Prezadas leitoras, caros leitores —

Em 1932, 600 homens pobres, de pouco estudo, foram recrutados no condado de Macon, no estado americano do Alabama. Pouco mais de metade deles tinha sífilis. O Departamento de Saúde Pública do governo federal lhes prometeu tratamento — era mentira. Foram tratados nas décadas seguintes com placebo. A decisão se manteve, inclusive, após a penicilina se consolidar como tratamento padrão para a doença. Não foram tratados por um motivo simples: o governo desejava estudar o avanço da doença.

Cobaias humanas. Eram, todas as vítimas, homens negros.

Nestas últimas semanas aumentaram os indícios de que a Prevent Senior tratou com o kit covid bolsonarista inúmeros pacientes. De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar, as pessoas não eram informadas sobre que tratamento recebiam. Pelo menos um senhor já ganhou um processo na primeira instância acusando o hospital do plano de saúde de ter falhado no atendimento. Ele já havia atingido um nível de gravidade que exigia a internação em UTI, deram-lhe cloroquina e o puseram em terapia semi-intensiva.

Cobaias humanas.

A história do uso de pessoas em experimentos científicos, passando ao largo da ética, tem personagens como o médico nazista Josef Mengele, episódios como o dos homens do Alabama, e é o assunto da edição deste sábado do Meio. É uma história de racismo em alguns casos, de crueldade quase sempre.

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Convocação de atos golpistas partiu de Bolsonaro, acusa PGR

A convocação dos atos de caráter golpista no dia 7 de setembro partiu, semanas antes, do presidente Jair Bolsonaro. A conclusão é da Procuradoria-Geral da República em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal. É a primeira vez que a PGR cita explicitamente o presidente nos inquéritos que envolvem atos antidemocráticos. No dia 15 de agosto, aponta a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo, Bolsonaro usou mensagens de Whatsapp para defender a organização de um “contragolpe” às manifestações contrárias à sua gestão. A partir daí, segue a PGR, teve início a coleta de recursos e a organização dos atos de 7 de setembro. (Globo)

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A reprovação ao trabalho do presidente Jair Bolsonaro atingiu seu recorde histórico, segundo pesquisa divulgada na noite de ontem pelo PoderData. O desempenho dele é ruim ou péssimo para 58% dos entrevistados, ótimo ou bom para 25% e regular para 15%. Entretanto, a pesquisa também indica estabilidade nessas avaliações, pois a rejeição cresceu 2%, e a aprovação recuou também 2% em relação à pesquisa anterior, divulgada há 15 dias. Ambas as variações acontecem no limite da margem de erro de dois pontos. A reprovação do trabalho de Bolsonaro é maioria em todos os grupos, mas fica abaixo dos 50% entre pessoas de 25 a 44 anos (46%) e entre moradores do Centro-Oeste (44%). Sua rejeição é maior entre mulheres (63%) que entre homens (53%). A reprovação do governo como um todo, 63%, também foi recorde, variando na margem de erro. A aprovação é de 31%. (Poder360)

Também divulgada ontem, pesquisa do Ipespe aponta igualmente rejeição recorde de Bolsonaro: 55% ruim ou péssimo contra 23% de ótimo e bom e 18% de regular, todas variando dentro da margem de erro. O levantamento também apurou intenções de votos para 2022. Em todos os cenários o presidente iria para o segundo turno atrás do ex-presidente Lula (PT), e este venceria qualquer adversário nas simulações da segunda votação. (Metrópoles)

Bela Megale: “O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não tem mostrado entusiasmo com a possibilidade de Bolsonaro se filiar a seu partido. Lira sabe que, se Bolsonaro for derrotado na eleição de 2022, não terá chance de se reeleger à presidência da Câmara com o capitão reformado em seu partido.” (Globo)

As manifestações de protesto contra Jair Bolsonaro convocadas para amanhã prometem reunir o mais amplo leque de campos políticos desde a campanha das Diretas Já, em 1984. Segundo Mônica Bergamo, 21 partidos (Cidadania, DEM, MDB, PC do B, PDT, PL, Podemos, Solidariedade, PSD, PSB, PSDB, PSL, PSOL, PT, PV, Rede, UP, PCB, PSTU, PCO e Novo) mais movimentos sociais, ONGs e sindicatos anunciaram que terão representantes na Avenida Paulista, e há protesto previstos para mais 76 cidades. (Folha)

