As mudanças climáticas não permitem nem vingança

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O futuro parece tenebrosamente promissor.

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Países pobres sofrendo com as mudanças climáticas e suas vulnerabilidades, países ricos até se beneficiando com elas. Crateras se abrindo e desastres climáticos. Inteligência artificial criando tecnologias que copiam e animam corpos a partir de uma única imagem. Quem pode imaginar o que sai disso?

Um futuro que promete ser cada vez mais digital e com cada vez menos respeito pelo físico. Um futuro comprometido com avanços tecnológicos crescentemente bizarros e desnecessários enquanto segue criando o próprio inferno para se viver, um ano mais quente que o anterior.

Ao custo do progresso. Progresso digital, progresso em forma de carros particulares. As mudanças climáticas fazendo suas vítimas mais numerosas no sul global, assim como também acomodando os que fogem dos piores eventos.

Mas “as mudanças climáticas”, que chamamos como se fossem monstros enormes incendiando árvores na calada da noite, têm culpados.

Culpados visíveis. Culpados com dados.

O futuro parece ardido.

A COP28 termina só na terça-feira, dia 12, mas o que a gente já sabe é que ela é uma controvérsia só. O evento com maior peso e cobertura para falar das mudanças climáticas com cientistas do mundo todo dizendo o mesmo: a emissão de gases poluentes causado pela queima de combustíveis fósseis precisa ser cortada.

Toda a mídia falando sobre sustentabilidade, economia circular, a importância de se realizar uma profunda mudança na sociedade para que a Terra não nos queime. Porque ela vai continuar aqui, a Terra. A gente não. É nossa própria cova cavada com pás de ouro, cravejadas com o máximo cuidado pelo progresso, petroleiras, mineradoras e por aqueles que sabem que tem dinheiro o suficiente para fugir para o sul e ligar o ar condicionado no talo dentro do seu jatinho que conforta toda sua família.

A sede do evento em Dubai, o presidente da conferência ser o presidente de uma petrolífera, mais de 2.400 registrados no evento são pessoas da indústria do petróleo, carvão e gás natural.

E os cientistas de lá ainda são legais, na minha opinião. Porque o diretor da iniciativa climática internacional da World Resources Institute resumiu em “num geral, nós não estamos indo bem.”

Fofo e bem diretor da parte dele, né? Porque não somos nós. Nós. A responsabilidade não recai individualmente. É uma indústria.

Os culpados são claros, é preciso abandonar a dependência global de petróleo, gás e carvão. Precisamos de outras matrizes energéticas menos poluentes. Precisamos levar o aumento da temperatura a sério. Precisamos parar de minerar sem o devido cuidado para não salinizarmos uma lagoa de mangue que tem todo um ecossistema e, também, pescadores. Comida. Nossa comida. Como a gente se alimenta. Isso, sim, é individual, a sobrevivência.

E enquanto isso os Emirados Árabes queriam usar do espaço da COP28 pra negociar petróleo com outros países.

O que é óbvio considerando que o presidente do evento é também presidente de uma petrolífera, né?

E enquanto isso o primeiro ministro do Reino Unido, o Rishi Sunak, passou mais tempo viajando para a COP do que de fato lá. E ele ainda foi pra falar que nananinanenas ele não vai banir a venda de carros movidos a diesel e gasolina.

Essa é a importância que os responsáveis e capazes de discutir mudança dão para o tema. Porque ciência se tornou campo político. No Reino Unido as cidades de 15 minutos estão sendo atacadas por conspiracionistas, um deles o Secretário do Transporte, Mark Harper, que se disse orgulhosamente pró carros e que cidades que priorizam a movimentação por caminhadas ou bicicletas são sinistras.

Sinistro.

Sim, é complexo definir como resolver o problema. Porque o problema é a maior indústria do mundo e é preciso tesourá-la ao ponto dela ser minimamente representativa para o mundo. Ela lucrou um conjunto de 219 bilhões de dólares no ano passado.

Um recorde.

Isso contando a BP, a Chevron, a Equinor, a ExxonMobil, a Shell e a TotalEnergies.

Enquanto políticos escolhem negar ou não as mudanças climáticas, todos sofrem seus efeitos. Sim, o Fundo de Perdas e Danos aprovado no primeiro dia da COP é incrível. MAS os 550 milhões de dólares que estarão ali são…. Irrisórios.

As mudanças climáticas custaram, em 2022, 1,5 bilhão de dólares.

E enquanto isso aqui no Brasil a Braskem tem uma mina que aterroriza Maceió08, causa bairros fantasmas, faz com que famílias precisem abandonar suas casas e é só entregue uma indenização e feijoada (a feijoada é piada, é porque nada acontece mesmo).

É do lado de uma lagoa, que tem peixes, que tem pescadores, que tem pessoas que comem os peixes. Parece óbvio mas não é, porque eu ouvi uma senhora dizendo que “poxa nesse governo uma empresa comete um erro e já tem que indenizar famílias”

Sim, senhora, porque infelizmente as famílias perdem suas casas para rachaduras e deslocamento vertical que acontecem por conta de mineração em falha geológica. A empresa segue lucrando e pagando o que o governo estima que deve para os afetados.

E nem a todos os afetados, apenas aos que estão dentro das áreas designadas como afetadas.

O meu ponto todo, se você não entendeu, é que estamos à mercê da boa vontade alheia. Enquanto temos milhares de cientistas gritando dizendo: o mundo vai seguir esquentando e é preciso cortar AGORA as emissões para podermos MINIMZAR danos, temos quem simplesmente governe uma nação poluente e diga: kkkkkkk, não ligo.

E esta pessoa, líder de outra nação que não a nossa, que não podemos votar contra ou a favor, é responsável por efeitos no mundo todo.

Enquanto aqui tínhamos cientistas desde 1980 olhando para Maceió e falando, gente, essa mineração VAI DAR RUIM. e ela seguiu até 2019. Por decisão que, também, é política.

Afinal de contas se você não viu essa reportagem da Agencia Tatu aqui ela mostra o lobby feito pela Braskem com políticos alagoanos.

A Terra vai esquentar, algumas comidas irão sumir. Enquanto isso acontece, o petróleo seguirá lucrando, carros serão vendidos, mineradoras causarão desastres, que afetarão cidades e economias inteiras.

Mas o que importa é que a pá que cavou a nossa cova, ah, ela era bonita.

Vejo vocês na próxima Curadoria.

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