Palavra “dorama” é incluída na língua portuguesa pela ABL, porém…

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A gente vai falar de vários tipos de preconceitos hoje e como eles se mostram à nossa volta. Primeiro, vamos falar sobre orientalismo?

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Bem resumidão: Orientalismo é como o Ocidente representou e estudou o Oriente durante os impérios. Então era uma palavra designada ao estudo de tudo que não era a Europa.

E a toda representação daquilo. Porque em quadros e literaturas tudo que se tinha era um senso de superioridade dos colonizadores britânicos e franceses. Um dever de levar civilização àquelas culturas atrasadas. Inclusive, pra gente ver como isso tudo dura até os dias de hoje, Ernest Renan foi um frances orientalista que escreveu entre 1840 e 1890, ele disse que a raça semítica faltava variedade e amplitude, faltava a abundância de vida que é a condição da perfeição.

Renan reduziu toda uma cultura numa pasteurização de Oriente e dizendo que são todos parecidos então imperfeitos.

E até hoje isso é material de racismo recreativo.

Hoje o papo é racismo, orientalismo e doramas. Ah, claro que a gente vai passar um pouco pelo soft power coreano porque é sempre bom falar de BTS.

Isso foi uma ideia da universalização europeia, de que o padrão de sociedade era o que os europeus representavam e viviam. Então todo o rosto asiático era visto como exótico e forasteiro.

Uma visão beeeem eurocêntrica mesmo, mas que dura até hoje.

Exemplo, sabe a teoria da conspiração de que covid foi criado pela China num laboratório? Isso é orientalismo. É uma representação errônea e preconceituosa sobre o outro e que tem origem no “perigo amarelo”. Um temor da imigração chinesa por poderem ser espiões e inimigos da Civilização e do Mundo Moderno.

Inclusive, a ideia de superioridade é tanta e tão duradoura que olha o Museu Britânico? O Museu é feito de obras e itens históricos roubados de outras nações. É um símbolo do colonialismo.

Bom, é no Reino Unido né então não dá pra gente esperar muita coisa de quem ainda tem um Rei e paga impostos pra uma família que escravizou e lucrou com o sangue de outros países.

Voltando aqui, né

Racismo recreativo. A gente já falou sobre aqui uma vez. Sobre como o racismo continua sendo racismo mesmo quando vem disfarçado de piada.

É racista. Não importa se é um comediante, não importa se é em cima de um palco ou no twitter. Continua sendo racismo. Crime.

O racismo recreativo é uma das formas de racismo que existe. É diminuir outra raça e, além disso, manter a mentira de que o branco é o padrão.

Não é bem assim, branco é uma identidade racial. A raça branca, o homem, não são padrões. O problema é que pessoas brancas tem sim mais representatividade, o que leva a impressão de uma padronização do branco porque estrategicamente se apaga a questão racial para manter a ilusão de que o padrão humano é um homem branco.

Assim se constrói todo um imaginário estético mentiroso ao qual a branquitude se apoia.

É toda uma ideia de superioridade branca, mesmo, que tem diversos jeitos de se apresentar na sociedade. Com piadas socialmente aceitas, com ideias coloniais que não se foram até hoje.

E aí, hoje, a gente tem um investimento altíssimo da Coreia do Sul de exportar cultura. A Coreia do Sul conseguiu conquistar o mundo com BTS, BlackPInk, bigbang, ao ponto de que a revista SevenTeen americana já fez uma lista de bandas de k-pop que você deveria estar ouvindo.

Entende o poder dessa reviravolta?

Custou muito, também.

2012 a internet teve um viral gigante, Gangnam Style. Um coreano.

Em 2020 um dos melhores filmes do ano foi Parasita.

Que é um filme coreano.

Round 6, coreano.

Essa exportação cultural é econômica, o governo da Coreia do sul, nos anos 90, decidiu investir em iniciativas culturais. Decidiu investir no cinema local.

30 anos depois, temos uma popularização gigantesca de dramas no Netflix, que entendeu que os jovens clamavam por mais conteúdo coreano.

A Netflix adaptou mangás, certo?

A Netflix adaptou histórias em quadrinho, certo?

E você entende que quando eu falo mangá eu to falando de HQs japonesas imediatamente, né? Isso porque o mangá é uma adaptação para o português do fonema japonês da palavra.

Tal qual dorama. Quando eu falo dorama você devia entender que é uma produção japonesa, porque é a adaptação do português para o fonema japonês da palavra.

Em coreano é drama..

Agora, quando a ABL decidiu anunciar uma nova palavra no dicionário como “dorama” e dizia que era toda produção feita pelo leste e sudeste da Ásia, de gêneros e temas diversos….

Com tudo isso de histórico que vimos acima, não é orientalismo?

Foi isso que a Associação Brasileira de Coreanos apontou.

Que dorama não é uma escrita coreana. A gente pode falar que é k-drama, e a gente ainda vai usar do inglês pra isso.

Chamar tudo de dorama é pasteurizar toda criação de conteúdo cultural de diversos países asiáticos em um só.

Que é… errado.

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