Prezadas leitoras, caros leitores —

De que Estado precisamos?

Ao longo desta semana, em parceria com o grupo apartidário Derrubando Muros e com o Jota, transmitimos pelo Meio uma série de seis conversas sobre o papel do Estado. O Brasil é um país desigual, com profundas dívidas sociais urgentes e metas importantes pela frente. Metas que têm a ver com o Meio Ambiente, com a formação de uma geração para o mundo digital por vir, com a reinvenção da sua indústria.

Nenhuma é simples.

Há antigos debates à mesa: como seria uma reforma do RH do Estado, do funcionalismo público?

Há, também, novos debates como o trazido pela Teoria Monetária Moderna, que de dentro do liberalismo desafia a ideia de que aumento da dívida pública necessariamente gera inflação. Alguns gastos do Estado, com infraestrutura e desenvolvimento das pessoas, por exemplo, podem ser benéficos mesmo que aumentando a dívida.

Não confundir, diga-se, com o desenvolvimentismo. Que continua vivo, sugerindo um Estado que planeje a partir do centro o país inteiro.

Vozes que representam todas as correntes políticas democráticas brasileiras foram ouvidas. Elena Landau e Carlos Ari Sundfeld, Armínio Fraga, os pais do Real Pérsio Arida e André Lara Resende, Nelson Marconi pela campanha de Ciro Gomes, e o ex-candidato petista Fernando Haddad.

No que concordam? Em que discordam? Quais as diferenças de visão, que ideias de Brasil estão à mesa para elegermos em 2022?

Os vídeos estão no ar. Na edição de Sábado do Meio, vamos resumir o que foi dito, sinalizar os pontos de desencontro e aqueles onde acordos são possíveis.

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— Os editores.

Bolsonaro usa Queiroga como cortina de fumaça

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, encarnou ontem seu antecessor, o general Eduardo Pazuello, sempre pronto a atender aos caprichos do presidente Jair Bolsonaro, mesmo que isso significasse ir na contramão do que diziam especialistas no combate à Covid-19. Pior, como detalha Vera Magalhães, o fez para criar uma tripla cortina de fumaça a fim de desviar a atenção da falta de vacinas e dos caminhos que vem tomando a CPI da Pandemia. “O anúncio intempestivo em que recomendou a interrupção da vacinação de adolescentes entre 12 e 17 anos que não tenham comorbidades pegou técnicos, especialistas, governadores, prefeitos e pais de todo o país desprevenidos. Levou mais caos e desinformação ao programa de imunização”, diz Vera. Mas o que a fumaça pretendia esconder? 1) Que há “momento de apagão logístico no envio de vacinas”; 2) que a CPI tem em mãos documentos que acusam o plano de saúde Prevent Senior de omitir mortos em um estudo sobre cloroquina alardeado por Bolsonaro; e 3) que juristas peso-pesado estão auxiliando a CPI na tipificação dos diversos crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente. “Se alguém tinha esquecido o desastre que é esta gestão, Queiroga tratou de reavivar a memória de forma trágica”, conclui Vera. (Globo)

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Primeiro, a cortina de fumaça. Obedecendo a uma “orientação” de Bolsonaro, Queiroga revogou a autorização para que estados e municípios imunizassem adolescentes entre 12 e 17 anos. “O presidente me cobra todo dia essas questões de vacinação, sobretudo com essa questão dos adolescentes”, disse o ministro ao participar da tradicional live de quinta-feira. Já Bolsonaro negou que fosse uma ordem. “A minha conversa com Queiroga não é uma imposição. Levo para ele o meu sentimento, o que eu leio, vejo e chega ao meu conhecimento. A OMS é contra a vacinação de 12 a 17 anos”, disse, o que não é verdade. Segundo fontes no Planalto, Queiroga tem procurado fazer acenos a Bolsonaro para se manter no cargo. (Folha)

Ao citar a Organização Mundial da Saúde (OMS) para justificar a “orientação” a Queiroga, Bolsonaro mentiu. Confira. (UOL)

Malu Gaspar: “A suspensão da vacinação de adolescentes, anunciada pelo Ministério da Saúde, não passou pelas equipes de especialistas do Programa Nacional de Imunização e da Câmara Técnica da pasta. Os conselhos de secretários de saúde estaduais e municipais também não foram consultados.” (Globo)

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, (Anvisa) divergiu do ministério e manteve a recomendação de uso do imunizante da Pfizer em adolescentes de 12 a 17 anos. Segundo a agência, está em análise a morte de um jovem que havia sido vacinado. Mas, além de ser um caso isolado, não há até o momento qualquer indício de relação entre o óbito e a imunização. (Estadão)

São Paulo, Rio e pelo menos outras oito capitais decidiram ignorar Queiroga e seguir imunizando seus jovens. Outras cinco interromperam a vacinação, e quatro aguardam mais informações. (CNN Brasil)

