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Rock in Rio 1985 – Mais que um festival

“Se a vida começasse agora?” Talvez o tema do Rock in Rio de 1985, cantado pelo Roupa Nova, fosse apenas um jingle para os compositores Eduardo Souto Neto e Nelson Wellington. Mas a frase resumia à perfeição o momento de um rapaz de 18 anos recém-completados que meses antes começara a escrever resenhas sobre música e naquele momento cobria o festival para as revistas Roll e Metal (“a única cobertura especializada”). O jornalismo entrara de supetão em sua vida, e lá estava ele numa prova de fogo, mantendo, ou tentando manter o profissionalismo ao entrevistar ídolos. Foram dez dias de festival e, ao fim, uma corrida contra o relógio para, em um dia, fazer com o saudoso André Machado uma edição temática de Metal para estar nas bancas em 48 horas. Um tour de force que começou um caminho que me trouxe a este texto. Sim, a vida começava agora.

Mas não era só a vida do rapaz em questão. Era a de um país. Pouco depois do meio-dia de 15 de janeiro, bem na metade do festival, o civil e oposicionista Tancredo Neves era eleito indiretamente presidente da República, pondo fim a 21 anos de ditadura militar. Naquela noite, quando o Barão Vermelho, ainda com Cazuza à frente, subiu ao palco para um show antológico, as bandeiras brasileiras na bateria de Guto Goffi e as que apareciam na plateia representavam o resgate do país e de seus símbolos, ora novamente sequestrados. Ok, o futuro não foi exatamente o que esperávamos, a começar por José Sarney na presidência, mas a nova vida do país parecia começar agora.

E, claro, o festival em si era um começo. Não que o Brasil fosse virgem em shows internacionais. Alice Cooper, Genesis, Rick Wakeman, The Police, Van Halen e outros já haviam se apresentado em espaços menores, e Queen e Kiss lotaram estádios de futebol. Mas a ideia de dez dias de shows com atrações de primeira linha estava entre o delírio e o pesadelo logístico. Ainda mais porque a estrutura para o evento, especialmente comparada ao espaço onde a atual edição do festival está acontecendo, não existia. A área ao lado do Riocentro, em Jacarepaguá, praticamente não tinha transporte público e era esparsamente habitada. Parecia que Roberto Medina, publicitário idealizador do festival, estava blefando ou tinha enlouquecido. Nem um, nem outro.

Só o fino

O anúncio da escalação era ambicioso. Virtualmente todos os artistas estavam no auge ou ainda em fases de criatividade e sucesso comercial. O Iron Maiden, que assumia o posto de maior banda de metal do mundo com Powerslave, não tinha data na agenda, mas espremeu-a para encaixar um único show na abertura do festival – todas as outras atrações se apresentaram em duas noites. O Queen, que dava a volta por cima com o bom disco The Works e o sucesso Radio Gaga, confirmou a majestade e o domínio de Freddie Mercury sobre a plateia. E o Yes se reinventava para os anos 80 com uma roupagem mais eletrônica, sem abandonar os clássicos da década anterior.

A exceção era James Taylor, cujo último disco era de 1981, e, após o tumultuado divórcio de Carly Simon e a luta contra as drogas, pensava em se aposentar. Mas era um dos artistas favoritos de Roberto Medina, o que lhe valeu o convite para o festival. E eis que seu show arrebatou a multidão e deu um “levanta-te e anda” em sua carreira. Mais de cem mil pessoas cantando juntas You Got A Friend mostraram que Taylor estava muito vivo musicalmente.

Não, não foi assim

Com o passar dos anos, algumas lendas urbanas se cristalizaram em torno do festival. Não, o Deff Lepard, banda britânica de não-tão-heavy metal, não cancelou sua participação porque o baterista perdeu um braço. Sim, Rick Allen realmente sofreu um acidente de carro que o mutilou, mas isso aconteceu no dia 31 de dezembro de 1984, pelo menos dois meses depois de a banda ser substituída pelo Whitesnake, que brindou o público com um show memorável.

A segunda, para contrapor às edições mais recentes do festival, diz que o Rock in Rio de 1985 foi “roqueiro de verdade”, sem noite de pop etc. Não, nunca foi. Somente metade das 14 atrações nacionais tocavam rock, incluindo aí Erasmo Carlos e a dupla Pepeu/Baby. Dos estrangeiros, havia o jazz e fusion de Al Jarreau e George Benson e o folk do citado James Taylor.

E havia pop, que então se misturava com rock sob a etiqueta “new wave”. B-52’s, carinhosamente apelidado de “bife com tutu”, e as Go-Go’s, cujo apelido não tinha nada de carinhoso, puseram a cidade do rock para dançar. E mesmo Rod Stewart, que começara décadas antes cantando blues rock com Jeff Beck, já enveredara para as pistas de dança. O festival nasceu eclético, a despeito do nome.

Tudo vale a pena

Chegar e sair era um inferno, embora a imprensa gozasse de certas regalias, incluindo uma área exclusiva ao lado do palco. Comparados às praças de alimentação das atuais edições, os mega quiosques de Bob’s e McDonald’s eram frugais, e a exclusividade da cerveja Malt 90 era um convite à sobriedade. Sem contar que o belo gramado para o público durou apenas uma noite e, com a primeira chuva, tornou-se um lamaçal digno de Woodstock.

Mas era tudo novo. Nova carreira, Nova República, novo patamar de shows internacionais. A vida realmente começava agora. O que faríamos dela era problema nosso.

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