Um passarinho na mão e 999 voando
Você está passeando por uma galeria de arte, vê um desenho do ícone da Pot Art Andy Warhol (1928-1987) pela pechincha de US$ 250 (R$ 1.410) e leva para casa. Por esse preço está na cara que não é um original. Mas aí é que está… Pode ser.
O grupo de artistas de Nova York MSCHF (Mischief, “travessura” mesmo) decidiu lançar mais uma crítica ao mundo da arte – e uma tão bem engendrada que o próprio Warhol talvez ficasse orgulhoso. Os vinte artistas se juntaram e compraram o desenho Fairies, feito a caneta de 1954, por US$ 20 mil (R$ 112 mil). A partir disso, aplicaram luz, calor e umidade para envelhecer papéis iguais ao do original e usaram um braço robótico para replicar com perfeição 999 vezes o traço de Andy. Uma produção em massa, totalmente coerente com a Pot Art – o estúdio/empresa do artista em Nova York, aliás, se chamava The Factory (A Fábrica).
O resultado, intitulado, Possível Cópia Real de ‘Fairies’ de Andy Warhol, é uma série de mil peças idênticas. Apenas uma é a verdadeira, e qualquer identificação possível que pudesse haver na obra, foi retirada. O grupo defende sua atitude e ainda vai mais longe, afirmando que de alguma forma essa reprodução democratizou o acesso a um original Warhol.
A discussão sobre arte e estética existe desde a Antiguidade, e certamente não vai acabar. Mas o que o MSCHF questiona é a ideia de autenticidade e a subindústria que gira em torno dela, movida por fichas técnicas e investigações das peças. Quem foi o último dono? E antes dele? Quão original é isso? E por que cópias teriam menos valor artístico, como defendia a filosofia de Walter Benjamin (1892-1940)? Para o pensador alemão, a reprodução mecânica da arte retira o seu valor e a sua “aura” de objeto artístico.
A Pop Art nasceu com o objetivo de criticar o consumismo e questionar a indústria cultural. Latas de sopa comuns de qualquer supermercado dos EUA foram elevadas por Andy Warhol a obras de arte de no valor de US$ 11 milhões (R$ 62 milhões), as hoje lendárias Sopas Campbell’s, uma série de 33 pinturas de 1962.
Donos do intagível
Se estamos falando de como registrar donos, a blockchain com as NFTs faz isso muito bem, garantindo certificados e registrando cada venda apenas no digital. Mas sempre tem alguém para ir mais longe. O coletivo The Burned Picasso leiloou, em julho, um Picasso original por meio das NFTs e logo em seguida queimou a obra física – o que foi considerado uma atrocidade por amantes da pintura. A popularização das NFTs e artes performáticas como a de Banksy, que triturou seu quadro após a venda, trazem o questionamento da desmaterialização da arte.
Do ponto de vista financeiro, a ação foi um sucesso. As mil peças já foram vendidas, e o grupo lucrou mais de dez vezes o valor do original. Mas a polêmica é o que importa, e não é a primeira do MSCHF. O grupo já comprou encrenca com a Nike, por vender “Satan Shoes”, uma edição limitada de tênis da empresa com “sangue humano”, numa parceria com o rapper Lil Nas X.
Uma coisa é certa, diante do dilema “se vale mais uma assinatura na mão do que 999 voando”, Andy Warhol reagiria com seu sorriso discreto e o olhar de quem via arte até na travessura.
Você está passeando por uma galeria de arte, vê um desenho do ícone da Pot Art Andy Warhol (1928-1987) pela pechincha de US$ 250 (R$ 1.410) e leva para casa. Por esse preço está na cara que não é um original. Mas aí é que está… Pode ser.
O grupo de artistas de Nova York MSCHF (Mischief, “travessura” mesmo) decidiu lançar mais uma crítica ao mundo da arte – e uma tão bem engendrada que o próprio Warhol talvez ficasse orgulhoso. Os vinte artistas se juntaram e compraram o desenho Fairies, feito a caneta de 1954, por US$ 20 mil (R$ 112 mil). A partir disso, aplicaram luz, calor e umidade para envelhecer papéis iguais ao do original e usaram um braço robótico para replicar com perfeição 999 vezes o traço de Andy. Uma produção em massa, totalmente coerente com a Pot Art – o estúdio/empresa do artista em Nova York, aliás, se chamava The Factory (A Fábrica).
O resultado, intitulado, Possível Cópia Real de ‘Fairies’ de Andy Warhol, é uma série de mil peças idênticas. Apenas uma é a verdadeira, e qualquer identificação possível que pudesse haver na obra, foi retirada. O grupo defende sua atitude e ainda vai mais longe, afirmando que de alguma forma essa reprodução democratizou o acesso a um original Warhol.
A discussão sobre arte e estética existe desde a Antiguidade, e certamente não vai acabar. Mas o que o MSCHF questiona é a ideia de autenticidade e a subindústria que gira em torno dela, movida por fichas técnicas e investigações das peças. Quem foi o último dono? E antes dele? Quão original é isso? E por que cópias teriam menos valor artístico, como defendia a filosofia de Walter Benjamin (1892-1940)? Para o pensador alemão, a reprodução mecânica da arte retira o seu valor e a sua “aura” de objeto artístico.
A Pop Art nasceu com o objetivo de criticar o consumismo e questionar a indústria cultural. Latas de sopa comuns de qualquer supermercado dos EUA foram elevadas por Andy Warhol a obras de arte de no valor de US$ 11 milhões (R$ 62 milhões), as hoje lendárias Sopas Campbell’s, uma série de 33 pinturas de 1962.
Donos do intagível
Se estamos falando de como registrar donos, a blockchain com as NFTs faz isso muito bem, garantindo certificados e registrando cada venda apenas no digital. Mas sempre tem alguém para ir mais longe. O coletivo The Burned Picasso leiloou, em julho, um Picasso original por meio das NFTs e logo em seguida queimou a obra física – o que foi considerado uma atrocidade por amantes da pintura. A popularização das NFTs e artes performáticas como a de Banksy, que triturou seu quadro após a venda, trazem o questionamento da desmaterialização da arte.
Do ponto de vista financeiro, a ação foi um sucesso. As mil peças já foram vendidas, e o grupo lucrou mais de dez vezes o valor do original. Mas a polêmica é o que importa, e não é a primeira do MSCHF. O grupo já comprou encrenca com a Nike, por vender “Satan Shoes”, uma edição limitada de tênis da empresa com “sangue humano”, numa parceria com o rapper Lil Nas X.
Uma coisa é certa, diante do dilema “se vale mais uma assinatura na mão do que 999 voando”, Andy Warhol reagiria com seu sorriso discreto e o olhar de quem via arte até na travessura.