Uma estrutura ousada para ‘A Construção’, de Kafka
Um dos últimos textos escritos pelo mestre checo Franz Kafka, A Construção vai receber nova uma edição surpreendente não só no conteúdo quanto na forma, feita pela editora Ubu. O Meio teve acesso ao livro que chega nos próximos dias para assinantes do Circuito Ubu e deve estar disponível para compra nas livrarias a partir no dia 16.
Eu sou o Rio
Caxtrinho (Foto: Rafael Meliga/Divulgação)
Festival mais importante de música experimental e arte sonora do Rio de Janeiro, o Novas Frequências chega à sua 14ª edição no próximo sábado (dia 7), e ocupa diversos locais da cidade até o domingo seguinte (dia 15). Em mais um ano desafiador para a captação de recursos, o festival se volta mais uma vez majoritariamente para a produção brasileira. Depois de algumas edições temáticas, como a última que explorava o Carnaval, nesta edição o tema se desenhou nas entrelinhas a partir do montagem do line-up: Eu Sou o Rio, em homenagem ao som clássico do Black Future, de 1988.
Sobre pânicos, traumas e surpresas
Nada me apavora mais do que ter de dar de cara com a decrepitude daquela banda ou artista que já amei muito um dia. Uma decadência que pode ser manifestar de formas muito distintas. Pode passar pela incapacidade de executar uma canção com o vigor e o rigor necessários, pode ser que a voz já não alcance mais as mesmas notas ou que a performance seja uma coisa que já não dialoga mais com o tempo presente.
Arthur Moreira Lima em dez momentos
Foto: reprodução YouTube
O pianista carioca Arthur Moreira Lima morreu aos 84 anos, na última quarta-feira (30) em Florianópolis, onde vivia desde 1993, em decorrência de um câncer de intestino. Além de sua técnica impecável, marcada pela velocidade e pela precisão, seu maior legado foi o de romper as barreiras entre os universos do erudito e do popular.
Gui Amabis lança seu ‘Contrapangeia’ com orquestra no Sesc Pompeia
Contrapangeia, quinto disco de estúdio do compositor paulistano Gui Amabis, lançado no primeiro semestre, é uma coleção de nove canções densas, que, criadas a partir do violão, ganham bastante em drama com os arranjos de cordas, algo que consegue aludir tanto às criações de Van Dyke Parks quanto às de Tom Jobim. Pela primeira vez, o disco chega ao público como foi imaginado, nesta quinta-feira, no Sesc Pompeia, em São Paulo, com um orquestra de câmara de 18 músicos, além dos parceiros Régis Damasceno no violão e Zé Ruivo Neto nos teclados.
Agora em livro, o Projeto Querino vê a história do Brasil pela ótica negra
Foto: Lipe Borges
Agosto de 2022. Entra no ar o Projeto Querino. Emprestava seu nome do intelectual Manuel Raimundo Querino (1851-1923), jornalista, professor e abolicionista que, em 1918, publicou “O colono preto como fator da civilização brasileira”, obra primeiro coloca os africanos e os afrodescendentes como protagonistas para a formação do Brasil. O projeto era inspirado no 1619 Project, criado pela jornalista norte-americana Nikole Hannah-Jones e lançado em agosto de 2019 pela New York Times Magazine, do New York Times, 400 anos depois que os primeiros 20 escravizados aportaram na Virgínia, dando início ao período escravista da colônia britânica.
Maria Beraldo estica a corda do pop em seu segundo álbum
Foto: Ivi Maiga Bugrimenko
Talvez você ainda não tenha ouvido falar em Maria Beraldo. No jogo da música de algoritmos, em que o novo compete sempre com o que já é conhecido e está amplamente disponível, o melhor da produção nacional não raro existe em um universo para iniciados, a despeito da qualidade e da disposição para um diálogo mais aberto. Mas talvez você tenha ouvido Maria Beraldo e não saiba. Em trilhas de filmes nacionais como Regra 34 e Levante, nas últimas peças de Felipe Hirsch com o coletivo Ultralíricos, nos excepcionais discos de sua banda Quartabê, em que fez releituras sofisticadas de Moacir Santos e Dorival Caymmi.
O triste fim de Maria Callas na pele de Angelina Jolie
A 48ª Mostra Internacional de Cinema começou ontem com uma sessão de Maria, filme de Pablo Larraín, na Sala São Paulo, em tese o lugar ideal para abrigar a maior diva do canto lírico de todos os tempos, Maria Callas. Seria perfeito não fosse um pequeno detalhe: a escolha da atriz principal.
Vozes do Amanhã
No último fim de semana, o festival Vozes chegou à sua segunda edição no Museu do Amanhã. O Meio acompanhou o primeiro dia do evento, interessado não só na proposta de um line-up que trazia um recorte muito instigante da música negra brasileira atual, mas de experimentar um festival em um espaço menor e, ao mesmo tempo, atravessado pela beleza da Baía de Guanabara e o futurismo retrô do museu que se estende em sua direção como uma maquete de nave espacial de filme dos anos 1980.
‘Quarto de Despejo’ no ouvido
Num primeiro momento, estranhei. Aquela voz que preencheu minha imaginação quando li Quarto de Despejo, obra mais famosa de Carolina Maria de Jesus, dotada daquele sotaque mineiro amalgamado de paulista, próximo do que ouvia nas ruas quando criança, estava deslocada geograficamente. Ao ser escutada na voz da atriz Tatiana Tiburcio, me tirava da favela do Canindé, na zona Central de São Paulo, e me colocava em alguma comunidade do Rio de Janeiro. Mas o que é a magia da atuação. Algum tempo depois de embarcar na viagem de pouco mais de sete horas que dura a versão dessa obra, lançada agora em audiolivro pela Supersônica, já tinha recuperado a imagem mental da minha Carolina Maria, construído aquele espaço dos barracos de madeira e chão batido, da sujeira, as ruas centrais com papeis por catar, os contornos das personagens em pé de guerra, e já estava me lixando para os eventuais "tumatchs" e "Alixandrisch".