Harari: O preço do populismo e da política de tentativa e erro de Israel e Palestina

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O historiador e filósofo israelense Yuval Noah Harari publicou dois artigos, no Guardian e no Washington Post, em que analisa, sob o impacto do horror dos ataques do dia 7 de outubro, o conflito mais recente entre Israel e Palestina. Autor de Sapiens, Homo Deus e Notas sobre a Pandemia, Harari disseca o papel nefasto de Benjamin Netanyahu e seu populismo nos acontecimentos e a rejeição do Hamas a qualquer tipo de paz em Gaza.

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“A explicação real para a disfunção de Israel é o populismo, não alguma suposta imoralidade. Por muitos anos, o país tem sido governado por um homem-forte populista, Benjamin Netanyahu, que é um gênio das relações públicas mas um primeiro-ministro incompetente. Ele deu preferência repetidamente aos seus interesses pessoais em detrimento do interesse nacional e construiu sua carreira dividindo a nação e fazendo-a voltar-se contra si mesma. (…) A atual coalizão de governo de Netanyahu é de longe a pior. É uma aliança entre fanáticos messiânicos e oportunistas desavergonhados que ignoraram os muitos problemas de Israel — incluindo a situação de segurança em deterioração — e colocaram foco, em vez disso, em concentrar poderes ilimitados para si mesmos. Na busca deste objetivo, eles adotaram políticas extremamente polarizadoras, disseminaram teorias conspiratórias ultrajantes a respeito de instituições de Estado que se opõem às suas políticas e rotularam elites do país como traidores a serviço do ‘Estado profundo'”, diz Harari em um trecho do texto do Washington Post, que foi traduzido pelo Estadão.

“Então, o que vem a seguir? Ninguém sabe ao certo, mas algumas vozes em Israel estão se voltando para a reconquista da Faixa de Gaza ou para transformar a área em escombros com bombardeios. O resultado desta política poderá ser a pior crise humanitária que a região viveu desde 1948. Especialmente se o Hezbollah e as forças palestinas na Cisjordânia se juntarem à luta, o número de mortos poderá atingir muitos milhares, com mais milhões expulsos das suas casas. Em ambos os lados da cerca, há fanáticos religiosos fixados nas promessas divinas e na guerra de 1948. Os palestinos sonham em reverter o resultado dessa guerra. Fanáticos judeus como o ministro das finanças Bezalel Smotrich alertaram até mesmo cidadãos árabes de Israel que ‘vocês estão aqui por engano porque Ben-Gurion [o primeiro primeiro-ministro de Israel] não terminou o trabalho em 1948 e não os expulsou’; 2023 poderá permitir aos fanáticos de ambos os lados prosseguir as suas fantasias religiosas e reencenar a guerra de 1948 com força total”, o filósofo aponta no artigo para o Guardian.

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