O empresário bolsonarista Otávio Fakhoury protagonizou um caso de homofobia durante seu depoimento ontem à CPI da Pandemia ao publicar um tuíte em plena sessão debochando do Fabiano Contarato (Rede-ES). Homossexual assumido, casado e com dois filhos, Contarato interrompeu a sessão para exibir uma mensagem. O senador Omar Aziz (PSD-AM) cedeu-lhe a cadeira da presidência para que o parlamentar capixaba desse uma resposta enfática ao ataque. “O senhor não é um adolescente. É casado, tem filhos. Sua família não é melhor do que a minha”, disse. A CPI determinou ainda a abertura de investigação contra Fakhoury por homofobia. No depoimento propriamente dito, o empresário negou financiar a disseminação de notícias falsas e negacionismo, mas caiu em contradição ao admitir ter injetado dinheiro em blogs e perfis de redes sociais investigados por espalharem fake news. Ele repetiu alegações negacionistas, como a de que vacinas seriam experimentais – apenas para ser desmentido em tempo real pela Anvisa. (UOL)

A CPI aprovou a convocação dos médicos George Joppert e Andressa Joppert, apontados como integrantes do grupo de 12 profissionais que elaborou um dossiê de mais de dez mil páginas com acusações contra a operadora de saúde Prevent Senior. No documento, os médicos afirmam que a empresa realizou um estudo com cobaias humanas sobre tratamentos ineficazes contra a covid-19, como a hidroxicloroquina e outros, sem o conhecimento dos pacientes, que coagia os profissionais a prescreverem esses medicamentos e que ocultava o número real de mortes pela doença. A Prevent Senior nega todas as acusações. Para Omar Aziz, o depoimento do casal será o “fechamento das investigações sobre a operadora”. (g1)

Meio em vídeo. Quando todo o pesadelo passar e a gente for se debruçar no que foi o bolsonarismo, um capítulo vai ter de ser dedicado a essa história da Prevent Senior. Ainda é cedo, mas os indícios começam a se amontoar. Para atender a um capricho do presidente, seres humanos foram usados como cobaias. Confira no Ponto de Partida. (YouTube)

Está mofando na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado o projeto que barra supersalários na administração pública. Um dos principais motivos é a pressão do Judiciário contra a medida. O presidente do STF, Luiz Fux, diz que “mudanças na Lei Orgânica da Magistratura (Loman) devem partir do Poder Judiciário”, que não fez qualquer movimento nos últimos quatro anos. (Estadão)

Conrado Hübner Mendes: “A cúpula perdulária e autoritária dos agentes públicos do Estado, formada por juízes, promotores e congêneres, nada perde de seu pacote de aberrações: férias de 60 dias para dar e vender (fora recessos); benefícios indenizatórios e livres de impostos (até retroativos); aposentadoria compulsória como pena máxima por delinquência funcional etc.” (Folha)

Cultura

Se Maria Bethânia só cantasse, ela já faria do mundo um lugar melhor. Mas não. Ela acha pouco. Em 4 de novembro a cantora esteia Tabuleiros, um podcast que mistura música, poesia e literatura, em parceria com o poeta Eucanaã Ferraz. A primeira homenageada será Clarice Lispector, uma paixão de Bethânia, que lerá textos da escritora intercalados por músicas de gigantes como Billie Holiday e Mahalia Jackson. Na fila estão Vinícius, Drummond, Caetano etc. etc. Serão seis episódios semanais na Rádio Batuta. E o acesso, claro, é gratuito. (Folha)

Como é sexta-feira e nós merecemos, Maria Bethânia cantando Reconvexo. (YouTube)

Sai Ian Flemming, entra William Shakespeare, mas o sangue e a violência continuam. Após encerrar seu ciclo como James Bond em 007 – Sem Tempo Para Morrer (trailer no YouTube), Daniel Craig vai estrelar em março do ano que vem uma curta temporada na Broadway de MacBeth. A peça, para quem não sabe, fala de um nobre na Escócia medieval que, movido por uma profecia e pela ambição da esposa, comete regicídio, assume o trono e governa com brutalidade até um fim trágico. Aliás, Lady MacBeth, um dos personagens mais intensos de Shakespeare, será vivida nessa montagem pela brilhante Ruth Negga, indicada ao Oscar de melhor atriz em 2017 por Loving: Uma História de Amor (YouTube). (Estadão)

Confira as principais dicas da agenda cultural

De hoje a 10 de outubro, a Mostra de Cinemas Africanos ocupa o Sesc Digital com uma curadoria que lança luz sobre o cinema de gênero do continente, como o filme de terror e fantasia Juju Stories, do coletivo nigeriano Surreal 16, e o road movie feminista Flatland, dirigido pela sul-africana Jenna Bass.

