Trump contra o PIX
Algumas coisas interessantes aconteceram nas últimas horas. Uma é que o governo americano abriu oficialmente uma investigação a respeito do Brasil. É bom. Bota no papel os caminhos pelos quais o governo Donald Trump está pensando seu ataque. Outra é que, enfim, caiu a ficha da família Bolsonaro de que eles deram um tiro no pé. Está todo mundo desesperado tentando controlar Eduardo Bolsonaro. E, nessa, a gente viu aquele vídeo meio constrangedor do presidente do Senado, Davi ALcolumbre, com o presidente da Câmara, Hugo Motta, entre eles o vice-presidente Geraldo Alckmin meio que sem saber muito o que fazer perante o celular que filma. E os dois, lá, dizendo que estão com Alckmin, que quem tem de negociar isso é o Executivo, que um ataque ao Brasil não será tolerado. E o que está por trás desses movimentos aqui no Brasil? Ora, a Quaest responde.
Pesquisa que saiu hoje, quarta-feira. 57% dos brasileiros desaprovavam o governo Lula em maio. Caiu para 53%. A aprovação subiu de 40 para 43%. A diferença caiu de 17 pontos percentuais para dez. Onde aumentou a aprovação de Lula? Entre as mulheres. Entre as pessoas com mais de 35 anos. Entre as pessoas com ensino superior completo. Entre quem mora no Sudeste. Entre quem ganha mais de dois salários mínimos. Entre os católicos. Entre quem não ganha bolsa família. E, olha só, em a aprovação de Lula cresceu entre quem não votou nem nele, nem em Bolsonaro, no segundo turno.
Se estes dados, assim soltos, não fazem muito sentido para vocês, vamos lá. A aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva melhorou na classe média com mais acesso a educação e com um perfil ideológico mais centrista. Lula cresceu com a turma que não gosta do PT. Lula cresceu com quem é de esquerda e não é petista. Cresceu, até, com quem se diz de direita mas não gosta de Bolsonaro. Lula só não ganhou espaço com os bolsonaristas puro sangue, mas esses não chegam a 15% de todo o eleitorado.
Vejam bem, demorou muito para cair a ficha de muita gente na direita. E, agora, a coisa piorou. Porque agora os americanos estão atacando o PIX, e poucas coisas são tão populares no Brasil quanto o PIX. Há três meses, estava lá o deputado Nicholas Ferreira num dos vídeos políticos de maior audiência da história das redes sociais, metendo o malho no Palácio do Planalto porque parecia querer taxar o PIX. Bem, agora parece que mudamos de ciclo. O Planalto parou de meter os pés pelas mãos e chegou a vez da família Bolsonaro.
Há apenas duas semanas, estava o Congresso Nacional jantando o governo com garfo e faca. Falando da independência do Legislativo. Sustando decretos presidenciais. Por causa de Eduardo Bolsonaro e Donald Trump, agora estão os dois presidentes lá no Legislativo fazendo juras de amor e lealdade ao governo. Vocês talvez conheceçam um dos maiores clichês da política brasileira. Eu o ouvi atribuído a Tancredo Nevez, tem gente que diz que a autoria é outra. Tudo certo. Diz assim: política é que nem nuvem. Uma vez você olha está de um jeito, aí pisca, olha de novo, e está com outra forma. Outro clichê: nunca brigue demais com alguém que você não possa se aliar no instante seguinte.
Bem, clichês não existem à toa. Existem porque são obviedades. E essas duas semanas mostram isso como nada mais. Só não vamos exagerar aqui os resultados iniciais. O que a pesquisa Quaest diz é o seguinte: Lula é aprovado por 43% dos brasileiros e desaprovado por 53%. Ou seja, seu governo ainda está no negativo. É só que a diferença caiu de 17 pontos para dez e isso não é pouco em apenas dois meses. Com números assim como estão, a reeleição ainda é difícil. Só que a curva favorável ao governo está crescendo e um opositor que venha com uma camiseta escrita “sou bolsonarista” teria dificuldades dobradas de vencer. Porque, conforme cresce a aprovação do presidente, vai ficando mais feia a situação de Bolsonaro. Até porque, não esqueçamos, ele deve terminar esse ano preso.
Como o PIX entra nessa história? O que se passa na cabeça desta criança mal-intencionada que é Eduardo Bolsonaro? E para onde vão os políticos de direita? Vem comigo.
Eu sou Pedro Doria, editor do Meio.
Sei que você leu muita coisa por aí sobre Israel e Palestina. Mas o quanto você entende o que está acontecendo? Passei dez dias em Israel vivendo de perto a realidade do conflito e entrevistando gente de ambos os lados. O resultado dessas conversas e de um extenso trabalho de pesquisa está em três novos episódios do Ponto de Partida, a Série. Olha, esse nível de produção você não vai encontrar nos jornais por aí ou em debates de redes sociais. É filmagem 4K, imagens geradas por IA, trilha sonora original e um time com as maiores feras do mercado colocando você no centro dos acontecimentos. Os episódios já estão no streaming do Meio Premium. Você não vai mudar de opinião assistindo a esta série. Mas você terá muito mais argumentos para sustentar sua opinião. Você estará muito melhor informado. Assine e viva essa experiência única na tela da sua TV, notebook ou smartphone.
