Um hospital em sua casa, um médico em seu pulso.

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Continuamos aqui nosso folhetim sci-fi contando as aventuras de Valentina no mundo transformado pelo 5G. Se você perdeu os capítulos anteriores, clique aqui. Ou pule lá para baixo onde começamos a falar sério.

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“Doeu quando caíste do céu, canhestra e angelical donzela?” Disse o falso holograma de um falso dândi de um século passado muito mal reproduzido. 

“O quê?! Você é real?!!” — Perguntou Valentina, olhos fixados no personagem à frente enquanto a mão tateava pelos óculos.

“Real? Ora…o que é o real?” — o dândi levantou a cabeça e fitou o infinito. “Viveríamos nós em um simulacro concêntrico gerado pela feérica indústria do homem hodierno? Fadados a tentar romper o lacre da virtualidade para nos encontrarmos em uma outra existência, em uma caixa ainda maior, por sua vez dentro de outra caixa, dentro de outra caixa?” — sua voz sumia gradativamente como se alguém estivesse controlando o botão de volume.

Valentina colocou os óculos e tentou escanear o rapaz que não falava coisa com coisa. Deu aquela conferida de cima para baixo em busca de tags ou beacons. Nada. Reconhecimento facial, de retina, de aura Kirlian: nada. O cara não tinha absolutamente nada eletrônico no corpo! Estava fora do grid, invisível, era um…

“Credo! Você é um offbit?!”

“Perdão, cara…ahn, qual a sua graça?”

“Me chamo Valentina”

“Lorde Gentleman, a seu dispor” disse enquanto fazia uma reverência.

““Perdão, cara Valentina, mas preferimos o termo ‘pós-neo-luditas’. Somos um grupo que pratica a não-violência, o não-conformismo e o não-negacionismo.”

“Sei..um offbit. Nunca tinha visto um tão.. de perto.”

«Vejo pelo misto de asco e desconfiança em vossa expressão que — ao contrário do meu julgamento incipiente — vós não precisais de auxílio. Passar bem.”

“Não. Pera aí. Eu preciso de ajuda sim! Tem uns caras que…”

““Não fale mais nada”, disse Lorde Gentleman colocando o dedo sobre os lábios de uma Valentina confusa demais para reclamar. “Venha comigo.”

Lorde Gentleman levou Valentina por ruas cada vez mais estreitas até um terreno aberto onde alguém arrumara cuidadosamente uma quantidade improvável de móveis velhos. Mesas, cadeiras, um longo balcão, estantes escuras com garrafas e copos, luminárias presas em longos postes. Ao fundo, uma mesa comprida e verde com bolinhas coloridas e dois pedaços de madeira compridos e finos jogados displicentemente em cima.

“Bem vinda ao nosso pub” — disse Lorde Gentleman. Jogados em poltronas e encostados no balcão estavam um garoto cabeludo com uma camiseta absurdamente colorida, uma mulher toda de preto com uma coleira de pinos de metal e um velho de óculos escuros, cachimbo e boina. Todos olhando com cara de poucos amigos para Valentina.

O dândi olhou para a garota franzindo as sobrancelhas e deu dois toques entre os olhos. Ela entendeu o recado e retirou os óculos que colocou sobre o balcão.

“É aqui que nos reunimos para conversar sobre os bons tempos de outrora. Ah, o velho século XX. Uma era onde as guerras eram feitas por bravos guerreiros, não por adolescentes atrás de um console. Uma época sem computadores, sem devices, sem smart ali, smart lá…” parou repentinamente de falar, agarrou um monte de folhinhas de papel colorido e as balançou na frente de Valentina.

“Você sabe o que é isso?” — antes que ela pudesse responder, continuou. “Dinheiro! As pessoas pagavam coisas, viviam e morriam por causa desses pedacinhos de papel. Sinta o cheiro!” — e esfregava o maço de notas carcomidas no nariz da garota.

“Una-se a nós, Valentina. Deixe para trás as angústias e a opressão da vida moderna.”

“Mmm… Acho muito bacana e válido todo esse movimento de vocês, sabe. Mas eu tenho um show para ir mais tarde..e uma amiga minha está me esperando. Se você puder me passar meus óculos eu já vou indo….”

“Estes óculos?” — disse Lorde Gentleman. Com um rápido movimento — CREK — quebrou o aparelho em dois.

Bem-vindo ao mundo hiperconectado pelo 5G, onde você vai poder ir ao hospital sem sair de casa e terá um médico no seu bolso e um enfermeiro no seu pulso.