As homenagens ao centenário de Astor Piazzolla continuam na temporada da Osesp com duas apresentações hoje: do quarteto de tango e jazz Escualo Ensemble e da pianista francesa Lise de la Salle. Também nesta sexta, o CelloSam3aTrio, de Jaques Morelenbaum, interpreta obras de Dorival Caymmi e Edu Lobo, entre outros, na Sala Cecília Meireles.

De terça a quarta, o canal Curadoria Hilst no YouTube exibe a peça As Aves da Noite, escrita por Hilda Hilst em 1968 e ambientada em Auschwitz, em montagem dirigida por Hugo Coelho.

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Viver

Setembro foi o mês com menos mortes por covid-19 no Brasil este ano. Com os 637 óbitos registrados ontem, o mês fechou com 16.275 vítimas. O total desde o início da pandemia chega a 596.800, e a média móvel de mortos em sete dias foi de 540, indicando estabilidade. (g1)

A pedido da prefeitura do Rio, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, restabeleceu a exigência de passaporte de vacinação para acesso a ambientes públicos como cinemas, teatros e estádios, entre outros. A decisão de Fux derruba tanto a liminar que eliminava a obrigatoriedade do documento quanto a que abriu exceções para os clubes Naval e Militar. (UOL)

E a vacinação é, sim, fundamental. Para se ter uma ideia, no Hospital Ronaldo Gazolla, referência para tratamento de covid-19 na rede pública carioca, 94% dos pacientes internados com a doença não tomaram nenhuma dose da vacina. (Globo)

Mas a covid-19 não é o único problema. Por conta da pandemia, a cobertura vacinal de crianças e adolescentes de até 15 anos caiu em 14 dos 16 imunizantes aplicados nessa faixa etária. Por isso, o Ministério da Saúde lança hoje uma campanha de multivacinação que vai até o dia 29. (Estadão)

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Qual o limite do pluralismo? A Folha se viu na berlinda nas próprias páginas após publicar um artigo no jornalista Leandro Narloch que relativizava a escravidão a partir de episódios esporádicos de negros que ascenderam socialmente no império. “Jornais são documentos históricos: eu me reservo a dignidade derradeira de dizer com todas as letras que a coluna de Leandro Narloch é racista; que publicá-la faz do jornal conivente”, escreveu o advogado Thiago Amparo, integrante do Conselho Editorial da Folha. Já o geógrafo e escritor Itamar Viera Júnior lembrou uma relativização semelhante em relação ao Holocausto jamais seria publicada. “Entretanto, por aqui é muito comum relativizar e minimizar a tragédia histórica da escravidão”, escreveu. (Folha)

E uma boa notícia. Após um mês internado em São Paulo, Pelé teve alta ontem. O Atleta do Século 20, de 80 anos, internou-se para exames de rotina e foi submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor no cólon. Ele seguirá fazendo quimioterapia. (g1)

Desde que os policiais militares de Santa Catarina passaram a ter câmeras acopladas nos uniformes, o uso de força em operações caiu 61,2%. Esse é o resultado de um estudo feito por pesquisadores de três universidades britânicas e da PUC do Rio. “Os resultados mostraram que câmeras corporais são efetivas em melhorar a natureza da interação polícia-cidadão”, dizem os pesquisadores. A tecnologia também é usada em São Paulo e está em testes ou implantação em outros estados. (Estadão)

Cotidiano Digital

Após reportagens do Wall Street Journal sobre escândalos envolvendo o Facebook, uma executiva da companhia foi questionada nesta quinta-feira por senadores no Congresso americano sobre o impacto dos aplicativos do grupo — especialmente o Instagram — em jovens. Antigone Davis, diretora global de segurança do Facebook, rejeitou a ideia de que o relatório caiu como uma “bomba” e não se comprometeu a mostrar uma das pesquisas feitas pela empresa indicando que o Facebook estava ciente sobre os efeitos “tóxicos” em meninas e jovens adolescentes. A audiência foi a primeira de duas que o Comitê de Comércio do Senado marcou sobre a rede social. (Tilt UOL)

E a rede social por áudio Clubhouse lançou novos recursos. As novidades no aplicativo incluem gravação e replay de conversas e também o download de clips de 30 segundos para compartilhamento em mídias sociais ou outros sites. (Til UOL)

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