Quem será o próximo presidente?
A eleição de 2026, tudo indica, vai ser decidida novamente por uma nesga de votos que não se posicionam nem à direita, nem à esquerda. Foi o que aconteceu nos Estados Unidos em 2020, foi o que aconteceu no Brasil de 22, o que aconteceu de novo com os americanos este ano e nada, absolutamente nada, sugere que não ocorrerá novamente.
E esse pêndulo com pouco espaço de balanço vai pender para onde? Para a esquerda ou para a direita? Minha aposta, hoje, é que vai para a direita. Jair Bolsonaro é tóxico, mas não estará na cédula. Não é absurdo que esteja preso quando vier a eleição. Enquanto isso, Lula está mais preocupado em cultivar os votos que já tem do que acenar para o centro que precisa conquistar. Mas isso não quer dizer que o caminho esteja escancarado para a direita. Os quatro principais pré-candidatos, Tarcisio de Freitas, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Júnior também sentem mais medo de perder os votos que terão, os da direita, do que acenar para os de centro. Mostra disso é que nenhum deles foi capaz de condenar a tentativa de golpe militar levantada pelo inquérito da Polícia Federal. Nenhum deles teve a coragem de fazer uma defesa enfática da democracia. Quem tem maior dificuldade de se distanciar da extrema-direita, aliás, é Tarcisio. Fez tudo certo na eleição municipal de São Paulo para depois jogar todo o esforço fora ao defender Bolsonaro da acusação de golpista e, na sequência, pelo desastre que começa a se mostrar sua Polícia Militar.
Bem, vamos examinar os dois lados. Primeiro, os problemas da candidatura Lula. Depois, os problemas dos candidatos de direita. Porque, nesse jogo, ninguém está cuidando de facilitar a própria vida.
O que matou o governo Joe Biden foi a convicção de que os números da economia estavam bons e, simultaneamente, uma recusa a acreditar no que as pesquisas diziam: que, não, as pessoas não percebiam a economia como indo bem. Pleno emprego, lá como cá, não é o bastante. Porque emprego as pessoas percebem como sendo conquista pessoal. Já inflação e juro alto, isso não, essa conta fica com o governo. Só tem um jeito de baixar inflação e baixar juro ao mesmo tempo: ajustar as contas. O governo gastar menos do que recebe. E o governo Lula não está disposto a fazer esse ajuste.
Vejam, não importa como o ajuste é feito. Pode ser reonerando impostos para setores da indústria? Claro que pode. Pode ser cortando o vínculo do reajuste de benefícios com o salário mínimo para dar aumentos em ritmos diferentes? Também pode. Pode ser aumentando imposto dos ricos? Claro. Cortando benefícios da alta classe do funcionalismo público? Tirando verbas que parlamentares usam para fazer a festa? Tudo pode. Mas é preciso comprar alguma briga política. Ou com a Fiesp, ou com a elite do funcionalismo público, ou com os trabalhadores, ou com o Centrão. Sem comprar uma das brigas, a coisa não sai. E a verdade é que o governo, no fim, escolheu não comprar briga política com ninguém e, assim, comprou com todo mundo.
O objetivo é o resultado final: quando a conta for ajustada, algum tipo de corte for feito, o governo precisa gastar menos do que arrecada. Se não, haverá inflação e, para combater a inflação o Banco Central vai aumentar juros. Foi assim com Roberto Campos Netto, será assim com Gabriel Galípolo. Galípolo não é Tombini. Ele entende como economia funciona e entende que tem, essencialmente, um trabalho e uma ferramenta que já não é lá uma ferramenta muito precisa. O trabalho é manter a inflação na meta. A ferramenta é a taxa de juro básico da economia. Inflação sobe, juro sobe.
