidade de áudio, chegado a mp3 de 256 kbps. Tem três planos: o Premium (R$ 21,90), o Família (R$ 34,90) e o Estudante (R$ 11,90).

Uma vez escolhido o novo streaming, vale a pena pensar em um assistente para fazer a migração de sua biblioteca e playlists. Existem três serviços pagos semelhantes, o Tune My Music, o Soundiiz e o Free Your Music. Todos oferecem backup das suas playlists na nuvem, e os dois primeiros permitem que você consiga testá-los gratuitamente. Mas se você quiser fazer algo mais pontual, vale pagar apenas um mês e resolver o seu problema de forma mais barata. Aí o melhor é o Tune My Music. E, claro, existe sempre a opção de um começo novo, sem transferir nada. Vai do nível de psicopatia musical da cada um.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.

Esta é uma matéria para assinantes premium.
Já é assinante premium? Clique aqui.

Meio Premium: conteúdo pensado para leitores influentes

Quem toma decisões – seja na vida corporativa, profissional ou pessoal – precisa estar bem informado. Assinantes do Meio Premium recebem reportagens, análises e entrevistas que esclarecem os temas mais complexos da atualidade. Os últimos avanços tecnológicos, a geopolítica mundial, a crise climática – não há assunto difícil para o Meio.

Edição de 13/12/2025
EDIÇÃO DE SÁBADO

Uma newsletter elaborada com cuidado durante a semana, sempre com temas importantes e um olhar inovador e aprofundado sobre eles. Política, comportamento, cultura, vida digital apresentados em textos agradáveis e leves para você ler com calma no fim de semana.

Edição de 10/12/2025
MEIO POLÍTICO

Às quartas, tentamos explicar o inexplicável: o xadrez político em Brasília, as grandes questões ideológicas da atualidade, as ameaças à democracia no Brasil e no mundo. Para isso, escalamos especialistas que escrevem com base em pesquisas e fatos.

assine

Já é assinante? Clique aqui.

Nossos planos

Acesso a todo o conteúdo do Meio Premium com 7 dias de garantia e cancelamento a qualquer momento.

Premium

  • News do Meio mais cedo
  • Meio Político
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*

Assine por R$ 15/mês

ou

De R$ 180 por R$ 150 no Plano Anual, equivalente a R$ 12,50 por mês.

Premium + Cursos

  • News do Meio mais cedo
  • Meio Político
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 5 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio

Assine por R$ 70/mês

ou

De R$ 840 por R$ 700 no Plano Anual, equivalente a R$ 58,34 por mês.

Premium + Cursos

Para aqueles que querem aprimorar seu conhecimento, assine agora o plano Meio Premium + Cursos. Assista os cursos do acervo dos Cursos do Meio na sua TV, celular ou computador. Política, história, inteligência artificial, aprimoramento profissional. Temas importantes explicados por especialistas no assunto.

Capa do curso do Meio: IA modo de usar

Capa do curso do Meio - Ideologias brasileiras

Capa do curso do Meio: Israel e Palestina

Capa do curso do Meio: O fim da nova república?

Capa do curso do Meio: Você pode ser um liberal e não sabe

Capa do curso do Meio: Você na mídia

assine

Já é assinante? Clique aqui.

O que é o Meio

O Meio é uma plataforma de jornalismo pensada para o século 21. Acreditamos que informação de qualidade fortalece a democracia, por isso entregamos notícias e análises que ajudam você a entender o agora e decidir melhor. Seja por e-mail, vídeo ou podcast, chegamos até você da forma que mais combina com a sua rotina.

Christian Lynch

Cora Rónai

Creomar de Souza

Deborah Bizarria

Flávia Tavares

Márvio dos Anjos

Mariliz Pereira Jorge

Pedro Doria

Wilson Gomes