Só vão sobrar 7 partidos no Brasil

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Tem uma mudança profunda que está para acontecer nos partidos políticos do Brasil. Uma mudança tão grande que mudará por completo a maneira como Executivo e Legislativo se relacionam, mas mudam também o equilíbrio de forças. Porque é possível que, depois da eleição presidencial, o Brasil passe a ter quatro partidos de direita, dois mais centristas e um, só um partido de esquerda.

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Calma, vamos descer um degrau aqui. Outros partidos vão existir, claro. Só não terão qualquer poder e, para ter algum tipo de poder, precisarão ir atrás de um dos sete líderes. O motivo é a cláusula de barreira, que estabelece critérios para que uma legenda tenha direto a fundo partidário, a horário gratuito na tevê, ou mesmo o poder no Congresso de ter cargos de liderança, que no fim das contas é o que dá poder de interceder com mais força nos debates.

Essa mudança já começou a acontecer em 2022. Na última eleição, para ter direito a tudo isso cada partido ou federação se via obrigada a eleger pelo um mínimo de 11 de deputados federais em pelo menos 9 estados ou então ter 2% dos votos em 9 estados. Para vocês terem ideia, depois da eleição de 2018, 28 partidos tinham direito à grana, à TV e aos cargos de liderança. Depois dela, só 12 partidos sobraram. Tem mais na Câmara? Claro que tem. Mas não tem dinheiro público ali, não tem cargo para fazer o jogo duro. Não tem qualquer vantagem.

Tive uma conversa, umas horas atrás, com o Gabriel Azevedo, que acaba de se filiar ao MDB. O Gabriel é político, hoje presidente da Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte e candidato à prefeitura nesse fim de ano. Agora, embora não esteja no cenário federal, o cara gosta de política local, não tem jeito, ele é também um excelente analista político. Me encontrei com ele no sábado, numa festa, e no meio do barulho da música perguntei por que ele havia escolhido o MDB. Ele desenhou pra mim o cenário que imagina para a próxima eleição. Numa festa, quem entende um assunto tão complicado com detalhes? Hoje de manhã tive uma conversa mais prolongada com ele.

Em 2026, a cláusula de barreira vai ser mais rigorosa. Serão necessários 2,5% dos votos ou 13 eleitos. Aí, em 2030, 15 eleitos ou 3% dos votos. Parece pouco, mas com 2% já reduziu de 28 para 12. Foram cortados 16 partidos. É por isso que tudo indica que vá cair a mais ou menos 7, mesmo, na próxima eleição.

Para os partidos que não são capazes de cruzar a linha de chegada, sobram duas opções. Uma é se fundir com outro. Que nem o União Brasil, que veio da fusão do PSL, que elegeu Jair Bolsonaro em 2018, com o DEM. Aquelas duas legendas não existem mais, ficou o União. A outra saída foi a tomada por PSDB e Cidadania, que formaram uma federação. Aí, nesse caso, os dois partidos são vistos pela lei como um só.

Juntam as forças e conseguiram, contando com os números de ambos, passar da exigência mínima. Só que o dinheiro é dos dois, os cargos são dos dois, tudo tem de ser dividido e nunca é claro quem manda no quê. A própria lei não deixa claro. Não bastasse, não é que nem eram as antigas coligações eleitorais. Não dá pra desmanchar no dia seguinte à eleição. Tem de agir como um partido só, porém com dois presidentes, duas direções e tudo o mais por quatro anos seguidos. E isso aí é no nível nacional, imagina em cada município do Brasil, cada um tomando suas decisões. As federações foram criadas, claro, para que fossem um noivado, um namoro antes de ter certeza de que quer o casamento. A fusão. Para ter uma ideia de como os dois se relacionam. Quer dizer, os dois é por este exemplo aqui. Poligamia vale. O PT, por exemplo, fez uma federação com mais PCdoB e PV.

Mas, e aí? Quais são os sete partidos que teremos? E como isso muda a política brasileira? Vem comigo.

Eu sou Pedro Doria, editor do Meio.

São dois milhões de casos de dengue no Brasil, pelo menos 682 mortes pela doença. Este ano. O Ministério da Saúde comprou todas as vacinas que haviam no mercado para distribuir pelo SUS, mas a entrega demora e pouca gente procura. Neste cenário, o ministério está sob ataque. Pudera, é o maior orçamento da Esplanada e todo mundo quer um pedaço. O ataque vem do Centrão mas vem também do PT. Não bastasse, foram quatro anos de negacionismo, de desestruturação da pasta. A ministra Nísia Trindade está com profundas dificuldades de entregar saúde ao Brasil. Mas como se desenlaça esse nó? Você já assina o Meio? Devia. Se já assina, pode entender agora por que a Saúde brasileira quebrou. Se não assina, é uma ótima oportunidade. De quebra, ainda ajuda a gente a produzir conteúdo gratuito para uma internet que nos impõe a era da desinformação.

E este aqui? Este é o Ponto de Partida.