Se o dólar disparou, e ele disparou, é por uma única razão: o mercado não acredita no governo. O que rola na internet de esquerda é uma impressão generalizada de que o mercado aposta contra o governo, que boicota o governo. Pode até dar uma convicção de superioridade moral achar isso, mas não é como funciona no mundo real. Mercado financeiro é entender para onde vai a economia e apostar no futuro. Se aposta que a economia brasileira vai bem, dólar cai lá na frente. Se aposta que irá mal, dólar sobe. Se o mercado ler errado o cenário e, portanto, fizer a aposta errada, perde dinheiro. Não há incentivo nenhum em apostar ideologicamente contra o governo. Se aposta errado, de novo, perde dinheiro. Ninguém joga dinheiro fora para dizer que não gosta de governo. Se alguém achasse que a maioria dos operadores estão errados, começava a fazer o caminho reverso e a matilha logo seguia. O dólar se mantem acima dos seis reais. Os economistas que vivem de fazer dinheiro não acreditam que o governo fará o que precisa ser feito para estabilizar a economia. Quer achar que são malvados? Todo mundo pode achar tudo. Para essa turma, é como fazem dinheiro. Acertar muito mais do que erram é sua profissão. São bem pagos para isso. Estão no olho da rua se errarem.
O mercado financeiro é termômetro, ele é bússola, não é juiz. O conjunto de pessoas que vive de compreender se a economia irá bem ou vai mal acredita que ela irá mal no próximo ano ou dois. É isso que a biruta de aeroporto está dizendo. Se estiver errada, um monte de gente do mercado vai perder dinheiro. Problema deles. Se estiverem certos e, de novo, eles são profissionais de acertar coletivamente mais do que errar, a inflação vai apertar e o BC vai puxar os juros pra cima e, em 2026, a economia vai estar bem difícil. Quem estiver pendurado em dívida vai se apertar muito, e gente demais no Brasil tem dívida. Quem tem pouco vai ver o preço do tomate subindo, o preço do frango. E aí, gente, o pêndulo balança contra quem está no governo.
Do outro lado? Do outro lado tem uma turma que se recusa a condenar uma tentativa de golpe militar.
Eu sou Pedro Doria, editor do Meio. Hoje, direto de um hotel em Porto Alegre.
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A coisa mais séria que pode acontecer com uma democracia é ela acabar. A Polícia Federal tem provas, provas muito contundentes, de que o ex-presidente Jair Bolsonaro quis dar um golpe militar. Estas provas incluem o depoimento do comandante do Exército e do comandante da Aeronáutica que prestaram testemunho.
Minha percepção, pelas muitas conversas que tenho tido, é de que eleitores que votaram em Bolsonaro contra Lula se dividem em três grupos, mais ou menos. Tem uma turma que declara abertamente que queria um golpe de Estado. Vê o golpe de Estado como legítimo. E pronto. É uma minoria. Tem um segundo grupo que está mergulhado num ambiente de discurso, de retórica, que os faz perder por completo a bússola. É a galera para quem um mundo paralelo foi construído e eles entraram. Vivem no mundo de cabeça para baixo em que o Supremo instaurou uma ditadura e o projeto de Bolsonaro estava dentro das quatro linhas da Constituição. É uma turma muito barulhenta nas redes, mas é difícil sem um estudo mais sério ter uma noção de qual o tamanho dessa galera. E tem o resto. A maioria. A maioria não acompanha, está só na luta do dia a dia, tentando viver, tentando vencer.
Líderes políticos têm uma missão importante no processo de desradicalização. O primeiro candidato de direita que olhar para as provas e disser o óbvio, que Bolsonaro quis dar um golpe, vai ter imensa vantagem com esse meiozinho que decidirá a eleição. Mas não tem cara de que nenhum deles terá a coragem de fazer isso. Os quatro, Tarcisio, Caiado, Ratinho e Zema estão disputando a chance de ser o escolhido. Todos têm medo de, ao condenar Bolsonaro, alienar o público. Dos quatro, o que confrontou Bolsonaro mais abertamente foi Caiado. Fez isso durante a eleição municipal. Não fez isso com o golpe. Essas coisas são escolhas.
Pode ser que um dos quatro, se consolidar a candidatura, escolha então se afastar mais claramente de Bolsonaro. Pode ser que não. Vai ser muito ruim se chegarmos a um segundo turno com um Lula enfraquecido pela economia e um candidato de direita ambíguo em relação à democracia. Até lá, muita água vai passar. Talvez a direção econômica do país mude, talvez Lula desista da candidatura, possivelmente Bolsonaro será condenado pelo Supremo. Se ocorrer, os políticos de direita terão uma nova oportunidade de se posicionar.
Faltam dois anos redondos para a eleição presidencial. Neste momento, nenhum dos dois campos está trabalhando para conquistar os eleitores que definirão este pleito. É incrível. É inacreditável.