O Meio utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência. Ao navegar você concorda com tais termos. Saiba mais.
Assine para ter acesso básico ao site e receber a News do Meio.

Vermiglio é a cor mais fria

A guerra impacta a vida de qualquer família em qualquer lugar do planeta. Mas a história dos Graziadei muda ainda mais quando um desertor foge do front para a comunidade onde moram, em Vermiglio, uma vila remota nos Alpes italianos. Visto como um covarde, o soldado Pietro recebe abrigo do professor Cesare e se apaixona por Lucia, filha mais velha do casal. O relacionamento entre eles tem desdobramentos inesperados, que impactam toda a casa. Esse é o enredo de Vermiglio – A Noiva da Montanha (trailer), que estreia no próximo dia 10 nos cinemas brasileiros, após vencer o Leão de Prata – Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza, representar a Itália no Oscar e ser indicado ao Globo de Ouro.

Escrito e dirigido por Maura Delpero, o longa de quase duas horas de duração conta com Tommaso Ragno, Giuseppe De Domenico, Roberta Rovelli e Martina Scrinzi no elenco. Esse é o segundo filme de ficção de Delpero, que foi premiada nos festivais de Locarno e Mar del Plata com Maternal, de 2019, obra em que também tratou de maneira adjacente a questão religiosa. Antes, estreou na direção com os documentários Signori Professori (2008) e Nadea e Sveta (2012), ambos premiados no Festival de Turim.

Em Vermiglio, a família tem os costumes tradicionais do interior, como ir à igreja. Mas essa característica religiosa é mais visível na jovem Ada (Rachele Potrich), que mantém um caderno de penitências. Ela monitora cada “falta” que comete, administrando com fervor as próprias punições. Ao atingir um dado limite para seus “erros”, chega a comer fezes de galinha. Ela acaba utilizando sua religiosidade para lidar com suas inquietações, como ir ao confessionário para falar da frustração de não poder continuar seus estudos porque seu pai diz que ela não se destacou, portanto, não merece seguir para a escola. E também fala com a divindade para reprimir seus desejos mais íntimos.

A frieza das personagens, mesmo em momentos de dor e de apreensão, é uma das características marcantes do filme. Delpero trabalha cada uma delas com movimentos muito contidos para expressar sentimentos como tristeza, medo e arrependimento. O que exige certa capacidade técnica dos atores e atrizes para demonstrar essas nuances com sutileza. Lúcia, interpretada por Martina Scrinzi, é a única que extravasa de maneira mais explícita suas emoções. Não é a única a parir, mas é só ela que ouvimos seus gritos no parto. Ela é quem vemos chorar em diferentes momentos da trama.

Pietro, personagem de Giuseppe De Domenico, fala pouco. Tem traumas da guerra. Em uma das raras conversas mais elaboradas, descreve a sensação de perder seu amigo nas trincheiras. “É como se estivesse vivo, mas na verdade não está”, reflete sobre o ânimo de um soldado. Mesmo tomando decisões importantes, demonstra certa dose de apatia em suas ações.

O elenco, apesar de bem coeso, tem uma atuação homogênea, ornando com a frieza dos Alpes e a vida simples do campo. O destaque vai para Tomaso Ragno no papel de Cesare, conseguindo manter um equilíbrio entre a firmeza de um homem do campo com uma certa sensibilidade no trato pessoal. Como quando defende a compra de um novo disco para a vitrola, mesmo com poucos recursos para a família, por considerar a música “um alimento para a alma”. Ou quando relativiza a suposta covardia do recém-chegado Pietro, apontada por parte da comunidade alpina, por ser um desertor. “Se todos fossem covardes, não haveria mais guerras”, reflete o professor.

As cores frias e o tom ameno das cenas dão o clima pacato da região retratada. A escolha por uma estética de imagens granuladas ajuda a ressaltar o período em que a história se passa. A região também é aproveitada na fotografia do filme, com enquadramentos que valorizam o cenário natural, muitas vezes lembrando os quadros do realismo de Jean-François Millet e Gustave Courbet ou do naturalismo de Jules Bastien-Lepage. Aliás, o trabalho com a luz vai melhorando com o passar da película.

Para preencher o silêncio construtivo das cenas, a diretora acerta em trabalhar os sons de cada ação retratada, desde o rangido da madeira das rodas do carrinho passando pela neve até o uivar do vento pelos alpes. Cada elemento sonoro é bem pensado para ajudar a contar a história. Não à toa, o longa recebeu os prêmios David di Donatello de Melhor Som e Fotografia.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.

Já é assinante premium? Clique aqui.

Este é um conteúdo Premium do Meio.

Escolha um dos nossos planos para ter acesso!

Premium

  • News do Meio mais cedo
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*
ou

De R$ 180 por R$ 150 no Plano Anual

Premium + Cursos

  • News do Meio mais cedo
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*
ou

De R$ 840 por R$ 700 no Plano Anual

*Acesso a todos os cursos publicados até o semestre anterior a data de aquisição do plano. Não inclui cursos em andamento.

Quer saber mais sobre os benefícios da assinatura Premium? Clique aqui.