Existem, hoje, dois partidos gigantes. Estes evidentemente cruzam a linha, com facilidade, mesmo que seja a linha de 2030. São PT, o partido do presidente Lula, e o PL, de Jair Bolsonaro. Não adianta. Bolsonaro mudou o balanço da política brasileira e, mesmo com ele fora das eleições, isso não mudará. Antes, dos anos noventa para cá, era um jogo de um candidato petista, quase sempre Lula, e o partido no qual escolhiam votar aqueles que não queriam o PT na presidência. Durante muito tempo, por causa do Plano Real, foi o PSDB. Os tucanos, mesmo com um bando de gente de formação marxista lá dentro, mesmo com inúmeros membros se compreendendo socialdemocratas, foram chamados de neoliberais, de direita dura, até de fascistas.

O PSDB nunca foi um partido de direita. Mas sempre houve, no Brasil, um eleitorado de direita. E com o colapso do sistema político brasileiro após a Lava Jato, a maior vítima certamente foi o PSDB. O eleitorado de direita procurou uma direita de verdade, e não ficou na centro-direita, não. Saltou logo para o extremo dela, para o movimento liderado pelo deputado mais à direita de todos os deputados na Câmara nos últimos trinta anos. A gente já conversou muito sobre o bolsonarismo, sobre suas origens, o papo não terminou. Mas, de qualquer forma, o fato é este. Existem dois políticos que são líderes populares, no Brasil. Um é Luiz Inácio Lula da Silva, o outro é Jair Messias Bolsonaro. Só pelo fato de representá-los, os partidos em que estão já chegam em uma eleição com uma vantagem enorme. Com peso. São os maiores partidos na Câmara e continuarão sendo os maiores partidos na Câmara em 2026. A não ser, claro, que algo monumental aconteça.

Então encabeçam a lista dos sete partidos que sobrarão no Brasil PT e PL. Um partido claramente de esquerda e outro claramente de direita.
O partido lulista e o partido bolsonarista.

O que mais sobra? Um é o MDB e, o outro, o PSD. Com D de dado, liderado por Gilberto Kassab. São dois partidos centristas. No MDB, dependendo de onde você esteja no Brasil, vai encontrar gente claramente à esquerda e claramente à direita. Ele é como o antido PSD. Não o atual, o PSD no qual Juscelino Kubitscheck estava, um partido essencialmente de lideranças regionais. Mas, até por sua idade, o MDB tem estrutura partidária em todo o Brasil. Tem líder em tudo quanto é cidade. Muito pouco partido tem isso — o PT é, possivelmente, o único outro que tem. E isso dá muito poder eleitoral.

Com o PSD a coisa é diferente. Talvez um partido um tico mais à direita do que o MDB, mas um partido liderado por um dos políticos mais bons de estratégia e cálculo no Brasil. Kassab não está só passando a foice no que resta do tucanato, levando gente a cada lavoura para dentro. Ele negocia e traz parlamentares e prefeitos a toda hora, até o ponto de realmente montar uma legenda com muito peso eleitoral.
Então, aí, temos à esquerda o PT, no centro MDB e PSD e, à direita, o PL. Faltam mais três. União Brasil, Republicanos e Progressistas.
Esses nomes de partido no Brasil são uma maravilha, né? O Partido Liberal é populista e elege a extrema direita. O Partido Progressista é conservador. Vá entender. Três partidos de direita. O União e o Progressistas são, ambos, descendentes diretos da Arena, o partido da Ditadura Militar. A Arena virou PDS na virada pros anos 80, aí o PDS rachou quando parte das lideranças nordestinas deixaram a legenda para apoiar Tancredo Neves. Virou o PFL.

O PFL, quando passou a se chamar DEM, ainda tentou se tornar um partido de centro-direita sério. Mas implodiu quando seus dois principais líderes, Antonio Carlos Magalhães Neto e Rodrigo Maia, entraram em conflito. Brigaram e, no racha, saiu a fusão com o PSL. Está aí o União. Que, olha, tem bastante presença no Brasil.
Mas, no fundo, é ainda difícil separar ideologicamente estes três. Se o PL bolsonarizou e foi pro extremo, estes aí são fisiológicos, mas não daquele fisiologismo de dez anos atrás. O fisiologismo do tempo do seu pai. Eles já não se disfarçam mais. São, os três, partidos de direita.

Estes sete são os partidos que sobram. Da esquerda para a direita, PT, MDB e PSD, aí União Brasil, Progressistas, Republicanos e PL.
Dificílimo, mesmo em federação, PSDB e Cidadania cruzarem a cláusula de barreira. Isto vai querer dizer pelo menos quatro anos sem direito ao dinheiro que os outros partidos terão. E o dinheiro que os outros partidos terão será um bolo bastante maior para dividir por poucos. Ou seja, partindo de trás, sem dinheiro, precisando alcançar os primos ricos. O mesmo vale para PDT, para Rede, para PSoL, tantos outros.
Estes partidos terão de escolher entre ou fazer federações ou se fundirem de vez.

Partidos pequenos, hoje, às vezes têm muita influência na política local. Isso vai acabar. Eles vão se homogeneizar. O dinheiro do fundo partidário e o tempo de propaganda só irá para uma legenda de esquerda. É consequência de escolhas políticas mas também da composição do eleitorado. Independentemente da fisiologia, o Brasil é conservador e a esquerda tem dificuldades de compreender que precisa botar as revoluções na sacola e adaptar o discurso para alcançar seus eleitores.

Por um tempo, vai ter de ser assim.

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