Para o epidemiologista Pedro Hallal, a decisão do Ministério da Saúde é “equivocada e absurda”. “Por mais que seja verdade que a maioria dos casos em adolescentes é leve, repito a maioria porque existem casos graves, a vacina é para a proteção coletiva, quanto mais gente vacinada melhor e para isso os adolescentes são extremamente importantes para o PNI (Programa Nacional de Imunização)”, disse o especialista. (UOL)

Aliás... A live de Bolsonaro ontem saiu do ar no momento que o presidente dizia ainda tomar ivermectina, um vermífugo comprovadamente ineficaz contra Covid-19. As redes bolsonaristas correram para falar em censura, mas tanto o Facebook quanto o YouTube informaram que a interrupção não partiu deles. (Estado de Minas)

Nesta quinta-feira o Brasil registrou 637 mortes por Covid-19, chegando a 589.277 desde o início da pandemia. A média móvel de óbitos em sete dias foi de 582, ficando acima dos 500 pelo terceiro dia. Na comparação com o período anterior, a média caiu 7%, o que indica estabilidade. Porém, como as subnotificações do feriadão da Independência puxaram a média muito para baixo, essa estabilidade pode ser artificial. (G1)

Segundo, o que a fumaça buscava esconder. Investigado pela CPI da Pandemia, o plano de saúde Prevent Senior teria ocultado dados sobre a mortes de pacientes num estudo feito para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, contra Covid-19, de acordo com documentos elaborado por 15 médicos e entregue à comissão. Segundo um deles, ouvido com exclusividade pela GloboNews, o resultado do estudo, feito para avalizar o tratamento ineficaz, já estava pronto antes do fim dos testes. Nove pessoas morreram, mas apenas duas constavam do resultado, anunciado e enaltecido por Jair Bolsonaro em sua campanha para difundir a cloroquina. (G1)

E a história não para por aí. O documento dos médicos diz que os pacientes não sabiam que estavam sendo usados como cobaias humanas num estudo estimulado pelo chamado “gabinete paralelo” do governo Bolsonaro. Entre os dados recebidos pelos senadores há uma mensagem de Whatsapp do diretor da Prevent Senior, Fernando Oikawa. “Iremos iniciar o protocolo de HIDROXICLOROQUINA + AZITROMICINA. Por favor, NÃO INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR, (sic) sobre a medicação e nem sobre o programa”. A empresa nega e diz que vai processar os médicos. (Estadão)

Aliás... O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, deveria depor ontem na CPI, mas faltou, alegando ter sido convocado somente na véspera. O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), remarcou o depoimento para a próxima quarta-feira, com um clima potencialmente muito pior. (Globo)

Política

Mesmo com grande público, os atos com forte raiz golpista de apoio a Jair Bolsonaro (sem partido) não mudaram o cenário eleitoral para o ano que vem. Segundo o DataFolha, num eventual segundo turno, o ex-presidente Lula (PT) venceria o atual por 56% a 31%. Os números indicam estabilidade em relação à pesquisa feita em julho (58% a 31%). Para o primeiro turno, a pesquisa joga um balde de água fria nos entusiastas da terceira via. Lula tem 44%; Bolsonaro, 26%; brancos e nulos, 11%; e só aí surge Ciro Gomes (PDT), com 9%. (Folha)

Ainda segundo o DataFolha, a reprovação do presidente chegou a 53%, seu pior índice, embora a oscilação em relação aos 51% registrados em julho esteja na margem de erro de dois pontos. A variação foi a mesma entre os que aprovam o presidente, que caíram de 24% em julho para 22% nesta semana. (Folha)

Meio em vídeo. As peças sobre a mesa mostram que o presidente tentou dar um golpe de Estado após o Sete de Setembro. Frustrou-se. Aí, o ex-presidente Michel Temer costurou um acordo e desmontou um impeachment. Ninguém sabe que acordo é esse…, mas temos algumas peças. Veja quais são no Ponto de Partida (YouTube).

Num afago ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), seu colega do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que vai avaliar a possibilidade de votar o Código Eleitoral em duas semanas. Esse é o tempo hábil para que as medidas aprovadas pelos deputados sejam sancionadas pelo presidente Jair Bolsonaro e entrem em vigor já para as eleições do ano que vem. (Poder360)

Porém, o vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gustavo Gonet Branco, fez saber a Lira que há possíveis inconstitucionalidades no texto aprovado, especialmente no que se refere às atribuições do MPE. O recado é simples: ou as mudanças saem ou o código vai parar no STF. (Metrópoles)

E, afinal... Que Estado precisamos? Os dois painéis finais promovidos pelo grupo Derrubando Muros trouxeram duas visões de esquerda. Pela campanha de Ciro Gomes, Nelson Marconi (YouTube) defendeu um Estado organizador. “É preciso analisar as áreas que precisam de funcionários, as que tem escassez”, ele diz. “Estimular setores que são importantes.” Já Fernando Haddad (YouTube) seguiu um caminho distinto — o da análise histórica. Seu argumento é o de que nasceu com a República, e ainda perdura, um ‘patrimonialismo oligárquico’. Certos setores da sociedade controlam os recursos do Estado e neste ponto, identifica o ex-candidato petista à presidência, está o grande desafio por resolver para transformar o país.