De todas as promessas tecnológicas que devem nascer com a adoção generalizada do 5G, a que tem mais chance de logo virar realidade são os avanços que essa rede rápida e de baixa latência trará para a medicina. Pode ser que você nunca venha a ter uma geladeira inteligente na cozinha, mas sem dúvida irá usufruir de exames físicos digitais, monitoramento de saúde contínuo, telecirurgias e outras tecnologias inovadoras no cuidado com a saúde.

A certeza de que o 5G irá revolucionar a medicina é sustentada por vários fatores. O tamanho do mercado de healthcare é de aproximadamente US$ 9 trilhões e ele é uma das indústrias que cresceu mais rápido no mundo nos últimos anos. Gigantes tecnológicos como Apple, Google e Amazon estão de olho nele, que já possui seus gigantes tradicionais como Philips, Siemens e GE. Grande parte das inovações tecnológicas previstas para explodir na próxima década existem hoje, já foram testadas e aprovadas e só precisam de uma rede mais rápida para se popularizar. Por último, mas não menos importante, estamos passando por uma pandemia. A COVID-19 acabou com o receio que a classe médica ainda tinha em relação a telemedicina e fez essa tecnologia crescer exponencialmente.

Telemedicina anabolizada

“O 5G vai permitir uma telemedicina muito melhor que a que temos agora, uma telemedicina high resolution”, diz Thiago Julio, Gerente de Inovação Aberta da empresa de saúde DASA e curador da Cubo Health, área de saúde da incubadora Cubo Itaú. “Quando falo em alta resolução não é só maior qualidade de imagem mas maior quantidade de informação. O 5G e a transmissão de imagens de alta resolução em tempo real vão abrir a possibilidade de exames físicos pela tela. O médico vai conseguir ver sinais como uma icterícia ou uma lesão de pele.  Eventualmente, com a ajuda de wearables ou aparelhos médicos portáteis, ele vai poder ter um diagnóstico ainda mais preciso medindo batimento cardíaco, pressão nível de oxigênio no sangue e outros dados.”

Se já estaremos medindo nossos dados em casa, por que deixar para fazer isso apenas na hora da consulta? Monitoramento contínuo de pacientes também é uma tendência, aponta Julio. “O médico não vai receber um dado pontual só na consulta. Ele vai ter um gráfico em tempo real do estado dos seus pacientes, graças a esses aparelhos conectados. Obviamente, precisaremos de um tipo de inteligência artificial para transformar esse fluxo enorme de informação em uma interface simples para o médico tomar decisões sem precisar ficar o dia inteiro vendo dados contínuos de todo mundo.”

Operando à distância

Telecirurgia é outra palavra que aparece toda vez que alguém busca medicina e 5G no Google. “telecirurgia já existe hoje em pequenas distâncias”, diz Leandro Faria, CEO da healthtech Starbem. “Todo mundo já viu em artigos e filmes um robozinho na sala de cirurgia com um médico ao lado,  olhando no visor e controlando o robô com joysticks. O 5G vai permitir que o médico esteja do outro lado do mundo e opere o robô em tempo real. Isso não é uma previsão para daqui a 10 anos, mas para este ano ou o próximo. Já existem projetos pilotos nos EUA e Israel prontos para serem testados.”

Hospital Virtual

Toda essa conectividade pode mudar a estrutura dos hospitais também. “Já existem projetos de hospitais que não existem fisicamente mas são serviços que monitoram pacientes a distância e, em caso de necessidade de internação, os encaminham para locais de internação temporária com acompanhamento, em um esquema semelhante ao AirBnb. O hospital vai continuar existindo, obviamente, mas em determinados casos, ele não é o melhor lugar para um paciente se recuperar. Idosos e pacientes crônicos respondem melhor quando se recuperam em casa. Além de uma experiência melhor, a tecnologia pode reduzir os custos com saúde também.”

Diagnóstico Artificial

Em um mundo onde sua saúde estará sendo monitorada continuamente e programas de inteligência artificial analisarão esses dados e vão lhe aconselhar o que fazer, qual o papel do médico? “Já temos soluções que são melhores do que o ser humano”, diz Faria. “Já existem programas de análise radiológica que são melhores que qualquer radiologista humano para analisar determinadas lesões e diagnosticar tal tipo de tumor no pulmão, Tem muito médico com medo de perder o emprego para um robô. Quem vai perder o emprego são os médicos que não gostam de tecnologia. Estes vão ser substituídos não por robôs, mas por outros médicos que acreditam na transformação digital, que vêem valor nela e que sabem que ela agrega muito para a experiência para o desfecho do paciente.”

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