E este aqui? Este aqui é o Ponto de Partida.
O que a abertura do processo, lá nos Estados Unidos, diz: o governo brasileiro adota práticas que diminuem a capacidade competitiva de empresas americanas que oferecem soluções digitais de todo tipo, incluindo pagamentos. O Brasil impõe tarifas mais altas, para produtos americanos, do que para produtos de países como Índia e México. O Brasil não policia a venda de produtos falsificados, o que prejudica marcas americanas. Eles falam, especificamente, da Rua 25 de Março, em São Paulo. E, olha só que interessante isso aqui, brasileiros cultivam bois em terras oriundas de desmatamento ilegal, o que afeta a pecuária americana, tornando-a menos competitiva no mercado internacional.
Então vamos lá. Primeiro vamos tirar uma coisa aqui da reta. Sabe qual a queixa mais comum que se faz a respeito do Brasil na Organização Mundial do Comércio? A nossa política de tarifas para produtos importados. E é mesmo. Quem se queixa tem toda razão. É uma política burra, generalizada, que não melhora a indústria brasileira e piora a vida dos brasileiros. A gente tem barreiras alfandegárias altas, comprar coisa estrangeira por aqui costuma ser caro, o Brasil não é um país que goste muito de livre comércio. Eles têm toda razão. Agora, vem cá, quem é que está adotando essa prática nesse momento mesmo? Quem é que está fazendo uma tarifa diferente pra cada país?
Daí, estão implicando com o fato de que o Brasil tem uma Lei Geral de Proteção de Dados e, agora, começou a regular redes sociais. É. A União Europeia também tem uma lei dessas e também quer regular as redes. A Austrália vai regular as redes. O Estado da Califórnia, onde fica o Vale do Silício, tem uma lei de proteção de dados. O mundo todo vai impor regras para que a vida digital se aproxime da vida no mundo físico. A gente pode ter uma boa conversa sobre que regras devem ser estas e, tenham certeza, vai se errar muito nas diversas regulações. Washington vai começar a punir os países que fizerem regras? A lista vai ser grande, tá?
Agora, o ponto mais absurdo é o ataque ao PIX. Vejam, a Apple tem o ApplePay, o Google tem o GooglePay, a Meta vem com o WhatsApp Pay, e todo mundo está tentando fazer com que pagamentos digitais fiquem cada vez mais fáceis. O PIX é isso. Um jeito de fazer com que o dinheiro saia da minha conta bancária e entre na sua. Rápido e fácil. O Brasil viu o óbvio: isso deveria fazer parte da infraestrutura financeira do país. Uma infra comum à qual todos têm acesso potencial, inclusive Apple, Google e Meta, se assim desejarem.
Agora, por fim, ninguém está falando muito disso aí, mas é sensacional, né? O governo Trump reclamando do desmatamento da Amazônia e do fato que tem gado sendo criado lá.
Eu conto ou vocês contam?
Então o que resta são os Bolsonaros. Teve líder de partido de direita reclamando que o Zero Três estava incontrolável. Inteligente o cara não é muito, né? Ele se convenceu de que marcaria um golaço se conseguisse uma grande punição americana ao país. Eduardo quer ser o candidato à presidência do bolsonarismo. Até terça à noite, quando todo mundo incluindo seu pai já haviam percebido que o gol foi contra, Eduardo ainda estava teimando. Tomou um esporro e, dizem, entrou na linha.
Mas o estrago está feito. Alcolumbre e Motta estão lá beijando a mão de Geraldo Alckmin, os governadores de direita que se precipitaram estão calados, com o rabo entre as pernas, todo mundo dizendo que é o Planalto que lidera a solução.
Mas o que tudo isso quer dizer pra 2026? Bem, é cedo. Se as tarifas americanas forem realmente impostas no nível alto que Donald Trump prometeu, possivelmente o resultado inicial será queda de preços aqui no Brasil. A longo prazo vai ser um estrago em muitas indústrias, mas no primeiro momento, de cara, o supermercado ficará mais barato. De quebra, Lula e a esquerda tiram do bolsonarismo a bandeira do Brasil.
De novo, até 2026 tem tempo. Muita coisa pode acontecer. Se as pesquisas confirmarem que os Bolsonaros perdem apoio, por exemplo, isso quer dizer que a direita terá incentivo pra deixar o bolsonarismo. Não é mal. Mas muda completamente a estratégia de Lula na eleição.
Vai acontecer? Sabe como é. Uma vez, um sábio disse, política é como nuvem.