O Senado tenta destravar a nomeação de André Mendonça para o STF. Os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Podemos-GO) recorreram ao Supremo para obrigar o presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a marcar a sabatina de Mendonça. Já o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), avisou que conversaria com Alcolumbre para avaliar em que pé está o processo. E Bolsonaro, responsável pela indicação, disse que não tem outro nome a oferecer. (CNN Brasil)

O ministro do STF Alexandre de Moraes suspendeu portarias do presidente Jair Bolsonaro que dificultavam o rastreio de armas de fogo e munições. A decisão é liminar e tem de ir ao Plenário. (Globo)

Prezadas leitoras, caros leitores. Em função das merecidas férias de Tony de Marco, não publicaremos hoje nossa tradicional charge animada. Mas você pode colecionar em NFT todas as já publicadas.

Cultura

Já está disponível nas plataformas de streaming Anjos Tronchos, nova canção de Caetano Veloso. Prévia do álbum Meu Coco, ainda sem data de lançamento, a música traz o compositor mais político que nunca, atirando na direção de Trump e Bolsonaro (“Palhaços líderes brotaram macabros/ No império e nos seus vastos quintais”) e das redes sociais que lhes deram ressonância. O áudio de Anjos Tronchos já está no YouTube, mas o clipe oficial só estreia às 20h de hoje. (Globo)

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Uma péssima notícia para apreciadores da telona, especialmente de filmes fora do mainstream. O Espaço Itaú de Cinema anunciou ontem o fechamento de suas 17 salas de exibição nos complexos de Salvador, Curitiba e Porto Alegre. Segundo a rede, as três unidades vinham operando abaixo de 20% da capacidade – o que não é de se estranhar numa pandemia. Os cinemas do Itaú em São Paulo, Rio e Brasília seguem funcionando normalmente, e o Itaú Cinema quer reforçar sua plataforma de streaming. (Estadão)

Confira as dicas da agenda cultural.

Neil Thomson rege hoje as Variações Enigma, de Edward Elgar, em concerto da Osesp enquanto, no Theatro São Pedro, o Coral Jovem do Estado de São Paulo apresenta um programa dedicado a compositoras, de Lili Boulanger a Chiquinha Gonzaga. No Rio, a Orquestra Sinfônica da UFRJ toca, também nesta sexta, obras de Holst e Schubert, entre outros, sob a batuta de André Cardoso.

O SescTV transmite na quarta um show em homenagem ao centenário de Elizeth Cardoso com a participação de cantoras como Alaíde Costa, Leci Brandão e Zezé Motta. A direção é de Viviane Rodrigues.

Para ver a agenda completa, clique aqui.

Cotidiano Digital

“The Facebook Files”. Os últimos dias não têm sido fáceis para a rede social desde que o jornal americano Wall Street Journal publicou uma série de reportagens sobre escândalos envolvendo a empresa de Mark Zuckerberg. A última bomba foi que um ex-policial que atuava como investigador no Facebook descobriu um cartel de drogas mexicano no qual usava a rede social para recrutar, treinar e pagar pistoleiros. Também há indícios de que traficantes de seres humanos usavam a plataforma para recrutar trabalhadores. Fato é que os episódios significam uma clara violação das regras do Facebook, mas a empresa não impediu as publicações. (Wall Street Journal)

Bem… A série de investigações do WSJ já gerou consequências para a big tech: um comitê do Senado norte-americano está investigando o impacto do Instagram sobre adolescentes. Enquanto isso, outro grupo de legisladores dos Estados Unidos pediu que o Facebook interrompa o desenvolvimento de seu Instagram para crianças menores de 13 anos, uma espécie de versão kids da rede social. (Vox)

Morreu ontem, aos 81 anos, o pioneiro da computação doméstica, o britânico Clive Sinclair. Ele inventou a calculadora de bolso, mas ficou conhecido por popularizar o computador doméstico a preços mais acessíveis. Conhecido como ZX Spectrum, o sistema de computador doméstico foi lançado no Reino Unido em 1982 e vendeu 5 milhões de unidades em todo o mundo, abrindo, assim, o caminho para o futuro da computação doméstica. Sinclair morreu em casa após uma longa batalha contra uma doença cujo nome não foi revelado. (The Guardian)

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